quinta-feira, 25 de abril de 2024

25 de Abril

Cinquenta anos passados, a emoção continua quando se (re)vêem imagens que não desaparecem nunca, e se ouvem músicas inesquecíveis, muitas com novas e excelentes "roupagens", cantadas e tocadas por gente nova, que não se quer alhear nem ceder.

Que os meus netos possam comemorar o centenário do dia inicial inteiro e limpo, com total liberdade, uma maior igualdade, a fraternidade devida e o respeito a que todos temos direito.

O 25 de Abril trouxe-nos a paz, a abertura, a esperança, o horizonte, a mudança, valores que só descortinamos quando se perdem.

terça-feira, 23 de abril de 2024

Dia Mundial do Livro

No Dia Mundial do Livro, depois de ter lido meia dúzia de mails anunciando "descontos fenomenais na compra de obras fundamentais", decidi que era dia de ser imperturbável e não adquirir nada.

Peguei em A Relíquia, por me ter vindo à memória um dos livros que mais me marcou na adolescência, e dele retirar alguma coisa para deixar por aqui. Depressa o voltei a colocar no seu discreto compartimento. Se Eça ainda por cá andasse, não teria mãos a medir nem veneno suficiente para distribuir.

Talvez nem o Bugalho escapasse, esse que, tão novo, descobriu o difícil caminho que o vai levar à Europa das grandes decisões. Aí pugnará, com o brilhantismo que todos reconhecem, pelo seu bem-estar e futuro a contento, proporcionando a Montenegro continuar com o sorriso que exibiu ontem, ao anunciar a sua inclusão como cabeça de lista da AD às eleições europeias. 

segunda-feira, 22 de abril de 2024

Rituais

Tenho com o Expresso uma relação "amorosa" a qual, muitas vezes, me retira ou inibe o espírito crítico e em outras procura uma justificação plausível para muitas incoerências ou erros que nele acontecem em todas as semanas.

Mesmo irritado com a semana anterior, à sexta-feira (dantes era ao sábado) cumpro o ritual e vou comprar o jornal ao local habitual onde agora, de acordo com a informação do proprietário, já só chegam dois sacos e um deles é quase sempre devolvido.

Esquecido ou perdoado que está o "frete" ao Governo com o título sobre a descida do IRS, fixado na primeira página do número 2685, de 12 de Abril, António, no seu cartoon,  e Miguel Sousa Tavares, em A ruína moral do Ocidente,  confirmam, na semana seguinte, que vale a pena ser teimoso e, enquanto houver edição em papel, cumprir o ritual que já passou o meio século.

"(...) A 14 de Abril, Israel e os seus aliados não apenas detectaram no ar e destruíram 99% dos engenhos de morte enviados do Irão - também detectaram previamente e destruíram 99% das opiniões ou notícias capazes de contrariarem a versão única de mais uma vitória dos bons sobre os maus, da derrota de um ataque não provocado à "única democracia do Médio Oriente". Uma democracia que, em seis meses, liquidou, nas suas casas, nas ruas, nas escolas, nas mesquitas e nos hospitais, 35 mil civis, dos quais 16 mil crianças, e em cujo governo há um ministro que propôs resolver o problema dos 2,3 milhões de palestinianos encerrados em Gaza com uma bomba termonuclear e outro que, mais simplesmente, jurou que "os palestinianos não existem". Se não tivéssemos visto as imagens de quarteirões inteiros em Gaza destruídos com bombas de uma tonelada fornecidas a Israel pelos defensores dos direitos humanos, dos hospitais transformados em campos de batalha, das crianças com olhares esgazeados de fome, ainda poderíamos acreditar, talvez, que isto seria uma guerra da liberdade contra o terrorismo. Se não conhecêssemos a história, poderíamos acreditar que eram os justos a triunfar sobre os usurpadores da "Terra Santa". E certamente que todos dormiremos mais descansados se, no seu exercício de "legítima defesa", Israel destruir as instalações nucleares dos aiatolas. Mas dormiremos mais descansados ou mais pacificados de consciência sabendo a bomba nuclear nas mãos dos fanáticos ortodoxos de Israel, que se declaram "o povo eleito"? Qual é, afinal, o critério moral que nos distingue dos outros? Perguntem às crianças de Gaza, perguntem à rosa de Hiroxima.

Eu fiz jornalismo durante mais de 40 anos. E em todas essas décadas, seguindo a política nacional e internacional, tive muitas vezes de me conter para não confundir a hipocrisia com a própria natureza da política. Mas sempre acreditei que, no fim, seria a independência e a liberdade do jornalismo a prevenir e a evitar que isso acontecesse. Porém, e como já o escrevi a propósito da guerra na Ucrânia, e agora o volto a escrever a propósito da guerra de Israel em Gaza, nunca tinha visto o jornalismo tão submisso à narrativa oficial, tão disposto a abdicar do contraditório e tão avesso a fazer as perguntas ocultas, as perguntas essenciais. Isso, mais ainda do que esta miserável geração de líderes políticos, é o que mais me faz descrer no triunfo das democracias, enquanto resultado de regimes escolhidos por povos informados e livres. Oxalá eu possa estar enganado."

domingo, 21 de abril de 2024

Meio século

Aproxima-se, velozmente, o dia da Liberdade. 

Passam 50 anos e as comemorações sucedem-se, ainda que, em algumas, melhor seria terem ficado no sossego da gaveta ou na pasmaceira da casa. A lei inexorável do tempo faz com que sejam cada vez menos os que viveram os tempos da "outra senhora", e aos novos pareça esquisita, para não dizer falsa, qualquer conversa sobre o como era dantes.

Ainda bem! Emitir opinião sem temor, ser diferente sem medos, usar o que apetece sem "olhos" a cuidarem, conversar sem receio de ser ouvido e denunciado, e não serem "proibidos os grupos agrupados e mais que dois a andar parados", não tem preço.

Por mais gente que apareça a berrar, vozes de burro não hão-de chegar ao céu e, daqui a cinquenta anos, as comemorações do século talvez sejam historicamente mais verdadeiras e rigorosas, digo eu, que não estarei cá para o confirmar.

sábado, 13 de abril de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

Está a terminar a leitura de um grande livro - mais de 400 páginas - que me tem ocupado nos últimos dias. Fez-me reviver muitas histórias, conhecer muitas outras, saber pormenores de assuntos que estavam na penumbra ou já tinham desaparecido da gaveta memorial.

O antes e o depois do 25 de Abril percorrem todas as páginas, despertando o interesse para a seguinte e obrigando a memória a reter o relato da anterior, mesmo que nela se registem apontamentos sobre a Foz do Arelho ou se contem episódios de Coimbra, de Torga ou de Adriano, com o registo imperativo de que "mesmo na noite mais triste, em tempos de servidão, há sempre alguém que resiste, há sempre alguém que diz NÃO.

"(...)

