quarta-feira, 30 de setembro de 2020

Livros

"ALA" que se faz tarde!

António Lobo Antunes tem mais um livro a chegar. Chama-se "Dicionário da linguagem das flores" e sairá no próximo dia 13 de Outubro. É mais um título de um autor de quem gosto muito e que escreve como ninguém.

Já encomendei e estou ansioso por perceber a linguagem das flores, ao jeito de Lobo Antunes. Em tempos idos, conheci um jardineiro que com elas falava e muito bem se entendia, a julgar pela beleza que o jardim onde trabalhava sempre evidenciava.

Comecei, como toda a gente do meu tempo, a comprar livros nas livrarias. Fui um "grande" cliente da Loja 107, enquanto existiu cá na cidade. A Isabel Castanheira era uma livreira de eleição, que sabia (e sabe) muito de livros e também da sua actividade. Encerrou as portas a tempo de evitar a decadência do negócio, pressionada pela "venda a metro" na concorrência das grandes superfícies. A Isabel foi para casa e nunca mais houve livrarias dignas desse nome nas Caldas. 

Não há nada que se compare a uma compra na livraria e não é necessário que seja a Lello, no Porto, ou a Bertrand do Chiado. O ritual de pegar no livro, ler a badana, a primeira página, a última, abrir uma à sorte, espreitar, ler duas ou três linhas, não tem explicação. E, depois de decidida a compra, percorrer as prateleiras, olhar de baixo para cima para ler a lombada, ver as novidades, o antigo, o que já se tem e o que se gostava de ter, tirar um ou outro, recolocá-lo no lugar ... e o tempo passa sem se dar por isso. Só percebe isto quem gosta de livros. Em papel, claro. 

Agora, na maior parte das vezes, faz-se a encomenda na Wook e aguarda-se que o carteiro toque uma ou duas vezes (como o outro) e nos entregue o embrulho, fazendo o comentário "são livros!?". Também tem ritual, mas não é a mesma coisa abrir a caixa e verificar se está tudo, a entrar numa casa cheia daquilo que se gosta.

Os tempos são outros, mas ler é cada vez mais importante!

terça-feira, 29 de setembro de 2020

Caminhos

Já por lá não passávamos há alguns anos. A última vez tinha sido num passeio dominical, organizado por um grupo de caminheiros. Desta vez fomos sozinhos, mas é sempre um prazer caminhar por sítios bonitos.

A capela de Santa Ana já está recuperada ou, talvez melhor, construída de novo. Apesar de as pedras terem sido substituídas pelo reboco pintado, está bonita, melhora e favorece o local, lindo. Faltarão ainda alguns acabamentos para que as vedações obreiras sejam retiradas, mas já se consegue andar à volta. Há um espaço aberto na rede, que permite ir "cuscar" todos os pormenores, das portas de madeira ao sino no campanário.

A vista é soberba. Até o nevoeiro se dissipou para a podermos apreciar.

No caminho, uma curiosidade rural e de artista. Alguém fez, e colocou, mais de uma dezena de cata-ventos em cana, a lembrar brincadeiras de outras épocas. E funcionam, cumprindo a indicação de que lado sopra o vento, hoje pela manhã apenas uma ligeira brisa.

A Capela de Santa Ana fica debruçada sobre a entrada da barra de S. Martinho do Porto, do lado de Salir. Ao contrário da vila importante, pertence ao concelho das Caldas da Rainha, é perto e o caminho é bom. Fizeram-nos companhia, à distância, dois casais ingleses, com o cão pela trela. E o sítio não está nos guias turísticos.

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Tempos novos

Um grupo de jovens estudantes sobe a rua em conversa animada, tipo fazer planos para curtir.

Mochila às costas, skate debaixo do braço, são seis ou sete, rapazes e raparigas. Em fila indiana, pelo passeio, o grupo é comandado pelo mais baixo, que fala alto para todos ouvirem.

- Fxxx-se, estamos quase a chegar e já ali à frente é a descer, cxxxxxo. Tenham calma.

- E os carros?

 Que se fxxxm. A descida vai ser tipo fórmula um.

O skate é o carrinho de rolamentos dos tempos modernos e os apaixonados são viciados. Chegados à descida, aí vão eles a grande velocidade, a caminho do parque radical. Os automóveis seguem atrás,  bloqueados pela prova que se desenrola rua abaixo.

Cá de longe, pareceu-me que o "mandão" não foi o primeiro a chegar e perdeu para uma das meninas. Não é importante, mas o velho regista-o. Importante é que se divirtam, tipo convívio bué da giro. 

Tal como os hábitos, também a língua muda e tudo isso num abrir e fechar de olhos.

domingo, 27 de setembro de 2020

O papagaio

A rua era larga e os passeios também. Não havia muitos carros mas os transeuntes deslocavam-se por ali em número significativo, eles a caminho dos empregos, elas das lojas ou das casas onde faziam limpezas, os mais novos, saltitando ou correndo, com a saca dos livros na mão ou ao ombro.

