domingo, 30 de dezembro de 2007

Árvores

No final de mais um ano, as árvores mantêm o seu porte majestoso, mesmo que o vento, o frio e a chuva as fustiguem amiúde ...

quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

Rotina

Ei-la de novo e sem autorização ou passaporte.
Instala-se e pronto ... não paga renda, não pede licença, "abanca".
Já não há: "fala mais baixo que acordas o menino"; "cuidado com a porta aberta"; "despacha-te que pode ser preciso alguma coisa"; "agora não me peças nada".
A casa é enorme !!!
Ontem tinha tanta gente ...

domingo, 23 de dezembro de 2007

Natal

As flores do Natal, no jardim e na Casa.

Estão cá todas ... as grandes, as pequenas, as "estrangeiras" e as nacionais, as que aqui nasceram e as que se juntaram.

É o jardim completo ... por pouco tempo.

sábado, 15 de dezembro de 2007

Sem data

No final dos anos sessenta fazer uma escritura significava, pelo menos, uma manhã de burocracia, depois de algumas passagens pelas Finanças e pela Conservatória, também pela Câmara, para obter os documentos necessários.
Ao Notário, coadjuvado pelo Ajudante de mangas de alpaca no casaco, cabia a marcação da data, depois de uma olhada rápida pelos elementos entregues. Os pormenores ficavam para o dia aprazado, com a presença de todos os intervenientes, que compareciam com bastante antecedência para que nada pudesse correr mal e o serviço, de muita responsabilidade, não fosse prejudicado pelo atraso de alguém.
Nessa altura trabalhava como empregado de escritório (ou guarda-livros como, por vezes, ainda se ouvia aos mais velhos) de uma grande casa agrícola da região, cujo proprietário, herdeiro de uma grande, antiga e conceituada família, era uma pessoa de grande cultura, educação e rigor.
Pouco dado às burocracias e com, por certo, coisas bem mais interessantes para fazer, mandava-me ir em sua representação e chegava, apenas, na hora aprazada para o acto. O Notário conhecia os hábitos e sabia que, à hora marcada, deveria ter a escritura totalmente pronta e em condições de ser lida e assinada, porque a sua pontualidade era "inglesa".
Naquele dia, à hora prevista, não chegou ...
Passou-se quase meia hora e nada ...
Pedi ao Notário para utilizar o telefone, fixo, que os móveis só chegariam muitos anos depois.
Liguei para a Quinta e fui atendido de imediato. Estava, quase de certeza, sentado a aguardar o telefonema.
- Estamos todos à sua espera ...
- Para quê?, foi a pergunta que surgiu do lado de lá.
- Para assinar a escritura de... deixei um recado escrito num papel, na mesa da sala verde, respondi, já com algum receio e sensação de culpabilidade.
- Vi e li. Não tinha data, não fiquei a saber que era para hoje. Vou já para aí.
Nunca mais esqueci a lição.
Ainda hoje, em qualquer nota, por mais curta que seja, coloco sempre a data.

quinta-feira, 13 de dezembro de 2007

Natal

 NATAL UP-TO-DATE

Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filial do Banco erigiu-se um Presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó já na próxima década

Chega o rei do petróleo a fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público

Nas palhas do curral ocultam microfones
O lajedo em redor é de pedras da Lua
Rainhas de beleza hão-de vir de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas

Eis que surge no céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muito mais rápido

Assim a noite passa. E passa tão depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
Só Jesus afinal não quer nada convosco

Obra Poética (1948-1988)
David Mourão-Ferreira
Editorial Presença (1997)

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Orgulho sem preconceito

A Casa hoje está muito orgulhosa!

Um dos seus rebentos (agora já são honorários, mas sempre de pleno direito) submeteu-se às provas de doutoramento em Biologia, na Faculdade de Ciências de Lisboa.

Cá dentro havia a certeza de que tudo iria correr bem, mas o sistema nervoso tem andado algo descontrolado nestes últimos dias.

Quando o meu neto puder entender, vou contar-lhe que a mãe foi aprovada por unanimidade, com distinção e louvor e que respondeu a perguntas e explanou ideias durante mais de três horas.

Perdoe-se a vaidade (contida), mas a modéstia em demasia é defeito.

O mérito (e o trabalho) é todo dela - "é uma valente" - mas nós também demos um pequeno contributo.

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Laços

Venceu o Concurso de Curtas do YouTube. São pouco mais de seis minutos de filme, que valem a pena, pela forma como o laço atado se desata, puxando pela ponta, por mais pequena que seja. "A vida nada mais é que viver cada coisa que acontece".

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Alegria ... no trabalho

O dinheiro não faz a felicidade ... mas ajuda muito!

No início da semana que hoje termina atendi um jovem cidadão ucraniano, com as faces muito coradas e um sorriso largo mas envergonhado, cuja razão não consegui descortinar no imediato.
Cumprimentou-me (já não era a primeira vez que falava comigo) e disse-me, num português arrastado e sem concordância gramatical:
- Ter cheque a depositar.
O sorriso alargou-se quando me entregou a ordem de pagamento da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, emitida a seu favor, por cerca de 230.000,00 Euros.
Esteve cerca de 30 minutos a conversar ... da vida e do que agora poderá fazer.
Ontem voltou, mais calmo, já com as ideias claras. Vai mandar uma parte do dinheiro ganho para ser aplicado na Ucrânia, mas "Portugal é meu país segundo. Fico cá".

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Palavras bonitas

TALVEZ

Talvez os galos rujam os leões cacarejem
mas a nossos ouvidos nos pareça o contrário
Talvez leões e galos se riam em segredo
por saberem que andamos desde sempre enganados
Talvez bebamos fogo quando ouvimos silêncio
Talvez sejam serpentes o que chamamos água
Talvez o tempo tenha tanto a ver com o Tempo
como têm cem corvos a ver com uma cigarra
Ou talvez estes versos sejam só o enredo
de dez rios dois astros a névoa de uma casa

Obra poética (1948-1988)
David Mourão-Ferreira
Editorial Presença (1997)

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Dama-da-Noite

Moro no vaso do canto, junto ao pilar que suporta a varanda da casa, mas não nasci aqui. Trouxeram-me lá do fundo do País, de um lugar onde o Guadiana se espraia beijando as duas margens, oferecendo-se a portugueses e espanhóis sem cuidar de saber se mata mais a sede a uns do que a outros.
Apesar de a viagem ter sido agradável (o carro tinha ar condicionado), vinha com receio do desconhecido e a questionar-me sobre o que me aguardava na nova vida.
O primeiro impacto foi positivo. Agradou-me o local, o carinho com que fui colocada num vaso maior, a companhia de outras flores, todas diferentes, belas e cheirosas. O Sol não era tão forte como na minha terra, de vez em quando a nortada abanava-me e obrigava a algum cuidado, para não perder o equilíbrio e a roupagem, havia menos trânsito e o bulício era bem menor.
Por vezes, a memória agitava-se com recordações dos jardins anteriores, com pouca água, pouco cuidado, pouco alimento, pouca atenção.
Experimentei a crista e o fundo da vaga, tropecei nas pedras, escorreguei nas rochas, caí na areia. Não vou ser capaz ... os ramos partiam-se, as flores caíam, o cheiro evaporava-se, o cão mijava-me o tronco ...
Num olhar em volta, mais atento, a realidade beliscava: ao lado, nas outras flores, também havia fragilidades, tristezas, angústias.
Espreitei o Sol, bebi a água da chuva, encolhi-me com o frio, ouvi as vizinhas, olhei para dentro, espreitei pelo canto, mexi as mãos, cocei a cabeça, esfreguei os pés.
Vamos à vida, que o futuro é hoje!
Exalo perfume, dou flores bonitas, valorizo o jardim!
Sou a Dama-da-Noite ... e gosto de mim!