Melancolia democrática

Mas os tempos tinham mudado. Já não havia a dimensão heróica da resistência nem o entusiasmo e as ilusões líricas da revolução de Abril. A normalização trouxera consigo aquilo a que o francês Pascal Bruckner chamou a <<melancolia democrática>>, a democracia sem festa nem fervor revolucionário, um certo cinzentismo com alternância mas sem alternativa. Em França, Itália e noutros países os velhos bastiões da esquerda esvaziavam-se e, em breve, votariam na extrema-direita. Os partidos socialistas e sociais-democratas deixavam-se colonizar pelo neoliberalismo, aderiam à <<terceira via>> e, como várias vezes disse, há muitos anos, corriam o risco de se tornarem historicamente desnecessários.

Eu não conseguia desfazer-me daquilo a que Eduardo Lourenço chamou <<a nostalgia da epopeia>>. Na escrita e na vida. Era tempo de, sem abandonar a intervenção, me voltar cada vez mais para a escrita. (...)"

Manuel Alegre
Memórias minhas
D. Quixote (2024)

terça-feira, 9 de abril de 2024

Ramerrame

Apresentações de livros com aconselhamentos vitais para o futuro, comentários de tudo e de nada, cartas de um lado para o outro como antigamente, discussões sobre temas mais do que enterrados pelo tempo, levam o pensamento para outrora, antes de as mulheres poderem usar calças ou exercer a profissão de Juiz, fadadas que estavam para obedecer e bico calado.

sábado, 6 de abril de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

Já levo muitos milhares de páginas lidas e continuo sempre a surpreender-me. Este livro, oferecido pela minha filha no Dia do Pai, confirmou, se necessário fosse, que estamos sempre muito longe de saber e conhecer tudo. Não conhecia o autor e, da história narrada, talvez tivesse ouvido algumas coisas, sempre pela rama. Não foi uma delícia porque os factos são arrasadores, marcantes, terríveis. Mas é um livro fantástico!

"(...) Lembro-me de que o Benitez sempre se despedia de mim da mesma maneira: <<Jovem, que seja muito feliz>>, e fazia uma reverência teatral. Essa saudação, quando saía à rua, provocava-me um ataque de riso e de felicidade repentina; tinha de saltar para a assimilar. Desde então, tentei seguir as suas palavras, mas sem muito êxito. Porém, quem eu mais admirava e queria conhecer, embora isso não tenha acontecido nessa viagem, era Juan Rulfo, que era taciturno e saía muito pouco; Garcia Márquez , que não era deste mundo; Octavio Paz, de quem li toda a poesia e todos os ensaios naqueles meses, mas que agia como um pontífice e não via ninguém, e era necessário solicitar uma audiência com ele com três meses de antecedência; e um poeta mais novo com o qual estava deslumbrado e que ainda me apaixona, José Emilio Pacheco, mas este passava metade do tempo nos Estados Unidos. Nem Rulfo, nem Paz, nem Gabo, nem Pacheco pertenciam ao digníssimo <<Ateneu de Angangueo>>, que era para pessoas mais felizes que famosas e que não levavam tão a sério a sua vida e o seu ofício. Talvez nós, na vida, tenhamos sempre de escolher entre sermos felizes, como Benitez, ou famosos, como Paz; oxalá todos tivéssemos a sabedoria de escolher a primeira coisa, como o meu amigo Iván Restrepo, ou como Monsiváis e a princesa Poniatowska, que são pessoas mais felizes que famosas ou, pelo menos, tão famosas como felizes.
(...)
Em meados desse ano, o avô António escreveu uma carta ao meu pai, muito preocupado. Soubera que eu, no meu ideal de vida proustiano, passava os dias inteiros deitado na cama ou num divã a ler romances intermináveis e bebendo golinhos de vinho de Sauternes, como se fosse uma solteirona retirada do mundo, um Oblomov dos trópicos ou um dândi maricas do século XIX. Nada lhe parecia mais preocupante para a formação da minha personalidade e para o meu futuro que isso e, visto de fora, pelos olhos de um ganadeiro ativo e pragmático, ou inclusivamente com os meus olhos de hoje, tenho de reconhecer que era um tudo-nada aberrante e que talvez o meu avô tivesse razão. Mas o meu pai, como fez durante toda a vida comigo, quando leu aquela carta limitou-se a dar uma gargalhada e a dizer que o avô não percebia que eu estava a fazer por minha própria conta a universidade. De onde sairia aquela confiança em mim, apesar desses terríveis sintomas de indolência? (...)"

Somos o esquecimento que seremos
Héctor Abad Faciolince
Alfaguara (2023)

sexta-feira, 5 de abril de 2024

Emblemas

Ainda mal conhecem os cantos à casa (para muitos, o palácio de sonho) e já começa a haver "mosquitos por cordas". Da Secretária de Estado que, ainda antes da posse, já está com as indemnizações (mal) recebidas às costas, até à primeira decisão pública do Conselho de Ministros: alteração do logótipo do Governo, fazendo a vontade aos cultores do amor pátrio, de que são lídimos defensores.

Longe dos locais onde a sapiência impera, surge-me a dúvida se esta era a medida que se impunha com a maior urgência e se o procedimento de agora passará a lei futura, com aplicação imperativa a todos os novos governos.

Parece-me ser elementar este procedimento,  que garantirá a eficiência futura. Apraz-me deixar uma sugestão para a próxima quinta-feira: alterar os logótipos das forças de segurança, que já estão bastante caducos ... do tempo, claro!

terça-feira, 2 de abril de 2024

Tempo novo

Hoje haverá novo Governo e, de acordo com a maioria dos ilustres comentadores da nossa praça, será de combate, e constituído por gente de grande prestígio e capacidade, capaz de conduzir os destinos da nação com a proficiência reconhecida, a julgar pelos currículos tão meticulosamente divulgados.

A expectativa aumenta quando se tenta adivinhar a conversa que virá de Belém, sabendo-se quão loquaz gosta de ser o nosso Presidente. Deverá subir a Calçada da Ajuda, a pé, e aproveitar para dar uma aulita de história à sua ajudante de campo e fazer um pouco de exercício.

Apesar de as televisões estarem sintonizadas com o tema desde manhã, com repórteres à chuva a palavrear em modo hiperbólico, a cerimónia só começará daqui a pouco menos de meia hora, salvo se Luís Montenegro fizer alguma alteração de último hora, como lhe pediu encarecidamente o "palrador".

quarta-feira, 27 de março de 2024

Dia Mundial do Teatro

"(...) PRIMEIRA COMADRE: Não ouve, comadre? O mafarrico quer continuar a fazer de cego!

FALSO CEGO: Não, senhora. Fui cego até agora, mais nada. Isto (sacode a venda) é a prova! Fui cego. Fui! Mas hoje a boa hora soou para o povo. Pelas frestas deste trapo conheci o padre Cano. Presenciei o medo que vai na tropa, e, nesses montes além, vi o Ruivo e mais três sargentos a entregarem-se ao bando do Académico. Andando por toda a parte, tudo soube, tudo ouvi. De Coimbra vêm estudantes, Vila Real já se rende, fogo para aqui fogo para ali, bala vai, bala vem, e - poder do mundo - as vilas levantam-se pela Maria da Fonte.

