Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
segunda-feira, 31 de agosto de 2020
domingo, 30 de agosto de 2020
Educação e limpeza
Podia ter sido mais uma, para que a média, sempre tão querida, ficasse certa.
O telemóvel, que serve para tudo, até para telefonar, marcou 1.700 metros percorridos e a mente contou 16 máscaras Covid no chão, com a natural companhia de sacos de plástico, papéis, luvas, etc.. Não andei em nenhuma lixeira licenciada, antes numa estrada nacional ou municipal, que circunda a "minha" praia da Foz. Não fui demasiado atento ao que me surgia à frente dos pés, havendo por ali paisagens bem mais interessantes. Admito, por isso, que a contagem peque, e muito, por defeito. Em média, a cada 100 metros aparece uma máscara e algumas estão tão bem colocadas que se vislumbra o cuidado com que foram ali depositadas.
É obra! Dramático ou patético?
Estamos longe de ter um comportamento cívico capaz, apesar de, se perguntados, arrisco a dizer que todos responderão que o têm. Talvez a geração dos meus netos corrija, se não prestar atenção aos exemplos dos seus mais velhos.
E nem imagino quantas cuspidelas estarão na calçada! "Penas que não se vêem, não se sentem."
Vão começar, agora, a multar as "beatas", não faço ideia como, mas a polícia deve saber. Talvez com operações Stop ou gente "escondida" a vigiar.
E se apostassem nas campanhas de educação não haveria melhores resultados? As televisões podiam, e deviam, dar uma grande ajuda, e de forma simples: se as câmaras, em reportagem, em vez de focarem a cara dos "opinadores", focassem o chão que eles pisam, talvez resultasse.
sábado, 29 de agosto de 2020
(a)Normalmente
Numa manhã de muito vento e após ter terminado o livro de Teresa Veiga chegado esta semana (Cidade Infecta), dou por mim a escrever umas notas no telemóvel, em vez do lápis Viarco que habitualmente utilizo. O passeio à beira oceano com regresso pelo lado da lagoa a isso levou.
O "novo normal", como lhe chamam os grandes opinativos, talvez seja responsável por esta alteração de hábito ou, para parecer muito "avant la lettre", a utilização integral das novas tecnologias e a dispensa do que me acompanhou sempre.
Na volta pela lagoa, mais abrigada da nortada e com bastantes veraneantes, dou por mim a olhar e a estranhar um grande grupo, "acampado" na areia e a regalar-se com o sol. Que grande ajuntamento! São da mesma família, para estarem assim tão juntinhos? Já tudo se estranha. Será a nova rotina? O comportamento dos outros, tão banal, já me parece esquisito? E os outros, acanham-se quando eu passo sem a distância determinada ou sem a máscara protectora? A recriminação dos comportamentos vai passar a regra? Deixaremos de tolerar as diferenças e a liberdade de cada um? Atingiremos a desfaçatez de passarmos a polícias cívicos uns dos outros? Regularemos tanto que as baias nos sufocarão? Tenho esperança que o bom senso prevaleça, que nos respeitemos dentro das diferenças, sem pensar que só o outro pode ter a "lepra" que não queremos para nós.
Nestas alturas, a memória rebusca e traz sempre ao de cima a frase do polícia cioso das suas obrigações, confrontando um grupo de jovens, no qual eu me incluía, e que tinha ido fazer uma visita nocturna a Peniche, aí pelos inícios da década de 70 do século passado, bem antes de a liberdade passar por aqui.
"São proibidos os grupos agrupados e mais que dois a andar parados".
sexta-feira, 28 de agosto de 2020
Rua Damasceno Monteiro
Ontem à noite li a crónica de Dulce Maria Cardoso, que a Visão publica na edição desta semana.
Começa assim: O mau feitio do sr. Adérito salvou o 47 da Rua Damasceno Monteiro, um bonito prédio de tabique e varandinhas de procissão, construído no princípio do século passado. (...)
