sexta-feira, 31 de julho de 2020

A praça

A opção praia não pode ser equacionada. Há uma encomenda para chegar, com entrega prevista entre as 9 e as 19 horas. Com informação tão certeira e indicativa, era perfeitamente possível programar o dia todo sem correr riscos de estar ausente mas ... o melhor é estar por casa, para não defraudar quem informa tão minuciosamente.
Calculando que, até às 10 horas, não seria previsível a chegada, fomos à praça, não à tradicional, que encerrou "covidada" mas à solução, boa, que foi encontrada para satisfazer os vendedores e proporcionar as compras que os clientes tanto gostam de fazer.
De máscara aperrada, gel nas mãos e segurança a somar os entrados e a subtrair os saídos, percorremos as bancas do costume, escolhidas há muito. Pelo caminho, encontros com gente difícil de reconhecer à primeira e com quem, depois, se fala à distância, sem mão estendida, muito menos beijinhos. 
E como será isto depois, questionava-me uma amiga, que aproveitou para desabafar um pouco, coisa que , segundo ela, se está a tornar cada vez mais rara.

- Não vejo nada sem óculos. A máscara embacia-os e eu tiro os óculos, limpo, recoloco, embaciam, tiro, limpo, volto a colocar, voltam a embaciar, torno a limpar. 
Que chatice! Quase não saio de casa.

Alguém se abeira da banca e comenta, respeitando a distância marcada no chão.
- Estão caros os pêssegos.
E segue viagem, talvez na procura de mais baratos.
A dona da banca não resiste, comentando para dentro, de forma a que os que ali estão ouçam bem.
- Não querem lá ver a dona. Este ano há pouca fruta e os agricultores não vão ganhar nem para a despesa. Faça boa viagem.

Trazemos as meloas, o feijão verde, as cenouras, os pêssegos, as ameixas, brancas, a uva, tanta coisa para dois "gatos pingados". 
Também temos que ajudar! 

quinta-feira, 30 de julho de 2020

Verão

Há coisas na natureza que não coabitam em paz com o comum dos mortais e fazem pensar que, naturalmente, têm prazer em nos contrariar, exercendo o seu poder de forma discricionária e sem nos ouvir.
No Verão está estabelecido, não sei se por decreto celestial ou qualquer outra via, que o céu deve ser azul, o vento deve estar recolhido, a temperatura da água do mar deve ser agradável e não "cortar" os tornozelos, isto tudo de manhã até à noite, para permitir, democraticamente, que os que se levantam cedo e os que meditam nos lençóis até à hora do almoço, possam gozar dos mesmos direitos e usufruir da praia  que gostam sem preferências discriminatórias.
Não há respeito por quem gosta das manhãs abertas e coloridas de azul. 
Levanta-se uma pessoa toda lampeira e, entre duas espreguiçadelas, diz para consigo:
          - Hoje vai estar bom, cheira-me!
Aberta a janela, não cheira a nada. Vamos até lá, para confirmar.
As nuvens são muitas, a morrinha molha os cabelos e, mesmo espreitando com afinco, o mar nem sequer se vê.
Regresso ao cantinho. 
          - Já não vamos ter outro dia.
Mentira!
Após o almoço, as nuvens emigraram, o sol apareceu, o céu pintou-se de azul, celeste, e a imaginação informa que deve estar uma bela tarde de praia.
Não vou! Sou teimoso e, para castigo da natureza brincalhona e autoritária, fico-me com o azul do Danúbio e a musicalidade da água do rio.
Amanhã vou voltar, como o Verão exige.

quarta-feira, 29 de julho de 2020

Quotidiano

Mais um mês a chegar ao fim e a aproximar o final do ano. 
A rotina mantém-se e as alterações são nulas. Começam a surgir oportunidades para sair, espectáculos que não se perderiam, visitas que não deixariam de se fazer, convívios familiares e outros que fariam as delícias de toda a gente.
E surge sempre a pergunta ... E se? 
O melhor é ficar em casa, a ler, a ouvir música, a tratar das flores e a regar a relva. Até quando?

terça-feira, 28 de julho de 2020

Carta de condução

Há exactamente 50 anos recebi a autorização para, legalmente, conduzir qualquer viatura automóvel ligeira.
De manhã, bem cedo, o Carocha da escola de condução, conduzido pelo instrutor que mal me conhecia - só tive três aulas de condução das cinco que fui obrigado a adquirir - dirigiu-se a Santarém com os quatro alunos que, nesse dia, se iriam submeter a exame. 
No banco de trás, no meio de dois matulões e sentado quase no ar, ia um miúdo de 18 anos feitos três meses antes, acabado de emancipar por autorização notarial paterna. Naquela época, era-se maior aos 21 anos e só a emancipação paternal permitia o acesso à carta de condução (ou ao casamento) antes dessa idade. Aos 18 anos e para quem conduzia desde os 15 ensinado pelo pai, o convencimento de que o exame seriam favas contadas era verbalizado com alguma exuberância.
Na viagem, demorada pelas curvas da estrada nacional 114 e pela pouca velocidade do Carocha, a conversa foi sempre à volta da possibilidade de não serem realizados os exames previstos. 

- O Botas bateu a bota ontem, se calhar temos de cá voltar noutro dia, dizia o instrutor.
 
Mas houve. O Botas, afinal, nem na morte deu um feriadito.

