quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

29 de Fevereiro

Julgo que não estarei equivocado. Desde que há eleições livres em Portugal, nunca o dia 29 de Fevereiro havia participado em qualquer campanha eleitoral. Era uma pena!

O dia só tem algum protagonismo de quatro em quatro anos, abandonando os que nele nasceram e esquecendo os que morreram, aceitando apenas comemorações tão espaçadas que ficam esquecidas no fundo da gaveta. Ora, as eleições que se realizam em Portugal desde 1975 são consequência desse dia memorável que foi o 25 de Abril de 1974, sempre lembrado por aqueles que o viveram e cada vez mais ignorado pelos que pouco sabem ou fingem desconhecer o que se viveu em Portugal até àquela data gloriosa.

Aos olhos de quem vê de longe e ouve quando lhe apetece, os "sabões" dizem que tudo se encaminha para uma solução que nenhum arrisca vaticinar. E se...? E se...? E se...? Prognósticos só no fim ...

No dia 10 do próximo mês saberemos tudo o que os eleitores decidiram e veremos o que é extraído desses resultados pelos partidos concorrentes e por quem determinou a realização do acto. 

Por enquanto (longe vá o agoiro) são os resultados expressos nas urnas que contam e não os ditados pelo Facebook e quejandos.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Despedida

Em 27 de Maio de 1987 sentei-me na bancada do Estádio Prater, em Viena de Áustria, onde se iria disputar a final da Taça dos Campeões Europeus de Futebol, entre o Futebol Clube do Porto e o Bayern de Munich. Tinham sido percorridos cerca de 3.000 quilómetros, numa viagem inesquecível até aí, com memória mais reforçada depois do que aconteceu.

Ainda não havia claques organizadas e os portugueses presentes eram poucos, quando comparados com os inúmeros alemães, que preenchiam, à vontade, dois terços das bancadas. Viam-se provocações gestuais, uma vez que, de cá, em alemão, o vocabulário pouco passava de Volkswagen e Telefunken. Do lado de lá, também eles desconheciam a beleza do português normal e ainda mais o vernáculo tão habitual nas "futeboladas".

Após ter estado a perder por 1-0, o FCP deu a volta e ganhou por 2-1, com golos de Juary e Madjer, este com o calcanhar que se tornou célebre. O silêncio dos alemães, no final, contrastou com a euforia com que tinham entrado. David venceu Golias ...

O treinador do FCP era Artur Jorge, que escondia a sua subtileza e cultura debaixo de um bigode farfalhudo, identificando-o como grande treinador, tal como já tinha sido como jogador. 

Faleceu hoje, aos 78 anos. Por certo todos os que viveram aquela tarde/noite, como executantes directos ou como espectadores, se curvarão em sua memória e lembrarão o treinador, o jogador do "pontapé-moinho" e o homem de cultura que foi.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Soluções

Quando a necessidade de esclarecimento ou resolução de problemas obriga a contacto telefónico, é um prazer enorme pôr o telefone em alta voz, marcar os números das opções propostas e, por fim, ouvir uma voz, simpática e bem timbrada, debitar a lengalenga:

- Estimado cliente: ainda não foi possível atender a sua chamada. Caso pretenda, pode continuar a aguardar. Caso prefira que o contactemos de volta, marque 2 e será contactado em 48 horas.

Decorreram já  5 minutos, a lengalenga foi repetida, repetida e repetida, entremeada com música, decerto propositadamente irritante, que faz desesperar um santo.

O suplício persiste, a testar a paciência que ameaça esgotar-se a qualquer momento. 

- Não desesperes. Tu é que precisas ...

Cada minuto parece uma eternidade. Já lá vai quase meia hora. Todavia, a esperança é a última coisa a morrer. Alguns minutos depois, surge uma voz a trazer a tranquilidade necessária.

- Em qui posso ajudá?

Aveludada, com sotaque característico do lado de lá do Atlântico, a voz acalma o nervosismo. Exposta a situação, a solução não tarda muito.

- Vai tê de aguardá o envio das instruções por mail. Posso ajudá em algo mas?

- Não, muito obrigado. Boa tarde.

- Uma boa tarde também para o sinhó.

Quase 40 minutos depois, tudo tratado ... e nada resolvido!

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Todos diferentes ...

Vivemos num tempo de agressão, desrespeito, violência, fome, guerra, estupidez, malfeitoria, crime, incapacidade, incompreensão, despeito, desleixo e muito mais, que os substantivos podem classificar, os poderes, mascarar, e nunca as gentes de bem devem ignorar.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Carnaval

S. Pedro, este ano, resolveu estragar uma boa parte da festa carnavalesca habitual, enviando a Karlota com uma boa carga de chuva e vento. A maior parte dos desfiles, previstos para o Domingo passado, foram cancelados e hoje, apesar da melhoria do tempo, ainda houve alguns que não saíram dos armazéns. Trabalho árduo de muita gente que não chegou a mostrar-se.

O período eleitoral que atravessamos também contribuiu para uma certa saturação de "carnavais" e acaba por ser natural que, a uma grande parte das pessoas, lhe não apeteça pular e dançar na rua, ao som das mesmas músicas de há cinquenta (ou mais) anos. É muito mais salutar e educativo ficar em casa, frente ao televisor, a assistir a pseudo debates, que elucidam o baixo nível a que se chegou e a "grande" qualidade da maioria dos intervenientes, com destaque para quem quer voltar aos tempos de antanho.

E depois admirem-se se a abstenção tiver maioria absoluta ... 