Alto lá! Eu morei no primeiro andar deste prédio há meio século. E que recordações ele me traz. A tia - era assim que todos a tratávamos, embora não fosse tia de ninguém dos que lá viviam - era Gertrudes de sua graça e morava lá há muitos anos. O andar era enorme e a tia alugava quartos, com autorização do senhorio, naturalmente. Éramos 12, a dormir em quartos duplos e, nalguns casos, triplos, rapazes e raparigas, em quartos separados, como é óbvio. Havia estudantes, a maioria, militares, e trabalhadores da província que tinham o seu emprego na "aldeia grande". Lembro-me de um ser técnico na Siemens e outro nos Correios. Estes dois dormiam no mesmo quarto e tinham tratamento algo diferenciado, por serem mais velhos e, nos dois casos, com algum mau feitio. Eram os hóspedes mais antigos e nunca tinham recriminação pela hora de chegada, nem o banho cronometrado. Todos os outros eram brindados com chamadas de atenção, reprimendas, conselhos, sempre num tom maternal e cordato.
A tia só levantava a voz para o marido, mecânico de profissão, ora por chegar tarde, ora por vir cedo, por trazer nódoas de óleo no fato-macaco, por não se ter descalçado à entrada, um fartote. Fanático pelo Benfica, o tio, João de seu nome, ao domingo extasiava-se. Saía de casa de manhã, cedo, e ia a pé até ao Estádio da Luz, onde passava o dia até ao final do jogo de seniores, quando o Benfica lá jogava. De manhã, via os juvenis e os juniores, almoçava o farnel que a tia lhe arranjava e voltava todo ufano, mesmo que o Benfica tivesse perdido. Falava "com a boca cheia de favas". "O Benfica jogou bem, teve foi azar". O boné vermelho e o cachecol do "glorioso" faziam parte da fatiota dominical, tal como o cabelo bem penteadinho e cheio de brilhantina. O quadro completava-se com um bigode preto, bem farfalhudo, mas sempre aparado.
Não tinham filhos. Em determinada altura, apareceu uma criança de 2/3 anos (já não me recordo bem), que passou a viver lá em casa, mimadinha pela tia por ser a filha que nunca tinha tido. Dificuldades da mãe, ausência de pai, necessidades de emigração, nunca soubemos bem por a tia não adiantar nada se a conversa ia por aí. Foi notícia de jornal alguns anos depois, mas isso fica para outra altura.
Havia sempre café naquela casa. A cafeteira estava na mesa e a tia cuidava de a manter provisionada e com a bebida morna. Adorava que um qualquer de nós lhe fizesse companhia num "cafézinho das velhas", que bebia a toda a hora. Todavia, gostava muito mais que a acompanhássemos a uma leitaria em Almirante Reis, onde o café, de máquina e tomado à mesa, era muito mais saboroso.
Se fosse um passeiozinho à Baixa, com um café e um pastel de nata na Central da Baixa, era "oiro sobre azul". E, às vezes, calhava-lhe: "Dá-me só um instante para eu me arranjar."
quinta-feira, 27 de agosto de 2020
Feira do Livro
Abriu hoje a Feira do Livro de Lisboa.
Há muitos anos que não falho uma e lá me desloco pelo menos uma vez. Poucos ou muitos, trago livros recentes, mais antigos que me passaram na saída, outros que nem sequer conheço. Coscuvilhar os stands dá-me um prazer muito grande, mesmo que o sol não poupe as costas e obrigue a um gelado ou uma imperial para dar força à caminhada. O Parque Eduardo VII é um local fantástico para este evento, tal como já o era a Avenida da Liberdade, antigamente.
Embora não me seja fácil vencer a timidez endémica, muitas vezes contactei autores ao vivo, assisti a conversas, pedi autógrafos, que toda a gente gosta mas uma boa parte diz que não dá um passo para isso.
O Conselho de Ministros cá de casa ainda não tomou a decisão definitiva, mas todos os estudos apontam para, neste ano, se fazer "gazeta".
Fica-me a consolação que o malfadado vírus não me impede de ler e a net e os correios me garantem o abastecimento. Ainda ontem recebi dois livros, entre eles o novo de Teresa Veiga - Cidade infecta - que, por gentileza da Tinta da China, me chegou às mãos antes da data prevista para o seu lançamento (e com desconto).