Chegados ao jardim, estacionado o Carocha, ficámos a aguardar as novidades que o instrutor haveria de trazer dos seus contactos "oficiais".

- Vocês os três vão fazer exame com o Engenheiro "Fulano" e tu vais para o "Sicrano".
 
Já não recordo os nomes, mas tenho a ideia de o meu ser qualquer coisa Sereno.
Estava um calor de ananases ao contrário do tempo nas Caldas, como ainda hoje acontece.
Por volta do meio-dia, o Engenheiro chamou pelo meu nome.
 
- Onde está o carro?
- Anda um colega a fazer exame com ele. 
- Então vamos fazer o Código aqui.
 
Com os dois sentados num banco do jardim, à sombra de um arbusto agradável, o homem debitou as perguntas e o miúdo creditou as respostas.
- Estudaste bem!, comentou no fim.
 Finalmente, o "meu" carro chegou e o instrutor nem saiu do banco de trás.
Com algum nervoso miudinho mas cheio de certezas de que sabia muito daquilo, sentei-me ao volante e dei à chave.
- Vira à direita.
Cumprida a paragem no Stop, entrei na grande avenida e percorri a cidade, de acordo com as instruções que ia recebendo, subindo, descendo, arrumando entre dois, fazendo ponto de embraiagem, etc.
- Isso não anda mais? Tenho de ir almoçar!
- Então não anda! É só acelerar.
- Arruma, que está terminado.
 
Fomos almoçar todos, dividimos a despesa excluindo o instrutor e, a meio da tarde, soubemos os resultados: três tinham passado, mas havia um chumbo.
Convencido, não esperava que o chumbo me tivesse contemplado. E confirmou-se.
Regresso a casa, já com o dia a terminar e o papel provisório bem guardado no bolso.
- Então, passaste?, perguntou o meu pai. 
- Claro! Ou esperava outra coisa?, respondi, ufano. 
- Quem foi o Engenheiro?
- "Sicrano"
- Engraçado. Há mais de vinte anos, também foi ele que me fez o exame.

Naquele tempo, tudo demorava a mudar. 

segunda-feira, 27 de julho de 2020

Quotidiano

Chegou o Outono ao Oeste.
Não deve ter vindo de comboio. A linha que o serve permanece há cinquenta anos a aguardar actualização e não permitiria tal rapidez e antecipação ao calendário.
De avião também não era possível. O Covid cancelou quase todos os voos e não há aeroporto onde aterrar.
Mas chegou! Talvez de burro ou de caleche, a cavalo ou mesmo a pé, quem sabe.
Enquanto o resto do país está em alerta máximo para tentar diminuir o flagelo dos fogos florestais, por aqui o dia está cinzento, com uma humidade acentuada, uma morrinha para refrescar a cabeça e a nortada do costume, embora nos limites de velocidade estabelecidos para os aglomerados urbanos. Não excede os 30 Km/hora.
A praia ficou adiada para amanhã.
Qual é a pressa? Hoje ainda é só segunda-feira.

domingo, 26 de julho de 2020

Dia dos avós

Premissa: uma imagem vale mais que mil palavras.

Conclusão: Para duas imagens como estas é matematicamente impossível quantificar o número de palavras que elas valem.




















sábado, 25 de julho de 2020

Futuro

"Somos um país de muitos eus e poucos nós. E temos eus muito insuflados."
António Costa Silva
Entrevista ao Expresso

E não se pode exterminá-los?
Foram sempre meia dúzia de "eus" que determinaram o rumo, organizaram o barco e, no fim, se locupletaram com a mais-valia resultante. E os exemplos são muitos e bem conhecidos.
A opinião pública é condicionada por uns poucos, velhos na idade e na opinião. São sempre os mesmos que aparecem nas televisões e nos jornais, com as mesmas ideias sobre tudo e sobre nada, comentadores do óbvio, críticos de tudo o que aparece e não tenha sido por eles parido, da erva daninha à vivência no céu, enxameando a comunicação social, saltando de um  jornal para outro, de uma televisão para a seguinte e desta para a outra e ainda mais outra. São advogados célebres, economistas fecundos, gestores infalíveis, capazes de prever tudo e o seu contrário, do crescimento do PIB à taxa de desemprego, das exportações à capacidade industrial, do tempo ao vento que soprará, da cor das calças à sola dos sapatos, da vírgula do decreto ao decreto da vírgula.
E mantêm-se no ar, falando de cátedra, sem contraditório e "apenas" como opinadores.
Raro é ouvir-se a opinião de quem é novo, tem o futuro à frente e a genica para o enfrentar. Apesar de haver tanta sapiência sobre futebol, continua a haver muita gente que quer, a todo o custo, manter-se na equipa principal, mesmo que as pernas já impeçam ou, pelo menos, dificultem a corrida.
O futuro passa pelos novos talentos, pelos que não têm o "eu" insuflado, que têm a humildade de estudar antes de afirmar, dos que se colocam em dúvida sistemática, dos que têm capacidade para entender que estão longe de saber tudo e que só o reconhecimento da ignorância permite dar passos em frente.
O plano de António Costa Silva até pode saber a pouco, ser redutor, mas, como o ovo de Colombo, foi escrito e divulgado, mexendo com os egos instalados e com os que estão a preparar as espingardas para a abertura da caça ao "cacau".

