sábado, 31 de julho de 2021

As férias

E Julho chega ao fim, com muito vento e algumas nuvens, como aconteceu em quase todos os seus dias. Não deixa saudades e, se justiça houver, vai ser castigado: só voltará para o ano!

Cumprindo o calendário gregoriano, amanhã inicia-se Agosto, mês em que qualquer português que se preze vai ou diz que vai de férias. Ninguém compreenderia que, após tudo aquilo que nos condicionou durante este ano e meio, se ficasse em casa, por opção ou incapacidade do porta-moedas, recipiente já caído em desuso e substituído com todas as vantagens pelo contact less.

É hora de fazer fotografias, para mostrar as nossas capacidades, agora que todos somos fotógrafos de alto gabarito, armados de telemóvel, mostrando os nossos corpos e as paisagens por onde andamos ou gostaríamos de andar, colocando nas redes sociais e à disposição dos "imensos amigos" as viagens do nosso sonho, as praias das nossas emoções, os restaurantes das nossas perdições, o rosto das nossas comoções e até, quem sabe, o sumo dos nossos limões.

Se for gente mesmo, mesmo importante, surgirão fotos em jornal ou revista, respostas a questionários "profundos" e "certeiros", uma roda de muitos amigos com câmara de televisão por perto, uma participação via Skype em directo, com luz suficiente para se constatar o "bronze", despejando um comentário oportuno, determinante e, se possível, supérfluo.

E não vale a pena tentar tratar do que quer que seja. Agosto é mesmo mês de férias e quem pensar o contrário anda distraído e tem o passo trocado.

sexta-feira, 30 de julho de 2021

Olga Prats

Partiu hoje, aos 82 anos. Fica, para ser lembrado, um pouco do muito que fez pela música.

quinta-feira, 29 de julho de 2021

Igualdade

O Conselho de Ministros de hoje determinou que as limitações impostas pela pandemia passem a vigorar em todo o país, acabando, assim, com a hierarquia dos concelhos e aplicando as regras a toda a população, independentemente do sítio onde as pessoas vivam ou estejam. Esta decisão merece destaque e aplauso, por indiciar que estamos no bom caminho e acabar com distinções que levaram a alguns pensamentos mais ou menos fracturantes.

Ainda que os números se mantenham elevados, tudo indica que, finalmente, nos encaminhamos para um regresso à normalidade, mesmo que essa normalidade necessite de aspas e seja diferente do que tínhamos.

Não é aqui o sítio próprio para pregações e muito menos há competências do "pregador" para tal. Continuemos a confiar em quem sabe e a fazer os "impossíveis" para cumprir, pela nossa liberdade e pela de todos os outros, sem a qual a nossa é perfeitamente irrelevante.

quarta-feira, 28 de julho de 2021

Memória

Não havia ninguém ao balcão e o tempo que mediava até chegar o próximo cliente era aproveitado para, na secretária, ir adiantando as contabilizações, os registos, as tarefas necessárias ao encerramento do dia que, naqueles tempos, era bem demorado e trabalhoso.

O casal aproximou-se do balcão, de braço dado e, mal levantei os olhos, tive a certeza de conhecer o homem, ainda que as dúvidas me assaltassem face à companhia. O atendimento esclareceu tudo.

- Venho pagar a prestação do nosso empréstimo e ... estou a conhecê-lo. Andou na escola das Caldas?

- Andei, sim, já há uns anitos ...

O aviso de pagamento já tinha confirmado o nome.

- Fui teu professor, não fui?, perguntou com um largo sorriso. 

- Foi sim ...

- Já não sou Padre. Agora dou aulas no Liceu Camões.

Ainda bem que esclareceu a dúvida que me tinha feito titubear na conversa. A partir daí, atendi-o sempre que lá se deslocava. Enquanto por lá estive, nunca quis ser atendido por outro, mesmo que isso implicasse algum tempo de espera. As conversas caíam invariavelmente nas recordações de ambos, mas a contabilização era sempre a favor dele.

O chefe, por vezes, arranjava forma de interromper, com medo que o trabalho "azedasse".

terça-feira, 27 de julho de 2021

Ventos

As férias de Julho estão quase no fim. Esta é a última semana e, como é costume, passará a correr e nem dará tempo ao Sol para se habituar a este ambiente oestino, quanto mais a instalar-se por cá. Para agravar a situação, o vento não preencheu em devido tempo o mapa previsto para as férias e, por isso, a escolha dos dias ficou na sua gestão directa, sem que ninguém tenha força para o impedir de aborrecer quem quer calma, paz, sossego, descanso e bom trato. Um regabofe ...

Conclui-se facilmente que já não há respeito pela legalidade, seja ela de direito ou consuetudinária. A Autoridade para as Condições de Trabalho também nada pode fazer para evitar a situação, por não ter meios suficientes e não ter actuação clarificada para, neste domínio, exercer o seu poder. É um vazio semelhante ao que tem acontecido em várias situações, das algemas do SEF aos mails das manifestações, do impedimento do DDT ir ao Tribunal, legalmente previsto, mas que não contempla a Sardenha, às exibições de filmes com os "homens sérios" como protagonistas. 

E tudo isto impede que o "sagrado" direito a férias de um trabalhador reformado seja exercido na plenitude, e o faz ser agredido por uma nortada apressada e fria, a qual, de acordo com quem sabe, se manterá pelo menos mais três dias.

À cautela e para prevenir qualquer incompreensão e um eventual despedimento sem justa causa nem causa justa, invoquei os motivos de força maior descritos (e também a intensidade) para solicitar o prolongamento das férias.

