quarta-feira, 31 de agosto de 2022

A acabar ... ou talvez não

Agosto está a chegar ao fim e o mar quer deixar claro que é ele quem manda e não vale a pena perder tempo a espreitar o boletim meteorológico ou as aplicações que tudo mostram, quando as câmaras estão a funcionar, o que não acontece já há alguns dias com a da Foz. Dizem que está assim ou vai estar assado, que estará nublado e com boas abertas, com a temperatura a descer e nortada forte, havendo até possibilidades de alguns chuviscos. Tretas!

Chega-se lá e nada do que estava previsto está a acontecer. O mar está chão, corre apenas uma pequena brisa, a água tem uma temperatura óptima (para quem está habituado ao gelo), que delicia os veraneantes, bem menos do que na passada semana. Bandeira verde, a contribuir para a estatística e a contradizer aqueles que dizem que a Foz só tem duas cores: amarelo e vermelha.

- Tem cuidado. Sem dares por isso, foste arrastado um bom bocado para o lado da aberta.

Há-de haver sempre um defeito ... 

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Saúde

Fazer frente aos interesses corporativos instalados acaba sempre da mesma maneira. Via-se, e sabia-se, que era uma questão de tempo.

Marta Temido demitiu-se esta madrugada da função de Ministra da Saúde, tomando a decisão há muito reclamada por opinion makers e por gente que trabalha tanto, mas tanto, e ainda consegue comentar tudo e um par de botas a qualquer momento, fazendo parecer que esse "trabalho" lhe ocupou muito do seu sagrado tempo e lhe vai custar recuperar a perda. É claro que esse sacrifício é pela boa causa de esclarecer o "Zé" que, coitado, continua a precisar de quem o eduque, mastigando-lhe a comida para lhe evitar o trabalho de pensar, acessível apenas a uma meia dúzia de dotados.

Há já muita gente à espera, todos extremamente capazes de fazer bem melhor e mais rápido. António Costa não terá qualquer dificuldade em preencher o lugar e não será contestado, se estiver disponível para escolher alguém que marche ao som da banda e faça a vontade a quem disto sabe a potes e a quem coça sempre para dentro.

Da ex-Ministra da Saúde ficará, para alguns onde me incluo, a recordação da coragem, da dedicação e do empenho, postos na função e na resolução dos problemas gravíssimos que a saúde atravessava e a pandemia agravou. A mulher que mostrou ser forte, mesmo quando as lágrimas caíram.

segunda-feira, 29 de agosto de 2022

Aritmética

No início acontecia de vez em quando. Duas, três vezes por semana, nunca até muito tarde e sem abuso de copos. A pouco e pouco, o que era excepção passou a rotina e, no final de cada dia de trabalho, ao primeiro copo com um colega seguiam-se muitos outros, com um companheiro de ocasião, um cliente já conhecido da tasca, um que vinha pela primeira vez e necessitava de ser incluído. Umas rodelas de chouriço, uma saladinha de polvo, uns bocadinhos de orelha com oregãos, uns tremocinhos, uns amendoins, e o copo sempre cheio.

A bebedeira não tardava e o regresso a casa acontecia cada vez mais tarde. O hábito de jantar foi desaparecendo, o de encontrar a mulher acordada também. A casa passou a ser apenas local de pernoita, e breve.

Naquela noite, chegou um pouco mais cedo e, como sempre, trôpego da carga. Dirigiu-se à cama e pareceu-lhe que o espaço vago era estreito para albergar o seu corpo meio torcido. Desconfiado, deitou-se.

- Um, dois, três, quatro, cinco, seis, contou.

- Estou muito bêbedo ... dois meus e dois da minha mulher são quatro.

Saiu da cama. Arrastou-se até ao fundo e, agora com as mãos, contou de novo.

- Um, dois, três, quatro. Certo! Dois meus e dois da minha mulher.

Voltou a deitar-se e nova dúvida aritmética.

- Um, dois, três, quatro, cinco, seis. Está mal! Bebi assim tanto?

Levantou-se de novo, arrastou-se até ao fundo da cama, segurou-se bem e contou de novo.

- Um, dois, três, quatro. Certíssimo! Dois meus e dois da minha mulher. Vou dormir que o meu mal é sono.

Acordou tarde e ficou surpreendido por não haver mais ninguém na cama. Chamou. Ninguém respondeu. Levantou-se, foi à cozinha, passou pela casa de banho, espreitou a sala, nem vivalma. A porta da rua estava aberta ... nunca mais teve dúvidas na contagem.

A partir daquela noite, passou a haver apenas dois pés na cama!

domingo, 28 de agosto de 2022

Gás

Não há gás para escrever. 

Com os aumentos que se diz estarem a chegar, é imperioso começar a poupá-lo, perseguindo o objectivo de o fazer chegar para as necessidades vitais, sem consumir uma grande fatia do rendimento mensal.

Espera-se, ansiosamente, que Costa e Marcelo se entendam e que regulem o que há a regular, e soltem o que é passível de soltura, de acordo com as leis em vigor, sejam elas do direito direito ou do que não está estabelecido em letra de forma mas toda a gente pratica.

Os gases ficarão eternamente agradecidos, com a consciência plena de que não têm vida fácil e lhes são colocadas muitas barreiras e impedimentos.

sábado, 27 de agosto de 2022

Técnica de vendas

A ânsia e a necessidade de aparecerem estão a tornar, por vontade própria, a vida privada das ditas celebridades uma porta escancarada a tudo o que fazem, nos locais mais exóticos e nas poses mais ousadas.