SEGUNDA COMADRE, PARA A OUTRA: E ele, cego.

PRIMEIRA COMADRE: Pudera. O mundo está para os cegos.

FALSO CEGO: Nem mais. Se não tivesse feito o que fiz nunca teria as vantagens que tive.

SEGUNDA COMADRE: Que vantagens?

PRIMEIRA COMADRE: Sim, que vantagens?

FALSO CEGO: As vantagens de ser cego.

(Pega na viola e canta)

AS VANTAGENS DE SER CEGO 

Perguntaram ao cego
se ele não ia às eleições
nem dava contribuições
e mais impostos devidos.
"Assina, escolhe os mandões
que há muito estão escolhidos."

COMADRE: E o cego que respondeu?

FALSO CEGO: 
"Senhor, respondeu o cego,
"Eu sou cego, cego, cego,
E o meu rosto jamais vi.
Desconheço a minha letra
E de quantos nos governam." (...)

José Cardoso Pires
O render dos heróis
Dom Quixote (2001)

terça-feira, 26 de março de 2024

Saltimbancos

Em vésperas de Abril, o dia começou com muita chuva, vento e granizo, coisa que não é muito habitual por este oeste sossegado. As pedrinhas estragaram algumas flores da laranjeira, dos limoeiros e da ginjeira, e alteraram o verde da relva para um esbranquiçado parecido com a minha cabeleira.

Tudo indicava que seria um de

"vai prá barraca, Mimoso!"

sem qualquer interesse, a não ser aquele a que o livro actualmente a ser lido, proporciona.

Afinal, tudo se alterou. Para quem, como eu, gosta de teatro, o espectáculo surgiu no televisor, sem necessidade de comprar bilhete, em directo da Assembleia da República. A "peça" transmitida está a baixar de nível e a subir de interesse. Trata-se da eleição do novo Presidente da AR, segunda figura da hierarquia do Estado. 

Confesso as minhas limitações: ainda não percebi se é comédia, drama ou farsa, e se o elenco - 230 "actores" - tem nível para o papel que lhes destinaram. Contudo, já entendi que a minha geração, que depositou enormes esperanças na chegada da liberdade, não foi capaz de transmitir valores a muita da gentalha que hoje se senta em cadeiras cuja ocupação deveria ser por pessoas de nível, preocupadas com as funções para que são (foram) eleitos.

sábado, 23 de março de 2024

Poeiras

A poeira, parece que africana, suja os carros, a roupa estendida e até a relva do quintal. Torna o azul do céu meio acinzentado e cria alguma dificuldade na respiração ... dos velhos, principalmente daqueles que fumaram desalmadamente, em tempos idos.

Já lá vão muitos anos, mas o tabaquito alugou uns quartos nos alvéolos e por lá se vai mantendo, quase sempre sossegado, sem pagar alojamento e dando um ar da sua graça de quando em vez. Um médico amigo bem me avisou e em tempo útil:

Olha que alvéolo fechado nunca mais reabre ...

O aviso deve ter entrado a 100 no ouvido esquerdo e saído a 200 pelo direito. Era fixe, como agora se diz. Dava um certo charme, ocupava as mãos e permitia ganhar tempo em situações críticas, propiciando pensar melhor antes de sair asneira.

Deixou marcas, que acordam de vez em quando, lembrando que as asneiras se pagam sempre e, muitas vezes, os custos são enormes e nunca cobrem os pretensos benefícios.

Mas a que propósito me lembrei eu disto, agora?

Ah! Já sei! 

Os fumos do 10 de Março passado vão ter consequências no futuro, mais cedo do que tarde, digo eu que conheço bem os malefícios do tabaco. Assim não fechem todos os alvéolos ...

quinta-feira, 21 de março de 2024

Palavras bonitas

No Dia Mundial da Poesia, palavras tão antigas e tão actuais.

GUERRA

Quando Francisco Charrua
chegou ao largo gritando:
- Eh! gente, estalou a guerra!
Zé Gaio de alvoroçado
pôs-se a bater o fandango.

Os outros só pelos olhos
falavam surpresa, esperança:
- Será agora? Talvez ...!
Mas Zé Gaio tinha a certeza:
estava a bater o fandango! ...

Já vão dois anos passados.
Agora a telefonia
da venda, à esquina do largo, 
informa todas as noites:
"Uma esquadrilha inimiga
bombardeou a cidade:
morreram trinta mulheres
e vinte e sete crianças."
Agora a telefonia
informa todas as noites, 
dias, meses, anos ... noites:
"Morreram trinta mulheres
e vinte e sete crianças."

... E lá num canto do largo,
coberto de noite e raiva,
Zé Gaio abriu a navalha.
Zé Gaio espetou a navalha
no grosso tronco da faia.

Lá num canto do largo,
a faia toda dobrada
- será do peso da noite
ou do vento da desgraça
que sai da telefonia?

Manuel da Fonseca
Poemas completos
Forja (1958)

quarta-feira, 20 de março de 2024

Primavera

Embora cada vez mais pareça que, em Portugal e no resto do mundo, o Inverno é a estação do ano prevalecente, com nuvens por todo o lado, tempestades em muitos sítios, ciclones em várias regiões, o calendário continua a registar que hoje é o primeiro dia de Primavera do ano de 2024. 

Ofuscada pelos muitos tiroteios que continuam a ceifar vidas inocentes, deixando os culpados gozarem de um Verão que lhes continua reservado em exclusivo,  a "Prima", ainda assim, mantém viva a esperança de que, um dia, talvez se consiga uma sociedade mais justa, mais serena e, sobretudo, mais pacífica.

terça-feira, 19 de março de 2024

Dia do Pai

Ainda que as comemorações deste tipo não sejam o meu forte, hoje é, efectivamente, o Dia do meu Pai. Completaria 102 anos dum "saber da experiência feito", consolidado à custa de muito trabalho, desde a meninice.

segunda-feira, 18 de março de 2024

Incómodos

Faltam quinze minutos para a hora prevista. A sala, antiga mas sempre bonita, está bem composta, apesar de ser meio da tarde de Domingo. Na fila reservada, apenas estão sentadas duas "jovens", nos dois primeiros lugares da coxia. Devem ter vindo "de véspera", que a idade acentua a pressa e o receio de chegar atrasado. Nenhuma é "A senhora de Dubuque", que só aparecerá daí a pouco, em cima do palco.

Pede-se licença, antecedida das desculpas devidas pelo incómodo. Recebe-se, em troca, um ar enfatuado, acompanhado pelos raios de dois olhares faíscantes, como quem diz:

- Olha que chatos. Não podiam ter vindo mais cedo?

Não se levantam. Rodam um pouco as pernas, devagar, dando mostras do desagrado que a situação lhes causa. Nas mãos de ambas está o utensílio indispensável para qualquer pessoa de "bom gosto" e com necessidade premente de não perder pitada do que vai acontecendo no mundo. Já sentado, reparo melhor: afinal não são mensagens, notícias ou redes sociais; as cartas evoluem no ecrã e o jogo desenrola-se com bastante rapidez. Os dedos são ágeis e denotam bastante prática.