Passe a imodéstia, não será por mim que as editoras, as livrarias e os autores perderão receitas mas, se as vendas já eram poucas, este ano deverão estar "pelas ruas da amargura".
quarta-feira, 26 de agosto de 2020
Tempo
Falar do tempo que faz, fez ou vai fazer, foi sempre o escape para mudar o rumo de uma conversa que enfastia ou a chave para abrir um diálogo que se afigura difícil de iniciar.
Todos temos opinião sobre o que vai acontecer, tenhamos ouvido o Boletim Meteorológico ou apenas olhado para o céu, azul, cinzento ou estrelado.
- Hoje está um dia lindo. Será que amanhã também estará assim?
- Hum! Há ali umas nuvenzitas ao fundo ...
- Mas não chove. Talvez se levante o vento e eu não gosto nada de frio.
- Não acho. Só se mudar. Está suão e daí só vem calor.
- Pois. Quando Deus queria, até do norte chovia.
- Não se pode ter sol na eira e chuva no nabal.
- Ninguém controla a natureza e ainda bem.
- Muda tudo de repente. Não viste a semana passada. Estava tão bom e, de um momento para o outro, foi aquela água toda.
Está feita a conversa, fiada, delirante, educativa e substancialmente enriquecedora para os interlocutores. O obrigatório acontece, está cumprido o ritual, amanhã se verá, mas ninguém reivindicará a sua sapiência de o ter antecipado.
E se chove? Não falharei se disser sempre que sim ... em algum lugar do mundo.
terça-feira, 25 de agosto de 2020
Libertinagem
Leio o Expresso desde o número 1, que saiu em Janeiro de 1973. Desde esse longínquo ano em que ingressei no serviço militar obrigatório, não devo ter falhado a sua compra meia dúzia de vezes. Semanas houve em que, por ausência, juntei dois ou três exemplares, para respeitar o compromisso junto de quem mo guardava religiosamente. Ainda hoje, ao sábado, o meu saco aguarda que eu apareça, já não no mesmo sítio, entretanto encerrado, mas com a mesma "religiosidade".
Muitos dos que hoje nele escrevem ainda não tinham nascido, o que não me dá nenhum direito especial nem sequer abona muito à minha sanidade.
Esta semana o Expresso trouxe a habitual entrevista de "final de praia" com o Primeiro-Ministro, António Costa, que li com toda a atenção e longe de imaginar que, afinal, aquilo que deveria ser analisado e comentado se esvaiu por entre as garras de uma pulhice.
Custou-me. Saber que alguém do "meu" jornal fez a canalhice de divulgar uma "conversa" na qual, em off, António Costa desabafa, apelidando de cobardes os médicos que se terão recusado a prestar assistência aos utentes do Lar de Reguengos de Monsaraz é baixo, muito baixo.
Numa época em que os predadores e pescadores de escândalos estão sempre disponíveis para inundar com "notícias diabólicas" pretensos jornais, televisões e redes sociais, não levou muito tempo a haver uma difusão generalizada da "actualidade" e do "crime".
O Expresso foi sempre, e assim tem de continuar, a imagem da credibilidade das notícias, da diversidade de opiniões, da liberdade, numa palavra.
Espero que o "meu" jornal averigue quem foi o bufo e lhe dê a oportunidade de ir "pregar para outra freguesia", onde o jornalismo sério esteja ausente.
segunda-feira, 24 de agosto de 2020
Palavras bonitas
Não vou a Lisboa desde Fevereiro e é dessa ida a última vez que subi a Calçada do Carriche. Em tempos idos e com uma configuração muitíssimo mais apertada, era o caminho utilizado para entrar na capital indo do Oeste.
A memória tem destas coisas e a associação foi imediata com esta pérola, escrita há largos anos por um grande poeta, e sempre actual. Lisboa (e o mundo) ainda mantém muitas Luísas que, diariamente, sobem a calçada.
CALÇADA DE CARRICHE
sobe e não pode
que vai cansada.
domingo, 23 de agosto de 2020
sábado, 22 de agosto de 2020
SURPRESA (ou talvez não)
De acordo com as notícias de ontem, na praia, a PSP anda meio escondida pela cidade, não se mostrando ao cidadão que, eventualmente, transgride, e debitando as multas sem contemplação, enviando-as pelo correio.