A taberna situava-se quase no fim da rua, ou no princípio, consoante a direcção do caminhante. Tinha duas meias portas, de madeira pintada de verde, que abriam para dentro e deixavam dois espaços, um em baixo e outro em cima, como se via nos filmes de cowboys. Por detrás delas, existia a verdadeira porta que, à noite, assegurava a segurança da casa. 

Na parede existia uma armação de estrutura tubular, com três níveis, em sentidos, alturas e tamanhos  diferentes. Dois círculos de tubo fino, soldados ao varão principal completavam o poleiro e neles eram colocados dois recipientes em louça, um com água e o outro com sementes variadas. O taberneiro trazia o papagaio logo de manhã, quando abria a tasca, e por ali o deixava todo o santo dia, preso à estrutura com uma corrente com comprimento suficiente para lhe permitir algumas acrobacias.

"Falava" muito, o papagaio.

- Olá, bom dia.

- Vai um copito?

- Viv'ó Benfica.

- Chiça, já chove. 

Estas e outras expressões eram repetidas pelo papagaio ao longo do dia, sem destino específico, no intervalo dos saltos ou quando se colocava suspenso, de cabeça para baixo, seguro apenas pela corrente presa à pata.

Quando o homem se aproximava, o comportamento da ave alterava-se.

- Onde é que vais, ó careca? Onde é que vais, ó careca? Onde é que vais, ó careca?

E repetia sempre, até que o homem virava a esquina e desaparecia, e tudo voltava ao normal. Toda a gente sorria ao ouvir o papagaio, mas o sofrimento do homem com a situação era visível. 

Um dia, farto de ouvir a pergunta e de ver os sorrisos, maliciosos, dos outros, tomou uma decisão pensada, drástica e decisiva: mudou de passeio e passou a circular sempre pelo lado contrário à tasca.

Nunca mais ouviu "onde é que vais, ó careca", mas o cabelo não cresceu. 

sábado, 26 de setembro de 2020

Expresso

Repeti, hoje, o gesto que me acompanha desde Janeiro de 1973, quase sem interrupções: comprei a edição 2500 do jornal Expresso.

Sou teimoso e, talvez por isso, permaneço fiel a um espaço de liberdade e de aragem fresca que me apanhou com 21 anos e ainda me faz companhia semanalmente. Estive, e estou, muitas vezes em desacordo com temas, artigos, opiniões que lá são publicados, e de acordo, também, com muitos outros. Mas o Expresso, mesmo com algumas arengas pelo caminho, mantém-se um espaço de opinião livre e democrático, essencial no momento em que começou e imperioso actualmente.

Durante a semana espreito a edição digital, facultada gratuitamente a quem adquire a edição semanal. Leio os títulos e pouco mais. O Expresso é saco, é ritual, é prazer de folhear, é papel.



sexta-feira, 25 de setembro de 2020

Contradição

O calendário afirma que chegou o Outono, mas o jardim, teimoso, exibe sinais da Primavera e mantém as flores bem bonitas.



quinta-feira, 24 de setembro de 2020

Livros (lidos ou em vias disso)

A "empreitada" da "biblioteca itinerante" do meu amigo ADS está quase concluída, arrumados que estão no saco alguns calhamaços, de entre eles o "A leste do Paraíso" com as suas 743 páginas belíssimas. Dos onze que a "carrinha" deixou restam apenas dois, ambos de Vergílio Ferreira: "Apelo da noite" e "Mudança". Ficarão em cima da secretária por alguns dias, esperando vaga, que o tempo de ler dois ou mais livros ao mesmo tempo já lá vai há muito. Agora, um de cada vez e com calma, que os olhos estão já bem longe de ser os mesmos e o "computador" já não tem memória suficiente.

Para intervalar, segue-se um exemplar da biblioteca da casa, entrado recentemente em edição nova, de um original mais antigo do que eu - 1948. É o regresso, sempre agradável, a Aquilino, com "Uma luz ao longe" e a necessidade permanente de ter o dicionário sempre por perto.

O livro tem um belíssimo prefácio de Gonçalo M. Tavares e começa assim:

"Ao descoser do povo, o Sr. Saraiva deitou olhos amorosos para a tapadinha de regadio e bouça, e carpiu-se. A garotada não deixava coalhar dois pinhões naqueles seus pinheiros mansos. O pior é que, a botar abaixo as pinhas, faziam o calcadoiro de cem potros no picadeiro. Num raio de muitos metros não se salvava uma espiga. A sua vontade era empalar ali um malandro - e de olhos muito fitos no Loio, a exemplificar, levava a mão à bunda, em seguida à boca - como se faz aos gaios nos campos de milho.
O natural do prefeito era macambúzio e não tardou que mergulhasse no pélago limoso de suas cogitações, trupe-trupe, escarrapachado na burrica. Quando tornei a olhar para ele, ia esbagoando o rosário e bichanava, tocando os seus lábios do deslize imperceptível dos padres-nossos.