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Mês da música



Hoje, que acaba Outubro, apetece-me dizer que José Afonso foi um grande, grande músico.

O Teatro da Rainha, de quinta a sábado da semana passada, prestou-lhe um excelente tributo, com três espectáculos de alto nível.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Palavras bonitas

Quem me amarrou a ser eu
Fez-me uma grande partida.
Debaixo deste amplo céu,
Não tenho vinda nem ida.
Sou apenas um ser meu.

Nem isso ... Anda tudo à volta
A retirar-me de mim.
Parece uma fera à solta
Este mundo que anda assim
A servir-me de má escolta.

Quando encontrar a verdade
Hei-de ver se hei-de fugir,
Pelo menos em metade.
Depois ficarei a rir
Da minha tranquilidade.

Novas Poesias Inéditas
Fernando Pessoa
Edições Ática (1973)

domingo, 21 de outubro de 2007

Partida

Aguardava-se há alguns dias.
O "bilhete" estava "comprado", faltava apenas saber a que horas chegaria o "autocarro".
Foi há pouco, no final de um fim de semana de sofrimento. Já nem soube o resultado do seu Benfica.
Conheci-o há mais de 40 anos, jovem mecânico de automóveis, numa oficina, no sítio da minha infância. Apesar de já não exercer esse mister, algumas vezes resolveu pequenos problemas mecânicos que me foram acontecendo.
Vivíamos na mesma rua há 30 anos! Em tempos idos, discutíamos quem devia ter a chave, por disputarmos sempre o último lugar da chegada.
Tinha 4 anos e pouco a mais que eu ... partiu, levado pela força indomável do cancro.
Adeus, Q.M.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Palavras bonitas

A GENTE NÃO LÊ

Ai Senhor das Furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a Deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Ai Senhor das Furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezítia
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem.

Album Fora de Moda (1982)
Letra de Carlos Tê
Música de Rui Veloso


quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Barcelona


O feriado comemorativo da República e um diazito que ainda restava do plano de férias, permitiram uma escapadinha a Barcelona, capital da Catalunha, afinal aqui tão perto. A viagem de regresso a Caldas foi mais rápida do que a realizada pela filha, entre Torres Novas e Lisboa.

Refira-se, para clarificar, que um viajou "pelo ar", enquanto outra, mais prevenida, veio com os "pés na terra".

Barcelona é uma cidade lindíssima!!!

Para além de Gaudi, Miró, Picasso, estão passeios largos, praças soberbas, avenidas vistosas, espaços verdes, mercados arrumados e limpos, gente nas ruas, trabalho intenso, lazer vivido de igual forma, gentes dos quatro cantos do mundo,numa miscelânea de liberdade e de convivência,
de respeito por todos e pelas diferenças de cada um.





Espero lá voltar!
Ficou tanto por ver e ... viu-se muito, num combate incessante entre o cansaço, o prazer e a vontade de usufruir. Ganhou o relógio, implacável, sem qualquer condescendência perante quem tão pouco tempo tinha!

Como se Barcelona não valesse por si só, ainda foi possível recuar 40 anos e conviver com uma "catalã", por adopção e matrimónio, radicada na bela cidade e que viveu e estudou nas Caldas, na juventude que já vai tão longe.

Obrigado D. pelo convívio e pelas recordações que manténs bem vivas.
Saltaste o "muro" e percebeste que, afinal, a rua da tua infância era demasiado pequena.
Ainda é ... apesar dos anos passados.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Coisas da "Quinta"

Apesar dos mais de vinte anos de "reinado", "Rei Costa" não pára de surpreender e de demonstrar a sua queda, inata, para a inovação.

Depois da "corrida em osso" ao Primeiro Guterres, da entrada no Guiness das rotundas, pela construção mais rápida das mesmas, e das evidentes capacidades e conhecimentos de arquitectura e urbanismo, eis a sua brilhante contribuição para a sinalética a adoptar no novo Códido da Estrada:

O novo sinal está colocado na Praça 5 de Outubro e determina uma excepção para os transportes públicos, excepção essa que a capacidade reinante, confiando, como é seu timbre, na perspicácia dos seus munícipes, deixa à adivinhação de cada um ...

Será autorizado o trânsito para os autocarros?

Poderá ser estacionamento para todos os veículos, com excepção dos mencionados?

Permitir-se-á que toda a gente beba uma cervejinha no 120, excepto os que viajam em transportes públicos?

Ora TOMA e adivinha !!!

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Palavras bonitas

E TUDO ERA POSSÍVEL

Na minha juventude antes de ter saído
da casa de meus pais disposto a viajar
eu conhecia já o rebentar do mar
das páginas dos livros que já tinha lido

Chegava o mês de maio era tudo florido
o rolo das manhãs punha-se a circular
e era só ouvir o sonhador falar
da vida como se ela houvesse acontecido

E tudo se passava numa outra vida
e havia para as coisas sempre uma saída
Quando foi isso? Eu próprio não o sei dizer

Só sei que tinha o poder duma criança
entre as coisas e mim havia vizinhança
e tudo era possível era só querer.

Todos os Poemas
Ruy Belo

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Sem título

Não me apetece escrever sobre:

  • a extraordinária lição de convivência, diálogo, respeito e civismo que resulta da campanha eleitoral para as eleições directas no PSD;

  • a santa ignorância de quem vai dar espectáculo à TV e diz que o macho da perdiz é o perú;

  • as excelentes exibições do meu Benfica, relatadas por alguns dos jornais ditos especializados e que a minha televisão não transmite;

  • o amianto que, segundo a senhora Ministra da Educação, está a ser retirado de todas as Escolas ... com excepção daquelas em que isso não acontece.

Por tudo isto, fico-me por uma linda fotografia da Lagoa de Óbidos, à espera da despoluição completa para ficar ainda mais bonita.

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Fim do dia

É tão bom ouvir o silêncio ...

(Estou constipado)
E pensar:

- cheguei mais cedo hoje?!

Não há torneiras nem gavetas a abrir, ainda é cedo para pôr a mesa ...

Começaram as aulas!
Li meia dúzia de páginas do Canário (último livro de Rodrigo Guedes de Carvalho), no sítio do costume ... vi o correio electrónico, os filhos não estão no MSN ...

Bolas ... já estou farto de ouvir o silêncio!
Que chegue o "barulho", que me faz falta!

terça-feira, 11 de setembro de 2007

Cerveira


Tudo tinha sido pensado para um fim de semana tranquilo, sem pressas, usufruindo da beleza e da suavidade da terra, do remanso do Minho e das obras da Bienal.

