quinta-feira, 2 de abril de 2015

Recusar parar

No J L de hoje, o Professor Galopim de Carvalho, que completará 84 anos no próximo dia 11 de Agosto, publica quatro "páginas" de um Diário, com o título que lhe "roubo", e que começa em 26 de Abril de 1974 e termina em 22 de Março de 2015, com o seguinte texto:

22 de Março de 2015
Por mais negras e cerradas que sejam as nuvens, há sempre sol e céu azul por cima delas. 
Esta afirmação é tão imediata e evidente que já vários a disseram ou escreveram, nesta ou noutra forma com idêntico sentido. Vem ela a propósito de um pensamento que, nos últimos tempos, me assola constantemente, quer em casa, ao abrir os jornais ou durante os noticiários da rádio ou da TV, quer na rua, face aos comentários de muitos com quem todos os dias me cruzo. E esse pensamento envolve este Portugal a viver tempos de indecoroso aviltamento, mercê de uma certa elite, entre políticos e grandes nomes do Direito e das Finanças que, de há décadas, numa promiscuidade interesseira, descarada e impune, nos está a conduzir, decidida e conscientemente, no caminho do empobrecimento económico e também, estupidamente, no do definhamento científico e cultural.
Tudo isto perante a passividade de um povo "imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio", como escreveu o grande Guerra Junqueiro, há mais de um século, e sob a magistratura conivente de um Presidente da República que de há muito deixou de ser o representante de todos os portugueses. Mantidos incultos, muitos deles analfabetos funcionais, alienados pelo futebol e pelos programas televisivos de entretenimento que nos impõem e nos entram pela casa dentro a toda a hora e, ainda, marcados por receios antigos, são muitos os portugueses que não ousam questionar um poder que os despreza e maltrata e muitos também os que, sem saberem porquê, lhe fazem respeitosa e submissa vénia.
Como nos aviões que, ao ganharem altitude, atravessam a cobertura de nuvens e atingem o esplendor do pleno azul, temos de encontrar forma, dentro da democracia, de romper com esta triste escuridão em que, com excepção de uns tantos privilegiados, fomos levados a viver.

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