Dali em fora, sempre a subir, via-se uma aguilhada de semeadura por dez de fragoedo e baldio. As messes começavam a apendoar, para não desmentirem o ditado: Em Março bota o centeio o plumaço; Em Abril o penduril; com Junho, foicinha em punho. Mais bonito que a folha, mostrava-se ainda o maninho, picado das primeiras lantejoilas dos tojos e com as giestas a derreterem-se em maias argênteas e amarelas, e era pena que não as houvesse vermelhas. Mas pela terra alastrava o verde, o verde dos esplêndidos matizes, entre diáfano nos bosques e encarniçado no mato galego, e polifonicamente luxurioso. E, onde as águas não cantavam, sussurravam, levadas numa ladainha de brancura, de socalco para socalco.(...)

Uma luz ao longe
Aquilino Ribeiro
Bertrand Editora (2020)

quarta-feira, 23 de setembro de 2020

Irritações

Não fico "grudado" à televisão o dia todo, mas vejo regularmente o que vai surgindo no pequeno ecrã, nomeadamente notícias que, normalmente, não perco pelo menos uma vez por dia. Algumas vezes a televisão é o ruído de fundo que suporta outra qualquer actividade: conversa, leitura, até a sesta.

Mas não é sobre isso que me apetece escrever hoje. Interessa-me a essência e o rigor que cada vez estão mais arredios: são as notícias de acontecimentos desfasados, lendo-se que hoje aconteceu quando o que se noticia já foi ontem; os rodapés pecam pelo mesmo, ao qual se juntam os erros ortográficos, por vezes gritantes e repetidos, obrigando a pensar que não há ninguém que olhe, e corrija ou mande corrigir. Saramago dizia "se olhares, vê. Se vês, repara"

A inovação, relativamente recente, da divisão do ecrã também me causa "comichão". Qual é o interesse, para a notícia, de se estar a ler a previsão do tempo para amanhã e surgirem imagens de chuva torrencial antigas? Ou a notícia ser sobre a vacina que ainda não está descoberta e o ecrã mostrar a agulha da seringa a picar o braço de um "desgraçado", se calhar filmado sem autorização?

A liberdade de expressão é uma conquista sem preço e cabe aos jornalistas assegurarem que ela não se converte na liberdade da asneira, sob pena de os profissionais se converterem em escrevinhadores de redes sociais ou de blogues. 

Percebo, também, que o palco televisivo é apelativo para muita gente e que cinco minutos de fama não estão ao alcance de qualquer um. Mas esses devem ter lugar nos programas próprios e não nos noticiários, acho eu, com a minha alta capacidade de "achista".

Ontem vi surgir no ecrã, num telejornal, um senhor todo bem posto (como diria a minha mãe), de gravata e casaco abotoado, identificado como Presidente da Associação dos Administradores Hospitalares. Pessoa importante e capaz de ter ideias alinhavadas que vale a pena escutar, pensei. Perorava sobre o Plano Outono-Inverno para a saúde, num vídeo que parecia ter sido gravado e enviado às televisões, dado que, mais tarde, o voltei a ver noutro canal. E o senhor todo bem posto lá tecia as suas considerações, com palavras mais ou menos rebuscadas e assertivas até que, surpresa, saiu "é preciso que tênhamos condições". Tive um choque, mas admiti que o problema fosse o meu ouvido. Para me esclarecer devidamente, o senhor todo bem posto repetiu a alarvidade daí a momentos. Vá lá que não apareceram os quaisqueres nem os hádes, mas mesmo assim ... Tenhamos paciência!

terça-feira, 22 de setembro de 2020

Devaneios

Era um ás
aquele rapaz
inteligente, sagaz.
Nunca ficava p'ra trás.
De verbo, sempre mordaz,
perspicaz,
capaz,
audaz.

Índio de alcunha,
de nome era Cunha.
Sapatos não punha
e exibia a unha
como testemunha.

Na fisga era o rei
e inda hoje não sei
como acertava tão bem.
Teria aprendido com a mãe?
No berlinde, campeão
na bilharda, um leão
E o melhor, no pião!

E porque me lembrei eu disto?
Não estava nada previsto!

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Palavras bonitas ...

 NÓS

Foi quando em dois Verões, seguidamente, a Febre 
E a Cólera também andaram na cidade,
Que esta população, com um terror de lebre,
Fugiu da capital como da tempestade.

Ora, meu pai, depois das nossas vidas salvas,
(Até então nós só tivéramos sarampo)
Tanto nos viu crescer entre uns montões de malvas
Que ele ganhou por isso um grande amor ao campo!

