domingo, 31 de dezembro de 2023

Ciclo

2023 está a despedir-se e não aparenta ter motivos para partir tranquilo e satisfeito. Não soube, não quis ou não pôde tratar da melhor forma os acontecimentos que lhe calharam em sorte. É certo que, em todos os seus antecessores, há coisas que correram menos bem, expectativas que saíram goradas, objectivos que não foram atingidos. Também muitos houve que deixaram marcas indeléveis na história, triste, deste mundo que, muitas vezes, parece uma barata tonta sem rei nem roque.

A invasão da Ucrânia está quase com dois anos e o fim não parece próximo, a não ser que, entretanto, falte a "gasolina" a um dos contendores; no Médio Oriente, aos olhos do leigo sentadinho na cátedra do sofá, tudo parece indiciar que o fim também está longe e deixará mais marcas impossíveis de esquecer em todos aqueles que conseguirem sobreviver.

Aqui, neste rectangulozinho à beira-mar desenhado, as vicissitudes do costume, ampliadas e repetidas até à saciedade por uma nova forma de fazer comunicação, massacrante, descuidada e, muitas vezes, desesperadamente estúpida. Às gémeas, coitadas, não lhe bastava o sofrimento físico e ainda as fizeram arcar com a responsabilidade de toldar as relações entre um pai, extremoso, e um filho, distraído mas muito preocupado com os outros; a senhora Procuradora Lucília Gago, a quem a tartamudez do apelido deve ter impedido a clareza e a reserva, dissolveu, na vertigem de um parágrafo, aquilo que os eleitores haviam destinado para ser consumido em quatro anos; a decisão obrigou à marcação de novo acto eleitoral e o "árbitro" marcou o "jogo" para 10 de Março (qual é a pressa?); nos Açores, as "comadres" desentenderam-se e, como mais vale cedo que tarde, o mesmo "árbitro" marcou a final do "jogo" para Fevereiro, provando que, afinal, esta coisa dos prazos é como o elástico: estica e encolhe conforme a vontade do seu detentor.

Se tudo correr dentro da normalidade, haverá, em 2024, eleições para a Assembleia da República e para o Parlamento Europeu, para além das regionais açorianas. Esperemos que os resultados não defraudam nem ensombrem a festa do meio século de Abril.

BOM ANO! 

sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Inverno

Noite escura, portas e janelas fechadas, lareira a crepitar, livros e música.

E ainda há quem não goste do Inverno!

quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Livros (lidos ou em vias disso)

"(...) Observemos um caso concreto bem documentado e que já atrás aflorámos. Em 1742, o nosso rei D. João V teve um AVC, então descrito como um <<um estupor que o privou dos sentidos e ficou teso de toda a parte esquerda, com a boca à banda>>. Enquanto o rei repousava no real leito rodeado de pagelas, de mitras, de rezas e de estatuetas de santinhos, o que faziam os seus médicos? Sangraram-no, claro, e deram-lhe, à laia de primeiros socorros, uma infusão purgante de açafrão, <<xarope áureo>> (provavelmente uma mixórdia feita à base de açúcar de cana) e <<pós cornichos>> (desconhecemos o que seja). Depois, reuniu-se uma junta médica para fazer o diagnóstico, na qual se incluíam todos os físicos e os cirurgiões do paço.

Uns diziam que a causa de tal achaque (os termos <<trombose>> ou <<AVC>> nunca são referidos) se devia ao costume que o monarca tinha de dar despacho depois de comer; outros defendiam que tal sucedera porque o rei era guloso; outros garantiam que tal fora causado pelo facto de o monarca beber água do Chafariz d'El-Rei (que era o principal chafariz de Lisboa, lembre-se); uns tantos acusaram os cirurgiões reais de serem os culpados do ataque, por cobrirem as úlceras das pernas de el-rei com unguentos à base de ouro. Por fim, a opinião dominante foi a que afirmou que o ataque fora provocado por um tratamento à base de essência de Ambarum griseum (essência de âmbar), mistela que era dada ao monarca como afrodisíaco e espevitante sexual ... 