A viagem começou bem cedo, ainda o Sol não acordara, e decorreu sem problemas, com a estreia de um pouco mais da A8, deixando Leiria a Nascente e ligando à A1, já bem perto de Pombal.

Duas paragens para desentorpecer as pernas e compor os estômagos, "Basófias" com a névoa matinal, e pouco trânsito. O Porto "sentido" e atravessado "junto à Serra do Pilar" com o "velho casario, que se estende até ao mar". Não foi "a primeira vez", mas a imponência do Dragão fez lembrar quem está por outras paragens ... mas adiante.
A voz, feminina, do GPS, fazia companhia e "obrigava" a silêncios, para escutar o melhor caminho.
Chegados ao destino, viatura estacionada junto ao pavilhão principal da Bienal e passeio pela Vila, com visita ao mercado semanal, cheio de compradores vindos do lado de lá do rio, que proporcionavam um ruído de vozes, tons e sotaques, ao mesmo tempo estranho e agradável para quem chega.
A Bienal começou a ser vista depois de umas boas costelinhas grelhadas, a fazerem jus à fama gastronómica da região, e que tiveram "molho" a contento.

Para a noite programou-se a ida ao Terreiro, para onde estava anunciada a recreação de uma desfolhada, integrada nas Festas de Nossa Senhora da Ajuda. Música tradicional, ranchos folclóricos que se faziam acompanhar de "merenda" para quem tivesse apetite e, anunciava o apresentador, os melhores tocadores de concertina da região, antes do fogo de artifício que seria "deitado" cerca da meia-noite.

Já não ouvimos as concertinas!

Alguém fez chegar um papel ao palco e segredou meia dúzia de palavras ao apresentador. Primeiro, a informação de que estava mal estacionado e, logo a seguir a correcção: tinha sido assaltado o carro XX-XX-XX.

Era o nosso!

Uma corrida de cerca de 300/400 metros e lá estava ele, "guardado" pelos familiares de quem tinha voltado atrás para dar o alerta. Vidro partido, gaveta do tabliê aberta, tudo remexido, faltava o suporte do GPS, o respectivo carregador, uma pequena bolsa com CD's copiados e um saco com algumas compras feitas pelos amigos que nos faziam companhia.
Passado o primeiro impacto, entre o "se não tivesse ficado o suporte colado ao vidro" e o "tivemos sorte, podia ser bem pior", decide-se fazer a participação às autoridades, pelo menos para influenciar as estatísticas.

Recebidos de forma simpática, com as desculpas pelo incómodo causado "a quem vem de tão longe", fomos respondendo às perguntas que faziam parte dos vários ecrãs que o agente se esforçava por preencher da forma mais rápida que conseguia. Após algumas dificuldades na impressão, meia dúzia de assinaturas.

No final da "confissão", que durou quase uma hora, a informação, com a simpatia habitual:
- Vai levar um exemplar da participação. Pode ser necessário para o seguro ... Devia ser uma Certidão, mas teria de pagar ... e talvez não seja preciso.
- Pagar?
- Sim, claro! A Certidão tem que ser paga!
- Mas eu sou o lesado. O Estado tem deveres para comigo e um deles é garantir a minha segurança e a dos meus haveres ...
- Tem razão, por isso leva a cópia ... Se fosse certidão, tinha de pagar!

A despedida, tal como a chegada e o atendimento, foi extremamente simpática.

- Deve ser tão aborrecido! Vir passear à nossa terra e acontecer isto. Há três sábados seguidos que isto sucede. O nosso Comandante até está a pensar pôr pessoal à civil por aí ...

Moral da história: Fui roubado, fiquei com o carro danificado, fui bem atendido e trouxe uma via da participação.

Faltou a Certidão para o processo ficar completo ... mas tinha de pagar !!!???

sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Caldas da Rainha


No mês em que se completam 80 anos da elevação a cidade, um comentário sobre a estratégia ou a falta dela ...

"...
Infelizmente, Caldas manteve-se nesse aparente desenvolvimento, assente numa gestão urbana de obra pública duvidosa e empreendimentos imobiliários. As enormes potencialidades das Caldas e das suas gentes estão embotadas por uma condução sem estratégia nem rasgo da sua edilidade. Valem-nos os que ainda lutam, mantendo nichos de qualidade. Esperemos que resistam até que cheguem melhores dias. Esta terra merece-o. E eu sei que sim."

Maria José Nogueira Pinto
Diário de Notícias - 16.08.2007

terça-feira, 28 de agosto de 2007

O barrete do Manelinho

O barrete era peça sempre presente na sua indumentária. Protegia do sol, do frio e da chuva, que os poucos cabelos dispersos pela careca já não cumpriam essas missões.

Diga-se, porém, que não foi a calvície que determinou o seu uso e julga-se, até, que terá contribuído fortemente para a queda do adorno capilar. Se assim aconteceu, a importância do barrete fica muito diminuída e prejudica a sua reputação, enquanto peça essencial do vestuário.

Na época, o barrete já era raro nos campos, substituído, com vantagem, pelo boné de pala, que se apresentava muito mais cómodo e ... mais bonito.

Tinha sido abegão na casa!

Quando o conheci já "mancava" da perna direita, por via da queda de um cavalo, em condições que nunca ouvi explicar bem.

Por essa altura já os cavalos de quatro patas tinham sido substituídos pelos de quatro rodas e o velho abegão deixara de ser o professor de equitação das crianças, o apoio das senhoras no acto de montar e o moço de recados para os ditos, urgentes.

A perna já só era direita no nome de baptismo. O joelho quase encostava ao seu irmão do lado e o pé afastava-se para fora, num simulacro de chuto na bola ... sem ela. A perna fazia um ângulo obtuso, com o vértice situado no joelho. O homem andava, coxeando, num misto de saltinhos e passos, por entre as flores e os canteiros do jardim, local onde passou a trabalhar após a "recuperação" da queda.

A idade, a deficiência e o gosto já não ajudavam na execução das tarefas da jardinagem. Todos, incluindo os patrões, o respeitavam e ninguém comentava a sua fraca ou nula produtividade.

Era desajeitado nas flores.

Não conseguia podar uma roseira, não sabia transplantar um alporque de cravo, não cortava uma sebe de buxo, de nada servia ensiná-lo a semear um canteiro de sécias.

Apesar da perna, nunca estava parado. Corria o jardim de ponta a ponta, vezes sem conta.

Conhecia todas as luras dos coelhos, os sítios onde melros e tordos bebiam água, os locais onde perdizes e codornizes faziam os ninhos.

Era um caçador exímio!

Quando aparecia, na hora do almoço ou da merenda, mandava atiçar o lume e sacava o barrete: bem lá do fundo surgia um melro, apanhado desprevenido na rede, montada no pequeno charco onde fora saciar a sede; um tordo, que se colara no visgo do ramo de loureiro, quando pretendia saborear uma baga da cheirosa árvore; um láparo, apanhado no laço, armado à saída da loca.

Nos pássaros, um pequeno corte dado pela navalha junto a uma das patas ... e as penas saíam, num repelão, agarradas à pele. No coelho, o sistema era idêntico e esfolá-lo era uma questão de segundos ...