Se acaso o conta, ainda a fronte se lhe enruga:
O que se ouvia sempre era o dobrar dos sinos;
Mesmo no nosso prédio, os outros inquilinos
Morreram todos. Nós salvámo-nos na fuga.

Na parte mercantil, foco da epidemia,
Um pânico! Nem um navio entrava a barra,
A alfândega parou, nenhuma loja abria,
E os turbulentos cais cessaram a algazarra.

Pela manhã, em vez dos trens dos baptizados,
Rodavam sem cessar as seges dos enterros.
Que triste a sucessão dos armazéns fechados!
Como um domingo inglês na "city", que desterros!
(...)
Cesário Verde
O Livro de Cesário Verde
Editorial Minerva

PS - Cesário Verde nasceu em 1855 e morreu em 1886

domingo, 20 de setembro de 2020

A transformação do café

O mundo, como sempre tem acontecido, está a transformar-se e os olhos, velhos, já têm alguma dificuldade em enxergar todos os pormenores dessa transformação.

Desde que me conheço enquanto "gente grande" que bebo café, nos cafés.

- Vamos beber uma bica?

E, ao final do dia, eram tantas que nem valia a pena fazer a contabilidade. Nos últimos anos, o medo e a conversa do "faz mal" produziram a redução para a meia dúzia diária, não mais. A entrada em "férias definitivas" reduziu o número para metade e dessas, normalmente, duas são caseiras que o "café é muito bom". A ida ao café depois do almoço mantém vivo o ritual de tantos anos mas, ou eu me engano muito, ou irá terminar em breve. As bicas eram, quase sempre, tomadas ao balcão, sem açúcar, em dois ou três goles, que o tempo não era coisa que abundasse. Raramente me sentava à mesa, não por qualquer preconceito mas por não me dar prazer nenhum. Sabia-me bem estar encostado ao balcão e ver o manípulo a ser cheio de café retirado do moinho, a chávena a sair do topo da máquina, quentinha, e, finalmente, o líquido a encher apenas até ao meio, como ainda hoje gosto.

O Corona alterou este ritual e obrigou-me a sentar na mesa, aguardando, se for caso disso, a vaga devida. E vou-me sentindo dinossauro ou peixe fora de água. Com a pandemia, o perfil da clientela vai-se alterando e o dono arrepiou caminho porque, se continuasse na senda de só a vender cafés, sandes e bolos, tinha os dias contados. A pouco e pouco, o "meu" café caminha para um moderno restaurante, com pratos rápidos e leves, saladas e massas, pizzas e hamburgueres. O cliente tradicional como eu vai rareando. 

Continuo a ser extremamente bem atendido e a sentir que querem continuar a ver-me por lá. Nunca preciso de pedir o café e até o Expresso me vem parar às mãos sem ser solicitado, mas ... cada vez são mais raros os clientes do café!

sábado, 19 de setembro de 2020

Melros

Como já por aqui ficou mais ou menos expresso, gosto muito de melros. Devem ter sido dos primeiros pássaros de que aprendi o nome, e a reconhecer pela aparência e pelo seu canto variado e sonoro. No tempo em que se ia aos ninhos - nos dias de hoje, frase sacrílega e socialmente inaceitável - os de melro eram dos mais difíceis de encontrar e raramente se conseguia detectá-los com crias. Passe a imodéstia da mistura, Miguel Torga refere-se a eles bastas vezes na sua obra e, em particular, em A Vindima.

Hoje, os melros invadiram as cidades, os parques, as ruas, os jardins, as habitações, numa convivência sem sustos, quase sugerindo que sempre por aqui habitaram e comportando-se como verdadeiros conhecedores do terreno.

Talvez por isso, aparecem com frequência alguns "melros" de duas pernas, que espalham a sua "esperteza" fazendo-nos de parvos a cada momento. Nestes, também o canto é sonoro, variado, muitas vezes estridente. Voam alto, protegem-se bem, compram disfarces e companhias, raramente se lhes vê o "ninho".

E não se pode exterminá-los? Pode, mas é necessário provar, em várias instâncias, que os "cabritos" não caíram do céu nem nasceram por geração espontânea. E isso é muito mais difícil do que detectar um ninho de melro verdadeiro.

Dos verdadeiros, eu quero que se continuem a deliciar (e a deliciar-me) no jardim, ainda que isso implique partilhar ginjas, morangos e mirtilos antes mesmo de amadurecerem. 

Quanto aos "passarões", gostava de os presentear com uma gaiola grande, onde poderiam conviver todos , em festa contínua, sem champagne nem caviar.

sexta-feira, 18 de setembro de 2020

Jardim

No passado dia 6, aqui, mostrei que uma velha técnica de tecelagem, conhecida e bem dominada cá pela casa, estava a ser utilizada e desenvolvida para um novo projecto a instalar no jardim, ou melhor, no alpendre de acesso à garagem.

