quinta-feira, 28 de maio de 2015

Palavras bonitas

GRITO NEGRO

Eu sou carvão!
E tu arrancas-me brutalmente do chão
e fazes-me tua mina, patrão.
Eu sou carvão!
E tu acendes-me, patrão,
para te servir eternamente como força motriz
mas eternamente não, patrão.
Eu sou carvão
e tenho que arder sim;
e queimar tudo com a força da minha combustão.
Eu sou carvão;
tenho que arder na exploração
arder até às cinzas da maldição
arder vivo como alcatrão, meu irmão,
até não ser mais a tua mina, patrão.
Eu sou carvão.
Tenho que arder
queimar tudo com o fogo da minha combustão.
Sim!
Eu sou o teu carvão, patrão.

José Craveirinha

A cópia do manuscrito deste poema encontra-se na Exposição "Casa dos Estudantes do Império", patente na galeria de exposições da Câmara Municipal de Lisboa.
A exposição, que tem como curador o caldense Jorge Mangorrinha, é uma iniciativa da UCCLA e manter-se-á aberta ao público, com entrada grátis, até ao dia 25 de Junho próximo.


Bethânia

50 anos de carreira, duas horas em palco apenas com um pequeno intervalo para trocar de roupa, canções, muitas, algumas "velhos" clássicos com nova roupagem, outras novas, cantadas de seguida, quase sem deixar espaço para os aplausos.
Mais um excelente concerto de Maria Bethânia a que tive o privilégio de assistir, no Coliseu dos Recreios em Lisboa, ainda por cima com bilhetes oferecidos pelos meus filhos.
"Abraçar e Agradecer"

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Quotidiano

Na época em que a electrónica comanda a nossa vida, nada melhor do que um escrito público para transmitir o que vai na alma.
Numa das paredes da estação do Metro do Terreiro do Paço está escrito:

"Será que ainda acreditas?
'tá-se a tornar tão raro ver-te nestes dias."


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Palavras bonitas

ARTE DE PONTARIA

Invadiram os séculos que estão dentro de nós
invadiram a língua o canto o ritmo
antes fossem exércitos fardados
antes as botas de um invasor visível
não esses missionários da nova fé
com seus mercados sobre os nossos ombros
e seus discursos de sílabas pontiagudas
para gente de espinha de curvar.
Quando eles falam o céu fica cinzento
e há um rasto de cinza e desamparo.
Apetece pegar no poema
e disparar.

Manuel Alegre
Bairro Ocidental

sexta-feira, 8 de maio de 2015