quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Presidenciais

Porque tenho esperança e confiança, acredito, ainda, na política e na capacidade de mobilização dos portugueses para o bem comum, prezo a tolerância e as oportunidades iguais para todos, acho essencial que todos tenhamos acesso à educação, à cultura e à saúde, gosto de poesia e considero que há mais vida para além dos números que, todos os dias, os interesses instalados nos facultam, vou escolher Manuel Alegre para Presidente da República. 

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ironia do destino

De acordo com as notícias de hoje, o Governo vai:

  • capitalizar o BPN, injectando-lhe mais 500 milhões de euros do erário público;

  • adiar a venda, por não haver interessados;

  • substituir a actual administração, oriunda da CGD, por outra que, nos próximos anos, crie condições para o Banco ser, de novo, posto à venda.

Os problemas que afectam, nesta altura e por todo o mundo, a actividade bancária, não são de molde a encontrar muita gente disponível para um fardo destes, ainda por cima com a missão de "engordar o porco", para que possa ser vendido quando o negócio se tornar interessante e o mercado apresentar interessados.

Por isso, talvez fosse melhor o Governo não se cansar a procurar muito e voltar a chamar Oliveira e Costa e Dias Loureiro para retomarem as rédeas do Banco. 

As vantagens desta solução seriam inúmeras, mas merecem destaque as seguintes:

  • Os aqui propostos conhecem o Banco e os seus problemas melhor do que ninguém;

  • Têm uma excelente carteira de contactos, em Portugal e no estrangeiro, que lhes permitiriam recuperar rapidamente os clientes interessantes, que abandonaram o Banco aquando da intervenção do Estado;

  • Estão de licença sabática há muito e, por isso, terão tido tempo bastante para estudar as regras prudenciais de gestão que a actividade envolve e necessita.

sábado, 11 de dezembro de 2010

Crise e inteligência

Confesso que, no início, fui dos que concordaram com a grande maioria dos articulistas, comentadores e quejandos, e achei que a decisão do Governo Regional dos Açores - compensar uma parte dos funcionários públicos daquela Região Autónoma com um subsídio igual ao corte decretado pelo Governo da República para 2011 - revelava uma quebra na solidariedade nacional e uma arrogância não admissível na hora em que a crise impõe sacrifícios a todos.
Curvo-me, agora, perante a inteligência, sagacidade e conhecimentos matemáticos revelados por Carlos César que, qual Sherlock Holmes para o seu Dr. Watson, justificou ao Primeiro Ministro da República as razões que motivaram a decisão.
- Também tu, César! Por que me fizeste uma coisa destas?
- Elementar, meu caro Sócrates.
- Como? Zombas de mim?
- De modo nenhum. Fiz contas (sei fazê-las) e concluí que o corte dos funcionários públicos reduziria a despesa da Região em 3,5 milhões de Euros; peguei no Orçamento, procurei, procurei, e encontrei uma despesa de valor idêntico, orçamentada para cobrir o campo de futebol do Santa Clara.
- E depois?
- Elementar, de novo, meu caro: anulei a obra do campo de futebol e vou utilizar esse dinheiro para subsidiar os funcionários públicos.
- Reconheço que foste muito esperto! Quando chegar a minha hora de partir (parece estar próxima), proponho-te para o meu lugar.
Consta que Sócrates já adquiriu a lupa e procura afincadamente um Dr. Watson, a contratar a prazo ou em outsourcing. Vão percorrer o Orçamento do Estado, linha a linha, para tentar encontrar coberturas que não sejam imprescindíveis ...
Espera-se que nem a lupa nem a sagacidade sejam de potência muito elevada, sob pena de se concluir que o supérfluo orçamentado talvez chegasse para evitar os cortes.

domingo, 5 de dezembro de 2010

Livros (lidos ou em vias disso)

Acabei de ler ... e confirmou as expectativas.

Termina assim:

(...) O amanhecer apenas se distingue do anoitecer por aquilo que o antecedeu e pela sucessão que lhe imaginamos, o antes e o depois. Agradeço-te por teres aceitado que este livro se transformasse em ti e pela generosidade de te teres transformado nele, agradeço-te pela claridade que entra por esta janela e por tudo aquilo que me constitui, agradeço-te por me teres deixado existir, agradeço-te por me teres trazido à última página e por seguires comigo até à última palavra. Sim, tu e eu sabemos, isto: . Insignificância, pedaço de nada, interior da letra ó. Mas isso será daqui a pouco. Por enquanto, aproveitemos, ainda estamos aqui.

Livro
José Luís Peixoto
Quetzal (2010)

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Livros (lidos ou em vias disso)

Chama-se Livro o último romance de José Luís Peixoto e vou mais ou menos a metade da sua leitura. Apesar disso, arrisco-me a dizer que o título deveria ser Vida, num Portugal que começa (no livro) em 1948 e se prolonga até não sei quando, porque não quero ir ver (ler) o fim da história. Prefiro digeri-la, a pouco e pouco, saboreá-la: está lá muito do que eu conheci: as castas sociais e os seus desequilíbrios, a amante do padre e o filho de pai incógnito, a matança do porco e os seus rituais, o Portugal salazarento e a ida, a salto, para França, o alcoolismo, a miséria, a ignorância ...

"(...) O que seria a França? A Adelaide sabia três coisas acerca do país para onde se dirigia: na França, as pessoas tinham máquinas que faziam a lida da casa, que varriam o chão, que lavavam a loiça e a roupa, braços de ferro; na França, as pessoas só andavam de automóvel, mesmo para ir à padaria; na França, as pessoas comiam carne de cavalo cozida. Esta última informação era a que mais espécie lhe fazia, tinha pena dos bichos. Também já tinha ouvido falar da cidade de Paris, conhecia o nome, e também já sabia que os franceses falavam estrangeiro. Como iria entender-se num lugar em que toda a gente falava estrangeiro e comia cavalo? Durante as horas de viagem, coberta por lona, a fugir com o rosto aos olhares embaciados dos homens, a Adelaide apoquentava-se com estas perguntas, mas havia um pensamento que lhe fazia mais mazela.(...)

Livro
José Luís Peixoto
Quetzal (2010)