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domingo, 30 de outubro de 2022

Ser e estar

Excerto de uma entrevista a Carlos Tê, publicada no Notícias Magazine de hoje:

"(...) Pergunta - Como se define hoje?

Resposta - Aos 67 anos, das coisas que mais temo é a misantropia. Vir a ser um velho rezingão. É das poucas coisas que peço para não ser. Não que queira ser um velhinho muito alegre. Não é isso. Mas gostava muito de manter o equilíbrio que tenho desde os meus 15, 20 anos. É esse o meu longe (...)"


Dei por mim a concordar com o autor de Chico Fininho e de Porto Sentido, entre muitas outras coisas que escreveu e das quais gosto bastante. Arquibaldo é um livro da sua autoria, "hospedado" cá em casa há pouco tempo, e que aguarda, calmamente, a sua vez de ser lido. Não teço, por enquanto, quaisquer comentários, mas estou convicto de que não me irá desiludir.

Voltando à entrevista, da qual transparecem ideias bem arrumadas e resolvidas, alertou-me para a ousadia de tentar sempre manter o contacto com as pessoas, os problemas, a cidadania, sem medo de ser chato, ultrapassado ou convencido, e muito menos deixar de ser aquilo que sempre fui, mesmo que a irreverência esteja fora de moda.

Afinal de contas, por muito burro que seja, quem já viveu mais de setenta anos, passou por tanto, viu tanta coisa, conheceu muitos "filhos da mãe" e muita gente de bem, não tem que fazer actos de contrição ou quedar-se a um canto à espera que chova.

" É esse o meu longe ", sem qualquer dúvida. Assim o consiga apanhar!

domingo, 19 de junho de 2011

Quotidiano

Algumas frases soltas para despertar a curiosidade para uma excelente entrevista de Carlos Tê, publicada na revista Visão da passada 5ª. feira, que só hoje consegui ler.

"... A minha avó paterna, analfabeta, veio, aos quarenta e tal anos, de Resende para o Porto. Criou-me, teve um impacto muito forte em mim ..."

"... Depois, foi a literatura à porta. Sentia-me intimidado por entrar em livrarias. Era um mundo reservado a outras pessoas, achava que se entrasse me punham fora ..."

" ... Mas havia um lado B, mais ou menos obscuro. «O gajo é dos que lê livros», estás a ver? Dava-me um ar suspeito."

"Começamos a ficar cheios de pessoas que só sabem muito de uma coisa e são incapazes de relacionar assuntos".

A não perder!

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Palavras bonitas

A GENTE NÃO LÊ

Ai Senhor das Furnas
Que escuro vai dentro de nós
Rezar o terço ao fim da tarde
Só para espantar a solidão
Rogar a Deus que nos guarde
Confiar-lhe o destino na mão

Que adianta saber as marés
Os frutos e as sementeiras
Tratar por tu os ofícios
Entender o suão e os animais
Falar o dialecto da terra
Conhecer-lhe o corpo pelos sinais

E do resto entender mal
Soletrar assinar em cruz
Não ver os vultos furtivos
Que nos tramam por trás da luz

Ai Senhor das Furnas
Que escuro vai dentro de nós
A gente morre logo ao nascer
Com olhos rasos de lezítia
De boca em boca passar o saber
Com os provérbios que ficam na gíria

De que nos vale esta pureza
Sem ler fica-se pederneira
Agita-se a solidão cá no fundo
Fica-se sentado à soleira
A ouvir os ruídos do mundo
E a entendê-los à nossa maneira

Carregar a superstição
De ser pequeno ser ninguém
E não quebrar a tradição
Que dos nossos avós já vem.

Album Fora de Moda (1982)
Letra de Carlos Tê
Música de Rui Veloso