As redes ditas sociais vieram trazer à superfície aquilo que, antes, só os que tinham acesso às revistas da fofoquice ou aos programas cor de rosa  das televisões podiam ver. Hoje, essas revistas e esses programas têm a vida facilitada, limitando-se a espreitar as páginas de cada uma das celebridades e a delas retirarem um manancial de fotos, ditos, exibições, poses, revelações, mais do que suficientes para encher páginas e páginas de futilidades.

- Ontem a Cristina Ferreira veio às Caldas ver os D.A.M.A. Publicou uma fotografia no Instagram, junto à Loja do Cara**o.

Como bom curioso, fui à procura e encontrei a fotografia da senhora, sem a identificação da loja, por falso pudor ou pela necessidade de não desviar atenções. O objectivo era fazer publicidade às sapatilhas que trazia calçadas e que, pelos vistos, pertencem à sua nova colecção. Lembrei-me, sem esforço, de uma brincadeira pseudo-publicitária com que, há longos anos, jovens atrevidos brincavam.

"Comprem, meninas, comprem, meias da Casa Baona, que vão das pontas dos pés até às bordas da ... comprem, meninas, comprem!"

Para ser politicamente correcto, actualizar o dito e adequá-lo à foto, a legenda deveria ser:

Comprem, meninas e meninos
Ténis da Cristina Ferreira
São brancos, pretos, mui finos 
E tornam a marcha foleira!

sexta-feira, 26 de agosto de 2022

Lixos

As garrafas de cerveja, vazias, os maços de tabaco, vazios, as embalagens de iogurtes, vazias, os jornais, poucos, os excrementos dos animais, muitos, as "beatas" dos cigarros, muitas, o papel pardo que embrulhou a sandes, o saco de plástico já utilizado, a caixa de cartão onde vinha o brinquedo, a máscara utilizada, o guardanapo de papel que serviu para limpar os beiços ou qualquer outra parte, tudo isto faz parte da paisagem usufruída por quem ousa andar pela cidade sem ser de carro.

Se se perguntar a todos e a cada um, ninguém acha normal e todos referirão, até, que nunca o fazem. E o raio do lixo aparece, talvez caído do céu aos trambolhões ou deixado por algum ET distraído e com pressa de regressar ao seu planeta. Até na praia, onde toda a gente anda descalça, felizmente não por necessidade mas apenas pelo prazer de pisar a areia e sentir a água, o lixo está sempre presente. A garrafa enorme, que o pescador levou para lhe fazer companhia e que dela se "esqueceu", a caixa dos anzóis que já não os tem e, por isso, se deita fora, o saco que levou a marmita e algum resto dela, se o mar o não levou. Tudo se encontra, sem sequer procurar muito.

Continua a não existir respeito pelos outros e pelo espaço que é de todos. A carapuça é para quem a enfia, mas talvez se justifique espalhar cartazes à laia de sinais de trânsito, bem visíveis, com a mensagem:

Eduque-se. Não seja PORCO. Leve o lixo consigo e coloque-o no caixote.

quinta-feira, 25 de agosto de 2022

Livros (lidos ou em vias disso)

Há partes da nossa história que, ao invés de serem escondidas, deveriam ser divulgadas, estudadas e bem difundidas por toda a gente, para que todos pudéssemos aprender cedo que há um reverso e que, enquanto povo, temos muitas coisas que nos orgulham mas também temos muitas outras que nos envergonham e delas não nos devemos esquecer.

O volfrâmio, a escravatura, o colonialismo, a crendice, os massacres, a miséria, a subserviência, o poder, a vontade de o ter e a forma de o exercer, causam sobressalto na leitura e vontade de chegar depressa ao fim, digerindo muito bem o que vai ficando contado, num misto de ficção e realidade e com um domínio incrível da forma.

"(...) Foi quando chegaram dois novos reclusos. O jipe estacionara perto da vala e Pedro olhou de soslaio enquanto descarregava as pedras. Conhecia um deles. Era o mulato Toni. O respeitado zelador da Câmara Municipal. Pedro seguia na direcção da pedreira e ouvia os berros e as ameaças do costume. O vocabulário a reduzir-se a categorias simples. A repetições. Começava a ser sempre o mesmo. Dia após dia. Meu filho da puta. Fuba. Cabrão de merda. Esvaziar o mar. Ó-aí-tu-ó-artista. Massapão. Confessar. Britar pedras. Encher as tinas. Secção. Bate-pá, que o gajo fala. É só assinar esta declaração.

À tarde já Toni se integrava nos trabalhos. Pedro cumprimentou-o quando o viu subir na primeira viagem a caminho da pedreira. O zelador da Câmara respondeu com um sorriso. 

E então chegou um carro com o Governador e Xavier Sarmiento. O chofer numa corridinha a abrir as portas para que o senhor Governador da Província e o chefe-geral das milícias não tivessem de dar-se à maçada de puxar um manípulo. Xavier de bengalim.

Ficaram os três a falar em voz baixa e a fazer gestos na direcção da fila de homens que continuava a descer como se fosse um corpo único. O chofer, depois, aproximou-se a olhar uns e outros. Andava numa passada cadenciada e estudada de soldado recruta e tinha divisas de sargento a lustrar nos ombros. A farda assentava-lhe mal. Arranjada à pressa. Mas dava-lhe uma identidade nova, e ele caminhava de cabeça muito erguida e de peito de fora como se fosse já uma outra pessoa, e não o Almeida, o subserviente, sempre às ordens da senhora e das meninas da Roça Bragança, quando a senhora ou as meninas precisavam de motorista para ir à cidade ou de passeio às praias do Sul.