A instalação está pronta! Os cactos, que estavam cansados dos garrafões de plástico, estão a "delirar" com a sua nova "casa" e o resultado, que parece agradar a quem passa, é este:

quinta-feira, 17 de setembro de 2020

Passado(?)

Salgueiral, Coja, 23 de Dezembro de 1958

São muito pobres estas nossas aldeias sertanejas, onde a graça de Deus só chega por alturas da côngrua e a de César por alturas da décima. Mas gozam dum bem que nenhuma riqueza compra: a de serem imunes à solidão. Apesar de viverem desterradas do mundo, e fazerem parte de uma pátria de desterrados, dentro dos seus muros reina o convívio. A vida articula-se nelas de tal maneira, que a lepra do ensimesmamento não as pode contaminar. A velha que espreita à janela, o homem que sai de enxada às costas e a criança que solta o gado da loja são pedras indispensáveis dum jogo de muitos, figuras essenciais do mesmo retábulo, que nem separadas ficam sozinhas.

Diário VIII
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (3ªedição revista 1973)

quarta-feira, 16 de setembro de 2020

Tempos

Já lá vão seis meses, meio ano, cento e oitenta e três dias, de "escrita" ininterrupta no blogue.

Prometi a mim mesmo que o faria enquanto durasse a "guerra" que nos bateu à porta no início do mês da Primavera. Julgava eu, inocente, que, quando muito, duraria até o Verão chegar e que a água do mar lavaria tudo, até o vírus.

Enganei-me redondamente. E por isso me penitencio. Tenho vida (?) nova, acessórios novos, comportamento individual e social novo, tudo surpreendente e, afinal, imprevisível para quem já leva tantos anos. Por quanto tempo mais?

Não faço ideia e tenho dúvidas que alguém, mesmo muito dotado, o saiba. Vou procurar manter a rotina de por aqui me manter todos os dias, numa espécie de "diário catártico", enquanto a imaginação, a pachorra e a capacidade me forem dando "trunfos" para registar. Se o baralho se esgotar, acaba-se o jogo. 

Vou-me convencendo (presunção e água benta cada um toma a que quer) que talvez um dia alguém leia isto com um pouco de atenção e conclua que por aqui ficaram alguns registos interessantes sobre o dia a dia da "guerra" dos dias "coronados".

terça-feira, 15 de setembro de 2020

Bocage

Nasceu a 15 de Setembro de 1765. Chamava-se Manuel Maria Barbosa du Bocage, ficou conhecido como o Elmano Sadino e ainda hoje é recordado por inúmeras anedotas que se lhe atribuem, com ou sem razão. Foi um excelente poeta. Deixou vasta obra, que se lê sempre com muito agrado. Por força da evolução natural dos tempos e dos tempos que já foram, talvez não seja recordada com a atenção que lhe seria devida.

Fica aqui o seu retrato, com a ressalva de que, quando o li pela primeira vez, a moral e os bons costumes da época determinavam que o último verso fosse "Num dia em que se achou mais pachorrento" e não aquilo que o poeta escreveu.

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
Bem servido de pés, meão na altura, 
Triste de faxa, o mesmo de figura,
Nariz alto no meio e não pequeno;

Incapaz de assistir num só terreno,
Mais propenso ao furor do que à ternura,
Bebendo em níveas mãos por taça escura
De zelos infernais letal veneno;

Devoto incensador de mil deidades,
(Digo de moças mil) num só momento;
Inimigo de hipócritas e de frades:

Eis Bocage, em quem luz algum talento;
Saíram dele mesmo estas verdades
Num dia em que se achou cagando ao vento.
Obras Escolhidas
Bocage
Círculo de Leitores (1985)

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

Adágios

As notícias mais recentes lembraram-me, uma vez mais, um dos muitos ditados populares que a experiência de quem muito penou trouxe até aos nossos dias. Utilizando a ironia, a grande maioria dos adágios serve, como fato à medida, a alguma "gente" que por aí anda, emproada, quando deveria caminhar de olhos no chão, em busca da cela que, essa sim, era merecida.

"Quem cabritos vende e cabras não tem, de algum lado vem."

domingo, 13 de setembro de 2020

Quotidiano

Hoje é domingo e apetece-me descansar. Tenho esse direito, consagrado na Constituição da República e no direito consuetudinário.

Já dei cotoveladas aos meus netos mais velhos, dei uns encontrões ao mar da Foz, que estava zangado e a anunciar que o fim da estação se aproxima, li, ou melhor, passei os olhos pelos títulos dos jornais de hoje; galguei mais umas boas páginas do A Leste do Paraíso (são mais de 700), ainda vou ler o caderno de economia e a revista do Expresso, ouvi os números, assustadores, do vírus, vi a etapa da volta à França em bicicleta, com as habituais paisagens maravilhosas e mais de uma centena de valentes a subir, a subir, a subir que nunca mais acabava e até cansava ... o sofá.