sexta-feira, 24 de julho de 2020

Rotina

A rotina não se altera!
Claro. Se é rotina não tem alteração. Por isso é que é rotina. Se assim não fosse, seria qualquer outra coisa, mas rotina não era pela certa.
E não se alterando, a rotina é inalterável e, em consequência, não se altera.
Com alguma imaginação, talvez se conseguisse alterá-la mas, mal isso acontecesse, a rotina deixava de o ser e passava a ser outra coisa.
Quem diria: tão simples e tão complicado, tão rotineiro.
Hoje fiz a barba. Não escapei à rotina.
Mas ouvi esta bela interpretação e, imaginem, fugi com ela à rotina.

quinta-feira, 23 de julho de 2020

Salpas

De acordo com a informação da Capitania de Peniche, da Net e do meu amigo ADS, foram as salpas que deram à costa ontem na Foz do Arelho. A minha filha confirmou.
Não vi nenhuma!


Apenas a água parecia estar turva e à superfície tinha uns "quadrados" boiando, meio estranhos e não habituais.
Hoje, a transparência tinha regressado e a única coisa que recordava o ontem eram estas "gelatinas", em pouca quantidade, que ficavam na areia quando a onda se ia embora.


Amanhã a Foz já deverá ser a mesma de sempre ... nevoeiro, vento, mar revolto, com temperatura a condizer com a tradição.

quarta-feira, 22 de julho de 2020

O novo "normal"

A manhã estava "fozeira", com o nevoeiro quase a impedir de se ver o mar. 
Maré baixa, sem vento, permitiu acabar o livro do momento e, de seguida, uma caminhada até às rochas, onde se esperava que o sol já desse um ar da sua graça e trouxesse a vontade de um bom mergulho.
Falso! A água tinha uns "quadrados" gelatinosos, que eliminavam a habitual transparência e lhe davam um aspecto sujo. Não ao banho!
Mal tinha iniciado o regresso, surge o nadador-salvador.
- Não vá à água. Não sabemos o que é isso e deram-nos ordem para, à cautela, interditarmos a praia.
Acabou-se, por hoje. "Trouxa" arrumada e regresso a casa mais cedo do que o previsto. 
Mas havia mais para acontecer.
No último degrau do primeiro lanço da escada, um homem cai. Dou um salto para tentar ajudá-lo.
- Não mexa nem se chegue, murmura uma voz avisada.
Mantida a distância, colaboro no diálogo com o homem.
- Sente-se bem? Está sozinho?
- A família está na praia, lá em baixo. E indica a Lagoa, lá ao longe. 
- E tem telemóvel?
- É melhor chamar o 112, diz alguém. 
Conseguiu sentar-se, sem ajuda mas com muita dificuldade. O braço esfolado, o joelho em sangue, uma aflição patente.
- Já tive cinco enfartes ... mas estou bem!
Consegue tirar o telemóvel do bolso e liga.
- Foi para a caixa postal.
Alguém chamou o nadador-salvador. Viu a tensão arterial, desinfectou as feridas, com todos os cuidados, das luvas à máscara, e com a distância possível. 
A Polícia Marítima foi para a praia da Lagoa, à procura dos familiares do homem que apenas queria conhecer mais um pouco da praia onde tinha vindo em passeio, ele que era do Porto.
Vim para casa, a pensar que já nem se pode auxiliar quem dá uma quedazita ...  
 

terça-feira, 21 de julho de 2020

Juan Marsé

Descobri-o em 2012, após uma visita à Feira do Livro de Lisboa (este ano foi-se) e deixei aqui as razões da descoberta e as impressões do primeiro livro lido.
Depois de Rabos de Lagartixa, comprei e li todos os que já se encontravam ou foram sendo editados em Portugal.
Já não lerei mais, a não ser que apareça alguma obra póstuma.
Juan Marsé faleceu no sábado, dia 18 de Julho, na cidade de Barcelona, onde havia nascido em 8 de Janeiro de 1933.
Foi, é e continuará a ser um grande escritor e um dos espanhóis meus preferidos.


segunda-feira, 20 de julho de 2020

Netos

Encerra hoje o ciclo anual dos aniversários dos netos.
O Vasco, segundo na hierarquia da antiguidade, faz nove anos e já usa a ironia com subtileza e graça, causando sempre surpresa e espanto. Talvez o ser esquerdino contribua e ajude a sua capacidade de teatralizar as situações e surgir sempre diferente.
É um doce de meiguice, singeleza e modéstia.

          - Amanhã fazes nove anos. Estás quase um homem!
          - Pois. Quando fizer outros nove, já posso tirar a carta!