A cor avermelhada da carne punha todos a salivar. Antes de o petisco ser posto no lume, era "amanhado" pelas mãos habilidosas e pela "naifa" afiada, "moradora" permanente no barrete.
A dose era curta e mal dava para a "cova do dente" de cada um.

O barrete do Manelinho era a caixinha de surpresas que todos queriam abrir!

quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Alcunhas

A professora escrevia no quadro preto, com giz branco, qualquer coisa que já não consigo precisar ... devia ser alguma explicação matemática! A área das contas punha-a sempre de costas e os alunos aproveitavam para fazer algumas caretas que, noutras circunstâncias, nunca arriscariam.
Apesar das momices, o silêncio era sepulcral e só o giz, de vez em quando, "chiava", incomodando os ouvidos e arrepiando a pele.
Primeiro ouviu-se um ligeiro assobio, quase imperceptível, detectado apenas pelo colega de carteira! Pouco depois a intensidade aumentou, o som identificou-se e acabou num "foguete", como se terminasse uma sessão de fogo de artifício.
Vermelho que nem um tomate, ficou o Bufa-Pum ... e já lá vão quase 50 anos.

terça-feira, 21 de agosto de 2007

Livros (lidos ou em vias disso)

" (...)Os jantares de Mónica também correm sempre muito bem. Cada lugar é um emprego de capital. A comida é óptima e na conversa toda a gente está sempre de acordo, porque Mónica nunca convida pessoas que possam ter opiniões inoportunas. Ela põe a sua inteligência ao serviço da estupidez. Ou, mais exactamente: a sua inteligência é feita da estupidez dos outros. Esta é a forma de inteligência que garante o domínio. Por isso o reino de Mónica é sólido e grande. (...)"

Extracto do conto Retrato de Mónica, publicado em 1962 por Sophia de Mello Breyner Andresen e agora reeditado.

Contos Exemplares
Sophia de Mello Breyner Andresen
Figueirinhas (2006)

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

quarta-feira, 15 de agosto de 2007

15 de Agosto

Não houve carrinhos de choque, carrosséis, poço da morte (cuidado, Marlene, foi assim que seu pai morreu ...), barraquinhas de tiro ou circo.
Nem sequer houve praia.
Apenas foi 15 de Agosto ... no calendário!
A visita matinal ao café teve a companhia do guarda-chuva ...
O mar, na Foz, estava cinzento e bruto ...
Fica a consolação de amanhã ser quinta-feira e o fim-de-semana estar à porta!

domingo, 12 de agosto de 2007

Palavras bonitas


CONFIANÇA
 
O que é bonito neste mundo, e anima,
É ver que na vindima
De cada sonho
Fica a cepa a sonhar outra aventura ...
E que a doçura
Que não se prova
Se transfigura
Numa doçura
Muito mais pura
E muito mais nova...

Cântico do Homem
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (1974)

Passam hoje 100 anos do nascimento do Grande Poeta.

segunda-feira, 6 de agosto de 2007

Hoje

A Protecção Civil não difundiu nenhum alerta e a "peixeirada" aconteceu na Assembleia Geral do BCP. A reunião acabou por ser suspensa, por avaria no sistema informático, que não conseguiu proceder à contabilização correcta dos votos em presença.
No meio de tantos homens de negócios, não havia ninguém que soubesse fazer as contas à mão?

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Palavras bonitas .. para a minha filha

Para a minha filha

O PAÍS SEM MAL

Um etnólogo diz ter encontrado
Entre selvas e rios depois de longa busca
Uma tribo de índios errantes
Exaustos exauridos semimortos
Pois tinham partido desde há longos anos
Percorrendo florestas desertos e campinas
Subindo e descendo montanhas e colinas
Atravessando rios
Em busca do país sem mal -
Como os revolucionários do meu tempo
Nada tinham encontrado.

Ilhas
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2004)

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Natalidade

Cada vez nascem menos crianças em Portugal.
Especialistas estudam o problema, procuram as causas e dissertam sobre as consequências, apresentando conclusões numa linguagem científica, carregada da eloquência própria de quem sabe e que convence qualquer leigo de que a sapiência está por ali ...
E o leigo, com medo de desnudar a sua ignorância, pergunta-se:
  • E as dificuldades económicas?
  • E a falta de perspectiva para o futuro?
  • E a geração dos 500,00 Euros a 6 meses?
  • E o trabalho de "sol a sol"?
  • E as horas intermináveis nas deslocações de e para os dormitórios?
  • E o preço e a escassez dos jardins de infância?
  • E os avisos de não renovação do contrato se houver gravidez?
  • E os que continuam na CP (leia-se: casa dos pais), sem pressa nem condições para partir?
  • E o preço das casas?

E o futuro?

Será dos velhos?

terça-feira, 10 de julho de 2007

De férias ... quase

É este mar que me espera, dentro de poucos dias, mesmo que o Sol faça negaças e a brisa oestina massacre as costas.
À beira-mar ou no "T0", cheques nem os meus; letras, só as dos livros que me farão companhia; saldos, nem aos das lojas vou ligar; notas, já não me preocupam as dos filhos e as do neto ainda vêm longe; aplicações, empréstimos, juros, comissões, devolve/debita, recusa/aprova, faz .. não fez (porquê?) ... e a campanha, está conseguida?
A Foz do Arelho é a melhor praia de Portugal ... a sua maior virtude é ter um mar tão possessivo que nem admite que se disperse a atenção para "coisitas" de somenos ...

quinta-feira, 5 de julho de 2007

Mensagem do meu neto

Festejei hoje o meu primeiro aniversário!
A minha avó fez rissóis, pastéis, arroz, bacalhau, salada de frutas, bolos e uma infinidade de coisas, das quais eu nem sei o nome. Por mim, chegava a papa e aquela frutinha deliciosa que minha mamã me dá! Não entendo a trabalheira ...
Beberam água, vinho e sumos, amarelos e castanhos, com bolinhas ...
As vozes, roucas e desafinadas, procuraram cantar os "Parabéns a você" e eu fiquei espantado ... costumam tratar-me sempre por tu.
Provei um bocadinho do bolo que diziam ser o meu e que tinha um 1 feito num material que ainda não conheço. Não gostei! Fiz uma careta feia .. mas não chorei!
Não é para me gabar, mas acho que me portei muito bem!
Ri-me muito com as caras dos adultos, que me fazem caretas e me falam como se fossem da minha idade e do meu tamanho.
Na parte final, já estava um bocadinho cansado!
Não tenho tido treinos para este nível de exigência. Isto é quase alta competição! O meu tio está no estágio. Sozinho, não tenho pachorra para o exercício físico e ... o corpo ressente-se.
Já me esquecia ... pousei para "milhares" de fotografias! Quando fizer o filme da minha vida, vão dar um jeitão!
Vou-me deitar!
Amanhã prossigo a aventura de descobrir o que existe na Casa!
Já vi muitas coisas boas para puxar, mandar ao chão, partir ...
Será que vão deixar? Logo se vê ...

segunda-feira, 2 de julho de 2007

segunda-feira, 25 de junho de 2007

Constatação


Não recordo bem se foi na primária, no ciclo ou em brincadeiras de miúdo, mas relembro a experiência de colocar um feijão num recipiente com água e, passados alguns dias, poder admirar como, pouco a pouco, a semente germinava e desenvolvia um pequeno feijoeiro.