Está decidido. Vou por cá continuar em Agosto, quer o vento goste quer não!

segunda-feira, 26 de julho de 2021

Livros

Não comungo do pessimismo evidenciado no filme que o meu amigo ADS fez o favor de me enviar. Todavia, tenho consciência de que o livro cada vez se senta a menos mesas e que, nalgumas, se instala apenas para ser visto, como bibelot sem préstimo ou utilidade.

Sina(i)s dos tempos ...

domingo, 25 de julho de 2021

O negro e o verde



Morreu hoje Otelo Saraiva de Carvalho (1939-2021), o homem que comandou as operações em 25 de Abril de 1974.

sábado, 24 de julho de 2021

Palavras bonitas

CATILINA

Eu sou o solitário e nunca minto.
Rasguei toda a vaidade tira a tira
E caminho sem medo e sem mentira
à luz crepuscular do meu instinto

De tudo desligado, livre sinto
Cada coisa vibrar como uma lira,
Eu - coisa sem nome em que respira
Toda a inquietação dum deus extinto.

Sou a seta lançada em pleno espaço
E tenho de cumprir o meu impulso,
Sou aquele que venho e logo passo.

E o coração batendo no meu pulso
Despedaçou a forma do meu braço
Pr'além do nó de angústia mais convulso.

Dia do Mar
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2005)

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Impressão ... digital

Em meados dos anos setenta do século passado, a actividade bancária e as pessoas que dela usufruíam não tinham nada a ver com a realidade de hoje. O dinheiro real circulava de mão em mão, uns com muito outros com pouco, como sempre. O cheque dava os primeiros passos para a universalização e era um meio de pagamento quase só usado pelas empresas, para efectuarem parte das suas liquidações, nomeadamente a fornecedores de outras bandas. O crédito em conta dos ordenados viria muito mais tarde e demorou bastante tempo a ser utilizado por toda a gente. Os funcionários públicos recebiam os seus vencimentos, em dinheiro vivo, nos respectivos serviços ou nas tesourarias de finanças.

Na Praça da República existiam apenas três agências bancárias (hoje parece que regredimos e voltaram, por enquanto, a existir de novo três): a do Banco de Portugal, que não estava aberta ao público e servia quase só para alimentar de dinheiro as instituições que dele careciam ou para receber em depósito o excesso de tesouraria de alguma; a Caixa Geral de Depósitos, virada para a poupança particular e para o crédito às entidades públicas, às grandes empresas e ao crédito bonificado à habitação, que dava os primeiros passos; e ainda o Banco Português do Atlântico, dedicado fundamentalmente às empresas, pequenas e médias e ao pequeno comércio. Havia mais três agências, noutros locais da cidade, e dois ou três correspondentes bancários, que quase só serviam de "caixa de correio" das letras que vinham à cobrança.

José, assim chamado para poupar no espaço, tinha vendido uns eucaliptos e o comprador passara-lhe um cheque para o respectivo pagamento. Indagou onde poderia transformar aquele papel em notas úteis e lá foi até ao BPA.

- Assine aqui.

Não sabia uma letra do tamanho de um comboio e, envergonhado, confessou-o.

- Não há problema. Tiramos-lhe a impressão digital.

Veio a caixa de madeira, com tampo de pedra, foi colocada a tinta, preta, alisada como rolo de borracha.

- Dê cá o dedo.

Rodou-se da esquerda para a direita e a "fotografia" do indicador direito foi colocada no verso daquele papel que, por estranho que parecesse, valia três contos de réis. O empregado anotou, na frente do cheque e em tamanho grande, o número da chapa que lhe atribuiu.

- Agora vá ali à caixa.

José subiu a Praça, entrou na Caixa, sentou-se e aguardou. Demora tanto! Se calhar estão a fazer as notas, pensou. Um dos empregados estranhou a presença daquele homem, ali sentado há tanto tempo. 

- Está à espera de alguém?

- Não. Estou a aguardar que me chamem para receber, respondeu, exibindo a chapa do BPA.

Desfez-se o equívoco, José desceu a Praça e entrou de novo na agência do Atlântico.

- Em vez de vir receber, foi passear?

- O seu colega mandou-me ir à caixa e eu fui ... lá acima.

quinta-feira, 22 de julho de 2021

Sonhos

Uma noite destas, em que o sono tardou a chegar ou já ia a fugir, o Carlinhos veio visitar-me. Queria conversa e não parecia particularmente bem disposto.

- Estou chateado contigo!

- Bolas, que mal te fiz eu? Porto-me sempre tão bem, que às vezes até me estranho.

- Pois, mas não não cumpres o que prometes e isso é muito feio.

Não percebi o remoque, mas eram visíveis as "trombas". Esperei, calmamente, que surgisse mais alguma palavra que clarificasse o assunto que o toldava. Não tardou muito ...

- Autorizei-te, e desafiei-te, a utilizares o meu nome e as minhas "estórias" e esperava que cumprisses essa missão com mais assiduidade. Ainda só vi dois textos e isso magoou-me muito. É pouco para uma pessoa tão famosa e vivida como eu sou, e que tem tanto para contar e ser dado a saber ao mundo.

Embatuquei. Era verdade e a verdade, por vezes, é muito difícil de aceitar e mais ainda de justificar. 

- Tu sabes bem que nunca me esqueço de ti, mas surgem outros temas, a oportunidade passa ou é adiada para "manhã". As tuas "estórias" têm de ser cuidadosamente contadas.