Apesar das restrições "covidianas", das dificuldades que não há meio de serem removidas, os meus netos dão-me anos de vida.
Por hoje, parabéns ao Vasco!

domingo, 19 de julho de 2020

Quotidiano

E quando tudo indicava que a manhã fosse cinzenta e que a ida à Foz não passasse de um passeio à "Senhora da Asneira", eis que surge um dia de sol radioso, sem vento, um mar calmo e a temperatura da água excelente.
Que bela manhã! A Foz é sempre uma caixinha de surpresas!

sábado, 18 de julho de 2020

Livros (lidos ou em vias disso)

Mantenho com o meu amigo ADS uma regular correspondência electrónica sobre variadíssimos temas, entre os quais os livros que estamos a ler, que já lemos, que ainda não lemos ou nem sequer conhecemos. 
Verdade seja dita que esta correspondência é muito mais vezes alimentada por ele do que por mim.
Há algum tempo - talvez Maio, já não consigo precisar - fui surpreendido por um portador que trouxe da capital um saco, verde, pois claro, carregado de livros, qual "biblioteca itinerante" de boas recordações. 
Eram 11 livros que eu, nas "epístolas" trocadas, havia referenciado como não lidos. 
Coloquei-os no lado direito da secretária e vou intercalando a leitura com os que vão aguardando vez no lado esquerdo e na mesa de cabeceira.
Da "biblioteca itinerante" faltam ler quatro. Do que hoje regressou ao saco, fica um pequeno registo, provando que o que tem qualidade fica para sempre e permanece actual.

"(...) Se tal operação tivesse êxito, ninguém veria senão a habilidade com que fora urdida, esquecendo-se tudo o resto. E se alguém se aproveitasse de um pormenor esquecido por eles, seria isso imoral, desonrável? Na minha opinião, também desta vez tudo dependeria do sucesso ou do insucesso. Para a maior parte das pessoas, o sucesso nunca merece censura. Quando Hitler triunfava, apareceu muita gente que nele encontrou virtudes. De Mussolini dizia-se que fazia partir os comboios à hora. Vichy, se colaborou, foi para bem da França. Quanto a Estaline, uma só coisa interessava: era poderoso. Poder e sucesso estão acima da moralidade e da crítica. O que se faz não é nada, mas a maneira como se age e o nome que se dá aos nossos actos é que é tudo. Os homens estão munidos de um dispositivo interno que os faz parar e os castiga? Parece que não. O único castigo é o insucesso. Não há crime se o criminoso não é apanhado. (...)

O inverno do nosso descontentamento
John Steinbeck

sexta-feira, 17 de julho de 2020

Quotidiano

O mar estava Salgado,  Mexia muito e até tinha um Cavaco a boiar, mas podia-se andar tranquilo. Tal como no Banco de Portugal, na Foz há sempre um Governador a garantir o bem de todos. Talvez a filosofia de Sócrates explique isto com facilidade, mas a minha parca inteligência não consegue atingir tal desiderato.
Ainda assim, a minha imaginação concluiu, enquanto o físico se debatia com as ondas, que isto anda tudo ligado e que o mundo é apenas um conjunto de peças "Lego", que todos manipulam mas cujo produto final está antecipadamente definido.
A minha curiosidade acentua-se e a esperança de ver concluída a peça final é muita, embora com a consciência de que, para isso acontecer, será necessário que a vida seja superior à esperança total da dita.
A premissa de que todos são inocentes até prova em contrário não retira a convicção de que quem acusa desta forma terá reunido provas irrefutáveis, difíceis de contrariar pelos "ronaldos" da advocacia que vão sempre a jogo, provavelmente pro bono, uma vez que dificilmente os acusados terão economias para fazerem face à remuneração justa de tantos e tão bons profissionais.
O calor, por vezes, provoca delírios e parece-me que hoje isso aconteceu.
Cá estaremos para ver ...


quinta-feira, 16 de julho de 2020

Ontem, hoje e amanhã

Hoje acordei eram sete e picos e dei por mim a recordar coisas antigas - porque será? - que caíram em desuso e às quais a malta nova, para além de não passar cartão, muitas vezes nem sequer conhece. E ainda bem! 
Já ninguém dança o twist e muito menos vai ao baile da Dona Ester. Para ser mais preciso, julgo até que  ninguém é chamado de Dona e muito menos Ester. Agora é você por tudo e por nada, palavrão que eu aprendi dever ser só dito depois de existir muita confiança com a pessoa em questão e apenas para aquelas a quem o tu não era aplicável. Você é estrebaria, diga lá senhor ou senhora ou, melhor ainda, senhora dona.
A criada morreu e surgiu em seu lugar a empregada doméstica, tal como já não há contínuos mas antes assistentes operacionais. 
Como se isto não bastasse, a manhã de praia, espectacular, levou a conversa também para coisas antigas - porque será? - e, da contabilização manual às chapas dadas nos bancos, das máquinas de somar às somas de cabeça, do cálculo de juros ao dia ao tempo perdido para levantar um cheque, houve de tudo. 
A água estava boa, a manhã passou depressa e havia muita gente a dar a coxa não à Caparica mas ao mar da Foz, zangado como sempre.
Sentado agora à secretária, dou por mim a aceder à grande enciclopédia virtual, que tem tudo e mais um par de botas, e não é que encontrei o Conjunto António Mafra a tocar e a cantar tal como há sessenta anos ou mais e, pasme-se, igualzinho ao que me tinha surgido logo pela manhã.
Estes velhos estão cada vez mais chatos e a recordar coisas que não lembram ao diabo.
E repetem, repetem, como se não houvesse amanhã e o mundo tivesse parado quando eles ainda mexiam!
Valha-lhes um burro aos coices e três aos pontapés, e acenda-se-lhes um castiçal, para que vejam bem o hoje, sem as lunetas do ontem.

