segunda-feira, 25 de junho de 2007

Constatação


Não recordo bem se foi na primária, no ciclo ou em brincadeiras de miúdo, mas relembro a experiência de colocar um feijão num recipiente com água e, passados alguns dias, poder admirar como, pouco a pouco, a semente germinava e desenvolvia um pequeno feijoeiro.

Decorridos tantos anos, verifiquei que a natureza delegou poderes e concedeu a alguns empresários da construção civil a possibilidade de fazerem germinar casas, com as vantagens que, seguramente, daí resultam.

Só não consegui descobrir se germinam num recipiente com água (como o feijão), no interior de um saco de cimento ou se basta colocar o projecto no cabouco e aguardar a emissão da licença da autarquia.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Palavras bonitas

OS ERROS

A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida - o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos

Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

O nome das coisas
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2004)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Perguntas idiotas

Se a língua universal é o inglês, porque forçam as criancinhas a aprender a língua portuguesa e ainda as obrigam a fazer exame?
Não será anti-pedagógico?
Não corremos o risco de ficarem afectadas psicologicamente?
Ou será para obrigar os escritores portugueses a deixarem de escrever nesta língua que, em oitocentos anos, "apenas" deu um Nobel?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Anedotas

Em dia de Santo António e numa altura em que parece haver alguma dificuldade em digerir piadas, surgiu-me na memória uma anedota que se contava no "tempo da outra senhora", com algum cuidado para que não chegasse ao ouvido atento de algum "bufo".
O contador da "estória" perguntava:
- Sabes qual é o português que mais tem convivido com santos?
- Não
- Henrique Galvão
- ???
- Apoderou-se de um navio chamado Santa Maria, que "baptizou" de Santa Liberdade e morreu em São Paulo, tudo por causa de um Santo António, que mora em São Bento e nasceu em Santa Comba.

Retrocesso ?!

Vindo de um homem conhecido pelo seu optimismo, causa preocupação ler isto.

(...) Neste momento há um relatório, nos Estados Unidos, onde se diz que o grande inimigo já não é o terrorismo, mas o perigo que podem representar as populações do Sul, famintas, vítimas do subdesenvolvimento e das catástrofes naturais, procurando desesperadamente entrar nos países ricos do Norte. E a única resposta possível - diz o relatório - será a sua exterminação em massa.

Vejam! Trata-se de preconizar o regresso à barbárie ... Depois do humanismo iluminista e, apesar de tudo, de dois séculos de progresso...

... Haverá revoltas, grandes confrontações, talvez guerras. Só vejo uma forma de evitar os conflitos e porventura as revoluções que se preparam. Fazer reformas a sério, progressivas. Não contra-reformas. Não é acabar com o Estado, deixar os ossos ao Estado e a carne aos privados. Isso não é uma reforma. É uma contra-reforma. (...)

Mário Soares
Entrevista à Revista Única
Jornal Expresso - 09.06.2007

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Palavras bonitas


MOINHO SEM VELAS 

Meu moinho abandonado,
meu refúgio de inocente,
meu suspiro impertinente,
meu social transtornado.

Meu sussurro de oceano,
meu ressoar de caverna,
minha frígida cisterna,
minha floresta de engano.

Minha toca de selvagem,
meu antro de vagabundo,
minha torre sobre o mundo,
minha ponte de passagem.

Meu atributo coitado,
meu tanger de hora serena,
rolo de pedra morena,
silêncio petrificado.

Poesias Completas (1956-1967)
António Gedeão
Portugália (1975)