- Quero o acordo cancelado. Pretendo estar na ribalta, ser "primeira página", ter destaque, ser comentado. Se não podes ou não queres dar-me isso, vou procurar outro ou outros que estejam disponíveis. Quero estar na primeira fila, sempre. Acho que mereço mais do que muita "estrela" que por aí circula nas redes e se pavoneia nos jornais.

Convencido, pensei para mim. Devia voltar-lhe as costas ou mandá-lo àquela parte. Era o que merecia.

- A decisão é tua. Para compromissos desses, comigo não contas. Não gosto de ser condicionado por ninguém. Queres restringir a minha liberdade e obrigar-me a ser teu escriba, e eu não estou para isso.

Ficou pensativo e abismado. Não estava à espera e o ego sentiu-se. "Enfiou-se".

- E digo-te mais: conheço muitas "estórias" tuas mas, como bem sabes, uma grande parte não merece nem pode ser publicada. A linguagem e as actividades não são compatíveis com a divulgação pública. Às vezes até a restrita é difícil e é preciso escolher os ouvintes. Acresce que o vernáculo e os comentários jocosos sobre tudo, das religiões à política, não se ajustam a um sítio que se pretende preze a moral e os bons costumes, e mantenha a bitola com algum nível. Há quem diga que, quando a conversa desce de nível, sobe de interesse, mas eu não estou para aí virado.

- Ora, ora! Deixa-te desses pruridos infantis. Nem pareces deste tempo. A língua quer-se desabrida e sem peias, tipo bronco, bué da fixe. Não querem lá ver o cota ... 

Acordei. 

quarta-feira, 21 de julho de 2021

Livros (lidos ou em vias disso)

(...) Numa vila sertaneja e tradicionalista como Trigais, por meados do século XX, não eram de esperar comportamentos de modernidade no interior das famílias, como por exemplo essa coisa de os filhos tratarem os pais por tu. Nada de americanices. Os pais são para ser tratados com respeito.

A família de Feliciano era uma família típica do meio. Ou seja, constituída por um pai que chefiava, ralhava, marcava rumos e garantia o sustento da família; uma mãe que se encarregava das tarefas domésticas, nas quais estava incluída a educação dos filhos; um filho e uma filha que reverenciavam e obedeciam aos pais.

Delfim Carvalhais, o pai, timoneiro da barca, passava o melhor do dia na loja a aviar a clientela, a pesar quilos de arroz na balança marca A. Pessoa, a partir o bacalhau às postas numa guilhotina própria para isso, a conferir a contabilidade rudimentar, a encomendar aos fabricantes produtos em falta, a aturar caixeiros-viajantes tagarelas, e às vezes, quando a freguesia rareava e o ócio se instalava, a dormitar ou a cismar na morte da bezerra, sentado do lado de dentro do balcão, com um rádio de pilhas roufenho, permanentemente sintonizado na Emissora Nacional, a despejar música e propaganda assolapada do regime. Se era Inverno, punha os pés sobre o estrado da braseira. Umas vezes por outras, ao cair da tarde, depois de fechadas as repartições públicas, apareciam três ou quatro compinchas desocupados e armava-se nas traseiras da loja uma mesa clandestina de abafa ou sete-e-meio, interrompido para Delfim atender algum freguês que entrasse. 

Nas férias escolares, Delfim gostava de levar o filho para a loja, esperançado em, dessa forma, despertar nele o gosto pelo comércio, porque seria o comércio, se outras oportunidades não surgissem, que lhe asseguraria um futuro desafogado. Quando o filho era já mais crescidinho, começou a encarregá-lo de tarefas proporcionadas à sua idade, força e entendimento, e no fim recompensava-o com meia dúzia de rebuçados peitorais.

A filha não, não a levava para a loja. Delfim tinha ideias muito arreigadas sobre o que pode e não pode fazer uma rapariga, o que parece bem e o que parece mal, e os perigos a que se expunha toda a mulher que não se guiasse por estes sábios preceitos. E tratava de separar devidamente as águas, isto é, as ocupações dos filhos. Por isso, Carlota ficava com a mãe em casa e instruía-se nas tarefas domésticas, ajudando a passar a ferro ou a cerzir alguma peça de roupa a precisar de conserto. E assim ia adquirindo as competências que devem exornar uma boa dona de casa. (...)

Feliciano
A.M.Pires Cabral
Tinta da China (MMXXI)

terça-feira, 20 de julho de 2021

Netos

O último na cronologia das datas e o segundo na hierarquia das idades, faz hoje 10 anos. 

(Agora era a altura de dizer que parece que foi ontem e o tempo passa num instante. Não vale a pena. Já toda a gente sabe e ninguém deve perder tempo com futilidades.)

Daqui a dois meses - o futuro é que é importante - iniciará um novo percurso escolar, numa nova escola e com uma nova forma de ensino, articulado com a música, por escolha própria.

Novas tarefas e um esforço grande lhe vão ser exigidos, na gestão de horários para conciliar o estudo normal, a música, o futebol, a natação, a brincadeira, as "teatrices" e a leitura. Mas ele vai conseguir. É forte, sabe controlar-se e está (quase) um homem. Até já tem dois dígitos na idade!

Parabéns para o Vasco, meu neto querido.

segunda-feira, 19 de julho de 2021

Confinamento

Observada de fora e à primeira vista, nada indicia que haja habitantes naquela casa. Fechada a "sete chaves", sem nada nas imediações da porta, estores totalmente corridos, não há qualquer sinal de vida por aquelas bandas.