A instalação sonora do teatro anuncia que o espectáculo vai começar, que é proibido gravar ou fotografar e que os telemóveis deverão ser desligados. O jogo prossegue e termina com uma vitória, premiada com foguetes no visor.

- Consegui! Mas foi difícil ...

A interlocutora não faz comentários. Talvez o tempo não lhe tenha permitido chegar ao fim e o seu mau humor volta a mostrar-se.

As luzes apagam e os aparelhos são guardados na mala já com tudo escuro.

A peça, felizmente, não foi incomodada e valeu bem a deslocação.

sábado, 16 de março de 2024

Não esquecer

Passam hoje 50 anos em que uma manhã surpreendente para muitos e atribulada para alguns deu lugar a uma declaração oficial do regime, emitida já no final do dia: "Reina a ordem em todo o país".

Foi o levantamento do "meu" Regimento de Infantaria 5, que levou muita gente conhecida à "grelha" e apressou a "madrugada que eu esperava". Esta, levada a cabo pelos militares sem medo e imortalizada pela pena de Sophia de Mello Breyner Andresen, viria a surgir, esplendorosa, exactamente 40 dias depois, no dia dos meus 22 aninhos. 

quinta-feira, 14 de março de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

Surpresa!

Ao fim de tantos anos, descobri que, afinal, o apodo de Águas Mornas para os habitantes das Caldas da Rainha não é exclusivo. Há mais gente, pelo menos em Trás-os-Montes, que também é assim "catalogada".

Se dúvidas houvera, basta ler!

"(...) Este apaziguamento geral saltava tanto aos olhos que Soutelinho não podia escapar sem um apodo que o consagrasse. Como se sabe, raras são as povoações desta província nortenha sobre as quais não pese o fardo dum apodo. O apodo é uma alcunha que normalmente castiga um pecadilho, aleijão ou costume próprio das gentes do lugar. Mas enquanto a alcunha é individual, o apodo é colectivo. Há apodos e apodos. Algumas vezes nada têm de depreciativo, e são pacificamente aceites. Outras vezes, porém, os apodos são irritantes, porque nascem de um qualquer vício ou aleijão de que os habitantes padeçam e de que não gostem de ser lembrados.

Não é irritante o apodo das gentes de Soutelinho, que é Águas Mornas - e não sei que outra forma assentaria melhor aos seus modos cordatos do que Águas Mornas. Águas mornas estão longe do ponto de ebulição e por isso não escaldam ninguém, e não dão portanto azo a confrontos, litígios, guerras. Quando, noutra aldeia qualquer das redondezas, alguém quer intimidar alguém, diz-lhe com arreganho:

- Olha que eu não sou nenhum Águas Mornas, ouviste? (...)"

A.M.Pires Cabral
Um cão chamado Pardal

terça-feira, 12 de março de 2024

Resultados

Eis que surgem os resultados das legislativas antecipadas, em consequência de um processo que há quatro meses continua a marinar no forno do segredo ... da justiça. Todos os prognósticos falharam, apesar de serem feitos por gente que sabe da poda e que, afinal, se engana como todos os mortais, ainda que, quando "prega", raramente exprima dúvidas.

O "jogo" ainda está no período de compensação. No entanto, toda a gente acha que o resultado final não sofrerá qualquer alteração, apesar de os votos dos emigrantes só chegarem lá para o dia 20. A AD venceu, o PS ficou pertinho e o outro  chegou ao 3º. lugar, com mais de um milhão de apaniguados.

Parece estar um caldinho armado, de digestão difícil e futuro incerto. Em Belém, devem fazer-se preces fervorosas para que tudo se resolva e haja Governo para ... 6 meses. Já não será mau, cumprir-se-á a Constituição e, findo esse tempo, podemos ir de novo colocar a cruz, aproveitando-se a ocasião para imprimir um boletim de voto onde todos os partidos concorrentes exibam a mesma configuração, sem a amálgama deste, com maiúsculas para uns, minúsculas para outros, sem que se perceba a razão de tal diferença.

E se, porventura, surge outro milhão? A ver vamos ...

domingo, 10 de março de 2024

Prognósticos

Só no fim do jogo, disse, num momento de grande inspiração e há já alguns anos, o jogador João Pinto, à época capitão do FCP. 

Aquela certeza aplica-se completamente ao resultado das eleições que estão hoje a decorrer, após terem sido anunciadas pelo Presidente da República há tanto tempo que já nem recordo bem quando foi. Por mim, que já fui a jogo, aguardo com toda a confiança que os eleitores (ainda) não tenham perdido a cabeça e votem de forma a assegurar que o continuarão a fazer no futuro.

Os que viveram no tempo da escuridão são cada vez menos e, naturalmente, o futuro não passa por eles, por muito que isso custe a alguns. Cabe-lhes (nos), contudo, a obrigação de dizer, em voz clara e bem alta, que não há preço para a liberdade e que não temos necessidade de manipuladores, gurus ou predestinados. Nascemos todos iguais em direitos e em deveres, independentemente do berço, do QI, da cor ou do feitio.

Cabe-nos a difícil tarefa de contribuir para que o país (e o mundo) seja cada vez mais justo, mais inclusivo,  que esbata as desigualdades e crie oportunidades iguais para todos.

À noite logo se vê!

sábado, 9 de março de 2024

Velocidade

E cá está mais um, a caminho do meio século que não tarda nada aí. Quase não se dá por isso. O tempo não corre devagar, ao contrário do que alguns afirmam.

Passa hoje mais um aniversário do dia em que um (então) jovem foi pai pela primeira vez. E gostou! Passados três anos repetiu a proeza e colheu o segundo fruto, tornando o cabaz ainda mais atraente.

A minha menina faz hoje anos e merece todo o carinho que os dois netos grandes lhe dedicam e também o que os "velhotes" lhe manifestam sempre, ainda que sem a exuberância que ela merece.

Vamos em frente, que "a vida é feita de pequenos nadas"!

quinta-feira, 7 de março de 2024

Palavras bonitas

... Para a minha irmã, que hoje faz anos, mas não quer que se diga quantos. "Era só o que faltava!".

DE RAMO EM RAMO

Não queiras transformar
em nostalgia
o que foi exaltação,
em lixo o que foi cristal!
A velhice,
o primeiro sinal
de doença da alma, 
às vezes contamina o corpo.
Nenhum pássaro
permite à morte dominar
o azul do seu canto.
Faz como eles: dança de ramo 
em ramo.

Eugénio de Andrade
Poesia
Fund. Eugénio de Andrade (2000)

terça-feira, 5 de março de 2024

Prazeres

Para quem gosta muito de ler e também de comprar livros, é sempre um grande prazer ouvir a campainha e, pela janela, verificar que o carteiro quer entregar uma encomenda. Foi o que aconteceu hoje e a caixa trazia três livros de Manuel S. Fonseca ou da sua coordenação. Dois deles haviam sido pagos, o terceiro era oferta, como reconhecimento da "qualidade" do cliente. "25 de Abril, no princípio era o verbo", com ilustrações de Nuno Saraiva; "O pequeno livro dos grandes insultos" e "Que Salazar era o Salazar de Fernando Pessoa", todos da Editora Guerra  Paz.