Decorridos tantos anos, verifiquei que a natureza delegou poderes e concedeu a alguns empresários da construção civil a possibilidade de fazerem germinar casas, com as vantagens que, seguramente, daí resultam.

Só não consegui descobrir se germinam num recipiente com água (como o feijão), no interior de um saco de cimento ou se basta colocar o projecto no cabouco e aguardar a emissão da licença da autarquia.

quinta-feira, 21 de junho de 2007

Palavras bonitas

OS ERROS

A confusão a fraude os erros cometidos
A transparência perdida - o grito
Que não conseguiu atravessar o opaco
O limiar e o linear perdidos

Deverá tudo passar a ser passado
Como projecto falhado e abandonado
Como papel que se atira ao cesto
Como abismo fracasso não esperança
Ou poderemos enfrentar e superar
Recomeçar a partir da página em branco
Como escrita de poema obstinado?

O nome das coisas
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2004)

terça-feira, 19 de junho de 2007

Perguntas idiotas

Se a língua universal é o inglês, porque forçam as criancinhas a aprender a língua portuguesa e ainda as obrigam a fazer exame?
Não será anti-pedagógico?
Não corremos o risco de ficarem afectadas psicologicamente?
Ou será para obrigar os escritores portugueses a deixarem de escrever nesta língua que, em oitocentos anos, "apenas" deu um Nobel?

quarta-feira, 13 de junho de 2007

Anedotas

Em dia de Santo António e numa altura em que parece haver alguma dificuldade em digerir piadas, surgiu-me na memória uma anedota que se contava no "tempo da outra senhora", com algum cuidado para que não chegasse ao ouvido atento de algum "bufo".
O contador da "estória" perguntava:
- Sabes qual é o português que mais tem convivido com santos?
- Não
- Henrique Galvão
- ???
- Apoderou-se de um navio chamado Santa Maria, que "baptizou" de Santa Liberdade e morreu em São Paulo, tudo por causa de um Santo António, que mora em São Bento e nasceu em Santa Comba.

Retrocesso ?!

Vindo de um homem conhecido pelo seu optimismo, causa preocupação ler isto.

(...) Neste momento há um relatório, nos Estados Unidos, onde se diz que o grande inimigo já não é o terrorismo, mas o perigo que podem representar as populações do Sul, famintas, vítimas do subdesenvolvimento e das catástrofes naturais, procurando desesperadamente entrar nos países ricos do Norte. E a única resposta possível - diz o relatório - será a sua exterminação em massa.

Vejam! Trata-se de preconizar o regresso à barbárie ... Depois do humanismo iluminista e, apesar de tudo, de dois séculos de progresso...

... Haverá revoltas, grandes confrontações, talvez guerras. Só vejo uma forma de evitar os conflitos e porventura as revoluções que se preparam. Fazer reformas a sério, progressivas. Não contra-reformas. Não é acabar com o Estado, deixar os ossos ao Estado e a carne aos privados. Isso não é uma reforma. É uma contra-reforma. (...)

Mário Soares
Entrevista à Revista Única
Jornal Expresso - 09.06.2007

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Palavras bonitas


MOINHO SEM VELAS 

Meu moinho abandonado,
meu refúgio de inocente,
meu suspiro impertinente,
meu social transtornado.

Meu sussurro de oceano,
meu ressoar de caverna,
minha frígida cisterna,
minha floresta de engano.

Minha toca de selvagem,
meu antro de vagabundo,
minha torre sobre o mundo,
minha ponte de passagem.

Meu atributo coitado,
meu tanger de hora serena,
rolo de pedra morena,
silêncio petrificado.

Poesias Completas (1956-1967)
António Gedeão
Portugália (1975)

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Livros (lidos ou em vias disso)

" ... Na cabeça de Laura. Na sua cabeça viaja, doce, segue fluída a tranquilidade de não pertencer. Nenhuma expectativa, nenhuma angústia. Assim dita, uma paz.
Porque vive numa calma ausência de si. ..."

Um livro de imagens ou um filme de palavras?

Talvez um quadro da vida, actual, pintado de forma abstracta, com cores tão reais que os factos entram pelos olhos dentro. Um rigor descritivo impetuoso, que nos transporta para o interior da história e nos faz sentir parte nela.
Parece tão fácil!


Mulher em branco
Rodrigo Guedes de Carvalho
D. Quixote (2006)

segunda-feira, 28 de maio de 2007

Vida ?!

O filho morreu num acidente de automóvel, na madrugada do final de mais um turno na área de serviço onde trabalhava. Deixou-lhe uma neta, com três anitos, que mal conhece a mãe e nunca mais verá o pai. O marido não anda nem fala há dezasseis anos, vítima de duas tromboses.
... em dois dias seguidos, veja lá ... o meu filho ajudava a dar-lhe banho. Agora, falei a um homem para me lá ir ajudar, ao Domingo ... nos outros dias, tenho de o lavar na cama.
A reforma do marido são pouco mais de 300,00 Euros.
... poucochinho, mas tem de chegar ... trabalho de manhã em casa de uns senhores, que são muito meus amigos ... à tarde, passo-lhes a roupa ... vão pô-la lá a casa, que eu não a conseguia levar ... são muito meus amigos.
Já pagou metade do funeral, com algum que tinha e uns "trocos" do filho.
... talvez consiga pagar o resto até Agosto.
A vida é madrasta, balbuciei.
A comoção já era visível no vidrado dos olhos de ambos.
... assim que vier o resultado da autópsia, venho cá entregar-lhe.
Pois ... sem isso, o seguro não resolve nada.
... muit'obrigada, bom dia .. até à próxima.
Bom dia ??????????
Não é ficção! Aconteceu-me, hoje!

terça-feira, 22 de maio de 2007

Reflexão

Dicionário Porto Editora
CHARRUA - arado grande com um jogo de rodas adiante e uma só aiveca; antigo navio de três mastros, de grande porão, destinado ao transporte de tropas, víveres, munições, etc.; agricultura; navio ou automóvel ronceiro.
Dos jornais
CHARRUA - professor castigado pela Directora Regional de Educação do Norte por ter brincado, gozado, gracejado, zombado do Primeiro Ministro José Sócrates.
Não se acredita! É inverosímil!
Só pode ser piada de mau gosto, imaginação fértil de quem divulgou a notícia ou confusão com algo parecido acontecido num "Burkina Fasso" qualquer.

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Aprender e saber









Há muitos, muitos anos, tive um professor que dizia, com alguma frequência que "quanto mais sabemos, mais ignorantes somos".

Perante a perplexidade do aparente paradoxo, ilustrava, no quadro ou no primeiro papel disponível, o seu ensinamento, desenhando, primeiro, uma pequena circunferência, na qual colocava dois raios que formavam um quarto de círculo. De seguida, desenhava uma nova circunferência, bem maior do que a primeira, e nela inscrevia, também, um quarto de círculo.