Quem conhece, sabe que lá moram quatro adultos, três dos sexo feminino e um "macho alfa", a quem cabe mandar, determinar, fiscalizar e controlar todo o movimento ou a ausência dele. Raramente alguém sai daquela porta à luz do dia. O "chefe" esgueira-se logo pela manhã até à padaria, compra o que lhe parece necessário e "arquiva-se" de imediato. Por vezes, a deslocação é mais longa, ao supermercado, a uma loja mais distante e, nesse caso, utiliza o carro e a companhia (nem sempre) de uma das filhas. A preocupação suprema é recolher rapidamente, evitando encontros e muito menos conversas.

Nas deslocações mais longas, que acontecem por vezes aos fins-de-semana, os quatro ocupam a viatura, acompanhados de inúmeros saquinhos com o necessário para passarem dois dias fora. A saída é sempre feita já noite velha e a chegada acontecerá pela mesma hora, quando os riscos de encontrar alguém são diminutos.

Têm ADN de morcego ou alergia à luz natural. Preferem a luz artificial, que o "corona" detestará, dizem. Vivem felizes e são simpáticos ... quando não conseguem evitar encontros "indesejáveis". 

São "cebolas", que se há-de fazer!

domingo, 18 de julho de 2021

Tempo

Mais uma pausa na praia. O Santo que coordena o tempo oestino não quer que nos habituemos ao ócio e não nos disponibiliza céu azul e temperaturas agradáveis todos os dias e lá saberá porquê. É matéria que merece um rigoroso inquérito por parte das autoridades competentes, uma vez que não é justo que sejamos sempre sacrificados e o Santo poderá estar a exorbitar das suas competências.

Ontem, a temperatura estava agradável mas o Sol esteve escondido toda a manhã. Deve ter adivinhado que iria haver greve nos aeroportos e não arriscou viajar. Manteve-se (e mantém-se) escondidinho atrás das nuvens, deixando escapar o aviso de que por lá irá permanecer por tempo indeterminado.

A manhã de hoje avisava que era preferível não contribuir para o buraco do ozono e ficar por aqui, sem consumir gasolina, que está cara, nem correr o risco de fazer um passeio "à senhora da asneira".

- Não vale a pena arriscar. Vêem-se daqui as nuvens e deve estar vento de sobra.

De acordo com as informações disponíveis nas novas tecnologias, o céu está nublado, a temperatura talvez chegue aos 20º e o vento sopra do Norte, a vinte quilómetros à hora e, pontualmente, com algumas rajadas mais fortes.

Se a rotina determinasse que amanhã seria dia de trabalho, teria arriscado e lá estaria, mesmo sem evidenciar a peitaça. Porém, como as férias continuam, não vale a pena ser masoquista. Melhores dias virão, no Verão que há-de chegar. Todos verão que vai ser assim (eu o determino), sem trocadilhos e com muito calorzinho, como é costume por estas bandas ... tão certo, tão certo, como eu me chamar Antímio!

sábado, 17 de julho de 2021

Responsabilidade

Os pequenos apontamentos que por aqui vou deixando e que, desde que o coronavírus nos veio visitar, têm sido diários, são apenas isso: apontamentos, despretensiosos, com opiniões próprias ou transcrevendo alheias com as quais concordo, gostos, pequenas reflexões, sem qualquer outro intuito que não o de deixar expresso o meu comentário sobre os mais diversos assuntos.

Já passaram mais de 15 anos sobre o primeiro post (15 de Maio de 2006) e, por vezes, sorrio ao ler o que escrevi em tempos idos. Até hoje, ainda não me arrependi de nada mas, se isso vier a acontecer, cá estarei a "dar a mão à palmatória" e a penitenciar-me pelo erro cometido. Foi assim que aprendi e foi sempre dessa forma que me comportei. Se havia responsabilidades, se tinha acontecido erro, não havia outro remédio senão assumir, solicitando as desculpas devidas.

Por isso, "chateiam-me" as pessoas que procuram sempre bodes expiatórios, que nunca cometem erros e, se alguma coisa correu mal, nunca têm nem um niquinho de culpa, por mais importante e influente que seja o cargo que desempenham. Da política ao futebol, dos empresários aos bancos, dos jornais às televisões, o que não falta por aí são exemplos de descaramento e lata.

E conseguem fazer dos outros parvos, sem se rirem ou corarem. Não ficarão na história e, se daqui a alguns anos, alguém se lembrar de os relembrar, será apenas para lembrar que gente dessa nem vale a pena falar e muito menos lembrar. A "lembradura" foi repetida de propósito!

sexta-feira, 16 de julho de 2021

Dúvida

Uma mosca sem valor
pousa, com a mesma alegria,
na careca de um doutor
como em qualquer porcaria.

António Aleixo

O coronavírus parece a mosca do Aleixo. Pousa em todo o lado, não escolhe casa ou barraca, palácio ou gaiola, e, por mais "insecticida" que se lhe deite, não abandona o campo nem acaba o jogo. 

Com calor ou frio, o céu carregado de nuvens ou azulinho celeste, a chuva caindo ou o vento soprando, por cá se vai mantendo sem ter sido convidado, sem bilhete ou passaporte, molestando diariamente milhares de pessoas, levando algumas (felizmente bem menos do que no auge) e mantendo toda a gente em alerta forçado, preocupada, receosa de fazer isto ou aquilo, de ir ali ou além, de andar ou ficar parado.