quarta-feira, 15 de julho de 2020

Alcunhas

Eram poucos os conhecidos pelo seu nome próprio. Menos ainda os que se conheciam os apelidos e raríssimos aqueles que a sociedade reconhecia pelo nome completo.
O "direito" a ser conhecido e tratado pelo nome registado era privilégio de uns poucos, normalmente provenientes de famílias abastadas, bem conhecidas e consideradas.
As crianças eram identificadas como filhos deste ou daquela, sendo os progenitores referenciados pela alcunha de todos conhecida. 
A alcunha resultava, normalmente, da profissão desempenhada, dos antepassados, de assinalar qualquer defeito físico ou ter "nascido" por acto público menos considerado ou mais ousado.
Quando ainda rareavam os nomes das ruas e os, hoje imprescindíveis, números de porta, não era raro o carteiro andar de carta na mão, indagando por um fulano que ninguém sabia dizer quem era. Depois de muito questionar e de muitas negativas, aparecia alguém, normalmente familiar ou muito próximo do procurado, e dizia:
- É o ...!
A alcunha identificava-o e, afinal, toda a gente o conhecia, até o carteiro.
A ironia e a capacidade de, numa simples palavra, fazer uma identificação completa ainda hoje nos fazem sorrir quando são recordadas.
Aqui ficam alguns exemplos de muitos conhecidos, para memória futura: Bola, Bufa-Pum, Caracoleiro, Casaleiro, Cavete, Cebola, Chato Miúdo, Chumbinho, Espanhol, Estica, Fandoca, Foge-ó-vento, Guarda-a-burra, Índio, Lagancha, Laparra, Larau, Lavarinto, Loca, Marmelo, Mau, Minhas, Minhoca, Moleiro, Nopla, Pajeca, Palhaço, Pexeca, Pepino, Pernicas, Pica-milho, Piranga, Pivete, Preto, Roto, Sola, Tarata, Tijela, Tonico, Trigueiro, Valente, Viajante, Zézico, etc. etc..

terça-feira, 14 de julho de 2020

Novas tecnologias

O telemóvel toca, para uma chamada de vídeo, que não se concretiza.
Surgem, de imediato, várias mensagens de voz, que ouço com alguma dificuldade, por a gravação ter sido, julgo, efectuada em voz baixa e não por eu já estar um pouco surdo.

- Adoro-te, avô, adoro-te, avó, são os melhores avós de mim e do mano.
- Desligo já, não atendas o telemóvel.
- Não mandes mensagens, ok, não mandes mensagens.

Chega uma fotografia, risonha, acompanhada de uma legenda nominal e de vários corações. 
Mal tenho tempo de responder com corações e caretas de alegria.

- Sabes porque é que mandei um coração rosa? É para a avó. Tu tens o verde e o azul. És um avô lindo e também tenho uma avó linda.
- Olha, não mandes mais mensagens. Já tenho pouca bateria. 

O meu neto Miguel tem 4 anos, não pára de nos surpreender e a cada dia que passa se revela cada vez melhor! 
 
 
 

Evidências

Nem sempre a ostra tem pérola ... mas vale a pena teimar!

segunda-feira, 13 de julho de 2020

O lenço

As rotinas faziam parte do seu dia a dia, tal como o Sol acordava todas as manhãs. 
Fato cinzento, camisa branca, gravata azul, um dia escuro, no outro claro, sapatos pretos, de atacador, sempre bem engraxados. Depois da bica, tomada na leitaria da esquina, então sim, ficava bem acordado.

- Bom dia, menina Alice. Já chegaram os jornais de hoje?

Invariavelmente deitava os olhos para a primeira página d'O Século e comprava o Diário de Notícias, deixando quinze tostões no balcão.

- Até logo, menina Alice. Ainda não lhe disse mas traz hoje uma blusa muito bonita. Quem me dera ser blusa...

O "28" chegava ao Largo, vindo dos Prazeres. Enquanto o guarda-freio mudava a manivela, inox e bem grande, para a, até ali, traseira, o pica alterava as cancelas de entrada e saída, e informava os passageiros que aguardavam, que partiriam daí a cinco minutos.
Acomodava-se num banco duplo para ter espaço e abria o jornal, enorme. Começava assim o dia deste funcionário da Fazenda, que entrava na repartição da Baixa às nove horas. Eram sempre oito e vinte cinco nesta altura.
À hora, como sempre, o eléctrico partiu, descendo a íngreme rampa que os levaria até S. Vicente, à Sé e, finalmente, à Rua da Conceição. A partir daí já ele pouco conhecia. Só tinha ido até aos Prazeres uma vez e verificou, uma vez mais, que prazeres não era muito o seu género. 
A meio da rampa, junto à Voz do Operário,  a primeira paragem.
Calças e casaco de cotim cinzento, alpargatas azuis desbotadas, camisa de popeline aos quadrados, não mais de onze anos. Só podia ser marçano numa das retrosarias da Rua da Conceição.
Ladino, viu o jornal aberto e não deixou fugir a oportunidade.
Sentou-se.
O funcionário, zeloso e rotineiro, encostou-se mais à janela, sem sequer o olhar.
O puto espreitou as notícias e fungou ruidosamente.
Mais um pequeno encosto e nova espreitadela, acompanhada de nova fungadela.
Visivelmente incomodado, o zeloso funcionário encostou-se ainda mais e murmurou, para dentro, um impropério dirigido a "esta mocidade".
Já tinham descido S. Vicente e a Sé estava à vista. 
A página do desporto era apelativa. Benfica-Sporting no dia anterior com vitória, claro, das águias, o puto queria ler tudo antes da paragem onde sairia e ela já estava mesmo ali.
Encostou-se ainda mais, debruçou-se para ler em baixo, quase cavalgou o homem, fungou, espreitou, fungou de novo.
Não resistiu.
- Ó menino, não tem um lenço?
- Tenho ... mas não empresto! 