As circunferências ilustravam a dimensão dos campos de conhecimento, os quartos de círculo, a nossa sapiência (!?) e a conclusão era óbvia: à medida que o campo de conhecimento aumentava, o saber era maior, mas a área do desconhecido aumentava muito mais, verificando-se, de ciência certa, que o saber completo é inatingível e que, todos os dias, em todas as áreas, encontramos alguém que sabe alguma (muita) coisa que ignoramos.

Síntese: Aquele que pensa que sabe tudo, não é sapiente, é "sabão": meia dúzia de "lavadelas" e o "sabão" derrete-se.

Coisas bonitas

Palavras, imagens, música, voz, uma infinidade de coisas bonitas

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Dia da Cidade


O TOMA vai ser inaugurado amanhã, com a pompa e a circunstância costumeiras dos Dias da Cidade.
Este ano, para além do TOMA, as distintas autoridades inaugurarão a nova sede da Associação de Municípios e, salvo qualquer imprevisto de última hora, não procederão à abertura de qualquer rotunda.
O TOMA vai ser o novo transporte colectivo da cidade, servido por pequenos e atraentes autocarros, de cor azul, os quais, em duas linhas - verde e laranja - cobrirão quase todo o núcleo urbano da cidade, incluindo a totalidade da Rua Heróis da Grande Guerra, recentemente fechada ao trânsito.
Ora TOMA!

quinta-feira, 10 de maio de 2007

O António a dar corda à esperança

António Lobo Antunes, hoje, em mais uma belíssima crónica da Visão: "(... )Abandonei o livro em que trabalhava há sete meses (sete meses de doze horas por dia para o galheiro) porque não posso, por um lado, escrever antes de voltar a ser eterno (quando não estamos doentes somos eternos)
e por outro o meu mundo interior alterou-se de tal jeito que sou um homem diferente, e o homem que sou não pode continuar a prosa de um estranho. Fará prosa sua, necessariamente diversa. Uma parte minha segue às voltas com o imenso sofrimento pelo qual passei e me atormenta ainda, me dói ainda, me impede ainda a disponibilidade completa que um
(ia a dizer romance mas não são romances o que faço)
exige e consolo-me pensando nos dezanove livros que até hoje escrevi e chegam bem para me justificar a existência. Acrescentar-lhes-ei alguns mais? Sempre estive certo que sim, hoje não sei.
(...)"

quarta-feira, 9 de maio de 2007

Opinião

Se fosse eleitor em Lisboa, subscrevia a candidatura e votava na Arq. Helena Roseta para Presidente da Câmara da capital do meu País.
Guardo na memória uma mulher de botins, a comandar as operações nas cheias de Cascais, já lá vão uns bons anos, e admiro a coerência e a frontalidade.

segunda-feira, 7 de maio de 2007

Palavras bonitas

Uma mulher a cantar
de cabelo despenteado.

(Era o tempo das gaivotas
mas o mar tinha secado.)

Pelos seus braços caíam
frutos maduros de outono,

pelas pernas escorriam
águas mortas de abandono.

(Uma criança juntava
o cabelo destrançado.)

Gaivotas não as havia
e o mar tinha secado.

Poesia
Eugénio de Andrade
Fund. Eugénio de Andrade (2005)

sexta-feira, 4 de maio de 2007

Medo

O ciclo das estações do ano não deveria estar dependente do calendário da natureza e sim das necessidades dos seres humanos, em função das variações do seu estado de espírito.
Nesta altura, em que a Primavera já poderia estar bem instalada e a anunciar o Verão, aparecem uns sinais invernosos, que acabam por acentuar a depressão, o mau humor, a tristeza, e o pessimismo que, diariamente, vamos encontrando nas pessoas com quem se conversa um pouco.
Os comerciantes lamentam a diminuição das vendas e culpam as grandes superfícies, catedrais do consumo; os industriais queixam-se da concorrência desleal da China e do Leste e da falta de rumo do país; os empregados por conta de outrém vão pagando os impostos, o carro e a casa e constatam que o seu emprego é, cada vez mais, um estado de graça que pode terminar a qualquer momento. Verificam, ainda, que o aumento da taxa de juro se vai fazendo convidado regular nas suas refeições e se prepara para se tornar hóspede definitivo e comilão.
Entretanto, na Visão desta semana, o filósofo José Gil, termina o seu ensaio sobre o medo da seguinte forma:
"... O medo encolhe os cérebros, reduz o espírito, fecha os corpos. Está-se a formar um clima de medo. E o medo tem a particularidade de alastrar. Ao medo social de perder o emprego, de não subir na carreira, de perder as pensões, de não aguentar tanta pressão e constrangimento em tantos domínios, junta-se agora o medo de protestar, de falar, de se exprimir. O medo social está a tornar-se político: tem-se medo do Governo, e, talvez, um dia, do primeiro-ministro."
As encruzilhadas apresentam sempre vários caminhos alternativos, mas o retrocesso nunca será o futuro!

domingo, 29 de abril de 2007

Portugal no seu melhor

Como acontece com toda a gente, a minha caixa de correio electrónico recebe, diariamente, inúmeras mensagens, com um grande número sem qualquer interesse.
Porém, como não há regra sem excepção, surge, por vezes, correspondência que desperta a atenção e motiva interesse.
É o caso deste trabalho, brilhante, de um grupo de alunos da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, datado de 2005, provavelmente já conhecido de muita gente, mas que só hoje entrou na Casa.
É um retrato extraordinário, a que só falta a "cuspidela", o empurrão "qu'eu já cá 'tava" e o "coçar onde é preciso".
Visitem, não esquecendo de explorar bem os pontos e as figurinhas, em:

quarta-feira, 25 de abril de 2007

Símbolos


E vão trinta e três ...

Salgueiro Maia, fotografado no Carmo por Alfredo Cunha

Esta é a madrugada que eu esperava
O dia inicial inteiro e limpo
Onde emergimos da noite e do silêncio
E livres habitamos a substância do tempo.

Sophia de Mello Breyner Andresen

Capicuas

22 + 33 = 55

22 - Como era novo!

33 - Já decorreram. Parece que foi ontem!

55 - São os de hoje!

As próximas acontecerão em 2018.

Cá estarei ... para comentar!