E nem a praia traz a tranquilidade que é necessária e merecida e à qual o dia, lindo, convidaria. O distanciamento social, as conversas ao largo, as toalhas afastadas, os jogos ausentes, grupinhos de dois ou três miúdos, não mais, barracas para alugar, pouca gente no banho, e não é só por a água estar fria. Mas, antes de tudo isso:

- A máscara?

- Ficou no carro!

Volto atrás e digo para os meus botões: até na praia, bolas! Quando é qu'isto acaba?

quinta-feira, 15 de julho de 2021

Autárquicas

As eleições autárquicas estão à porta e a azáfama é grande. A necessidade de mostrar, de se dar a conhecer, de aparecer e ser visto, de inaugurar obra mesmo insignificante, faz parte do quotidiano de todos, ansiosos que os eleitores os adorem e lhes concedam a "benção" de os apoiarem, de preferência com notícia partilhada nas redes sociais e nos jornais da "santa terrinha".

E ideias? E projectos? E ser diferente? E ambição de mudar? Nada disto parece estar na primeira linha, tudo ou quase tudo se resumindo a um "dizes tu, respondo eu", como se a "farinha" fosse igual e o "saco" semelhante. Será?

Agora que a idade acentua a propensão para a calma, a crítica e a análise (presunção e água benta, cada um toma a que quer), fico olhando, vendo e ouvindo os candidatos e, se de alguns já não tinha qualquer esperança em algo de novo, outros cheiram a mofo, outros há que me parecia (parece) poderem trazer algo de diferente.

Ainda vão a tempo! Deixem-se de tricas com e sobre o poder instalado, que pretende manter-se igual a si próprio. Tragam ideias novas, futuro, esperança, vontade, diferença, perspectiva, balanço, coragem, e digam isso sem peias nem medos. Não abram portas ao passado e apresentem novos modelos, que a hora é de mudança.

Não se submetam aos cânones do malfadado politicamente correcto. Disso já temos que chegue e estamos todos fartos!

quarta-feira, 14 de julho de 2021

Ciclismo

Sentado na cadeira frente ao televisor, canso-me sem me mexer e fico tenso sem sair do lugar. 

A RTP2 transmite, em directo, mais uma etapa do Tour de France, que hoje atravessa os Pireneus. Sempre que me é possível, assisto. E pasmo. Como é possível aguentar tanto e ainda conseguir sorrir.

Quando descem, fazem-no a velocidades vertiginosas que, neste ano, já várias vezes passaram os 100 quilómetros à hora. Se sobem, as montanhas parecem nunca mais acabar, o frio deve ser terrível e as bicicletas quase que param, apenas empurradas pelos "motores" daqueles ases do pedal, e do guiador, e dos travões, e da coragem, e do sangue-frio, ... e que às vezes dão quedas (este ano já foram várias) que fazem doer a quem está bem longe e nada tem a ver com aquilo.

Há dois portugueses no pelotão - Ruben Guerreiro e Rui Costa - e todos os dias se vêem várias bandeiras do nosso país, agitadas por compatriotas que vivem por toda a França. As paisagens que as câmaras nos exibem valem, só por si, o tempo "perdido" a olhar para o televisor. O ciclismo é sempre um grande espectáculo que, na televisão, ainda se torna mais belo.

Nota: Passam hoje 232 anos da tomada da Bastilha, acontecimento que abriu as portas à Revolução Francesa. Saíram dela as palavras que são (ou deveriam ser) a essência e o quotidiano da humanidade: Liberté, Egalité, Fraternité.

terça-feira, 13 de julho de 2021

Objectividade

O exame corria às mil maravilhas e o examinador estava perplexo com a qualidade evidenciada pelo candidato. A prova do Código da Estrada tinha sido irrepreensível, sem uma única falha - 20 Valores. Quer nos sinais quer nas regras, o Carlinhos tinha demonstrado dominar toda a matéria, ultrapassando sem qualquer dificuldade as perguntas armadilhadas que a prova continha.

Convém dizer que, na carteira do Carlinhos já estava arrumada, há três anos, a carta de ligeiros, tirada com a emancipação paterna, aos 18 anos. Agora era o passo para profissional a sério. Obter a carta de pesados e de serviço público de autocarros era um objectivo que, alcançado, alteraria a sua vida de forma drástica e permitir-lhe-ia escolher entre conduzir camiões por essa Europa fora ou então autocarros, quiçá de luxo. Qualquer uma das hipóteses abriria novos horizontes, outros países, outras gentes, tudo o que lhe balançava na cabeça há muito tempo.

As provas de condução, mesmo quando guiou o camião com reboque, não podiam ter corrido melhor. Carlinhos era um condutor exímio, ponderado, cauteloso, seguro. Tinha deixado o engenheiro examinador de boca aberta e completamente rendido à destreza do jovem.

Faltava apenas a mecânica. Depois de ouvir explicação pormenorizada sobre o funcionamento dos motores, da cambota ao pistão, dos radiadores e injectores, da bomba de água e dos travões, da embraiagem à combustão, o examinador informou o candidato que o exame tinha terminado e que a sua aprovação seria por distinção, se isso estivesse previsto. No entanto e apenas por curiosidade, gostava de ouvir a explicação que ele daria para o funcionamento da caixa de velocidades. Que ficasse claro que isso não contava para a apreciação final, já efectuada, como lhe tinha acabado de dizer.

- Ó senhor engenheiro, não é fácil!

- Eu sei, mas tente. Não precisa de linguagem muito técnica. Seja objectivo, como foi no exame.