domingo, 12 de julho de 2020

Carro entediado

E se ...
O carro utilizado para as viagens mais longas permanece na garagem há mais de três meses.
Utiliza-se o "micro-ondas" (como lhe chama o meu neto mais novo) para as idas à praia e para as pequenas voltas na cidade, e o coitado do maior já deve estar a "chocar" alguma depressão por força do confinamento.
A garagem tem espaço, até tem luz solar, mas isso não deve ser suficiente para que o tédio de não sair à rua, não acelerar, não ver companheiros, não pisar alcatrão, não apanhar sol na "moleirinha" nem vento nas janelas, não lhe tome conta dos pensamentos e das amarguras vivenciais. Pobre coitado!
Por vezes deve ouvir as conversas e criar expectativas, até porque tem o depósito cheio e ele sente-o.
Será desta, pensa. E logo ouve as duas palavras mágicas:
          - E se ...
Não, não é ainda!

sábado, 11 de julho de 2020

A idade dos porquês

Dum disco todo ele uma maravilha, o relembrar de tempos idos, com música e palavras lindas.

sexta-feira, 10 de julho de 2020

Campeões Europeus

                 
Há quatro anos, exactamente neste dia, Portugal foi Campeão Europeu de Futebol, derrotando na final a França, por 1-0, com o golo inesquecível de Éder. 
Nessa altura, o banco onde trabalhava produzia uma revista trimestral, destinada a todos os colaboradores do departamento, e nela publiquei o texto, emotivo, que agora aqui replico, já mais calmo mas ainda com as emoções bem frescas e à flor ... dos olhos.

CRÓNICA DA ANGÚSTIA E DA ALEGRIA
(...) Ouve o silêncio - a voz universal
Só ele é o verdadeiro confidente
Do coração de tudo (...)            

Câmara Ardente
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (1995)

Para quem gosta de futebol - e eu gosto muito e há muitos anos - ver um bom jogo transmite uma alegria, uma disposição, um prazer, difíceis de explicar mas facílimos de sentir: o passe longo para o extremo, com que ninguém conta e que, surpreendentemente, o deixa isolado; o voo do guarda-redes que defende para canto quando toda a gente já salta gritando golo; a finta que "parte" o defesa e permite "perguntar" ao guardião para que lado quer; o remate do "meio da rua" que coloca a "bola na gaveta", são apenas alguns exemplos dos momentos de maravilha que o espectáculo nos oferece.
Porém ... situações há em que o jogo de que tanto gosto traz consigo angústia, nervosismo, palpitação, desespero. Eu explico: tenho com o seleccionador nacional Fernando Santos uma amizade que já leva mais de 50 anos e, por isso, segui sempre atentamente a sua carreira, desde os juniores do Benfica até à actualidade. Quando nos juntávamos, o futebol fazia parte da conversa e o "treinador de bancada" igual a milhões de outros que eu também sou, dava as opiniões sobre estratégias, jogadores, escolhas, resultados. A sua voz, pausada e calma, punha, ao fim de algum tempo, fim ao tema:

"Quando conseguires ver futebol sem olhar para a bola, começas a perceber alguma coisa disto!"

Há cerca de 10 anos, assistir a (alguns) jogos de futebol passou a ser um suplício. 
Concluída a formação na área e após um ano a dar aulas, o meu filho passou a integrar a equipa técnica do Fernando, primeiro na Grécia (AEK) e depois acompanhando todo o seu percurso (Benfica, PAOK, Selecção da Grécia e, presentemente, Selecção de todos nós).
Na Grécia, o drama começava com a busca de um site (quase sempre "manhoso") onde ver o jogo, mesmo com paragens, cortes e, muitas vezes, um écran negro, um som de inglês arrevesado ou de grego incompreensível (para mim). Nessa época, as notícias sobre os problemas gregos eram diárias e muitas vezes amplificadas. Ao final do dia, o Skype ajudava a esbater a preocupação sentida ao saber das manifestações, das cargas policiais, da crise, da falta de dinheiro, da hipótese de haver venda de ilhas, da fome nas ruas, um sem número de acontecimentos que, para quem está longe e de coração apertado, se transformam na desgraça iminente e são difíceis de aguentar e de mascarar para fora.
Depois, a alegria do regresso a Portugal - ainda por cima para o (meu) Benfica - toldada pelas dificuldades em ir ao café, pela necessidade de não ter ouvidos, de fazer de conta, de ter de ler notícias falsas e escutar mentiras absurdas afirmadas como verdades indiscutíveis, a angústia do resultado a sobrepor-se ao prazer de ver o jogo. E a culpa é sempre do treinador ...
De novo a Grécia. Primeiro o PAOK, de Salónica, cidade que vive o futebol com uma paixão intensa, incontrolada e incontrolável. As imagens televisivas mostravam-na e, ao vivo, tudo se confirmava. 
A Selecção grega trouxe alguma folga: não havia jogos todas as semanas, as notícias não martelavam tanto, e o Europeu da Croácia e o Mundial do Brasil deram muitas alegrias.
Fui grego nesse tempo ...
Eis que, como na parábola, o bom filho à casa torna e pela porta grande!
Nunca me passou pela cabeça ver o meu filho na equipa técnica da nossa Selecção. Mas está!
E foi Campeão Europeu ... e chorei convulsivamente!
Hoje ainda continuo com dificuldade em controlar a emoção quando falo ou escrevo sobre aquela epopeia. E é melhor parar para que o papel não fique manchado ...
O futuro trará o costume: a bola baterá na trave, o guarda-redes dará um "frango", o defesa será fintado infantilmente, o médio errará o passe, o avançado falhará o golo certo e milhões de "treinadores de bancada", como eu, fariam bem melhor do que aqueles "nabos" que estão no "banco".
Cá por mim, continuarei a gostar muito de futebol e a sofrer ainda mais, caladinho no canto do meu sofá ou na cadeirinha da bancada, indiferente ao que se diz à minha volta.
Prezo muito a amizade e até os filhos da coruja são os mais bonitos do mundo!
Porém, nunca aprenderei a ver futebol sem olhar para a bola!
Outubro de 2016