Apenas folheei o "Salazar", personagem que, nunca o esquecerei, partiu na véspera do dia em que tirei a carta de condução e cujo enterro por pouco não impedia a realização do exame. A personagem não me desperta qualquer entusiasmo, mesmo "interpretado" por Fernando Pessoa. Os outros dois, li-os de um fôlego, que quem espera, desespera. Diverti-me "imeeenso", como diria se vivesse lá para os lados de Cascais. 

De "O pequeno livro dos grandes insultos" não me atrevo a comentar e muito menos a transcrever. Ficaria tão corado quanto as camisolas do Benfica (antes da goleada nas Antas). 

Vamos ao que importa: o livro sobre o 25 de Abril faz uma breve cronologia dos factos do dia da revolução (com precisão, diga-se) e depois transcreve muitos dos escritos, ditos, cenas, slogans, a maior parte dos quais foram "escarrapachados" nas paredes de Lisboa pela irreverência anarquista da época. E são tantos, tantos, muitos que a memória já tinha arquivado. Eis apenas alguns exemplos: "Não aos organismos de cúpula, sim aos orgasmos de cópula", "A terra a quem a trabalha, mortos fora dos cemitérios, já!", "Abaixo o sabão amarelo, abaixo a tinta da China, independência nacional", "Abaixo a reacção, viva o motor a hélice", "Se Deus existe, porque não se recenseou?", "Nem mais um anticiclone para os Açores, nem mais um faroleiro para as Berlengas", "Cimbalino ao poder, abaixo o café de saco, morte à cevada reaccionária", "Abaixo a exploração sexual da galinha. Cada um ponha os ovos de que precisa", "Inter 2 - Sindical 0", "Abaixo a foice e o martelo, viva o Black and Decker".

Por mais que apareçam uns quantos "inteligentes" a quererem eliminar, quem viveu nunca esquecerá. 

sábado, 2 de março de 2024

Mãe

02.03.2004, terça-feira.
Seria igual a tantas outras?
Diferente, tão diferente.
- Vou ali a casa, volto já.
- Não tenhas pressa. Não vale a pena.

Como sempre, tinhas a razão do teu lado.
E ficou tanto por dizer.
E por fazer.
Vinte anos passaram.
Continua a parecer que foi ontem.
E todos os dias o diálogo acontece,
sem mágoas. O amor permanece.

TUDO É FOI

Fecho os olhos por instantes.
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.

Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.

Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.

Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presença, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.

Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.

António Gedeão
Poesias completas (1956-1967)
Portugália (1975)

quinta-feira, 29 de fevereiro de 2024

29 de Fevereiro

Julgo que não estarei equivocado. Desde que há eleições livres em Portugal, nunca o dia 29 de Fevereiro havia participado em qualquer campanha eleitoral. Era uma pena!

O dia só tem algum protagonismo de quatro em quatro anos, abandonando os que nele nasceram e esquecendo os que morreram, aceitando apenas comemorações tão espaçadas que ficam esquecidas no fundo da gaveta. Ora, as eleições que se realizam em Portugal desde 1975 são consequência desse dia memorável que foi o 25 de Abril de 1974, sempre lembrado por aqueles que o viveram e cada vez mais ignorado pelos que pouco sabem ou fingem desconhecer o que se viveu em Portugal até àquela data gloriosa.

Aos olhos de quem vê de longe e ouve quando lhe apetece, os "sabões" dizem que tudo se encaminha para uma solução que nenhum arrisca vaticinar. E se...? E se...? E se...? Prognósticos só no fim ...

No dia 10 do próximo mês saberemos tudo o que os eleitores decidiram e veremos o que é extraído desses resultados pelos partidos concorrentes e por quem determinou a realização do acto. 

Por enquanto (longe vá o agoiro) são os resultados expressos nas urnas que contam e não os ditados pelo Facebook e quejandos.

sábado, 24 de fevereiro de 2024

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Despedida

Em 27 de Maio de 1987 sentei-me na bancada do Estádio Prater, em Viena de Áustria, onde se iria disputar a final da Taça dos Campeões Europeus de Futebol, entre o Futebol Clube do Porto e o Bayern de Munich. Tinham sido percorridos cerca de 3.000 quilómetros, numa viagem inesquecível até aí, com memória mais reforçada depois do que aconteceu.

Ainda não havia claques organizadas e os portugueses presentes eram poucos, quando comparados com os inúmeros alemães, que preenchiam, à vontade, dois terços das bancadas. Viam-se provocações gestuais, uma vez que, de cá, em alemão, o vocabulário pouco passava de Volkswagen e Telefunken. Do lado de lá, também eles desconheciam a beleza do português normal e ainda mais o vernáculo tão habitual nas "futeboladas".

Após ter estado a perder por 1-0, o FCP deu a volta e ganhou por 2-1, com golos de Juary e Madjer, este com o calcanhar que se tornou célebre. O silêncio dos alemães, no final, contrastou com a euforia com que tinham entrado. David venceu Golias ...

O treinador do FCP era Artur Jorge, que escondia a sua subtileza e cultura debaixo de um bigode farfalhudo, identificando-o como grande treinador, tal como já tinha sido como jogador. 

Faleceu hoje, aos 78 anos. Por certo todos os que viveram aquela tarde/noite, como executantes directos ou como espectadores, se curvarão em sua memória e lembrarão o treinador, o jogador do "pontapé-moinho" e o homem de cultura que foi.

segunda-feira, 19 de fevereiro de 2024

Soluções

Quando a necessidade de esclarecimento ou resolução de problemas obriga a contacto telefónico, é um prazer enorme pôr o telefone em alta voz, marcar os números das opções propostas e, por fim, ouvir uma voz, simpática e bem timbrada, debitar a lengalenga:

- Estimado cliente: ainda não foi possível atender a sua chamada. Caso pretenda, pode continuar a aguardar. Caso prefira que o contactemos de volta, marque 2 e será contactado em 48 horas.

Decorreram já  5 minutos, a lengalenga foi repetida, repetida e repetida, entremeada com música, decerto propositadamente irritante, que faz desesperar um santo.

O suplício persiste, a testar a paciência que ameaça esgotar-se a qualquer momento. 

- Não desesperes. Tu é que precisas ...

Cada minuto parece uma eternidade. Já lá vai quase meia hora. Todavia, a esperança é a última coisa a morrer. Alguns minutos depois, surge uma voz a trazer a tranquilidade necessária.

- Em qui posso ajudá?

Aveludada, com sotaque característico do lado de lá do Atlântico, a voz acalma o nervosismo. Exposta a situação, a solução não tarda muito.

- Vai tê de aguardá o envio das instruções por mail. Posso ajudá em algo mas?

- Não, muito obrigado. Boa tarde.

- Uma boa tarde também para o sinhó.

