Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
domingo, 23 de junho de 2013
Palavras bonitas
Deixo que venha
se aproxime ao de leve
pé ante pé até ao meu ouvido
Enquanto no peito o coração
estremece
e se apressa no sangue enfebrecido
Primeiro a floresta e em seguida
o bosque
mais bruma do que neve no tecido
Do poema que cresce e o papel absorve
verso a verso primeiro
em cada desabrigo
Toca então a torpeza e agacha-se
sagaz
um lobo faminto e recolhido
Ele trepa de manso e logo voraz
que da luz é a noz
e depois o ruído
Toma ágil o caminho
e em seguida o atalho
corre em alcateia ou fugindo sozinho
Na calada da noite desloca-se e traz
consigo o luar
com vestido de arminho
Sinto-o quando chega no arrepio
da pele, na vertigem selada
do pulso recolhido
À medida que escrevo
e o entorno no sonho
o dispo sem pressa e o deito comigo
Maria Teresa Horta
PS - Ontem a Universidade de Coimbra foi declarada Património da Humanidade pela Unesco e, nesta decisão, é toda a cultura portuguesa que é reconhecida.
terça-feira, 18 de junho de 2013
Actualidade
Vítor Gaspar e Passos Coelho têm razão: para quê pagar os subsídios de férias em Junho se o Verão só chega em Novembro!
E mais: este ano ainda não tive férias e, de acordo com a última do nosso inquilino de Belém, ainda não as fiz, não sei se as faço ou se as "façarei".
É obra! Depois do plural de cidadão ter passado a "cidadões", parece que o verbo fazer ainda tem mais uma irregularidade.
Puna-se o verbo, que não divulgou esta sua forma a todos os seus "concidadões" e assim contribuiu para a ignorância de muitos.
quinta-feira, 13 de junho de 2013
Santo António
sábado, 8 de junho de 2013
Quotidiano
À saída, um automóvel (mal) estacionado em cima do passeio não permite efectuar a manobra. Tem os "piscas" ligados e o seu condutor deve ter ido, num "pulinho", tomar um café.
Estou a colocar os "phones" nos ouvidos, o saco que traz o livro, a maçã e as bolachas já ocupou o lugar à minha beira, que não teve pretendente. O autocarro deve levar 25/30 pessoas em silêncio. Não há qualquer comentário em relação ao "simpático" que nos impede o início da viagem. Normal!
Eis senão quando surge um casal, já entrado nos anos (dois "idosos sexagenários"), com a mulher a gesticular para o motorista. Percebe-se, pelo movimento dos lábios, que pergunta se vai para Lisboa e pede a abertura da porta.
- Viessem mais cedo ...
Ouço o comentário e apetece-me responder. Contenho-me. Afinal são só 06H30 da manhã, ouço música, tenho o dia todo pela frente para me aborrecer ...
- Não sabem o horário!?
- Há gente que acha que os outros podem sempre esperar pelos atrasados ...
O motorista abriu a porta e o casal entrou.
- Bom dia a todos, ouviu-se da voz masculina, bem rasgada.
Poucos responderam.
- Obrigada por abrir a porta. O senhor dos bilhetes disse-nos que já tinha partido ... mas como estava aqui ... desculpe, falou a mulher.
- Sentem-se, que vamos avançar.
O tipo do automóvel voltou do café, sentou-se ao volante e acelerou, sem um aceno de desculpa. Foi à vida, descansado, e não teve direito, ao menos, a uma criticazinha.
Passaram junto a mim, ele com o boné característico de quem vive e trabalha no campo. À cautela, um guarda-chuva enorme na mão, não vá o S. Pedro da capital fazer das dele, num sítio onde ninguém nos acolhe nem oferece tecto, mesmo que chova "a cântaros". Ela leva um saco, também grande, que não parece pesado. Talvez tenha lá dentro o aviamento para o dia, que a vida não está para comer em restaurantes e, mesmo havendo dinheiro, não se conhece ninguém ...
Iriam ao médico? Talvez, mas chegaram atrasados ao autocarro.
Se não fosse aquele senhor ter vontade de beber a sua bica matinal e teriam ido no outro, a seguir.