quarta-feira, 31 de janeiro de 2007

Primeiro Ministro na China

Fazendo uso da velocidade que o caracteriza, no raciocínio como no carro, o Ministro da Economia exortou os empresários chineses a investirem em Portugal, por existirem por cá excelentes condições para poderem rentabilizar os seus investimentos.
De entre as condições enumeradas por Sua Excelência, mereceram especial destaque os custos da mão de obra portuguesa, por serem dos mais baixos da Europa. E, todavia, Sua Excelência esqueceu-se de referir que somos um povo que adora arroz, qualidade que permitirá proporcionar ainda maior rentabilidade aos negócios chineses.
Para isso, basta que no salário de cada um seja incluída uma parte de pagamento em espécie, consubstanciada numa tijela diária do dito cereal, produzido na China ao "preço da chuva", graças ao trabalho incansável e barato de milhões de chineses.
Toda a gente fica a ganhar: os chineses aumentam as exportações de arroz e os lucros repatriados; o Ministro continua Ministro graças à melhoria do desempenho da economia; os portugueses garantem trabalho e comida e, com alguma sorte, ficarão de "olhos em bico" perante tanta clarividência.

terça-feira, 30 de janeiro de 2007

Palavras bonitas

Já leva mais de 40 anos a falar de Jazz ... em cinco minutos.

Tem o programa mais antigo da rádio portuguesa.

Por mais aulas que dê, a matéria nunca mais tem fim e o professor adora ensinar!

Em 2004 (em conjunto com Ricardo António Alves) compilou uma antologia de poemas a que chamou POEZZ, publicada pela Almedina, onde fui buscar a Inconfidência Mineira, de Carlos Drummond Andrade.

Tem dois escravos Padre Toledo:
José Mina, que toca trompa,
Antônio Angola, rabecão.
O padre mete-se no rocambole

da insurreição.
A Real Justiça levanta o braço

da repressão.
Engaiola o padre na fortaleza

de São Julião.
Confisca os músicos, confisca a trompa
e o rabecão.
Música-gente, crioula música
duas vezes
na escravidão.
 
Poezz
José Duarte
Almedina (2004)

Nota: Não procurem o número para ligar. José Duarte não figura na votação dos Grandes Portugueses.

segunda-feira, 29 de janeiro de 2007

Talvez

Se a vida fosse só sim ou não,

  • o arco-íris seria preto e branco;
  • o vento sopraria, apenas, do norte e do sul;
  • a música seria um "samba de uma nota só";
  • a argumentação limitar-se-ia a "sim, senhor";
  • o Sol continuaria a andar à volta da Terra e o Galileo não tinha ido à fogueira.

quarta-feira, 24 de janeiro de 2007

Aniversário

Hoje cumpriu-se o calendário da contagem normal dos anos de vida de inúmeras pessoas no mundo.

Nenhuma delas, porém, é a dona da Casa e nisso reside toda a diferença.

Foi mais um dos muitos que já levamos juntos, sem folclore nem espavento, com a tranquilidade de quem vê crescer os que são nossos e sente que, com maior ou menor dificuldade, fizemos alguma coisa de jeito!

Este é o amor das palavras demoradas
Moradas habitadas
Nelas mora
Em memória e demora
O nosso breve encontro com a vida.

O Nome das coisas
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2004)

terça-feira, 23 de janeiro de 2007

Mar


O mar enrola na areia,
ninguém sabe o que ele diz,
bate na areia e desmaia,
porque se sente feliz!

A quadra pertence às minhas memórias, fazendo parte de uma música cantada e dançada pelo Rancho Tá-Mar, da Nazaré.

No entanto, segundo o jornal A Página da Educação, teria sido composta por um talentoso Frei António, por volta de 1269, depois de ter sentido as ondas de Leixões a baterem-lhe nos pés.

Nessa altura, pelo que até nós chegou, o mar batia na areia e desmaiava de felicidade!

Com quem se terá zangado, para agora lhe bater tão forte e, ainda por cima, levar a maior parte consigo?

Se não se cuida, um dia destes é acusado de sequestro e condenado a meia dúzia de anos de "cana"!!!

sábado, 20 de janeiro de 2007

Grandes Portugueses


Os 10 Grandes Portugueses vão ser escolhidos amanhã pelos espectadores da RTP 1.

Para participar na escolha basta fazer um telefonema, por telefone fixo ou móvel, que custa apenas setenta e três cêntimos - 0,60 Eur + IVA.

Esta quantia, julgo, já foi utilizada para determinar quem saía dos "Big Brother", das "Quintas" e de outras parvoíces similares.