Quase 40 minutos depois, tudo tratado ... e nada resolvido!

sexta-feira, 16 de fevereiro de 2024

Todos diferentes ...

Vivemos num tempo de agressão, desrespeito, violência, fome, guerra, estupidez, malfeitoria, crime, incapacidade, incompreensão, despeito, desleixo e muito mais, que os substantivos podem classificar, os poderes, mascarar, e nunca as gentes de bem devem ignorar.

terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

Carnaval

S. Pedro, este ano, resolveu estragar uma boa parte da festa carnavalesca habitual, enviando a Karlota com uma boa carga de chuva e vento. A maior parte dos desfiles, previstos para o Domingo passado, foram cancelados e hoje, apesar da melhoria do tempo, ainda houve alguns que não saíram dos armazéns. Trabalho árduo de muita gente que não chegou a mostrar-se.

O período eleitoral que atravessamos também contribuiu para uma certa saturação de "carnavais" e acaba por ser natural que, a uma grande parte das pessoas, lhe não apeteça pular e dançar na rua, ao som das mesmas músicas de há cinquenta (ou mais) anos. É muito mais salutar e educativo ficar em casa, frente ao televisor, a assistir a pseudo debates, que elucidam o baixo nível a que se chegou e a "grande" qualidade da maioria dos intervenientes, com destaque para quem quer voltar aos tempos de antanho.

E depois admirem-se se a abstenção tiver maioria absoluta ... 

sábado, 10 de fevereiro de 2024

Rádio

Ouvir rádio há muito que deixou de ser uma tarefa caseira e passou a quase exclusiva das deslocações no automóvel. Continua a ser muito agradável - prazeroso, diria, em linguagem de hoje - e a fazer companhia, agora com duração muito mais curta e sem os rituais diários que as deslocações, antigas e habituais nesses tempos, proporcionavam.

Apesar das alterações do dia a dia, há programas que procuro não perder, ainda que, por vezes, seja necessário recorrer à modernice do podcast ou à gravação que a página da estação disponibiliza.

O "Destacável" é um programa de Aurélio Gomes, que pode ser ouvido aos sábados, na Antena 1. No de hoje, entre muitas outras coisas, houve uma conversa com Fernando Alves, radialista enorme, acabado de sair da TSF por razões que não terão apenas a ver com o desgaste natural da idade. A sua vida e as leis inexoráveis da dita foram o tema dominante. E também as diferenças, enormes, existentes hoje, até na forma como se atende o telefone, se anda de Metro ou se faz informação.

Ri-me várias vezes, sorri muitas outras, fiquei a pensar em mais algumas.

"Aos sessenta, se tenta; aos setenta, se senta."

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

(...) 
Febre de Verão, em Lisboa.
Tuberculose, algum tifo. E as eleições de Junho.
A oposição continuava a queixar-se. O que lhe fora sonegado nas urnas. Principalmente na Madeira, onde havia republicanos na prisão.
Ninguém esquecia aquela pouca-vergonha.
E ia a pior.
Constava que se urdia uma nova lei eleitoral. Propósito?
Cobrir todas as trafulhices dos talassas. As que já se conheciam e as que seriam inventadas.
Protestava-se.
Convocavam-se as manifestações quase todas as semanas. E a multidão vinha para a rua.
Não os explorados das fábricas e oficinas. Nem as mulheres descalças forçadas à descarga do carvão.
Não as varinas levando os filhos à cabeça, nas canastras. As que ficavam no olhar do José Joaquim, quando passavam ao entardecer.
Vinha gente remediada. E burgueses de bengala e chapéu de coco.

Sim, os republicanos, e a facção visível da Maçonaria, que haveria de se chamar <<Carbonária>>. O verde e o vermelho que viriam a ser bandeira. Que talvez já o fossem.

Além deles, o rapazio. Garotos que apareciam de todo o lado, a correr. Faziam muito barulho. Surriadas. Quando os mais velhos dispersavam, voltavam ao pião. Ao rapa.

Cantava-se o hino da Maria da Fonte.

Ainda não se compusera A Portuguesa. Isso só aconteceria em 1890, ao cruzar-se a iminência da bancarrota com o despeito pelo ultimato inglês. (...)

Filomena Marona Beja
Franceses, Marinheiros e Republicanos ...
Divina Comédia (2014)

terça-feira, 6 de fevereiro de 2024

Carnaval e sonho

Apetecia-me muito escrever sobre polícias, ladrões, agricultores, manifestações, sindicatos, seca, chuva, sol, liberdade, responsabilidade, respeito, vontade, senso, honestidade, competência, trabalho, trafulhice, disparate, miséria, violência. E, procurando com alguma calma, encontraria muitos mais temas que são hoje recorrentes e fazem parangonas no caldo vertiginosamente noticioso.

Porém, falta-me a pachorra e já não tenho idade para a comprar e muito menos para me preocupar com o que poderá surgir no futuro. Já vivi mais do dobro de anos em liberdade do que vegetei em ditadura ,,,

De vez em quando sonho que poderia ser interessante algumas pessoas experimentarem, apenas durante uma semana, o "clima" do "antes". Talvez isso lhes permitisse perceber melhor o que estará em causa se alguns "cabeçudos" que por aí pululam fossem promovidos a "reis" e passassem a mandar no "carnaval".

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

Mais um

O meu neto caçula faz hoje 8 anos e o tempo vai acentuando a grandeza do seu ser, as suas capacidades e a delicadeza amorosa que sempre apresenta.

Guardião no futebol, xadrezista no écran e  no tabuleiro, rápido no padel, enorme nas conversas de gente grande, esquerdino na maior parte das acções de pés e mãos, perfeccionista nos trabalhos e nas brincadeiras. Sempre atento ao que o rodeia, é rápido no entendimento e na resposta, e senhor absoluto das suas ideias, graças à forte personalidade que detém. 

- Avô, agora ando a ler muito Banda Desenhada. E gosto! 

domingo, 4 de fevereiro de 2024

Espelho

Num dia lindo, a Lagoa estava tão apelativa que até as habitações da margem quiseram dela usufruir!!!






sexta-feira, 2 de fevereiro de 2024

Qualidade

Um dos meus netos, há pouco, perguntou se eu conhecia uma música que estava a tocar no rádio do seu carro. Chamar rádio ao computador que lá está instalado é apenas um desabafo de antigo ...

A música era "O primeiro dia", de Sérgio Godinho.

- Claro que conheço. Até tenho o disco. Deve ter perto de 50 anos ...

- Não pode ser, ouvi como resposta.

Fui confirmar. Ainda não chegou ao meio século, mas já falta pouco. O álbum - Pano Cru - onde esta música aparece pela primeira vez, data de 1978. Por estranho que possa parecer, ainda mantém a qualidade e a actualidade que levam uma criança de 11 anos a dela gostar.