Pedro abrandara ligeiramente o passo na fila a olhar o sargento-chofer e a procurar perceber se havia relação entre a chegada do jipe com dois novos reclusos e a chegada do automóvel com a comitiva do motorista-Almeida transformado em sargento das milícias.

O certo é que desapareceram em direcção ao armazém, e durante algum tempo retomou-se a anormalidade já corrente nos trabalhos da secção de transportar pedras à cabeça para encher as valas. Até que o grupo do Governador apareceu de novo a olhar ao longe, e o subserviente-Almeida se aproximou, e os guardas iniciaram um movimento harmonioso e disciplinado de ordem unida a chicotear reclusos.

- É aquele. (...)"

As pessoas invisíveis
José Carlos Barros
Leya (2022)

quarta-feira, 24 de agosto de 2022

Eternidade?

Seis meses decorridos e "tudo na mesma, como a lesma".

A guerra, que a Rússia promoveu ao invadir a Ucrânia, continua sem sinais de acabar. Nem as perspectivas de abrandamento surgem e muito menos aparecem ideias que possam levar aos caminhos da paz.

Tudo tende para infinito, como na matemática, e não há ninguém que levante a voz e diga:

- Basta!

Até quando os interesses se sobreporão às dificuldades das gentes que sofrem na pele e aos que irão, ou já estão, a sentir o peso na carteira?

terça-feira, 23 de agosto de 2022

segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Serventia

Não era um pedreiro qualquer, muito menos um trolha daqueles que sujam muito e fazem mal. Era conhecido pela perfeição com que executava todos os trabalhos e pela capacidade em arranjar soluções, mesmo nos casos bicudos. Também eram parte intrínseca dele o mau feitio, a ausência de um sorriso, o semblante sempre fechado e carregado, e a exigência de ter sempre um servente a seu lado. Recusava trabalhar sozinho e era ele que escolhia o acompanhante.

Falava baixo e devagar, com momentos em que as palavras eram sussurradas, numa momice exclusiva e impossível de entender. A perfeição com que executava tudo o que lhe era pedido superava os atributos negativos, que fazia gala em exibir, sabendo que só recorriam a ele quando mais ninguém era capaz. Era bom no que fazia, e sabia-o. Quando era preciso, havia que aturá-lo mais as suas exigências.

Daquela vez foi-lhe pedido que arranjasse um bocado de parede junto à porta principal, caído em consequência de uma manobra mal calculada do tractorista, quando se aprestava para recolher um monte de folhas no pátio da entrada. Era fundamental que o trabalho fosse feito depressa e bem e, para isso, havia pouco quem. Era necessário impedir a todo o custo que o patrão, quando regressasse, se apercebesse do que tinha acontecido. Só o João conseguiria ...

- Quero o Joaquim comigo!

Sem discussão, foi-lhe feita a vontade. Pediu também um banco para se sentar, dado que o trabalho era a nível baixo e já lhe custava dobrar-se. O Joaquim cirandava de um lado para o outro, cumprindo as suas ordens, secas e claras.

- Cimento ... areia ... água ... esponja ... pincel ...

Tudo o que era necessário para a perfeição da obra tinha de aparecer mal ele abria a boca. Numa das deslocações, o Joaquim demorou mais um pouco e 

- Ó Joaquim ... Joaquim (mais alto) ... Joaquim (um berro)

- Diga, senhor João.

- Dá-me ali aquela colher.

A colher tinha-lhe caído das mãos e estava ali, perfeitamente ao seu alcance. Apanhá-la era trabalho de servente!

domingo, 21 de agosto de 2022

Palavras bonitas

MULHER-POETISA

Pareces um mistério
intransponível

Alguém que se
esquivou 
ao seu preceito

Na recusa
de obedecer à vida

Ao quererem-te domada
e desse jeito
dócil  obediente  submissa

<<Impossível>> - respondeste
branda e esquiva

Sou mulher
Revoltosa
E poetisa

Poemas para Leonor
Maria Teresa Horta
D. Quixote (2012)

sábado, 20 de agosto de 2022

Contrastes

Uma manhã de sonho, admitindo-se como verdade que se pode sonhar com o passado, estando bem acordado e com uma realidade visível e sentida.

Já se sabia (o saber da experiência feito) que a semana de mar calmo, céu azul e vento ausente servia apenas de engodo, e que viriam dias, muitos, para se sonhar, e recordar, essa dádiva tão fugaz.

Ontem o vento não deu sossego, o mar só deixou entrar na "aberta", mas o sol ainda nos veio visitar. Hoje até o astro-rei faltou. Céu cinzento, mar revolto, nem a camisola saiu do tronco. O "tapume" ainda foi colocado, a bola de Berlim comprada, umas dúzias de páginas lidas.

- Pode ser que abra ...

Um outro teimoso aproveitou para falar sobre a sua desdita, demonstrando que o trabalho pode, se não nos acautelamos, ser um modo quase de morte e não um modo de vida. 

- É preciso ter calma. Tudo se vai resolver ...

A palmadinha nas costas que soluciona todos os problemas, quando estes acontecem aos outros ...

- E, com isto tudo, já é meio dia e vinte e do sol, nem sombra!