- Aí vai: uma mão cheia de carretos, que andam lá numa velocidade do caraças, se um gajo põe lá um dedo, lixa-se, fica sem ele! 

segunda-feira, 12 de julho de 2021

Escultura

Vento norte, zangado, soprando com força, obrigando os que levaram chapéu a estarem atentos, para que ele não levante voo. O céu com nuvens, a água fria, o mar revolto, tudo contribuindo para que se cumpra a máxima antiga: a Foz é uma praia tão boa, tão boa, mas tão boa, que até o Inverno cá vem passar o Verão.

E o "cão" de rocha adora, como a sua expressão evidencia, que tiritem à sua volta, para terem consciência dos sacrifícios que ele passa, a levar com tudo ele que nem uns calçõezitos tem para lhe afagar as pernas e as partes baixas, nomeadamente na maré alta.

- Mas ele nem pernas tem, como pode usar calções?

- Tens toda a razão. O vento até nos tira o discernimento. Que disparate!

O "cão" rocha ouviu e comentou, baixinho, apenas para os seus botões.

- Coitados. O vento tolhe-lhes os pensamentos e leva-os a comentarem sem pensar. Está muito na moda. Esquecem-se que estou aqui há séculos e foi esta a forma que encontrei para iludir a polícia dos costumes. Se eu estivesse aqui de pernas à mostra, de certeza que me tinham levado para Peniche ...

domingo, 11 de julho de 2021

Euro 2020

 


ITÁLIA - 4 / Inglaterra - 3

E, tal como há cinco anos, jogar em casa de nada adiantou.

sábado, 10 de julho de 2021

Memória

Havia tanta coisa para servir de tema hoje.

Não quero escrever sobre nada, nem mesmo sobre o vento que se fazia sentir na Foz.

Há cinco anos, exactamente neste dia, Portugal sagrou-se Campeão Europeu de Futebol e esse feito ninguém apagará da história. 

Para mim foi um dia inesquecível, com o coração no limite e as emoções à flor da pele.

sexta-feira, 9 de julho de 2021

Livros (lidos ou em vias disso)

Extrato, pequeno, da biografia de José Cardoso Pires, publicada recentemente e escrita de acordo com o malfadado novo acordo ortográfico. Apesar da minha (o)posição, a cópia abaixo respeita a ortografia constante da obra, que me tem sabido bem ler. Espero concluir em breve as 566 páginas e que o agrado actual se mantenha até ao fim.

(...) Naqueles anos, nos intervalos permitidos pelos empregos por que ia passando, tinha escrito vários contos. O grande desafio era encontrar quem os publicasse. O convívio com jovens artistas e o contacto com algumas pessoas do meio literário não eram garantia de publicação. Naquela altura, até autores consagrados tinham dificuldade em encontrar editor. Os livreiros e os responsáveis das editoras queixavam-se que o ano de 1947 tinha sido um dos piores de sempre para o setor. Em julho, a revista Vértice publicou um artigo sobre a crise do livro português com um diagnóstico sombrio. Os livros eram demasiado caros para a maioria da população que gostaria de os ler. A prioridade era pôr o pão na mesa. Alguns autores vendiam razoavelmente, mas quase todas <<ediçõezinhas de 3000 exemplares>> dormiam o <<sono eterno nas estantes das livrarias>>.

Nada ajudava. Nem a censura, com o risco de possíveis apreensões a pesarem nos cálculos dos editores, nem a elevada taxa de analfabetismo, a rondar os 45 por cento, muito superior à dos outros países europeus, nem o preço dos livros. Para que a publicação do seu livro não fosse apenas uma quimera, um aspirante a escritor precisava de um <<padrinho>>, alguém que caucionasse a qualidade da obra. Depois logo se via. Mas se mesmo com padrinho era difícil, sem padrinho era impossível. E sem livro, também. Porém, essa parte ficou resolvida em agosto, quando Cardoso Pires concluiu a primeira versão de um livro a que deu o título provisório de Areia Movediça. E já decidira a quem ia entregá-lo para uma primeira leitura.(...)

Integrado Marginal
Biografia de José Cardoso Pires
Bruno Vieira Amaral
Contraponto (2021)

quinta-feira, 8 de julho de 2021

Alegadamente ...

Sempre com a premissa do título, os últimos tempos têm sido pródigos em notícias envolvendo figuras conhecidas desse outro mundo que passa nas televisões e navega pelos jornais e, por arrastamento, "fauna" que é "tu cá, tu lá" com muita gente, sedenta de conhecer e dizer que conhece.

Primeiro, foi José Berardo, ou Joe Berardo ou Comendador Berardo, a ser detido, por uma chusma de crimes, que cansam qualquer um que os leia e devem ser um pesadelo para quem é disléxico e tem dificuldades com a língua. Coitado do Comendador! Ainda por cima fixaram-lhe uma caução de cinco milhões de euros, quantia que deverá obrigar a partir todos os porquinhos-mealheiro, dele e da família, e talvez até a recorrer a uma angariação de fundos através das redes sociais. E todos temos obrigação de ajudar, para evitar a prisão de um respeitável septuagenário, sob pena de ficarmos com remorsos.