A decisão final da junta médica foi parar a aplicação desses remédios todos e enviar o rei a banhos termais para o Hospital das Caldas da Rainha. (...)"

Sérgio Luís de Carvalho
Das tripas coração
(Saúde, Higiene e Medicina no tempo dos descobrimentos)
Minotauro (2023)

terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Sorte

Uma troca ou alguma desatenção própria da época trouxe ao Oeste um livro em duplicado, deixando outro sem direito à viagem aprazível que, pela certa, adoraria fazer. O contacto telefónico resolveu a questão.

- Não tem problema. Amanhã ou depois a carrinha passa por aí e recolhe-o. Entretanto, vamos enviar o correcto de imediato.

O diálogo ainda prosseguiu com as desculpas pelo sucedido, os votos da época e o "disponha sempre" para fechar.

A programação foi cumprida. A campainha tocou e o estafeta, já conhecido, apresentou-se a recolher a encomenda, que havia entregado alguns dias antes.

- Oi, sinhô Orlando, como vai?

- Bem, obrigado. E o senhor?

- Muito cansado, muito mesmo ...

- Começou cedo?

- Saí de casa ainda não eram seis ... e só vou chegar bem perto das nove, se tudo correr bem.

Notava-se que precisava de uma pausa, para desabar, desanuviar, descansar, falar com alguém que o ouvisse.

- Todo o dia é isto ... descanso ao Domingo. Imagina quanto ganho?

- Não faço ideia e nem quero dar palpite.

- Não chega a setecentos e vinte limpos ...

- Claro que sobram dias todos os meses ...

- Vai ser só até ao final do ano. Já arranjei outra coisa. Vou continuar a trabalhar muito, mas pagam um pouco mais ...

Um sorriso aberto, talvez por o ter ouvido, ainda que de sobrolho franzido.

- No Brasil era pior. E ainda consigo, de vez em quando, mandar para lá algum ...

Sentou-se ao volante da carrinha, despediu-se com um aceno prolongado e um sorriso interminável.

- Boa sorte, foi tudo o que consegui dizer.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2023

Natal

Numa clara homenagem a todos nós, habitantes deste real burgo, as entidades responsáveis pelas iluminações de Natal desta cidade escolheram os anjinhos para nos "alumiarem" e, talvez, nos darem uma maior capacidade de entendimento sobre o que por aí vai, da região ao país, da Europa ao Mundo.

Há quem, sem grande esforço e com uma lata impressionante, continue a tentar mostrar que a iluminação só bafejou uns poucos e a eles cabe a "colonização" da mente do povaréu.

"Ninguém se lava duas vezes nas águas do mesmo rio, porque a água não é a mesma e as pessoas também não". Esta frase, citada de cor e sem qualquer rigor científico, pertence a Heráclito e data de cinco séculos antes do nascimento de Cristo, que se comemora nesta época. Não quero (longe de mim tal ideia) contrariar um pensador deste nível mas, por aqui, começa a cheirar muito ao antigo e eu preferia não ver o rio a correr, de novo, com água "podre".

BOAS FESTAS

terça-feira, 19 de dezembro de 2023

Vertigem

Já estamos a chegar ao Natal e o ano aproxima-se do final. Rimou ...

A falta de imaginação é notória e o "deixar de" faz perder o hábito, o rigor da disciplina diária e a segurança da mão.

Amanhã! E mais um dia passa. Hoje não me apetece, ontem nada me ocorreu, anteontem não havia assunto. Desculpas ... e já lá vai quase um mês!

Aconteceram tantas, mas tantas coisas que mereciam algum comentário, ainda que essas notas tenham sempre pouco ou nenhum nexo. 

Está frio, a geada surge nas manhãs do oeste, o "menino de Belém" está muito caladinho, o governo já só gere a procura das notas ... para a informação do dia. À volta, nem "musgo" existe, quanto mais presépio!