Teimosos, amanhã voltarão. Há sempre a esperança de que o calor que grassa no país experimente vir até à Foz e dê tréguas aos fogos que o fustigam de lés a lés.

sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Recordações

Numa época em que os animais, e muito bem, são acarinhados e há muita gente a envidar esforços para que sejam respeitados, a memória fez "ressuscitar" um conjunto de quadras que constavam de um dos livros da instrução primária, talvez o da 4ª. classe. 

A "enciclopédia Net" esclareceu que o seu autor foi Pedro Diniz (1839?-1896) e que Antero de Quental o recolheu no seu Tesouro Poético da Infância, livro que não consta da biblioteca caseira mas que ainda é possível encontrar à venda.

E, em rima, se confirma e esclarece que o corvo crocita, a raposa regouga e alguns burros, não todos, zurram

                    VOZES DOS ANIMAIS

Palram pega e papagaio                                        O pardal, daninho aos campos,
E cacareja a galinha;                                             Não aprendeu a cantar;
Os ternos pombos arrulham,                               Como os ratos e as doninhas,
Geme a rola inocentinha.                                      Apenas sabe chiar.

Muge a vaca, berra o touro;                                 O negro corvo crocita;
Grasna a rã, ruge o leão;                                      Zune o mosquito enfadonho;
O gato mia, uiva o lobo,                                       A serpente no deserto
Também uiva e ladra o cão.                                 Solta assobio medonho.

Relincha o nobre cavalo;                                      Chia a lebre; grasna o pato;
Os elefantes dão urros;                                         Ouvem-se os porcos grunhir;
A tímida ovelha bale;                                            Libando o suco das flores,
Zurrar é próprio dos burros.                                Costuma a abelha zumbir.

Regouga a sagaz raposa                                       Bramam os tigres, as onças;
(Bichinho muito matreiro);                                   Pia, pia o pintainho;
Nos ramos cantam as aves,                                  Cucurica e canta o galo;
Mas pia o mocho agoureiro.                                 Late e gane o cachorrinho.

Sabem as aves ligeiras                                          A vitelinha dá berros;
O canto seu variar;                                               O cordeirinho balidos
Fazem às vezes gorjeios,                                     O macaquinho dá guinchos;
Às vezes põem-se a chilrar.                                A criancinha, vagidos.

                                                A fala foi dada ao homem,
                                                Rei dos outros animais.
                                                Nos versos lidos acima,
                                                Se encontram, em pobre rima,
                                                As vozes dos principais.

quinta-feira, 18 de agosto de 2022

Sapiência

Dragomir Knapic, um refugiado da então Jugoslávia a leccionar em Portugal, ensinou-me, há mais de meio século que "quanto mais sei, maior é a minha ignorância". E este  pensamento acompanha-me desde então e mantêm-se sempre actual.

Hoje, ao continuar a Mocidade Portuguesa, de Jorge Calado, obra já aqui referida e cuja leitura se encontra quase, quase no fim, retive uma citação de uma peça de teatro escrita por William Shakespeare no final do século XVI ou no princípio do XVII, que não conhecia. A peça chama-se "Como lhe aprouver", tem uma personagem com o meu nome próprio, razão mais do que suficiente para figurar por aqui e tem esta frase deliciosa:

"Um tonto pensa que é sábio, e um sábio sabe que é tonto"

Está tudo dito!

quarta-feira, 17 de agosto de 2022

Carreira ... de tiro

Terminou o folhetim Sérgio Figueiredo. O consultor indigitado acabou por não assinar o contrato, por se considerar vítima de "assassinato de carácter" movido pelos jornalistas, seus colegas de profissão, e pelos assíduos e verrinosos comentadores das redes ditas sociais. 

"Não basta à mulher de César ser séria, é preciso parecê-lo" e, convenhamos, este até podia ter sido um processo de nomeação sério, resultante da necessidade e do mérito do candidato para a função, mas não pareceu nada.

Fernando Medina lá terá de procurar uma nova pessoa para desempenhar as funções de consultor para políticas públicas, tarefa que deve ter tanto de essencial para o futuro do país como de dificuldade em conseguir encontrar quem a possa exercer com a sapiência exigida.

A função de Ministro devia ser exercida apenas após o candidato demonstrar ter cumprido o serviço militar ou, em alternativa, ter frequentado, com aproveitamento comprovado, um workshop onde tivessem sido ministrados os conceitos básicos do tiro, para se ter a certeza de que, quem exerce funções de tão alta responsabilidade, sabe que os pés não podem ser atingidos de forma tão primária.

terça-feira, 16 de agosto de 2022

Escutas

Da farmácia saiu a mais velha e mais adiposa. Aparenta ser quarentona e muito atenta a tudo o que a rodeia. Os seus olhos perpassam pela paisagem e alcançam a outra num relance, ainda que houvesse quinze ou vinte metros a separá-las. Esta caminhava com alguma pressa, parecia mais nova e um pouco desengonçada, com os cabelos louros com raiz castanha a esvoaçarem.

- Que surpresa! Ainda bem que vim à farmácia ...

Depois da efusiva troca de beijos, a necessidade de pôr a conversa em dia fez-se sentir e surgiram as perguntas da praxe, desde " o que tens feito", até ao "como estão vocês", passando pelo "com saúde, isso é qu'interessa".

Os decibéis são elevados e mesmo dentro do carro ouve-se e entende-se tudo sem qualquer dificuldade.

- 'Tá alguém doente?

Exibe a caixa do medicamento.