segunda-feira, 23 de abril de 2007

Livros - Dia Mundial

Conhecemo-nos há cerca de 50 anos e temos mantido uma amizade sã, sem arrufos nem zangas dignas de registo. Os primeiros encontros tiveram lugar sem contacto físico, com leituras (pela voz da mãe e da irmã) retiradas dos livros da primária, alguns dos quais, mais tarde, me passariam pelas mãos. À força de tanta vez o ouvir, por insistência minha, decorei um texto que contava a história dos bois de um tal Geirinhas, que não puxavam o carro por estarem com os lugares trocados. A cigarra e a formiga também vêm desse tempo.
O aprender a ler permitiu governar-me sozinho e o Jornal de Notícias, chegado do Porto ao final do dia, era devorado no chão da cozinha, única hipótese de ser lido (soletrado), por os braços serem demasiado curtos para o tamanho. O "boneco" do Pacheco de Miranda, na última página, era a primeira coisa a espreitar. Destas leituras vem à memória, sem preocupação de confirmar sequência, o terramoto de Agadir, a invasão de Goa, o assalto ao Santa Maria, notícias que não se entendiam e que os adultos evitavam explicar. Foi no JN que foram tentadas as primeiras palavras cruzadas, com dificuldade para entender a razão pela qual batráquio, com duas letras, era rã.
O vocabulário era curto. Os primeiros livros da Biblioteca itenerante da Gulbenkian foram lidos com dificuldade e com o recurso sistemático a um pequeno Porto Editora que apareceu lá em casa. A maior parte das leituras que fiz na adolescência deveram-se à Fundação Calouste Gulbenkian. O "homem da carrinha" era o conselheiro e, por lhe ter caído no goto ou por me achar maduro (?!), entregou-me A Relíquia , com a cinta vermelha à volta, por volta dos meus 12/13 anos. Foi o primeiro Eça que li, após um estágio com Júlio Dinis.
O Círculo de Leitores permitiu as primeiras compras com regularidade, utilizando os poucos recursos disponibilizados pelo "Ministro das Finanças" lá de casa. Uma das aquisições - Sábado à noite, Domingo de manhã, de Alain Sillitoe - haveria de ser confiscado no dia da apresentação na tropa, com o argumento de que, ali, não teria tempo para ler e que, se calhar, o livro até era subversivo! Abençoado sargento, mais papista que o papa.
A amizade continua ... os livros são mais fofinhos ... o que sobra em vontade, falta nos olhos e nas costas ... mas cá continuamos. A ler, cá nos vamos entendendo e aprendendo.

quarta-feira, 18 de abril de 2007

Primavera

No final de um dia esplêndido, cheio de sol, a "cheirar" a Verão, as rochas, a areia e o mar ... da Foz, à espera da chegada de um visitante novo.

Está quase!

sábado, 14 de abril de 2007

Ecos da semana

  • A novela "Universidade Independente" chegou ao fim, com o encerramento compulsivo da dita escola. Esperemos que a Justiça seja célere a julgar o recurso, se o houver.
  • Não foi necessário Despacho do Ministro Gago nem Decreto do Presidente Cavaco: está assente que não é condição necessária ter uma licenciatura para ser Primeiro Ministro e que, se calhar, até não ajuda nada. No Regulamento de Disciplina Militar do tempo da Monarquia (da autoria do Conde de Lipe, julgo) determinava-se que "o sargento da companhia deve saber ler, escrever e contar, porque pode o Comandante ser nobre e assinar de cruz". A licenciatura é fundamental para se ser caixa no banco ou no supermercado ...
  • O meu Benfica não passou às meias finais da Taça UEFA, dando razão aos que perfilham o ditado que "de Espanha, nem bom vento nem bom casamento". Cerca de 50.000 pessoas, no estádio, alguns milhões, em casa, a olhar a TV, mais umas centenas de jornalistas e a astróloga da SIC, fizeram a equipa ideal e delinearam tácticas e estratégias infalíveis para vencer a eliminatória ... e não cobraram nada por isso.
  • Deixando a ironia, uma chamada para a reportagem sobre a tuberculose, a Sida e o voluntariado de Jorge Sampaio, publicada na Visão, que merece ser lida atentamente, para se perceber que há coisas muito mais importantes do que um mero jogo de futebol ou um simples diploma, mesmo adulterado.
  • Apesar da situação difícil em que se encontra, António Lobo Antunes continua fantástico a escrever! A crónica corajosa, como a designa a Visão na 1ª. página ou Crónica do hospital, como lhe chama o autor, é imperdível.

domingo, 8 de abril de 2007

Ovos de Páscoa

Com a devida vénia ao Expresso e o aplauso a António, cartunista que, todas as semanas, nos delicia com desenhos absolutamente fantásticos.

Palavras bonitas



AQUIETAÇÃO

Melro arisco e feliz
Que, na brancura
Pura
Das camélias,
Chocas ovos pascais
Galados de ressurreição,
Quem te contou da triste maldição
Dos poetas,
Sombras de inquietação
E de agoiro maninho?
Sossega no teu ninho.
Aquece e amadurece
O mistério da vida.
E deixa que eu te espreite envergonhado
Do poema gorado
Que sai da minha inveja enternecida.

Diário XII
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (1986)

quarta-feira, 4 de abril de 2007

"Dótores e Engenêros"

Com a nossa tendência para complicar e para ver fantasmas em todo o lado, arranjamos, agora, um "par de botas" que toda a gente acha dificílimo de descalçar.
Os "malandros" dos jornais foram "à pergunta" e descobriram que as habilitações académicas do Senhor Primeiro Ministro não lhe devem permitir usar o título honorífico de Engenheiro (Eng.).
A notícia causou grande alarido e algum mal estar no Governo, havendo já articulistas a prognosticarem o fim do "estado de graça".
A opinião aqui da Casa é que a descoberta e a queda das três letrinhas só prestigiam o Primeiro Ministro e o país, colocando-nos, finalmente, em igualdade com todos os países da Europa e do Mundo.
José Sócrates poderá, assim, reunir com Angela Merkl, trabalhar com Tony Blair, dialogar com George Bush e conversar com Vladimir Putin sem necessidade de lhes explicar o que significam aquelas três letrinhas que antecedem o seu nome, preocupando-se apenas em fazê-los compreender as suas ideias, tarefa que não será, seguramente, muito fácil.
Sigamos o cherne, perdão, o Zé Manel, que chegou a Presidente da Comunidade Europeia e reciclemos os "dótores" e "engenêros" que por aí abundam, pavoneando-se com um papel (que não mostram) e ofendendo aqueles que, pelo seu mérito, merecem o nosso aplauso.

quinta-feira, 29 de março de 2007

Ecos da semana

  • Embora o Ministro do Ensino Superior seja Gago, deverá falar claro na ordem de fecho da Universidade Independente;
  • Com algumas "arranhadelas" (por falta de cuidado com portas), Maria José Nogueira Pinto abandona o "gatil";
  • O "Rei" da Madeira já começou a campanha que o há-de levar à glória;
  • Portugal ganhou à Belgica e empatou com a Sérvia, no apuramento para o Europeu 2008 em futebol. Alguns "músicos" mostraram os seus dotes de assobiadores no hino belga e não conseguiram disfarçar a desafinação;
  • A minha declaração de IRS já vai a caminho do destino, cumprindo a viagem pela auto-estrada da informação. Junto-me, assim, a muitos outros e afasto-me de uns quantos (bastantes) que teimam em usufruir da minha (nossa) contribuição;
  • Durão Barroso fez anos no passado dia 23. Consta que recebeu um postal ilustrado, de parabéns, enviado por George Bush, com uma vista das Lages;
  • A estadia dos americanos no Iraque, prevista inicialmente para 90 dias, já vai em 4 anos. As condições são de tal maneira boas, que ninguém arreda pé;
  • Mário Soares não foi convidado para as comemorações dos 50 anos da Comunidade Europeia. Ter-se-ão esquecido ou a figura incomoda?
  • Salazar é o melhor português, segundo o programa da RTP1, apresentado por Maria Elisa. "Ditosa Pátria que tais filhos tens";
  • Um tal Coelho, em cartaz do PNR - Partido Nacional Renovador, define como objectivo para 2009: "Basta de imigração. Nacionalismo é solução. Portugal aos portugueses." Terá sido desta cartola que saíram os coelhos que telefonaram para o programa da Maria Elisa?