Ouvi-la e recordá-la sabe sempre bem e mais ainda quando embalada e cantada por sangue novo (sabe de cor toda a letra). Não vale a pena colocá-la, de novo, por aqui. Se alguém quiser dar-se ao trabalho de procurar, encontrá-la-á duas ou três vezes, pelo menos.

quarta-feira, 31 de janeiro de 2024

Semelhanças

O carro aguardava, estacionado perto do portão da escola, a chegada do "passageiro" que havia encomendado o serviço. O condutor, como sempre, lia um dos livros que, hoje, lhe faz companhia, completamente alheio ao burburinho da saída das aulas para almoço. 

De repente, a porta abre-se, cai uma mochila no banco e surgem uns óculos na cara de uma jovem, distraída com o telemóvel na mão e corada de esforço, talvez resultante da aula de educação física (ou não!).

Não deu logo pelo lapso. Antes de se sentar, levantou os olhos e ... 

- Desculpa ... o carro é igualzinho! Desculpa ... desculpa ...

Estava ainda mais corada quando retirou a mochila e marchou, rápida, em busca do seu transporte. 

Definitivamente, aquele não era o "Uber" que lhe estava destinado! 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2024

Jornalismo

Cada vez vejo menos televisão, ainda que o aparelho possa estar ligado na sala onde me encontro. 

Apesar disto, vou-me apercebendo de algumas alterações tendentes a prenderem a atenção, mesmo dos mais distraídos. Nas notícias, agora, o écran está quase sempre dividido em três ou quatro "janelas", onde as personagens convidadas, conjuntamente com o jornalista, peroram sobre um qualquer assunto, ao mesmo tempo que vão sendo exibidas imagens, normalmente desactualizadas, sobre o pretenso tema em discussão ou análise. Deve ser a forma de enaltecer a única coisa válida: a imagem, mesmo desactualizada, ainda vale mais que mil palavras.

Estamos na época da gripe, de novos vírus, do "ressuscitar" do sarampo, da necessidade de vacinas. Para ilustrar estes factos, as televisões - todas elas - escolhem a imagem. E nada melhor do que a agulha a penetrar no braço nu da criança, com o choro sofrido em fundo e bem audível, para que não surjam dúvidas, se atraia a atenção e haja audiências.

Deve estar a ser muito difícil ser jornalista ...

sábado, 27 de janeiro de 2024

Dois pesos ...

Tenho consciência plena de que a minha inteligência é ínfima se comparada com a do senhor Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa. Seria como comparar a colina do Santo Antão aos Himalaias e ninguém, com "dez réis de caco" se atreve a uma alarvidade dessas. Por isso, procuro sempre reduzir-me à minha insignificância e tenho feito um esforço tremendo para procurar entender as decisões que, nos últimos tempos, têm sido tomadas. 

Cá de baixo e já meio pitosga, miro com dificuldade o que se passa no alto da montanha.

Confessada esta fraqueza, talvez se consiga compreender a minha dificuldade em entender a razão pela qual o senhor Presidente da República não anunciou, ainda que para data diferida, a dissolução do Parlamento da Madeira e a convocação de eleições regionais, após a demissão do Presidente do Governo Regional, Miguel Albuquerque.

No futebol, para o adepto ferrenho, nunca há grandes penalidades contra o seu clube. 

quarta-feira, 24 de janeiro de 2024

24 Janeiro

Dia azul, como o Danúbio, sol radioso, temperatura agradável, oceano com ondas grandes, um bom almoço e ... excelente música.

Que mais se pode querer num dia tão especial?

segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

Alianças

A AD, coligação recauchutada da original de 1979, reúne, de novo, os três partidos que lhe deram vida naquela época: PPD, CDS e PPM.

Os anos passaram, as circunstâncias alteraram, os homens mudaram, as necessidades obrigaram, e ei-la ressuscitada para concorrer às próximas eleições. A princípio foi anunciada a dois e reconfigurada depois de o PPM se ter colocado em bicos de pés e reclamado a sua importância histórica (e histérica).

Ontem decorreu a convenção de apresentação, com inúmeras personalidades a botar faladura, a prometer, a divagar, a idear, na busca da melhor estratégia para conseguirem os seus, legítimos, objectivos. Do PPM nem rasto. O fadista não conseguiu ou não quis lugar na plateia e muito menos na tribuna. Talvez tenha perdido a voz numa noite mais puxada e tenha ficado em casa, a recuperar ou a ler o Auto da Índia, de Gil Vicente, bem adequado ao momento que vive.

        (...)

        Ama            
                            Vós querieis ficar ca?
                            Agora he cedo ainda;
                            Tornareis vós outra vinda,
                            E tudo bem se fara.
        Castelhano
                            Á qué hora me mandais?
        Ama
                            Ás nove horas e nó mais.
                            E tirae hua pedrinha,
                            Pedra muito pequeninha,
                            Á janela dos quintaes. (...)

        Auto da Índia
        Gil Vicente
        Autos e Farsas

quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Fractura

O campo era de saibro, a bola, de borracha, com um bom tamanho e de qualidade bem diferente, para melhor, do que aquelas com que era habitual jogar. O futebol era tolerado, quando não coincidia com as aulas de ginástica, ministradas no mesmo espaço. Ginásio era, ainda, coisa de sonhadores ...

Faltava um para as duas equipas se equilibrarem. Em número, claro.

- Puto, queres jogar?

Eram maiores, não conhecia nenhum. Era o primeiro ano naquela escola, ainda desconhecida e os colegas da turma não tinham chegado da hora do almoço. A vontade de ingressar nos "grandes" era imensa.

- Claro!

O almoço tinha sido na cantina e já havia terminado há algum tempo. A aula próxima iria acontecer às três e meia. Podia participar sem problemas, desde que tivesse cuidado com os trambolhões e com o calçado.

O jogo começou e cedo se viu que a equipa da qual fazia parte era bem melhor do que a outra. Os golos sucediam-se e os "trambolhos" não apanhavam uma. Um passe longo, o "puto" apanha-a e corre para a baliza. Ia ser mais um golo, mas este era especial. O defesa foi fintado e não gostou da acção do "puto". Correu, estendeu a "pata"  com violência e a queda foi inevitável. 

- Tem o braço virado ao contrário, ouviu-se.

Veio o contínuo, chamou mais alguém, as dores apertavam, os olhos humedeciam.

- Vamos levá-lo ao hospital. Deve ter o braço partido.

E estava. O médico nem precisou de radiografia. Estendeu as mãos ...

- Ora deixa lá ver

... puxou com força e colocou-o no sítio.

- Já não dói, pois não? Agora vamos pôr gesso e fica novo.

Devem ter sido dois meses. O gesso foi retirado, cortado com uma tesoura enorme que se distraiu e picou a pele, pouco antes das férias do Natal. O resto do primeiro período das aulas de Ginástica teve menos um aluno ...

Foi a primeira fractura de uma série de três que o braço esquerdo exibe no currículo!

segunda-feira, 15 de janeiro de 2024

Dantes

O cálculo não é fácil, mesmo recorrendo à tradicional máquina de calcular ou à que qualquer telemóvel ou computador nos faculta. 

Divisões e multiplicações, percentagens, somas, subtracções, uma tarefa ciclópica se ainda estivéssemos em 1970, e para a qual nem uma folha A4 seria suficiente, sem contar que se corria o risco de, a meio, uma pequena falha na tabuada deitar por terra todo o trabalho.