- É para o meu gato.

- E vende-se na farmácia?

A atenção redobrou, embora a aproximação e o volume o dispensassem.

- Claro! Até pedi à médica de família que me passasse a receita, mas a p..a respondeu que a lei não deixava.

- Leis do c.....o ...

 - Já viste ... tive de pagar tudo!

O tempo, o corona, a praia, os preços, as férias que ainda não chegaram,

- Hoje 'tou de folga.

- Ta'mem eu!

tudo foi motivo de conversa gritada e a correr, que o tempo urge. O vernáculo sempre presente, para ilustrar a cena e demonstrar a quem ouve que as mulheres também o dominam. Haja igualdade ...

Despediram-se com grande entusiasmo, preconizando um próximo encontro com a presença de todos e uma boa patuscada.

- E uns copos valentes ...

- A gente precisa é disso!

Desapareceram tão depressa que nem tive tempo de aconselhar: talvez seja melhor pedir a receita à médica de família, não vá o vinho ser azedo e fazer mal ao estômago.

segunda-feira, 15 de agosto de 2022

Macacadas

Cada macaco no seu galho, diz-se quando há atropelos de quem não sabe de determinada poda e palpita sobre a forma como o podador deve cortar os ramos. Não faço ideia se, nos outros países haverá ditados que reflictam o mesmo e se também existem "capelinhas" inacessíveis e determinações fortes sobre quem faz o quê, mesmo quando há outros bem mais habilitados. Por cá, concluo, as fronteiras de cada grupinho são intransponíveis e nem com passaporte se podem passar.

Lembrei-me hoje de um episódio de Dezembro de 2020, por alturas da chegada das vacinas para o coronavírus e que, por aqui, foi comentado de forma sarcástica. Via eu com alguma atenção a última etapa da Volta a Portugal em Bicicleta e eis que surge uma situação em tudo semelhante ao que se tinha passado em 2020 e que, julgava eu na minha inocência, deveria ter sido resolvida com a saída do grande Cabrita.

A segurança e a escolta da Volta foi feita pela GNR, como acontece há muitos, muitos anos, desde que esta força substitui a PVT de má memória. Admitia eu que esse serviço era prestado da primeira à última etapa. Afinal não foi assim. Na última etapa, um contra-relógio disputado entre o Porto e Vila Nova de Gaia, as tarefas passaram para a PSP por ser esta a entidade com "direitos" no espaço urbano, embora sem experiência no assunto, como ficou demostrado. 

A inexperiência, a surpresa ou o deslumbramento com a função, cada uma por si ou todas juntas, fizeram com que a moto de um agente estorvasse a prova de um dos corredores, numa etapa que era decisiva e na qual cada um estava apenas entregue a si próprio. Não teve interferência na classificação final, mas podia ter ...

E a pergunta que salta de imediato, na cabeça de quem nada sabe da poda e não é macaco de galho nenhum é:

- Porque carga de água foi a PSP chamada para uma tarefa desempenhada, e bem, pela GNR?

- Caem os parentes na lama se houver outra força a pisar os caminhos do "quintal" da PSP? 

Cada macaco no seu galho ... 

domingo, 14 de agosto de 2022

Mandrião?

Muito afã, pouca vontade, nenhum assunto. Só desculpas ... 

Tudo decorre dentro da normalidade de quem goza férias sem quaisquer preocupações, se delicia no mar, ouve e participa em conversas, de circunstância mas deliciosas. E, mesmo assim, não há rotinas. Os dias são todos semelhantes e, ao mesmo tempo, bem diferentes.

- Há um bocadinho de vento hoje, não achas?

- Que pena não se conseguir passar para a terceira praia!

Muita gente, muitas línguas, muitas caras, gente bonita, alguns nem tanto. Há espaço para todos e hoje nem a zona de banhos estava demarcada. O mar dorme, não se mostra aborrecido, porta-se bem, abre a porta a toda a gente e convida ao disfrute, oferecendo uma temperatura não habitual, a limpidez do costume, o sossego na entrada, na permanência e na saída. Calmaria absoluta!

Uma graçola adequada ao momento:

- Ontem ficaram cá duas pessoas!

- ???

- Perderam o autocarro! 

Mantendo-se esta rotina, finar-se-á o rótulo de terrível que sempre tem sido atribuído ao mar da Foz.

- Não deites foguetes. Parece que a festa acaba amanhã! 

sábado, 13 de agosto de 2022

Livros (lidos ou em vias disso)

Ler foi, é e deverá continuar a ser por muito tempo, espero, um dos meus passatempos favoritos, ao qual dedico diariamente uma boa parte do meu tempo livre com grande prazer. Com frequência sou surpreendido por livros sobre os quais não tinha uma expectativa elevada e, afinal, revelam-se uma enorme e agradável surpresa.

É o caso do que actualmente estou a ler, ou melhor, a devorar, tal é o interesse que me está a despertar.