Se já eram conhecidos relatos de multas por estacionamento indevido, passadas pelo agente que passa de mota e anota, na memória, a matrícula do veículo transgressor, surge agora a nova de que a não paragem num cruzamento com visibilidade e pouco movimento mas dotado de um sinal STOP, deu uma cartinha com um "prémio" de 120,00 € e o registo de pontos na carta de condução. Do polícia fiscalizador e observador da infracção nem rasto.
A PSP é necessária e fundamental para assegurar o cumprimento das regras mas, como em tudo, a sua actuação deve primar pelo bom senso, regra que, não estando na lei, é imperiosa nas relações em sociedade.
Atirar a pedra e esconder a mão é feio. Mandar a pedra pelo correio sem qualquer conversa com o prevaricador é perder a dignidade numa função tão nobre quanto necessária.
Ou será que o esforço formativo é agora canalizado para a escrita nas redes sociais e se perdeu a capacidade de dialogar de viva voz?
As entidades fiscalizadoras da actuação dos cidadãos têm por dever supremo fazer cumprir a lei, de forma tempestiva e coerente, usando o diálogo como profilaxia de infracções futuras. Não me passa pela cabeça que, um dia destes, alguém que não goste de mim ou seja um pressuroso defensor da lei, possa ir dizer ao polícia conhecido que estive mal estacionado ou não parei no STOP e que, em consequência, me apareça na caixa do correio a multa respectiva.
sexta-feira, 21 de agosto de 2020
Quotidiano
Ágil, subiu o muro e correu para a relva. O barulho do estore a abrir tolheu-lhe o passo. Escondeu-se, atento a tudo quanto se passava à sua volta. A presença de um humano à janela incomodou-o ainda mais e fê-lo encolher até deixar de ser visível. Os arbustos garantem um bom esconderijo.
O destino, claro, era o WC verde, mas os velhos levantam-se cedo e contrariam as vontades, por mais naturais que sejam.
Daí a pouco, não resisti. Um espreitar de "cusco" e, pasme-se, já lá estava o presente matinal. O autor tinha desaparecido sem esperar pelos agradecimentos.
Aqui há gato!? Não, houve!
A mangueira fez o trabalho de remoção, a relva riu-se e comentou para si, num sorriso verdejante: estão tontos! Choveu tanto esta noite e já me estão a regar de novo ...
quinta-feira, 20 de agosto de 2020
Palavras bonitas
Nicolau Santos, jornalista e poeta, vem declamando quase diariamente, no Instagram, versos de diversos autores, na sua grande maioria portugueses. Sou "visita", ouço com muito agrado alguns que já conhecia e muitos outros que são novidade. São sempre momentos agradáveis, quer pelos poemas quer pela qualidade da voz que os recita.
Hoje ouvi, de Fernando Assis Pacheco, um belo poema sobre o desaparecimento de Ruy Belo, outro grande poeta, natural de aqui bem perto - S. João da Ribeira.
Tenho aquele livro, disse para mim.
Fui à estante e lá estava ele.
PRESO POLÍTICO
1
O dia e a noite são iguais por dentro.
quarta-feira, 19 de agosto de 2020
Ofensivo
Apetecia-me escrever que é imoral, absurdo, loucura, insensatez, vergonha, disparate, parvoíce, ofensa, e mais todos os adjectivos possíveis de aplicar ao "exílio" do ex-rei de Espanha nos Emirados Árabes Unidos, acomodado numa suite que custa "apenas" 11.000 Euros por noite. Uma grande parte da população mundial não consegue ganhar isso num ano.
Situações como esta não são muito comuns neste espaço, mas há coisas que ultrapassam os limites e a capacidade de entendimento, por mais liberal e desligado que se seja.
