segunda-feira, 27 de novembro de 2017

Livros lidos (ou em vias disso)

Agora que o tempo é pouco para divagar, a leitura torna-se (ainda mais) ritual, obrigatória, diária. 
O terceiro livro da trilogia de Mia Couto sobre a saga de Gungunhana está quase a chegar ao fim e é mais um que traz a marca do grande escritor moçambicano: excelente:

(...) "Deve haver um sol dentro deste rio. Só assim se explica a luz de Lisboa. É o que digo ao capitão enquanto contemplamos as colinas da cidade. António de Sousa admite, sorrindo: a cidade deveria chamar-se <>.
É manhã do dia treze de março de mil oitocentos e noventa e seis. O navio progride, lento e vaidoso, pelo estuário do Tejo. À nossa volta há mais barcos que gaivotas. E são de todos os tamanhos e feitios: lanchas, canoas, fragatas, botes a motor, à vela e a remos, todos carregados de gente que acena num infinito alarido. Para os portugueses é uma festa. Para os prisioneiros é um prenúncio de fim do mundo.
Mais perto do cais percebemos como a multidão se estende e ondula ao jeito de um outro mar. Escutam-se os gritos:

      - Já chegou! Já chegou o Gungunhana! "(...)

Mia Couto
As areias do imperador - Livro três
O bebedor de horizontes

sábado, 11 de novembro de 2017

Livros (lidos ou em vias disso)

António Lobo Antunes de novo na guerra colonial, para mais um excelente livro que se lê, ou melhor, se esmiuça e digere com paciência, muito prazer e a certeza de que escrever tão bem e tão claro deve ser tão difícil ...

(...) - Calado  
      porque as ervas se agitaram perto do relevo onde a primeira perdiz ia surgir finalmente, voltando a cabeça para nós sem nos ver, nem sequer às orelhas da cadela que principiavam a inchar da mesma forma que a ponta de dois dentes ao léu enquanto o corpo da minha irmã vibrava, de boca a comer-se a si mesma consoante comia o suor do nariz e da testa, eu para a minha irmã e para a nespereira que se amparavam uma à outra, as duas com tantos braços, qual de vocês vai secar mais depressa, inclinar-se, cair, se ao menos relâmpagos no Mussuma incendiando o capim que a electricidade ajuda, se ao menos nesta horta uma liambazita que amansasse as cólicas, não conheço ninguém na vila excepto o empregado da oficina, chegamos lá e perguntamos a quem, diz-me, aos velhos de samarra que não falam sequer, a única resposta que dão, enquanto afiam um pau com a navalhinha, é chuparem o cuspo das mortalhas apagadas, numa rua próxima à capela a anunciar o domingo, ninguém se parece tanto com o outono como os sinos, quando morre uma pessoa, mesmo em junho, outubro sempre e a luz, logo de manhã, com saudades, e depois o homem que me leva às cavalitas não pára, não irá parar nunca para fugir à tropa, ao helicanhão, às gê três 
       - Mata mata
       a minha irmã para mim
       - Vamos a Lisboa por favor (...)

Até que as pedras se tornem mais leves que a água
António Lobo Antunes
D. Quixote (2017)

sexta-feira, 10 de novembro de 2017

Legionella

Afinal não há razão para alarme nem para preocupação!

Leitão Amaro garantiu ontem, na TV, que o Governo anterior tinha proibido a legionella, o que nos leva a pensar que a malfadada bactéria já deverá estar a ser procurada pela Polícia Judiciária e a ser alvo de inquérito do Ministério Público, com vista ao julgamento, justo, de que será alvo, como é próprio de um estado de direito. Sem haver dúvidas de que, face aos crimes cometidos, terá condenação exemplar, faltará apenas confirmar se a prisão será efectiva ou com pulseira electrónica.

A pérola poderá ser confirmada no endereço abaixo.

https://www.youtube.com/watch?v=4kn45brCFZg