"(...) A economia doméstica funcionava na base da poupança e da reciclagem. A roupa passava dos mais velhos para os mais novos, por exemplo, do meu irmão para mim. Fatos antigos e gastos do meu pai eram oferecidos aos membros mais necessitados da família, e depois adaptados ao novo corpo. Coisas velhas, avariadas ou partidas não se deitavam fora; antes eram recicladas e/ou remendadas ou passajadas. Lembro-me de ouvir a mantra do <<Guarda o que não presta, acharás o que é preciso>>. Aplicavam-se cotoveleiras às mangas de casacos e camisolas poídas pelo uso, e novos fundilhos aos calções gastos; viravam-se punhos e colarinhos às camisolas coçadas do meu pai; os sapatos levavam tacões, biqueiras, meias-solas ou solas inteiras novas; os tachos e os vasos de barro rachados eram apertados com os <<gatos>> de aço; o latoeiro itinerante substituía os fundos dos tachos metálicos rotos; havia quem soldasse os dentes partidos de garfos, e as facas eram afiadas pelo amola-facas-e-tesouras que todas as semanas fazia a ronda do bairro. O curioso é que ainda encontro muita desta economia de reparação na Nova Iorque actual, emblema do capitalismo. Conheço lojas especializadas só em torneiras ou em aspiradores, com peças e acessórios de modelos quase centenários!

Contava-se então a anedota das poupanças domésticas do ditador Salazar, que em começo de carreira académica ainda usaria talheres quebrados e facas desencabadas. Quando tomou conta do poder e subiu a Presidente do Conselho de Ministros, a governanta, Dona Maria, ter-lhe-ia dito que era tempo de renovar o faqueiro. Ao que Salazar terá respondido: <<Até aqui servi-me dos (talheres) partidos; a partir de agora passo a usar os soldados>>. E assim foi: mandou soldar os talheres em falta, os partidos políticos foram proibidos, e a supressão das liberdades assegurada pela tropa e forças paramilitares. (...)"

Mocidade Portuguesa
Jorge Calado
Imprensa Nacional (2022)

sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Espanto

Continua toda a gente estupefacta e sempre agoirando que os dias bons já são demasiados e irão acabar, sem qualquer dúvida ... amanhã!

Dois dias, três dias, quatro dias e a bandeira do "Sporting" mantém-se inamovível no alto dos três mastros de madeira que se encontram no areal. Até já está a ficar descolorida, situação que só costuma acontecer à do "Benfica" e à do "Estoril", esta a mais habitual ocupante e a que todos os frequentadores bem conhecem e não estranham.

Quando a esmola é muita, o pobre desconfia. O esplendor do sol, a ausência do vento, o mar chão, durante tanto tempo seguidinho, fazem o pobre desconfiar e ouvir os pessimistas: esperem pela pancadaVão chegar dias que nos farão esquecer rapidamente este luxo.

Aproveitar enquanto é tempo. Hoje foi mais uma manhã de sonho, que terminou com a reserva para amanhã, ainda que à condição, não vá o diabo tecê-las. Na Foz, a verdade de hoje pode redundar numa enorme mentira amanhã.

Nota triste: Foi hoje sepultado Fernando Chalana, um dos maiores jogadores de futebol que vi jogar, brilhar e brincar às fintas. Foi cedo demais ...

quinta-feira, 11 de agosto de 2022

Prioridades

Apesar de não haver demonstração científica que o comprove, tudo indica que a capacidade de entendimento diminui na razão directa do aumento da idade. Esta é a conclusão, empírica, de quem circula por aí e aprecia mirar o que se vai passando à sua volta, ainda que com cada vez mais dificuldade em entender.

A rotunda estará a cerca de cem metros e é fácil concluir que algo de anormal por lá se passa: os carros estão parados na faixa da esquerda, a aguardar que o trânsito volte a fluir e permita que a viagem prossiga. Toda a gente percebe que as dez ou doze viaturas estão paradas e são conduzidas por gente a quem a inteligência não bafejou. Estúpidos, não aproveitam a faixa da direita, que se encontra completamente livre e a pedir utilização. Só não vê quem é cego ou burro ...

Surge um, segue-se outro, e outro ainda, acelerando e sorrindo para os papalvos, pouco ou nada dotados e que se mantêm parados. Chegam com a rapidez que a inteligência lhes permite e, afinal, não é possível passar. A faixa está bloqueada por um acidente, situação que a sua inteligência não permitiu perceber, por não entenderem a possibilidade de isso acontecer e menos ainda de uma simples batidela obrigar esta gente estúpida a parar. 

Os seus iluminados cérebros forneceram, de imediato, a solução: liga-se o pisca e, com cuidado não vão estes estúpidos recusar, apertando, entram nos primeiros lugares, circundam o acidente e seguem viagem, por certo dando graças à sua capacidade infinita de arranjarem soluções inteligentes.

Percebi agora, com a lentidão própria de quem é pouco dotado: a prioridade era deles, que se apresentavam pela direita! 

quarta-feira, 10 de agosto de 2022

Livros (lidos ou em vias disso)

Em português do Brasil, sem qualquer resquício do malfadado acordo e com a beleza que a língua portuguesa sempre tem, quando utilizada por quem sabe. Pouco importa se o autor é da África, da América, da Ásia ou deste cantinho europeu. Se for bem escrito, fica aprovado mesmo não havendo acordo.