Interrogo-me como foi elaborado o estudo económico aquando da construção dum hotel deste nível. Os autores devem ter "pescado à linha" os potenciais clientes, garantindo, à partida, a sua presença e, desta forma, a rentabilidade do investimento. O estudo estendeu-se, pela certa, ao mundo inteiro e criou logo expectativas aos que foram identificados e alertados para o que de fenomenal aí vinha. A chatice é que, agora, toda essa gente fica impedida de usufruir da suite, ocupada por tempo indeterminado e sem data provável para a reserva.
Não deve ser nada fácil lidar com o sonho de dormir numa cama pela certa com lençóis de ouro, ou de penas animadas, para além de companhia incluída, esfregação das costas, exercício físico com suadoiro, refeições de carapaus alimados e petingas de escabeche, e, por decisão de um caprichoso monarca aposentado, não lhe ter acesso.
Criada esta situação, corre-se o risco de as depressões aumentarem exponencialmente e trazerem mais preocupações para os SNS de cada país.
Esta gente com muito dinheiro tem privações que não lembram ao diabo nem ao comum dos mortais e são, por isso, fonte de preocupação de todos.
Percebi, agora, porque é que o homem não veio para Cascais. Não há, naquela zona, um hotel com a dignidade que ele merece.
Talvez se possa arranjar um cantinho na Cova da Moura, com vista para o Tejo e para o Castelo, ou no Bairro do Aleixo, mirando o Douro e a Torre dos Clérigos.
terça-feira, 18 de agosto de 2020
Barbeiro
Sempre fui ao barbeiro, mas agora, quando preciso de cortar o cabelo, vou à "Barber Shop". O homem é o mesmo, o sítio é o mesmo, as tesouras iguais, as máquinas e o secador, a toalha e o resto não tiveram qualquer alteração, mas soa melhor, e é mais chique: vou à "Barber Shop", que já tem uma coluna à porta, com luzes a rodar de cima para baixo, ou será de baixo para cima?
Marcação efectuada via telefone, como acontece desde há alguns meses. Pude escolher a hora e optei pelas cinco da tarde, não para tomar chá, mas por ter adivinhado uma manhã de sonho, como aconteceu. A tarde também deve ter sido excelente, como se adivinhava quando de lá saí. Continuo a preferir a primeira parte do dia, correndo sempre o risco de o sol estar ausente, por atraso, e, muitas vezes, por falta de comparência. Não foi o caso de hoje. Quando o interior não está a "queimar", o oeste fica sem nevoeiro e com temperatura óptima.
- Boa tarde. Vamos ao costume?
- Pode cortar mais um pouco, para não demorar a secar, que é tempo de praia. Veja lá se hoje consegue cortar os brancos e deixar os pretos. Das outras vezes, isso nunca acontece. Com tantas mudanças, talvez seja possível ...
- Nem pense. Ficava com tão poucos que a cabeça torrava no sol da Foz.
Não há mais clientes. O seguinte só chegará depois de eu ter saído e de tudo ser desinfectado. Ao contrário do que acontecia antes, não há conversas com terceiros, não há jornais na mesa, o único interlocutor é o homem da tesoura, com o ruído de fundo da televisão.
Falámos do Benfica, do futebol sem público, do Jesus e do Cavani, do Bayern e dos oito ao Barcelona, dos cinco do Inter e dos cabelos brancos, que são cada vez mais.
- Dê-se por satisfeito. Olhe que há muita gente que nem brancos tem.
E, como sempre, o barbeiro tem razão, perdão, "the man of Barber Shop".
segunda-feira, 17 de agosto de 2020
Palavras bonitas
ao luar e ao sonho, na estrada deserta.
Poesias de Álvaro de Campos
Obras completas de Fernando Pessoa
Edições Ática (1980)
domingo, 16 de agosto de 2020
A vida
O eufemismo, neste caso concreto, corresponde à realidade. A Ivone faleceu hoje, de doença prolongada, após um sofrimento enorme, que se acentuou nos últimos três meses, nos quais conheceu dois hospitais, a sala de operações, os cuidados intensivos, uma dor que lhe deve ter reduzido ao zero o optimismo que irradiava, principalmente para ajudar a resolver o problema dos outros.
Éramos do mesmo ano, ela dois meses mais nova, frequentámos a mesma escola, fomos colegas de trabalho no mesmo local, durante vários anos, mas éramos, tão só, amigos.