Agora, o Excel faz tudo. Criada a fórmula, com os "se" e as condições prévias, o cálculo é imediato. E, para o futuro, basta colocar o novo valor e o "anão sabão" fornecerá o resultado certo, de imediato, sem papel e sem esforço pessoal.

E ainda há por aí umas "gentes" a gritar que "dantes é qu'era bom"!

domingo, 14 de janeiro de 2024

WC

Obra recente, a reconstrução do cais palafítico convida à visita, ao passeio e à admiração da paisagem circundante, onde a Lagoa é rainha, os patos, mordomos, e os flamingos, cortesãos.

Está bonito, agradável mas, como sempre ... não há bela sem senão. O arquitecto que projectou foi negligente e esqueceu-se de um elemento essencial para que a obra ficasse completa: a necessidade imperiosa de um WC para os cãezinhos.

Eis o resultado:

sábado, 13 de janeiro de 2024

Palavras bonitas

Discurso

Vinde cá todos! Enchei a praça.
Eu, que não gosto de discursos,
tenho um discurso a fazer.
Chegai-vos e ouvi. Ou não ouvi, se quereis.
Mas cinde, que eu preciso fazer um discurso,
e para haver discursos é preciso público.
Isso, todos aí. Curiosos,
desdenhosos, 
ociosos,
e até ranhosos, pouco importa. Mas todos.
Sentados ou deitados,
verticais ou oblíquos, 
paralelos, concorrentes,
secantes, tangentes,
- irra! - tudo o que quiserem. Mas todos.
Público, que eu preciso de pedir a palavra.
Tenho uma mensagem a dizer.
Eu, que não sou profeta,
nem revolucionário,
nem aviso funerário,
eu que sou o contrário
de tudo isso, precisamente porque não sou nada disso,
tenho algo a dizer. (E logo às massas
que é uma irrealidade que me bole com os nervos
desde as unhas dos pés ao centro do miolo!)
Aí vai (já não é sem tempo): Sou uma besta quadrada
e forrada do mesmo, para maior perfeição.
Ando sempre a quatro. Lucidamente a quatro, 
quando sei que nem ao pé coxinho devia ir.
Tenho a estupidez mais estúpida que há:
medida, exacta, vista,
esquadrinhada,
a estupidez inteligente, sabem?
Não dou berros quando todas as pessoas
normalmente os dão.
Calo-me quando devia dizer palavrões.
Sorrio quando devia morder.
Perdoo quando o momento pedia
um sacrosanto par de bofetadas.
Arre! Cheiro a museu,
cheiro a arquivo,
cheiro a jantar de cerimónia.
É demais!

E porque é demais para uma pessoa só
é que fiz este discurso
- eu, que odeio discursos, museus e arquivos
e os jantares de cerimónia.

Tenho dito!

Ermelinda Xavier
Barro e Luz (Poesia completa)
Unicepe (2016)

sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

De "A" a "D"

Apesar de ser desnecessário, António confirma, no Expresso de hoje, que uma imagem vale mais que mil palavras.

quinta-feira, 11 de janeiro de 2024

Regresso ao passado?!

E se, de repente e como por magia, tudo andasse para trás 50 anos?

Dirão uns, saudosistas das capacidades físicas: Maravilha! Voltava a alegria e a loucura dos "vintes", nada fazia mal e não havia chuva que molhasse nem frio que rachasse; acrescentarão outros, mais racionais: Não havia dores, nem sono, nem pressa e tínhamos tudo "à mão de semear" ... excepto o que não tínhamos.

Cada vez são menos os que viveram há meio século e disso têm lembrança de "experiência feita". Não conseguiram, ou não quiseram, contar à geração seguinte, nascida depois de 1974, como eram aqueles tempos e como tudo se transformou. Talvez não tenham procedido da melhor maneira e a omissão esteja longe de ter sido a atitude correcta, mas aconteceu assim, na grande maioria.

E agora, espantados, ouvimos gente que subiu degraus de uma escada que não existia, deu muito trabalho a muitos e foi bem difícil de construir, apesar dos defeitos, a gritar que "dantes é que era"! E falam grosso, como quem quer comer microfones, gritando impropérios e frases sem nexo, como se os decibéis da voz fossem suficientes para terem razão e sabedoria.

"Valha-lhes um burro aos coices e três aos pontapés!"

domingo, 7 de janeiro de 2024

Domingo

Com frio, nota-se melhor a calma da ausência do vento, o azul da inexistência de nuvens, tudo marcado pelo chilrear dos pássaros nas margens, pelos corvos marinhos abrindo as asas para aproveitarem o quentinho ... do sol.

A beleza da Lagoa, sempre, e a gaivota, desfrutando, bem instalada, o conforto do "hotel" Coelho e Rola.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Calor em tempo frio

O tempo era, ainda, o das escrituras serem um acto solene, num Cartório Notarial estatal, com hora marcada e presença sem atrasos da parte de quem era parte, com uma única excepção - o Notário. Era ainda o tempo das escrituras manuscritas pelo próprio Notário ou dactilografadas pelo Ajudante, na máquina de escrever Messa.

Sentados à volta de uma mesa, grande, com cadeiras bem desconfortáveis e na ordem pela qual outorgavam, os intervenientes aguardavam a chegada do Notário, que iria ocupar a cadeira, maior e com almofada, situada no topo. A primeira tarefa do Notário era verificar os documentos de identificação dos intervenientes não seus conhecidos, após o que iniciava a leitura do texto, não sem antes recomendar que o interrompessem se alguma coisa não compreendessem ou estivesse incorrecta. No final, após a menção das eventuais rasuras, a ordem prévia determinada para sentar, servia para que a última folha fosse passando e recolhendo a assinatura de cada um. A assinatura do Notário encerraria, depois de inutilizar todos os espaços em branco.

Naquele dia, era mais uma escritura de compra, venda e empréstimo, estando presentes: o casal comprador, os pais, fiadores, o administrador da empresa vendedora da fracção e o representante do Banco. Estava muito calor lá fora e o ar condicionado do Cartório ainda não passava de miragem. O representante da empresa vendedora vinha atrasado, muito acalorado e ainda deve ter ficado mais quente quando se sentou, a aguardar, com o Ajudante a dar-lhe sinal do atraso. A camisa vinha aberta até ao cinto, com o peito, peludo, à mostra e um ar de machão importante, ciente de que os seus poderes até podiam criar janelas de fresquidão ...

A Notária entrou, passou os olhos por todos e nem se sentou.

- Vá vestir-se em condições. Isto não é a praia. Lá para fora!

Enfiado, saiu. Deve ter ido ao carro ou ao escritório. Regressou pouco tempo depois. A camisa vinha abotoada até acima e um casaquinho compunha o ramalhete.

A escritura fez-se sem mais comentários e o homem, pelo menos naquelas em que, a seguir, comigo participou, apresentou-se sempre de camisa, gravata e casaquinho ... abotoado, não fosse o diabo tecê-las!