"(...) Cinco, cinco e meia, é horário de saída das escolinhas do bairro. Bruninho tinha quase dois anos, averiguei quais trabalhavam com essa idade, encontrei duas nas imediações. Celso não teria matriculado o filho muito longe. Deixei o carro na rua e fui sondar a pé. Diante da primeira instituição, o pipoqueiro fritava pipoca com queijo coalho, pedi uma. Os pais se avolumavam com o portão ainda fechado, a outra escola ficava na rua de trás, achei que poderia ser lá e me apressei, no meio do caminho achei o contrário, a primeira reunia elementos que encantariam Celso, a mais próxima da sua casa, pequena, sem aglomeração de crianças maiores, adolescentes batendo mochila pelos muros, ambiente controlado, câmera onde dormem os bebês, piso antiderrapante, refeição inclusa na mensalidade com arroz, feijão, carne moída, chuchu, maçã raspada e as gotas sabor tutti frutti dos antitérmicos que as moças afáveis dão para os bebês dormirem ou pararem de chorar. Eu jamais induziria o sono do Bruninho. De volta à Arte do Crescer, o portão estava aberto, uma moça falava ao microfone avisando a chegada dos pais, chamava pelo nome. Vicente, berçário um. Camila, turma verde. Antônio, turma azul. As crianças vinham trazidas pelas professoras até a porta, pai nenhum entrava na Arte do Crescer. Nenhuma babá na porta, me dei conta de que Celso podia buscar Bruninho e me ver ao lado do pipoqueiro. Uma rechonchuda vinha com passos rápidos, nem corrida, nem caminhada, um trote, sapatilha branca, assim como a calça, a blusa e a tiara. Bruninho, turma verde. (...)"

A pediatra
Andréa Del Fuego

terça-feira, 9 de agosto de 2022

Realismo

Desde ontem que o "Sporting" assentou arraiais na Foz, com água que parece importada do Algarve, um sol radioso e o vento deportado para outras paragens, talvez para acompanhar alguns mais necessitados ou pouco habituados. Também têm direito, que o sol quando nasce é para todos e o mesmo se deve aplicar ao vento. Há tantos de férias lá por baixo ...

Na conversa de hoje dizia-se que Vilamoura se tinha mudado para o Oeste e que a divulgação desse facto não devia ser feita, para não atrair multidões. Egoísmo puro! Para além de haver "muito chão para camas", não se deixem convencer que este estado de coisas se irá manter por muito tempo.

Seguidinhos, seguidinhos, é uso ser apenas um dia ... Já vão dois.

Não deitem foguetes que a festa não tarda a acabar e voltarão as lamentações!

segunda-feira, 8 de agosto de 2022

"Lusíadas"

Não faço a mais pequena ideia de quem é José Gabriel, nome indicado como autor dos versos populares, verrinosos, sarcásticos e tão assertivos que as novas tecnologias me fizeram chegar, através de uma familiar residente a uns bons quilómetros daqui, há já dois ou três dias.

Resisti a transcrevê-los pelo desconhecimento referido e pela hesitação própria de quem não gosta de pessoalizar demasiado os textos que por aqui vão ficando. Mas ... há sempre um mas de desculpa, pensando bem, a ida do primeiro português ao espaço é tema tão importante e transcendente que justifica o espaço ocupado e o gozo que dá.

Arquivemos, por isso, a nota do facto, contado em verso rimado, como convém a tão épica aventura.

I
"Eu canto Mário Ferreira, o falonauta
Que em pila voadora ao céu subiu.
Cuidando ser do espaço um astronauta,
à patranha do Bezos sucumbiu.
Dez minutos voou - façanha lauta -
E logo prestes do alto céu caiu.
Pagou milhões só para ir ao ar,
Mais lhe valera ter ido à Feira Popular.

II
Agora, compara-se aos maiores,
Supera-os até, é bestial.
Recebam com loas, bandas, flores,
este novo herói de Portugal.
Nem os reis lhe foram superiores,
qual Gama, qual Álvares Cabral!
Ao céu foi, em nave maneirinha
Inspirada nas Caldas da Rainha."

domingo, 7 de agosto de 2022

Bossa Nova

Faz hoje 80 anos e mantém vivo o fulgor da grande música brasileira. Caetano Veloso é um nome incontornável da história da música brasileira e, ao fim de tantos anos, continua a ser um artista de mão cheia e um homem que não cede a pressões.

Para além das músicas que se irão eternizar, como este Leãozinho, ainda se dedicou (e dedica) à escrita, com a qualidade bem notória na poesia e também na prosa, como evidencia este pequeno excerto e o resto do livro, lido há muitos anos, confirma.

(...) "Uma visita conveniente foi a que nos fez o Rei Roberto Carlos. Ele nos era, como já disse, grato pela revalorização que fizemos do seu trabalho. De passagem por Londres, quis nos ver. Ao atender o seu telefonema para marcar a visita, Rosa Maria Dias (então ainda mulher de Péricles, também morando conosco) não acreditou que fosse verdade e, ao render-se à evidência, chorou. Roberto veio com Nice, sua primeira mulher, e nós sentíamos nele a presença simbólica do Brasil. Como um rei de fato, ele claramente falava e agia em nome do Brasil com mais autoridade (e propriedade) do que os milicos que nos tinham expulsado, do que a embaixada brasileira em Londres (que não tinha contado conosco e, segundo nos contou um amigo que procurou por mim através dela, usava a meu respeito a expressão "persona non grata"), e muito mais do que os intelectuais, artistas e jornalistas de esquerda, que a princípio não nos entenderam e nos queriam agora mitificar: ele era o Brasil profundo."(...)

Verdade Tropical
Caetano Veloso
Companhia das Letras (1997)

sábado, 6 de agosto de 2022

Escalas de serviço

De acordo com o que foi aprendido na instrução primária, o sol nasce todos os dias de manhã, bem cedo, aí por volta das sete, mais coisa menos coisa. E é assim que acontece, desde tempos imemoriais, em todo o cantinho peninsular ou quase.