quarta-feira, 21 de março de 2007

Dia Mundial da Poesia



Miguel Torga por Mário Viegas

No Dia Mundial da Poesia,
um Grande Poeta na voz de um Grande Declamador!








terça-feira, 20 de março de 2007

Gataria

D. Afonso Henriques deu duas voltas no túmulo e reuniu de urgência o seu estado-maior!
O Beneficiado Malhão enfiou-se na biblioteca do céu, à procura de textos apaziguadores!
A pintora Josefa pediu a S. Pedro que lhe arranjasse uns plásticos para evitar arranhadelas nos seus quadros!
O Presidente da Câmara interrompeu os contactos com a comunicação social e deu dois pulos de contentamento: acabava de garantir figurantes para as lutas da próxima edição do Mercado Medieval!
Foi em Óbidos, neste fim de semana!
Um saco de gatos abriu-se e aconteceu espectáculo ... com algumas vozes a chamarem nomes aos bichanos mais importantes, num vernáculo que se julgava inacessível a mentes tão brilhantes.
Aguardam-se novos desenvolvimentos e novas investidas da gataria.
Mentes perversas e sempre ávidas da desgraça alheia dizem que a praga se propagará, com facilidade, do Largo do Caldas para a Rua de S. Caetano, e acrescentam que a este aumento de gatos assanhados não é alheio o trabalho de formação realizado na Universidade Moderna e, mais recentemente, na Independente.

sexta-feira, 16 de março de 2007

16 de Março de 1974 - A Censura

Na 2ª. feira, 18.03.1974, o jornal República aproveitava a derrota do F.C. do Porto na deslocação ao Estádio de Alvalade para, de uma forma brilhante, iludir a censura prévia e comentar a revolta das Caldas:
Sporting, 2 - Porto, 0
QUEM TRAVARÁ OS "LEÕES"
" Os muitos nortenhos que no fim-de-semana avançaram até Lisboa, sonhando com a vitória, acabaram por retirar, desiludidos pela derrota. O adversário da capital, mais bem organizado e apetrechado (sobretudo bem informado da sua estratégia), contando ainda com uma assistência fiel, fez abortar os intentos dos homens do Norte. Mas, parafraseando o que em tempos dissera um astuto comandante, «perdeu-se uma batalha mas não se perdeu a guerra» ..."
Que beleza de prosa e que imaginação na forma de dar a notícia.

16 de Março de 1974

Há 33 anos, Caldas da Rainha abria os telejornais da Europa!
Os militares do Regimento de Infantaria 5 tinham rumado a Lisboa, na madrugada de um sábado que se revelou não poder ser ainda o "dia claro, inteiro e limpo" que Sophia de Mello Breyner Andresen havia de cantar passados pouco mais de 30 dias.
Por descoordenação, "pressa de chegar para não chegar tarde" ou por quaisquer outras razões, não foi das Caldas que saiu a concretização do sonho, mas foi da cidade que emergiu, clara, a mensagem de que o tempo ia mudar.
O Sol radioso desse dia não impediu que, no final, voltassem as velhas e densas nuvens que, em comunicado patético, relataram os acontecimentos, terminando de forma "brilhante":
"...
Após terem recebido a intimidação para se entregarem, os oficiais insubordinados renderam-se sem resistência, tendo imediatamente o quartel sido ocupado pelas forças fiéis, e restabelecendo-se logo o comando legítimo.
Reina a ordem em todo o País."

domingo, 11 de março de 2007

Televisão



Na semana em que ocorreram vários aniversários, mais uma partida da "velhinha" hérnia discal que, de vez em quando, resolve dar um ar da sua graça, mostrando-me que está bem viva. A situação de desconforto, para além das dores, que me causa, rouba-me a vontade de fazer o que quer que seja e tira-me a paciência necessária para escrever duas linhas com algum (pouco) jeito.

Passaram assim em claro algumas reflexões que gostaria de ter feito sobre os 50 anos da RTP: do Bonanza a João Villaret, de Vitorino Nemésio a David Mourão-Ferreira, do Columbo ao Fugitivo, de Leonard Bernstein às Melodias de Sempre, das Mensagens de Natal às Conversas em Família, do homem na Lua, do terramoto de Agadir, do vulcão dos Capelinhos, das lágrimas do Eusébio, enfim, de tantas coisas que marcaram, abriram as portas da curiosidade, deram ânsia de aprender e descobrir, mostraram que havia mundo para além do "quintal".

E já lá vão 50 anos! Parece que foi ontem!

sexta-feira, 2 de março de 2007

Ecos da semana

  • Emigrante de leste trabalha numa unidade industrial a recibo verde;
  • Autarca sugere Hermano de Saraiva para palestrar sobre o 25 de Abril;
  • Gorjetas dadas em restaurante são receita do proprietário e não dos empregados;
  • A gravata de hoje tirou bilhete para a lavandaria;
  • A OPA da Sonae sobre a PT morreu;
  • A minha mãe partiu ... há três anos.

Palavras bonitas

POEMA À MÃE
...
Olha - queres ouvir-me? -
às vezes ainda sou o menino
que adormeceu nos teus olhos;
ainda aperto contra o coração
rosas tão brancas
como as que tens na moldura;
ainda oiço a tua voz:
Era uma vez uma princesa
no meio do laranjal ...
Mas - tu sabes - a noite é enorme,
e todo o meu corpo cresceu.
Eu saí da moldura,
dei às aves os meus olhos a beber.
Não me esqueci de nada, mãe.
Guardo a tua voz dentro de mim.
E deixo-te as rosas.
Boa noite. Eu vou com as aves.

Poesia
Eugénio de Andrade
Fund. Eugénio de Andrade (2005)

terça-feira, 27 de fevereiro de 2007

Pensar ... positivo


Já se vislumbram algumas andorinhas nos céus; o Sol vai, aos poucos, enchendo os dias, que crescem a olhos vistos; a Páscoa chegará daqui a cerca de um mês; o Verão está aí!


Mergulhar na Foz, esquecer as agruras de um dia a dia carregado de nuvens, sempre a prometerem chuva. Falta pouco!


Até lá, a certeza de que, ao nosso lado, há milhões que nem expectativa têm!

sexta-feira, 23 de fevereiro de 2007

ZECA AFONSO

A sensibilidade do poeta ...
CANÇÃO DE EMBALAR

Dorme meu menino a estrela d'alva
Já a procurei e não a vi
Se ela não vier de madrugada
Outra que eu souber será p'ra ti.
Outra que eu souber na noite escura
Sobre o teu sorriso de encantar
Ouvirás cantando nas alturas
Trovas e cantigas de embalar
Trovas e cantigas muito belas
Afina a garganta meu cantor
Quando a luz se apaga nas janelas
Perde a estrela d'alva o seu fulgor
Perde a estrela d'alva pequenina
Se outra não vier para a render
Dorme qu'inda a noite é uma menina
Deixa-a vir também adormecer.
Album Cantares do Andarilho - 1968
... e a brutalidade do regime