Pouco mais devo fazer hoje, a não ser repetir o ler, ouvir música, espreitar a televisão e alimentar-me, pormenor fundamental para estar em boas condições físicas, que esta "profissão" é muito exigente.

Já me esquecia: ainda tenho de preparar-me para a semana de trabalho que aí vem, solidarizando-me com todos aqueles que recomeçam a azáfama de laborar e de levar os filhos à escola, o que não é nada fácil.

Esta rotina cansa muito ... e "isto não é gozar com quem trabalha".

sexta-feira, 11 de setembro de 2020

Livros (lidos ou em vias disso)

"(...)     - Um ninho! - gritou alguém.

E Guiomar, que passava, voltou-se.

- Onde está? - perguntou, alarmada.

- Aqui, menina ... Quer ver? Olhe que lindo!

Dois braços roliços de moçoila afastaram as vides ramalhudas e mostraram num torcegão da cepa, seguro entre duas varas, o manhuço de raízes, gravetos e terra.

- É de melro. Que lindeza!

O Chico pôs a cesta no chão, e largou desenfreado pela valeira fora.

- Onde vais? - berrou o Gustavo, que estava à espera que lhe enchesse o vindimeiro.

- Ia ver ... - disse o rapaz, estacado.

Guiomar tinha-se aproximado curiosa, e o Gustavo deu licença ao petiz para colaborar no interesse da patroa.

- Anda lá, então.

A espreitar por entre as duas, o pequeno confirmou:

- É de melro, é ... Mas já voaram, bô!...

Na sua voz havia ao mesmo tempo pena e contentamento.

- Tem um ovo ... - notou timidamente Guiomar.

- Não saiu ... Se calhar o pássaro enjeitou ...

Os braços da montanhesa, vivos de sangue, continuavam a afastar a rama. Pálida, Guiomar fixava o ninho onde o ovo pintalgado jazia. O Chico perdera todo o entusiasmo.

- Costumam ficar muitos assim? - quis saber ela.

- É conforme ...

- Tão bem forradinho que ele está! ... - elogiava a vindimadeira.

- É com penas ... - esclareceu o rapaz.-Tem de ser. É o lençol que a mãe põe na cama dos filhos ... nascem nuzinhos em pêlo ...

Um gelo mortal cobria o coração desiludido de Guiomar. (...)"

Vindima
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (1997)

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Realeza

Lá do alto o horizonte não tinha limites. O rio corria mansamente no vale, as flores brancas da esteva mesclavam o verde das encostas, um ou outro castanheiro mostrava a sua classe e o seu esplendor, meia dúzia de pinheiros, mansos, também se destacavam e ofereciam sombra nos dias de calor tórrido, as hortas eram tratadas com esmero por aqueles que dependiam delas para a sua mesa, a água cuidava da frescura e do sabor das couves, dos nabos, do feijão, das abóboras, das alfaces, dos tomates, dos pimentos, poucos, que são arredios na produção. Os repolhos, quando deles chegava o tempo, eram reis da horta mas a couve-flor, para os poucos que nela se aventuravam, era ainda mais rica.

Os apicultores colocavam as suas colmeias nos, poucos, socalcos que o monte lhes oferecia. A experiência tinha-lhes ensinado que não deviam ser colocadas nem no sopé nem no cume. Como em quase tudo, no meio reside a virtude e os socalcos garantiam a protecção necessária às inclemências do tempo e ao vandalismo humano.

Entre todas as obreiras que laboravam nos enxames, uma se destacava pela capacidade de trabalho, pela velocidade de voo e, sobretudo, por ser sempre a primeira a chegar ao pólen de cada flor. Via longe e essa era a sua grande vantagem. As outras, também obreiras de condição, vaticinavam-lhe um futuro brilhante, quiçá até a possibilidade de, um dia, substituir a rainha da colmeia.

A abelha rezingava sempre que disso lhe falavam. Conhecia bem as suas limitações e impossibilidades.

Não é rainha quem quer mas sim quem nasceu rainha.

quarta-feira, 9 de setembro de 2020

Liga das Nações

A selecção portuguesa de futebol amealhou seis pontos nos dois primeiros jogos da Liga das Nações 2021. 
Se no primeiro jogo, com o melhor do mundo ausente, a equipa realizou uma grande exibição e derrotou a Croácia por um resultado expressivo - 4-1 -, ontem, frente à Suécia, voltou a fazer uma boa exibição global, levada à perfeição por Cristiano Ronaldo, com dois "golaços" que ficarão para a história do futebol, não só por serem o 100º e o 101º de CR7 ao serviço da selecção, como pelo primor da execução que ambos mostram.

terça-feira, 8 de setembro de 2020

Novas tecnologias

Efectuar uma chamada telefónica para os serviços, complexos, de alguma grande empresa, entidade ou repartição, é um suplício.