quinta-feira, 9 de julho de 2020

Formigas

A estrada da montanha terminava a uns quinhentos metros da casa e tinha cerca de dois quilómetros de extensão, bem íngreme, em terra batida. 
A vista era deslumbrante e, bem lá no cimo, ainda permanecia a neve branca trazida pelo último Inverno. O horizonte era interminável e o verde predominante, num fim de tarde radioso e de temperatura agradável.
A casa seria o nosso albergue nas duas noites que ficaríamos em Basel mas, para isso, era necessário chegar lá a pé, pelos socalcos de um carreiro que obrigava a uma "bicha de pirilau" aprendida vários anos antes na instrução militar.
O Werner caminhava na frente, visivelmente agradado por disponibilizar  a sua casa de montanha a meia dúzia de compatriotas da mulher.
Mas ...
            - Alto, gritou.
Tinha parado junto a um carreiro de formigas, bem assinalado por dois montinhos de areia fina feitos pelas próprias.
           - Estamos na Suíça e aqui, ao contrário de em Portugal, não se pisam formigas e muito menos
             se dão pontapés nos montes de areia que elas tão bem executam.
Ninguém comentou.
Todos entenderam a mensagem e deram um pequeno salto, para não perturbar o afã do formigueiro.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

Banco de Portugal

Acabou o reinado de Carlos Costa no Banco de Portugal.
Espera-se e deseja-se que o novo regime seja republicano e que aconteça o que sucedeu há alguns anos em Belém.
Sai Costa e entra Mário Centeno, e o mais provável é que nem a secretária seja a mesma, numa época em que a higienização é fundamental.
Resta antever que um técnico de tão alto gabarito deverá ir presidir ao Novo Banco ou às comissões liquidatárias do BPN, do BES ou do Banif ou talvez, quem sabe, à administração do Montepio Geral.

terça-feira, 7 de julho de 2020

Isto e o seu contrário

A situação actual no país, e no mundo, faz-nos sentir embaraços, dúvidas e ansiedades que não esperávamos nos estarem ainda reservadas.
É a vida, dirão muitos, com toda a razão. Pelo menos pensando assim dormimos mais descansados.
As notícias mais recentes sobre a TAP, a EDP, o Sócrates, a queda do PIB, o turismo, o desemprego, o orçamento, a oposição, o governo, as presidenciais, o corona, o Bolsonaro, o Trump, o racismo e os refugiados, a miséria e as desgraças, os comentários, as opiniões, as certezas dos mesmos e as dúvidas da grande maioria, transmitem-nos angústia numa altura em que a mobilização e o querer deviam ter primazia e a sensação de se ser enganado nem por um bocadinho poderia vir ao nosso espírito.
Todavia ...

Quando era jovem, contava-se que Bocage tinha um dia entrado num café e pedido:
- Meia dúzia de pastéis de nata, por favor.
O empregado, solícito, colocou os bolos numa caixinha, bem arrumados e ainda quentinhos, pôs a tampa e a caixa em cima do balcão.
- Pensei melhor. Prefiro antes meia dúzia de pastéis de feijão. Têm tão bom aspecto.
- Sem problema, trocam-se já. 
Nova caixa, agora com pastéis de feijão. Bocage pega nela e encaminha-se para a saída.
- Ó senhor Bocage, esqueceu-se de pagar os pastéis de feijão.
- Não me esqueci. Troquei-os pelos de nata. 
- Mas também não pagou os de nata!
- Como quer que os pague se os deixo aí.
E saiu porta fora, por certo a salivar e ansioso por deglutir o feijão e o açúcar dos pastelinhos.
Imagino como se deve ter sentido o empregado, sem argumentos para contrariar tal evidência. É a vida!

