Uma troca ou alguma desatenção própria da época trouxe ao Oeste um livro em duplicado, deixando outro sem direito à viagem aprazível que, pela certa, adoraria fazer. O contacto telefónico resolveu a questão.
- Não tem problema. Amanhã ou depois a carrinha passa por aí e recolhe-o. Entretanto, vamos enviar o correcto de imediato.
O diálogo ainda prosseguiu com as desculpas pelo sucedido, os votos da época e o "disponha sempre" para fechar.
A programação foi cumprida. A campainha tocou e o estafeta, já conhecido, apresentou-se a recolher a encomenda, que havia entregado alguns dias antes.
- Oi, sinhô Orlando, como vai?
- Bem, obrigado. E o senhor?
- Muito cansado, muito mesmo ...
- Começou cedo?
- Saí de casa ainda não eram seis ... e só vou chegar bem perto das nove, se tudo correr bem.
Notava-se que precisava de uma pausa, para desabar, desanuviar, descansar, falar com alguém que o ouvisse.
- Todo o dia é isto ... descanso ao Domingo. Imagina quanto ganho?
- Não faço ideia e nem quero dar palpite.
- Não chega a setecentos e vinte limpos ...
- Claro que sobram dias todos os meses ...
- Vai ser só até ao final do ano. Já arranjei outra coisa. Vou continuar a trabalhar muito, mas pagam um pouco mais ...
Um sorriso aberto, talvez por o ter ouvido, ainda que de sobrolho franzido.
- No Brasil era pior. E ainda consigo, de vez em quando, mandar para lá algum ...
Sentou-se ao volante da carrinha, despediu-se com um aceno prolongado e um sorriso interminável.
- Boa sorte, foi tudo o que consegui dizer.
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