Será apenas na quantia que há semelhanças?

terça-feira, 16 de janeiro de 2007

Miguel Torga

Passam amanhã 12 anos sobre a morte do médico Adolfo Correia da Rocha(12.08.1907-17.03.1995).

O escritor Miguel Torga estará sempre vivo entre aqueles - e são muitos - que gostam da sua escrita.

"Queridos condiscípulos:

Este encontro inopinado é uma espécie de extra-sístole sentimental.
....

Não pode estar seguro de nada quem conhece o que vale um corpo e o que pode o destino, Mas temos de ser os últimos a desanimar. Ou não fossemos nós os serviçais da vida e os fiadores da esperança".

Excerto da comunicação feita por Miguel Torga num encontro de médicos realizado nas Caldas da Rainha, em 25 de Julho de 1987, oferecido por um dos convivas e colega de curso do escritor: o médico Ernesto Moreira.

Lagoa de Óbidos

Fim de tarde do passado Domingo.
Os patos da Lagoa preparam a partida para mais uma noite no "hotel" do Paúl de Tornada.
A Ginja estava lá ... mas teve de ser lesta a sair do carro, para fixar a imagem. Estava na hora do soninho (dos patos) e era urgente partir ...

domingo, 14 de janeiro de 2007

Palavras bonitas

HÁ DIAS

Há dias em que julgamos
que todo o lixo do mundo nos cai
em cima. Depois
ao chegarmos à varanda avistamos
as crianças correndo no molhe
enquanto cantam.
Não lhes sei o nome. Uma
ou outra parece-se comigo.
Quero eu dizer: com o que fui
quando cheguei a ser
luminosa presença da graça,
ou da alegria.
Um sorriso abre-se então
num verão antigo.
E dura, dura ainda.
Eugénio de Andrade
Poesia

domingo, 7 de janeiro de 2007

Sábado, Dia de Reis



Com a alvorada a acontecer, por ser sábado, um pouco mais tarde do que é habitual, o cumprir das rotinas do pequeno almoço, café e Expresso sem pressas, deu como resultado chegar à Fundação Gulbenkian cerca do meio-dia.

Quase uma hora na fila para ver a Exposião Diálogos de Vanguarda, de Amadeo de Souza-Cardoso e de alguns artistas seus contemporâneos. Valeu a pena, pelas obras expostas, entre as quais a Procissão que se reproduz. Deve ser difícil tornarem a juntar-se tantas obras, e oportunidades destas não se podem perder. Para quem ainda não viu, despache-se! Termina no próximo dia 14 e a entrada só custa 3 Euros.

O modo como a Exposição está organizada "obriga-nos" a seguir a evolução do artista no tempo, mostrando as diversas fases da sua pintura e os diálogos que foi tendo com a forma e a cor. A pergunta surge, inevitavelmente: se, vivendo tão pouco, produziu tanto e tão belo, o que teria acontecido se a pneumónica não o tivesse levado em 1918, com apenas 31 anos.

O almoço, já bem deslocado nas horas, aconteceu ao balcão da Cervejaria Paco, bem perto da Fundação, que a fome apertava bastante. Por isso ou pela qualidade da cozinheira, o bife "soube que nem ginjas".

Depois ... bem, depois o Benfica ganhou como, felizmente, já se vai tornando um hábito.

E, para acabar em beleza, o meu neto recebeu e mostrou aos avós (babados) as suas novas habilidades!!!

Foi um Dia de Reis !!!

quarta-feira, 3 de janeiro de 2007

Noite de S. Silvestre

A última noite do ano é festejada de forma mais ou menos exuberante, um pouco por todo o mundo. Com espumante, passas, tampas de panela, lixo pelas janelas, gritos, abraços e votos de Bom Ano, toda a gente dá largas à sua alegria e corda ao papagaio da esperança de melhores dias.
A surpresa surge no dia 2: afinal houve gente que não festejou e passou o ano a fazer muitas e difíceis contas. Essas mentes privilegiadas que velam por todos nós concluiram ser necessário fazer ligeiros ajustamentos nos preços, por forma a evitar a falência. As contas são tão bem feitas e tão rigorosamente estudadas que determinam a inevitabilidade e urgência dos aumentos, sob pena de o país se afogar antes da chegada da Protecção Civil, como aconteceu aos pescadores, na Nazaré.
O que vale é que a taxa de inflacção prevista é só de cerca de 2,5 %. Se assim não fosse, o meu cafézinho não teria apenas 10% de aumento ...