Ontem foi Luís Filipe Vieira, famoso empresário self made man, que começou a trabalhar em pneus e, à custa de muito esforço e dedicação, conseguiu ser presidente do Benfica, depois de uma "licenciatura" em construção civil, completada por um "doutoramento" de presidência no Alverca. Para que a claustrofobia não o atormentasse, o Ministério Público resolveu dar-lhe a companhia do seu grande amigo José António Santos, da Valouro, que garantirá, sendo necessário, um franguinho para assar se a fome atacar. Sempre preocupados com o bem-estar duma personalidade deste nível, os investigadores garantiram ainda o convívio de um seu advogado, que acumula funções no agenciamento de futebolistas, e ainda o seu filho, que não é identificado com qualquer profissão, a não ser a de "filho de", suficiente para identificar, abrir portas e ter crédito, dirão alguns. Este trabalho do Ministério Público permite a ocupação dos tempos livres com umas boas partidas de sueca, jogo conhecido como do seu inteiro agrado.

Por tudo isto é que os Tribunais estão entupidos e demoram um tempo infinito a resolver qualquer acção que lhes é submetida. Se aos recentes juntarmos Ricardo Salgado, José Sócrates, Armando Vara, Carlos Silva, Zeinal Bava, Henrique Granadeiro e muitos outros que não são, ou não eram, presença assídua nas televisões, teremos, clarinha como água suja, a razão do entupimento.

Valha-nos que os "rigorosos inquéritos" não vão parar aos Tribunais. Não haveria manilhas com dimensão suficiente para assegurar o esgoto. Alegadamente ...

quarta-feira, 7 de julho de 2021

Juventude

Eram cerca de duzentos. Jovens na idade em que se sabe tudo, se aguenta tudo e se quer fazer tudo. Pertenciam à mesma companhia de instrução e cumpriam a recruta do serviço militar obrigatório, "missão" conhecida por todos e adorada por muito poucos.

A guerra colonial era a realidade agitada de forma diária, com a mais que provável mobilização para a Guiné sempre presente. Isso e uma disciplina férrea eram a motivação mais do que suficiente para que todos se aplicassem o melhor que conseguiam nas provas teóricas e nas físicas. A ida à guerra era determinada pela classificação final e por algumas "cunhas", naturalmente.

A "educação física" era particularmente exigente e dura, mesmo para quem tinha pouco mais de 20 anos. A espingarda G-3 era mais um membro do corpo, que acompanhava, e estorvava, todos os movimentos. Não havia lugar a queixas e a solidariedade entre todos fazia-se sentir. Ninguém ficava para trás e qualquer desfalecimento era, de imediato, resolvido com a ajuda necessária, libertando a carga, da espingarda à mochila e, se não bastasse, oferecendo o ombro para apoio. O campo de obstáculos, situado lá bem ao fundo do quartel, era o local preferido pelo comandante da companhia para, muitas vezes amesquinhando um ou outro, tentar fortalecer o grupo, levá-lo cada vez mais longe e torná-lo cada vez mais forte.

Já se perdeu na memória o nome próprio. Recordo o apelido - Preto - e que era da zona de Mirandela. Não ia a casa de fim-de-semana por não ter carro próprio e os transportes públicos, pelas "auto-estradas" de então, demorarem uma "eternidade". Desmaiava ao ver sangue, como todos pudemos confirmar aquando do "teste do dedo". Depois da picadela e assim que apertou para que o enfermeiro pudesse recolhê-lo para a lamela, caiu do banco e pregou um susto ao oficial médico que, lá ao longe, apreciava o decorrer dos trabalhos. Para agravar, sofria de vertigens e, de acordo com o que dizia, qualquer altura lhe dava pânico. Era sempre dispensado, pelo alferes do pelotão, da subida (e corrida) ao pórtico. 

Um dia, o comandante da companhia apercebeu-se e chamou-o, questionando a razão da dispensa.

- Não consigo, meu tenente. Sempre fui assim ...

- És um maricas. Todos os camaradas sobem, e correm, e tu ficas aí ... Não tens vergonha?

A admoestação e o achincalhamento começaram. Era visível o nervoso e o desejo de, se pudesse, fugir dali. O comandante continuava a arenga, tornando-o um farrapo perante os outros. Não satisfeito com a conversa, cheia de palavrões e impropérios, colocou-lhe um tijolo à frente e mandou-o subir. Claro que os nervos o tolheram e nem isso conseguiu fazer. 

Começou a ouvir-se um sussurro, baixinho. Tornou-se mais audível. Não tardou muito e era um escarcéu. 

- Acabe com isso! Nós fazemos por ele ...

O comandante calou-se e mandou-o juntar-se a nós. O resto do dia foi violento. A solidariedade e a "rebelião", como sempre, pagaram-se com "língua de palmo".

Nunca mais o vi, porque os destinos seguintes não se cruzaram. Alguns meses depois, num encontro fortuito com outro camarada de recruta, soube que tinha sido mobilizado para a Guiné ...

terça-feira, 6 de julho de 2021

Palavras bonitas

Tanto da vida conheço
que, ao ver o mundo tão torto,
às vezes, quando adormeço,
desejava acordar morto.

Gosto do preto no branco,
como costumam dizer:
antes perder por ser franco
que ganhar por não o ser. 


Contigo em contradição
pode estar um grande amigo;
duvida mais dos que estão
sempre de acordo contigo.

Quem canta por conta sua
quer ser, com muita razão,
antes pardal, cá na rua,
que rouxinol na prisão.

Este livro que vos deixo ...
António Aleixo
Edição do filho do autor (1975)

 

segunda-feira, 5 de julho de 2021

Netos

Hoje é dia de não falar em mais nada a não ser de futuro. 

O meu neto Gil faz 15 anos e eu, babado, antevejo-lhe um futuro risonho que, aliás, ele já vai fazendo por merecer.