As gravações são todas muito simpáticas, uma voz melodiosa cumprimenta-nos e, logo a seguir, "despeja" as instruções:

- Se pretende X, marque 1; Se pretende Y, marque 2; Se pretende Z, marque 3; Se pretende ser atendido pelo operador, marque 9.

Escolhida a hipótese que parece ser a mais adequada à questão que suscitou o telefonema e sobre a qual se pretende esclarecimento, aguardam-se alguns momentos até aparecer uma voz, simpática, claro, que se identifica, nos cumprimenta e nos interroga sobre qual o assunto que nos levou ao contacto, "que, desde já, muito agradecemos".

Relatado o problema, de novo a voz melodiosa:

- Desculpe, mas esse assunto não é comigo. Vou ter que transferir a sua chamada para o departamento respectivo. Não desligue.

Música, muita, para que o tempo passe sem se notar.

- Boa tarde, fala F., em que posso ser útil?

Renova-se a cantilena, tentando que a exposição seja clara e que o interlocutor perceba. 

- Entendi perfeitamente mas, vai-me desculpar, o assunto não é comigo. Vou tentar ligar ao departamento respectivo. Espero que a chamada não caia. Pensando melhor: mande um "mail" para o endereço "tal" que, eu entretanto, falo com o colega para que se resolva de forma rápida.

O "mail" já lá está. E a resposta, quando virá? Aguardemos! 

segunda-feira, 7 de setembro de 2020

ABC da vaga

António concorreu e conseguiu ocupar a vaga posta a concurso. É hoje um distinto funcionário, querido pelos colegas e admirado pelo público.

Benjamim habituou-se desde cedo às vagas do oceano, ali mesmo à beira do qual viu a luz do dia. Mantém vivo o respeito pela sétima vaga e é hoje um surfista de sucesso.

Carlos viu um vaga-lume pela última vez há perto de cinquenta anos. Todos os anos compra o Pirilampo Mágico, para ajudar, e manter viva a chama que desapareceu.

A senhora do IPMA avisou que, nos próximos dias, haverá uma nova vaga de calor. A Protecção Civil alertou para o risco de uma vaga de incêndios e determinou que a vaga de piqueniques, tão habitual nesta altura do ano, seja proibida.

Uma vaga de bombeiros, viaturas e meios aéreos estará em estado de prontidão máxima, preparados para a vaga de sacrifícios que a sua nobre missão impõe.

Corona iniciou a sua primeira vaga em Março e, não contente com a vaga de problemas com que nos presenteou, prepara-se para nos oferecer uma segunda, sem ter evidenciado muito bem o final da primeira.

No mar alterado, as vagas surgem seguidas e muitas vezes não se consegue descortinar a diferença entre a primeira e a sétima.

No próximo século, uma vaga de cientistas e de historiadores dedicar-se-á a estudar as razões que motivaram uma vaga tão grande de infectados por um vírus que, nessa altura, não passará de um viruzeco.

domingo, 6 de setembro de 2020

Macramé

Técnica de tecelagem manual, conhecida e trabalhada desde, pelo menos, o século XIV.

Cá por casa também é velha conhecida. Desta vez está a surgir um novo projecto destinado ao jardim, com a execução a cerca de um terço, sempre sob o olhar atento dos herdeiros.

Até parece fácil ... para quem sabe.

sábado, 5 de setembro de 2020

Adágios

Num dia de almoço plebeu, no qual (quase) todos puxaram a brasa à sua sardinha, conviveram contando estórias, manjaram batatas, pimentos e tomates, tudo regado a contento e terminado com alguns "comprimidos" tomados à colherada e fundamentais para o progresso da diabetes, meia dúzia de ditados populares ilustradores da sabedoria da experiência.

Quem porfia mata caça

Grão a grão enche a galinha o papo

Quem muito manduca, pouco trabuca

Ovelha que berra, bocada que perde

Água mole em pedra dura tanto bate até que fura

Quem tudo quer tudo perde 

sexta-feira, 4 de setembro de 2020

Palavras bonitas

DURANTE O DEBATE DA LEI CONTRA O ALCOOLISMO

Num país de beberrões
Em que reina o velho Baco
Se nos tiram os canjirões
Ficamos feitos num caco.

E querem os deputados
Com um ar de beatério
Que fiquemos desmamados
Quais anjos num baptistério.

Se o verde e o tinto são
As cores da nossa bandeira,
Ai, lá se vai a nação
Se acabar a bebedeira.

De abstemia não se faça
A lex neste plenário
Que o direito à vinhaça
Esse, é consuetudinário.

O sol nas noites e o luar nos dias II
Natália Correia
Círculo de Leitores (1993)

quinta-feira, 3 de setembro de 2020

Jogo do ringue

Surgiu de um saco de praia. Era uma "roda" de borracha, vermelha, que todos identificaram de imediato:

          - Isso é um ringue!