Conhecíamo-nos bem. Uma simples troca de olhares dizia ao outro o que nos ia na alma e o que pensávamos sobre qualquer assunto. O trabalho deu-nos muitas horas de convívio, de pressão, de desespero, algumas alegrias, também dissabores, e, que me lembre, nunca tivemos qualquer desentendimento. Sempre leal, sempre querida, sempre disponível, sempre amiga, desejosa do melhor para mim e sempre a torcer para que isso acontecesse.
Adeus, Ivone. Um beijo.
sábado, 15 de agosto de 2020
Quotidiano
Se hoje não fosse feriado, escreveria por aqui alguma coisa de palpável, quiçá até de substancialmente lírico ou prosaico, que me entusiasmasse a mim e aos, poucos, leitores destas "maluqueiras".
Porém, como nos dias feriado e, principalmente, num dia santo, não se deve trabalhar, não faço nada. Estou cansado de emoções fortes.
De manhã, a praia deu-me trabalho com força, violando as regras atrás referidas. As toneladas de água que me massajaram o corpo cansaram-me deveras.
À tarde, tive a visita de uns amigos, que me ofereceram, um, uma peça de artesanato lindíssima, e o outro, uma fotografia emoldurada muito bonita. Ambos os trabalhos de produção própria, em artes nas quais eu sou um nabo completo.
Com toda esta agitação, vou dormir que nem um santo. O que vale é que amanhã é domingo e no dia seguinte permaneço de férias.
sexta-feira, 14 de agosto de 2020
No meu tempo ...
Na instrução primária, lembro-me bem, o texto sobre o dia de hoje dizia que "A 14 de Agosto de 1385, quando o Sol raiava, as tropas portuguesas sob o comando do Condestável D. Nuno Álvares Pereira ...", seguido de um relambório explicativo da grande vitória sobre os castelhanos à custa dessa extraordinária táctica do quadrado inventada pelo Condestável e executada pela Ala dos Namorados.
No caminho para a praia fui, já não sei a propósito de quê, a debitar as matrículas dos carros que já tive e de muitos outros que conduzi ou conheci.
Já na praia, a conversa descambou para o Ramal da Amieira que vai (ou ia), lembro-me bem, de Alfarelos à Amieira, das serras - Suajo, Peneda, Gerês ... -, dos rios - Minho, Lima, Cávado, Ave ... -, dos casos notáveis da multiplicação, do princípio de Arquimedes, do teorema do Pitágoras, e tantas outras coisas que eram decoradas e ocupam, agora, o espaço profundo das "gavetas", sempre disponíveis para virem à tona.
Falou-se também da nanotecnologia, dos jogos de telemóvel, dos comandos e duma "geringonça" que transportava um "artista" passeando-se no mar, a uns bons trinta centímetros acima da água, - aprendi agora, na Net, que se chama "prancha voadora"-, factos que já vão passando despercebidos ou já não cabem, na "gaveta" do entendimento, por serem de todo estranhos ou não estarem acessíveis ao "sistema operativo" do computador cerebral que me integra.
A propósito: o que foi o meu almoço?
Já não me lembro bem, mas acho que foi peixe.
quinta-feira, 13 de agosto de 2020
Enjoo
Andam por aí alguns saudosos do antigamente, sem vergonha nem pudor pelo que fizeram durante quase meio século.
São poucos, mas batem latas e gritam muito, como é próprio de quem não tem a razão pelo seu lado. E, pasme-se, têm a desfaçatez de invocar a democracia para se fazerem ouvir e terem tempo de antena.
Por mim, dou-lhes a importância que merecem: zero, para não utilizar números negativos.
Já me excedi. Eles não valem nem uma linha!
quarta-feira, 12 de agosto de 2020
Liga dos Campeões
Por força da pandemia que nos assola há vários meses, as competições de futebol sofreram grandes alterações, que não se resumiram, apenas, à ausência do público.
As meias-finais da Liga dos Campeões são disputadas em apenas um jogo, em campo neutro. Tanto estas como a final terão lugar em Lisboa, nos Estádios da Luz e Alvalade, com o jogo inicial - Atalanta/PSG - a acontecer hoje.