segunda-feira, 6 de julho de 2020

Quotidiano

Não tenho o fantasma da folha em branco - presunção e água benta cada um toma a que quer - mas não me apetece escrever sobre nada, nem sequer sobre a manhã, maravilhosa, que hoje encontrei na Foz. 
Tudo perfeito: sem vento, sol aberto, temperatura agradável e água, como de costume, muito fria.
Parafraseando um companheiro de banhos: "é massagem cardíaca". Soube bem!
Como sempre, não se sabe o que irá acontecer amanhã e não vale a pena fazer planos. 
De manhã, saberemos o que o S. Pedro nos reserva e agiremos em conformidade, como soe dizer-se.
Entretanto, as bandeiras foram finalmente içadas, por certo com a pompa e a circunstância devidas, estando agora disponível para toda a gente que estamos numa praia "azul, dourada e acessível".
E que já tem um lava-pés no início de uma das escadas de acesso. 
Finalmente!

domingo, 5 de julho de 2020

Netos

Nasceu na capital, há 14 anos. Parece que foi ontem.
Foi o primeiro dos quatro que, até à pandemia, faziam as delícias da casa, com as brincadeiras, os jogos, as "malandrices" e o carinho que todos transmitem, de forma diferente porque cada um  tem a sua personalidade e bem forte. (Quando eu era da idade deles era teimoso)
O Gil é o meu neto GRANDE. É quase sempre assim que o trato e ele sorri, com aquele ar meio tímido que tão bem lhe fica.
Já me olha de cima para baixo: vai no metro e oitenta e a tendência parece ser para o infinito! Calça mais seis números do que eu e, se nadasse a meu lado, dava-me pelo menos uma piscina de avanço.
Bom aluno, bom leitor, bom atleta, vive agora a fase que todos conhecemos e que bem nos lembramos, mas vai passar depressa. 
Não perde a delicadeza nem a simpatia e deixa o avô "babado" desde que nasceu.
É GRANDE, o meu neto Gil.


          PARABÉNS, GIL

sexta-feira, 3 de julho de 2020

Quotidiano

Já lá vão quase quatro meses a conviver com o "novo normal" e a luz ao fundo do túnel ainda nem tremelica.
"O medo é que guarda a vinha", diz um ditado popular que, como quase todos, encerra verdade e sapiência. 
Somos hoje altamente influenciados pelo medo, que nos constrange, impede, influencia, nos torna cautelosos, desconfiados e nos transporta sempre de pé atrás, "não vá o diabo tecê-las".
E se ...? 
O melhor é ficar em casa. Na dúvida ...

quinta-feira, 2 de julho de 2020

Bibliotecas

Ontem assinalou-se o Dia Mundial das Bibliotecas.
Embora já me vá fartando dos "Dias Mundiais" por tudo e por nada, as bibliotecas têm todo o direito a ter um Dia Especial, realçando que em todos os outros a sua importância também é enorme, por aquilo que dão e pelo que representam, historicamente, a quem delas se serviu com grande proveito e sem custos.
Ler foi sempre, e ainda é, uma das minhas grandes paixões.
Comecei a ler muito novo, bem antes de entrar para a primária, graças à minha irmã, três anos mais velha, que dedicava o tempo dos trabalhos de casa à meritória tarefa de os partilhar comigo e com as minhas impertinências. Como recompensa, veio a ser professora e a aturar alunos muito piores que o irmão.
Para além dos livros da escola, com a bandeira da "bufa" (como era conhecida a Mocidade Portuguesa) desfraldada na capa, dos bois do Jeirinhas, da balada da neve, da casa portuguesa, com certeza, com pão e vinho sobre a mesa, quatro paredes caiadas e um cheirinho a alecrim, já não consigo lembrar-me com exactidão de quando comecei a ler o Jornal de Notícias. O meu pai ia ao Porto de segunda a sexta-feira e quase todos os dias trazia o JN. Recordo o jornal, enorme, aberto sobre o chão da cozinha e o miúdo a soletrar as notícias, do terramoto de Agadir ao assalto ao Santa Maria, da invasão da Índia, do caso da herança Sommer, do quadrado pequenino do Serviço de Informação Pública das Forças Armadas, que comunicava as mortes dos soldados na guerra, nunca mais de dois. Recordo, ainda, as caricaturas de Miranda, na última página, e o problema das palavras cruzadas, cujo vício de resolver ainda hoje mantenho.
Depois, vieram as bibliotecas, itinerantes e fixas, que facultaram o acesso aos livros que não habitavam lá por casa, de Júlio Dinis a Eça de Queiroz, de Namora a Aquilino, de Garrett a Herculano, sempre graças à Fundação Calouste Gulbenkian
Hoje, também eu tenho uma, passe a vaidade, razoável biblioteca, abastecida com regularidade há muitos anos, que não é itinerante mas está sempre disponível para bons leitores.

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Amália - 100 Anos

Se fosse viva, Amália festejaria hoje 100 anos.
Não festeja, mas consegue ser, para além da brilhante cantora que sempre foi, uma figura consensual na sociedade, coisa que nem sempre aconteceu.
Parece que, finalmente, todos lhe reconhecem os méritos que a levaram a cantar nas melhores casas de espectáculo pelo mundo fora e a ser considerada uma diva, do Brasil ao Japão, da Rússia à China, da França à Argentina.
Deu voz a grandes poetas, contribuindo para a divulgação da grande poesia portuguesa e, sem sombra de dúvida, deu um valioso contributo para que o fado fosse reconhecido pela Unesco como Património Imaterial da Humanidade.
E, passados tantos anos a ouvi-la, conclui-se sempre que a sua voz é única.