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Rádio

Ouvir rádio há muito que deixou de ser uma tarefa caseira e passou a quase exclusiva das deslocações no automóvel. Continua a ser muito agradável - prazeroso, diria, em linguagem de hoje - e a fazer companhia, agora com duração muito mais curta e sem os rituais diários que as deslocações, antigas e habituais nesses tempos, proporcionavam.

Apesar das alterações do dia a dia, há programas que procuro não perder, ainda que, por vezes, seja necessário recorrer à modernice do podcast ou à gravação que a página da estação disponibiliza.

O "Destacável" é um programa de Aurélio Gomes, que pode ser ouvido aos sábados, na Antena 1. No de hoje, entre muitas outras coisas, houve uma conversa com Fernando Alves, radialista enorme, acabado de sair da TSF por razões que não terão apenas a ver com o desgaste natural da idade. A sua vida e as leis inexoráveis da dita foram o tema dominante. E também as diferenças, enormes, existentes hoje, até na forma como se atende o telefone, se anda de Metro ou se faz informação.

Ri-me várias vezes, sorri muitas outras, fiquei a pensar em mais algumas.

"Aos sessenta, se tenta; aos setenta, se senta."

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

(...) 
Febre de Verão, em Lisboa.
Tuberculose, algum tifo. E as eleições de Junho.
A oposição continuava a queixar-se. O que lhe fora sonegado nas urnas. Principalmente na Madeira, onde havia republicanos na prisão.
Ninguém esquecia aquela pouca-vergonha.
E ia a pior.
Constava que se urdia uma nova lei eleitoral. Propósito?
Cobrir todas as trafulhices dos talassas. As que já se conheciam e as que seriam inventadas.
Protestava-se.
Convocavam-se as manifestações quase todas as semanas. E a multidão vinha para a rua.
Não os explorados das fábricas e oficinas. Nem as mulheres descalças forçadas à descarga do carvão.
Não as varinas levando os filhos à cabeça, nas canastras. As que ficavam no olhar do José Joaquim, quando passavam ao entardecer.
Vinha gente remediada. E burgueses de bengala e chapéu de coco.

Sim, os republicanos, e a facção visível da Maçonaria, que haveria de se chamar <<Carbonária>>. O verde e o vermelho que viriam a ser bandeira. Que talvez já o fossem.

Além deles, o rapazio. Garotos que apareciam de todo o lado, a correr. Faziam muito barulho. Surriadas. Quando os mais velhos dispersavam, voltavam ao pião. Ao rapa.

Cantava-se o hino da Maria da Fonte.

Ainda não se compusera A Portuguesa. Isso só aconteceria em 1890, ao cruzar-se a iminência da bancarrota com o despeito pelo ultimato inglês. (...)

Filomena Marona Beja
Franceses, Marinheiros e Republicanos ...
Divina Comédia (2014)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Carnaval e sonho

Apetecia-me muito escrever sobre polícias, ladrões, agricultores, manifestações, sindicatos, seca, chuva, sol, liberdade, responsabilidade, respeito, vontade, senso, honestidade, competência, trabalho, trafulhice, disparate, miséria, violência. E, procurando com alguma calma, encontraria muitos mais temas que são hoje recorrentes e fazem parangonas no caldo vertiginosamente noticioso.

Porém, falta-me a pachorra e já não tenho idade para a comprar e muito menos para me preocupar com o que poderá surgir no futuro. Já vivi mais do dobro de anos em liberdade do que vegetei em ditadura ,,,

De vez em quando sonho que poderia ser interessante algumas pessoas experimentarem, apenas durante uma semana, o "clima" do "antes". Talvez isso lhes permitisse perceber melhor o que estará em causa se alguns "cabeçudos" que por aí pululam fossem promovidos a "reis" e passassem a mandar no "carnaval".

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Mais um

O meu neto caçula faz hoje 8 anos e o tempo vai acentuando a grandeza do seu ser, as suas capacidades e a delicadeza amorosa que sempre apresenta.

Guardião no futebol, xadrezista no écran e  no tabuleiro, rápido no padel, enorme nas conversas de gente grande, esquerdino na maior parte das acções de pés e mãos, perfeccionista nos trabalhos e nas brincadeiras. Sempre atento ao que o rodeia, é rápido no entendimento e na resposta, e senhor absoluto das suas ideias, graças à forte personalidade que detém. 

- Avô, agora ando a ler muito Banda Desenhada. E gosto! 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Espelho

Num dia lindo, a Lagoa estava tão apelativa que até as habitações da margem quiseram dela usufruir!!!






sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Qualidade

Um dos meus netos, há pouco, perguntou se eu conhecia uma música que estava a tocar no rádio do seu carro. Chamar rádio ao computador que lá está instalado é apenas um desabafo de antigo ...

A música era "O primeiro dia", de Sérgio Godinho.

- Claro que conheço. Até tenho o disco. Deve ter perto de 50 anos ...

- Não pode ser, ouvi como resposta.

Fui confirmar. Ainda não chegou ao meio século, mas já falta pouco. O álbum - Pano Cru - onde esta música aparece pela primeira vez, data de 1978. Por estranho que possa parecer, ainda mantém a qualidade e a actualidade que levam uma criança de 11 anos a dela gostar.

Ouvi-la e recordá-la sabe sempre bem e mais ainda quando embalada e cantada por sangue novo (sabe de cor toda a letra). Não vale a pena colocá-la, de novo, por aqui. Se alguém quiser dar-se ao trabalho de procurar, encontrá-la-á duas ou três vezes, pelo menos.