Se, para estes jogos sem público, a PSP montou uma "mega-operação" de segurança e disso deu conta em pormenorizada conferência de imprensa, qual seria a denominação correcta para "segurar", se houvesse público apaixonado para assistir aos jogos? Talvez a expressão "operação do outro mundo" fosse ajustada e não fosse despiciendo pedir a intervenção de agentes marcianos, usando as influências possíveis junto do ET.
Valha-nos a sede de protagonismo e os "cinco minutos de fama" tão importantes para que o vizinho reconheça o nosso poder. E abriram telejornais, em farda número um, e foram notícia em todos os jornais. Faltou apenas o alerta de uma cor qualquer, para gáudio dos daltónicos!
terça-feira, 11 de agosto de 2020
Vírus
Hoje não há obituário, nem música, nem palavras bonitas, nem livros.
É um dia de nem ...
Nem há sol, nem há vento, nem há (muita) gente na praia, nem há chuva (por enquanto), nem há vontade de escrevinhar.
Mas há este "compromisso" de, enquanto Sua Alteza o Covid 19 não nos abandonar, o ir aborrecendo diariamente com meia dúzia de palermices, de palavreado sem qualquer interesse, se mais não fora para que "ele" não julgue que aqui chega, toma conta de nós e a todos submete à sua excelsa vontade, sem sequer se estrebuchar.
Não conte comigo! Não me submeterei à sua vontade, por mais violento que queira ser ou parecer. Faz parte de mim esta lógica de, como dizia Régio, "não sei por onde vou, não sei para onde vou, sei que não vou por aí". E já não mudo, por muito que isso possa custar ao "invasor" ou ao invadido.
Cá vou fazendo um esforço para o fintar, não lhe dar oportunidade de me deitar a luva, facultando-lhe a importância, atenta, que "ele" obriga e o desprezo que merece.
segunda-feira, 10 de agosto de 2020
Waldemar Bastos
Já "não fala política" e não verá "Angola e o mundo em paz".
domingo, 9 de agosto de 2020
Mapa
Hoje uma rudimentar folha de Excel faria o trabalho com muito mais rapidez e eficiência.
Em 1963, o mapa dos combustíveis consumidos era muito importante e delicado.
- O senhor S.G. quer os números bonitos e todos dentro das quadrículas
Era uma folha A3 pré-impressa, com o emblema da Mobil Oil Portuguesa no alto do lado esquerdo: um cavalo alado, Pégaso, vermelho vivo, dentro de um círculo azul forte. Ainda na parte de cima e ao centro um espaço para colocar o mês e o ano a que os números diziam respeito; no lado direito a identificação do revendedor, com sítio para o carimbo e tudo.
O corpo do mapa era um quadriculado imenso, com a primeira coluna pré-preenchida com os dias do mês, de 1 a 31, para servir todo o calendário. As colunas seguintes tinham como título os diversos tipos de combustível - Gasolina Super, Normal, Mistura, Gasóleo, Gasóleo Agrícola e Lubrificantes diversos. A cada dia correspondiam duas linhas, para que a subtração fosse fácil, embora o número mais alto estivesse na segunda parcela e a conta fosse efectuada "ao contrário". A seguir a cada espécie de combustível, havia uma coluna "sub-total" onde era colocado o resultado da conta feita, de cabeça, naturalmente.
O posto de abastecimento funcionava dia e noite, em três turnos de oito horas cada: 8/16, 16/24 e 24/8. No final de cada turno, o empregado da rodovia registava os consumos de cada espécie, num livro de linhas azuis, habitualmente cheio de nódoas e de dedadas. Era por aí que se apurava a receita de cada turno e também era de lá que se extraíam os dados para o mapa estatístico que o senhor S.G. havia de elogiar ou desancar, aquando da sua visita mensal. A última linha do mapa, mais larga, mostraria os totais de litros vendidos, de cada espécie de combustível, obtidos pela soma dos totais diários previamente calculados e registados.
Nem máquina de calcular quanto mais computador com folha Excel.