Aluno impecável, excelente nadador - ontem obteve o sétimo TAC para os Nacionais - , jovem de personalidade e de princípios, mal seria que não o deixassem voar de acordo com os seus desejos, em busca de um mundo melhor, mais justo, mais aberto, plural e solidário.

Tenho a certeza que o meu Gil irá conseguir e eu hei-de continuar a ver, enquanto os olhos conseguirem, as suas aptidões subir, a apreciar a sua modéstia e a ter um orgulho enorme no meu neto GRANDE.

Parabéns, Gil. 

domingo, 4 de julho de 2021

Devaneios

Vivemos tempos difíceis. Quando se esperava que a evolução da pandemia fosse no sentido descendente ou, como diria qualquer economista esclarecido, que tivesse um crescimento negativo, os números ressurgiram para preocupar os mais atentos, que gostavam de (ainda) ver isto ter um fim.

Voltou o recolher obrigatório para a população de um significativo número de concelhos, continuam a ser "proibidos os grupos agrupados e mais que dois a andar parados", como dizia um polícia dos tempos da "outra senhora", já se ouvem advertências sobre a ocupação preocupante das Unidades de Cuidados Intensivos, o "delta" dos infectados tem subido diariamente sem, felizmente, chegar aos números preocupantes verificados no pico do início do ano.

E surgem os opinativos a dizerem de sua justiça, com uma justeza e uma certeza de espantar a mente mais atenta, dando largas à sua sabedoria e tornando os outros, os que padecem do dia a dia da subsistência, uns meros bonecos estúpidos e aparvalhados, que não se adaptam, não cooperam, infringem sistematicamente a lei e os bons costumes, não se governam nem se deixam governar, como disseram os outros, há muitos séculos atrás.

Valha-nos o folhetim Cabrita, a telenovela Berardo, o Rio que corre para o mar e nem Oliveira o acompanha, o Costa que não remodela, o Jerónimo que vai perdendo o vocabulário, a Catarina que, não sendo a Grande, esforça-se por o parecer, o Chicão que está quase Chiquinho, e o Marcelo, que nunca compreende a razão, quando não lhe passam cartão.

"Malhas que o império tece ...". A esperança em dias com mais sol (como hoje) não desvanece e a Foz do Arelho agradece.

sábado, 3 de julho de 2021

Livros (lidos ou em vias disso)

(...)"A emigração da rapaziada do lugar, à qual se associa um ocasional homem maduro, suspensa entretanto pelas expectativas desencadeadas pelos cravos, prossegue a inalterado ritmo. Justificando-se a saída, já não com a ausência de horizontes, mas com a imprecisão destes, abalam agarrados ao princípio que adoptaram, e que se sintetiza na constatação em voga, <<Aqui há confusão a mais!>> Não partem tão futricas como antigamente, e rebocando uma mala fechada, com cordas traçadas, mas de calça e casaco de jeans, e com uma sacola de bom couro ao ombro. Ontem pôs-se na alheta um irmão da rapariga, e uma semana antes viera despedir-se um sobrinho da idosa. Acabaram-se os adeuses dramáticos, calando-se choros e gritos, e selando-se em definitivo as bolsas lacrimais, ao estabelecer-se a absoluta certeza de que <<na nossa era desaparecerem as distâncias.>>

O meio da tarde, alcançado ao termo de um esparso convívio com os livros, reestrutura-se-me à chegada da merenda, tisana de hortelã e pão com manteiga. Recebo a bandeja sem me erguer da poltrona, e com o monte de manuscritos a meu lado, cobertos de pó, e picados pelas faúlhas libertadas da lareira. A manta que me tapa as pernas cheira que tresanda ao óleo da salamandra que acendo, sempre que o calor da lenha se mostra insuficiente. Mastigo como posso, emborco com cautelosa demora aquilo que me põem à frente, e regresso às recordações da mulher no tempo em que ela habitava a Casa."(...)

Embora eu seja um velho errante
Mário Cláudio
D. Quixote(2021)

sexta-feira, 2 de julho de 2021

Verão

Sol, céu azul, mar verde esmeralda e sem ondas, vento ausente. A Foz, hoje, mais parecia uma praia das Caraíbas ou daqueles destinos paradisíacos tão vendidos por aí. Claro que a água estava fria, mas nada é perfeito e ainda bem.

Como dizia um dos acompanhantes das várias vezes que se experimentou a temperatura, na esperança de que estivesse só um pouquinho melhor,

"Na Foz é assim. Quando surge um dia bom, é mesmo muito bom!"

E os mergulhos sucederam-se até que as mãos começaram a doer e todos achámos melhor não abusar.

Hoje a Foz fez jus ao Verão de António Vivaldi. Amanhã, ver-se-á.

quinta-feira, 1 de julho de 2021

Dúvidas

Afazeres e compromissos impediram que hoje trilhasse o caminho da Foz, mesmo que fosse apenas para sentir o vento a resfriar o corpo e a refrescar as ideias.

Afinal, parece que o S. Pedro me fez mais uma provocação, contrariando todas as previsões metereológicas e o que tem acontecido nos últimos dias. A avaliar pela foto, enviada por mão amiga (C.P.) para fazer inveja e evidenciar que sou eu o "transportador" do mau tempo, hoje foi um dia de "estalo".

Amanhã lá estarei, mesmo que seja só para uma "visitinha de médico". Quero confirmar se o S. Pedro não gosta mesmo de mim ...