E os sexagenários abriram os sorrisos, fizeram comentários, recordaram aventuras e ... foram jogar.
Não já com a perfeição de antigamente, mas cumprindo o ditado de que "quem sabe nunca esquece".
Faltou a marcação do campo, a distribuição dos jogadores por duas equipas, o "mata". Sobrou a vontade, o estilo, a técnica e as recordações que nos vão alimentando no intervalo dos banhos naquela água gelada que, como diz um dos habituais, "há-de fazer bem a qualquer coisa".

Chegado a casa, fui consultar o "dicionário" que tudo tem e para cuja consulta nem é necessário saber a ordem alfabética. "Googlei" jogo do ringue e, entre outras informações "preciosas", surgiu-me um vídeo do Mindelo, gravado em 2011. Concluí: em Cabo Verde os jogadores não são sexagenários, movimentam-se sem dificuldade, interrompem o jogo para que os carros e outros elementos perturbadores passem, correm muito e discutem outro tanto. Os sexagenários já só fingem ...

quarta-feira, 2 de setembro de 2020

Bilhete de Identidade

- Levas vinte escudos, que chega e sobra. O homem vai dizer que não tem troco e tu respondes que vais trocar à loja.

Dito e feito. Era a primeira vez que, sozinho, ia tratar da renovação do bilhete de identidade. O homem tinha os cabelos todos brancos, estava atrás de um grande balcão de madeira castanha, vestia um fato cinzento e usava umas mangas pretas por cima das do casaco. Não havia mais ninguém na sala.

- Bom dia. Venho renovar o meu bilhete de identidade, disse eu, estendendo o antigo, que iria caducar em breve.

Pegou no bilhete, mirou, remirou e, do alto da sua arrogância, despejou:

- Espera.

Se a timidez e o receio já eram grandes, o medo da ordem provinda de tal figura acentuou-se. Metia respeito ao falar, gritava, como se fosse polícia e tivesse à sua frente um criminoso. Era o "dono" da loja.

- Chega cá!

Tinha saído de trás do balcão e aproximou-se da craveira onde, percebi, me iria medir a altura. Eu já era grande, pensava, mas não sabia ao certo quanto media.

- Encosta bem as costas.

A peça de madeira que iria assinalar a altura na fita marcada, foi solta e caiu sobre a cabeça, dura, do miúdo que eu era. Não doeu muito, mas não foi meiga. Anotou no papel que trazia, usando um lápis que tinha nascido nos dias pequenos ou já tinha sofrido muitas aparadelas. Não fez comentários nem me disse a altura.

- As fotografias?

- Estão aqui,  senhor Garcias.

De novo atrás do balcão, coloca uma enorme caixa em cima, abre a tampa, retira o rolo e mancha a pedra de tinta bem preta. Pega no meu indicador direito sem dizer palavra, tinge-o de preto e, a seguir, fixa a imagem em dois papéis distintos. Um era o impresso que, depois de preenchido e plastificado em Lisboa, haveria de ser o meu novo bilhete de identidade, o outro deveria ser destinado a arquivo, para o que desse e viesse. 

Preencheu o papel que substituiria o velho bilhete, já guardado, e que iria servir para efectuar o levantamento do novo daí a 15 dias ou um mês. Estava concluído o trabalho, só faltava pagar. E tinha demorado pouco mais de meia hora. Maravilha!

- São dezassete e quinhentos.

Estendi a nota de vinte Santo António, que o meu pai me tinha dado. Recolheu a nota, simulou olhar para a gaveta e

- Não tenho troco.

- Eu vou ali fora, à loja, e troco.

O olhar fulminante acompanhou o devolver da nota, atirada com violência.

Fui à tasca do Tição e pedi, por favor, para me trocarem a nota, para pagar no Registo Civil.

- O homem não tem troco, não é? É o costume. Ele queria era ficar com o troco. Foste esperto.

Não fui nada. O aviso do meu pai foi precioso e determinante.

terça-feira, 1 de setembro de 2020

Dias de anos

Desde 1975 que não trabalho no meu dia de anos. Agora, que a situação é de "férias permanentes", nem seria necessário o feriado, mas é importante que ele se mantenha para sempre.

A liberdade não tem preço, deve ser sempre comemorada por todas as razões e ainda por eu ter feito 22 anos no seu dia.

Já os meus filhos não têm a mesma sorte. Nasceram ambos em dias "normais" e, por isso, raramente têm direito à folga no seu trabalho.

Hoje o filho faz 39 anos e nem oportunidade tem de receber os carinhos da família, isolado que está em estágio "pandémico" e rigoroso. Os parabéns são virtuais da família real, e presenciais da outra "família" onde está integrado - a selecção nacional de futebol, em estágio para os próximos compromissos da Taça das Nações (Croácia e Suécia).

Se vencerem os dois encontros, como se deseja e espera, terá valido a pena, uma vez mais, o sacrifício da ausência física.

Cá estaremos todos para as comemorações, com atraso, mas com o mesmo entusiasmo.