- O senhor S.G. gostou muito do mapa. Disse que tens uns números muito bonitos.
Só viu dois. Ao terceiro já as "férias" tinham acabado e a escola chamava.
sábado, 8 de agosto de 2020
Inveja
sexta-feira, 7 de agosto de 2020
Dúvida
- O Porto descrito na letra de Carlos Tê?
- A música e a voz de Rui Veloso?
- A arte de Carlos Paredes?
quinta-feira, 6 de agosto de 2020
O teatro e a vida
Ontem, uma explosão de nitrato de amónio, seja lá o que isso for para além do adubo que eu pensava conhecer, destruiu o porto da capital do Líbano - Beirute - causando mais de uma centena de mortos (ao que se sabe) e milhares de feridos. A destruição, que vimos nas imagens televisivas que nos chegam, atestam a dimensão da tragédia que, ao vivo e para os libaneses deverá ser muito pior do que sequer imaginamos.
Hoje, passam 75 anos do dia em que o avião Enola Gay despejou a bomba atómica Little Boy sobre a cidade japonesa de Hiroshima, provocando milhares de mortos, inocentes, e abrindo as portas para o final da II Grande Guerra.
Ontem, soube da morte do actor e encenador Juvenal Garcês, que, em conjunto com Mário Viegas, fundou a Companhia Teatral do Chiado. Conheci-o, pessoalmente, em Maio de 1997, aquando da apresentação nos Pimpões de "As obras completas de William Shakespeare em 97 minutos".
Hoje, partiu Fernanda Lapa, que não conheci pessoalmente, mas que me habituei a gostar, e a respeitar, como actriz e encenadora, e "mulher de armas".
Os dias têm sempre histórias para contar, boas, más, assim-assim, mas é assim a vida.
Amanhã será outro dia e, como sempre, alguém se há-de encarregar de registar, para a história, o que dela for digno e merecer permanecer para os vindouros.
E, com tudo isto, já passaram seis meses sem assistir a um qualquer espectáculo de teatro ao vivo. Maldito Covid!
quarta-feira, 5 de agosto de 2020
Teimosia
terça-feira, 4 de agosto de 2020
Livros (lidos ou em vias disso)
Escrita diferente.
Um conjunto de histórias com História, com vida, com sentido.
Curtas quase todas, algumas curtíssimas, de uma frase apenas, todas de longo alcance.
segunda-feira, 3 de agosto de 2020
Parafuso
domingo, 2 de agosto de 2020
O pião das nicas
O estica larica, o mangas portuga
Fecha-se em copos e copas
Cafés e cachopas, trabuca e madruga
Galfarro afiambrado, pachola arremelgadoDe grimpa levantada e garrafalAmigo do amigo, farelo e muito umbigoVestiu-se e veio a pé pró arraial
Viva o Santo António, viva o São João!Viva o 10 de junho e a Restauração!Viva até São Bento, se nos arranjar!Muitos feriados para festejar!
Gosta de armar ao efeito
Baboso e com jeito pra ser bagalhudo
Mas na mulher do carteiro
Já manca o dinheiro, alfaces e é tudo!
Se ele anda com nerveco grazina dum canecoLá vai o lascarino pró granelE faz as partes gagas, fosquinhas de aldiagasPalrando até fazer grande aranzel
Viva o Santo António, viva o São João!Viva o 10 de junho e a Restauração!Viva até São Bento, se nos arranjar!Muitos feriados para festejar!
Chorou por causa da seca, que a terra ficou viúva
Até correu seca e Meca, fartou-se de pedir chuva
A chuva quis-lhe agradar, banhou a terra as culturas
A água deu-lhe p'la barba a fome em farturas
Às vezes já nem petiscaA doença na isca é má pró vistaçoOs vinhos e os jaquinzinhosSão só descaminhos, vai dar ao esquinaço
És tu Pião das Nicas das bocas e das dicas
Que pegas nos calcantes e te vais
Adeus leão dos trouxas, chupado das carochas
Que foste no embrulho uma vez mais
Viva o Santo António, viva o São João!Viva o 10 de junho e a Restauração!Viva até São Bento, se nos arranjar!Muitos feriados para festejar!