No mês de Agosto e no Oeste, o sol não cumpre a escala de serviço, por estar de férias no Algarve ou nas Beiras e se deitar a altas horas. Só aparece lá para o final da manhã, muitas vezes a meio da tarde e, ultimamente, nem sequer cá põe os pés. Não é justo! A falta de recursos não justifica a ausência por, ao que se julga saber, ele apenas depender de si próprio, ainda que com influência da sua preguiça. Parece ser apenas e só uma vontade indómita contra os incautos que acham que as praias oestinas vivem perfeitamente sem o brilho daquele malandreco. Estão as pessoas a aguardar por ele, de casaquinho vestido e tudo e, mesmo assim, com algum "tiritanço", e do sol, nada. Manda as nuvens, coitadas, que não têm certificação para exercer a sua especialidade e não podem ir além de uma triagem rápida e intuitiva, palpitando que talvez ele surja dentro de pouco tempo.

- É sempre assim?

- Não!!! Amanhã já vai estar melhor ... ou não. (isto não foi dito, só pensado). 

Depois do esclarecimento à turista, comprou-se a bolinha "alemã", colocou-se a chave na ignição, o motor pegou e o regresso encetou-se.

Como amanhã é Domingo, é provável que o sol se balde de novo e de manhã não haja serviço. 

Praia encerrada. Utilize a mais próxima. Se quiser sol, venha à tarde, que já estaremos em condições de o atender. 

Isto das escalas de serviço é muito, muito complicado. Até para o sol.

sexta-feira, 5 de agosto de 2022

Palavras bonitas

ESPLENDOR DE AGOSTO

Aconteceu o pior: o esquecimento.
Esqueci tudo o que deve ser lembrado
e já não sei se és tu ou se te invento
e se o que resta é só o imaginado.

Esqueci o nome o olhar esqueci o rosto
reclinado nas tardes de Setembro.
E já não sei sequer quem foi deposto
e se lembro não sei se és tu que lembro.

Porque tudo esqueci e não esqueci
esplendor dos corpos no azul de Agosto
e aquele não sei quê que havia em ti
e aquele ardor em mim de fogo posto.

Esqueço a lembrar e se te lembro esqueço
e já não sei se és margem ou ainda o centro
de tanto inventar não te conheço
e quanto mais te esqueço mais te lembro.

Nada escrito
Manuel Alegre
D.Quixote (2012)

quinta-feira, 4 de agosto de 2022

Turismo

Há já vários anos que Portugal se tornou num dos destinos mais atractivos do mundo, para quem pode passear. As nossas belíssimas praias, as soberbas paisagens, o clima ameno, a comida deliciosa, a segurança, são motivos para que os turistas venham visitar-nos, e voltem.

Dos cruzeiros do Douro aos golfinhos do Sado e agora também da Nazaré, da fina areia de toda a costa, das paisagens dos Açores e da Madeira aos recantos do Gerês, tudo contribui para que a indústria do turismo se desenvolva e seja uma das principais a contribuir para o PIB nacional. Em resultado disso, a Baixa de Lisboa substitui bancos por hotéis e, por todo o país, já são muito raros os lugarejos onde não há, pelo menos, um alojamento local.

Hoje foi dado mais um passo para o alargamento da actividade e, como consequência natural, do país. Um empreendedor turístico ligado, entre muitas outras actividades, aos cruzeiros no Douro, tornou-se o primeiro português a excursionar o espaço e, presume-se, nos dez minutos que por lá permaneceu, o seu cérebro deve ter elencado uma panóplia de hipóteses, todas fenomenais, para o turismo espacial. A viagem foi apenas e só uma prospeção de oportunidades e não, nunca, um acto de promoção pessoal e social, aproveitando o preço, que é sempre barato ou caro consoante a dimensão da carteira.

A ousadia e a coragem mereceram o devido destaque nas notícias de hoje e farão primeiras páginas nos jornais de amanhã. Ficamos todos ansiosos pelos projectos extraordinários que irão surgir e, entretanto, já deverá ter começado a concorrência entre as entidades bancárias nacionais que os quererão financiar, sabendo-se que os grandes bancos internacionais não deixarão de entrar na corrida.

Como sempre, quem vê à frente, chega primeiro ou, como diz o ditado "candeia que vai à frente, alumia duas vezes". 

quarta-feira, 3 de agosto de 2022

Agosto

É o mês de férias por excelência, com todo o país a funcionar a meio gás (talvez a menos, aproveitando para se habituar às restrições que irão surgir), e com o trabalho a ficar reduzido ao mínimo e algum até a ficar à espera que a boa secretária (não a secretária boa) o faça, tarefa que todos os anos fica por concretizar.

Também aqui pela Casa se pede escusa da responsabilidade de escrevinhar qualquer coisa com algum jeito, limitando-se o "escriba" a assegurar os serviços mínimos, o que já não é pouco.

Uma observação que, não sendo surpreendente, não deixa de merecer o devido destaque, apesar de ser uma regra quase sem excepção: o Oeste regressou à sua actividade normal e hoje produziu muita nebulosidade, para que as gentes não esqueçam quem manda. Houve chuvinha "molha-tolos" e tudo!

Amanhã? Ver-se-á, mas as previsões não são nada optimistas.

terça-feira, 2 de agosto de 2022

Dúvidas viajantes

A distância entre eles não é muita e a dúvida surge: pode o Bonito ser Pelado ou, pela inversa, será mais indicado dizer que o Pelado pode ser Bonito?


segunda-feira, 1 de agosto de 2022