Para o meu neto Miguel
VIDA
Do que a vida é capaz!
A força dum alento verdadeiro!
O que um dedal de seiva faz
A rasgar o seu negro cativeiro!
Ser!
Parece uma renúncia que ali vai,
- E é um carvalho a nascer
Da bolota que cai!
Diário II
Miguel Torga
Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
Para o meu neto Miguel
VIDA
Do que a vida é capaz!
A força dum alento verdadeiro!
O que um dedal de seiva faz
A rasgar o seu negro cativeiro!
Ser!
Parece uma renúncia que ali vai,
- E é um carvalho a nascer
Da bolota que cai!
A descrição da atribulada viagem, pelos caminhos difíceis de então (serão fáceis agora?), que leva o Conde de Fróis (filho) e o seu séquito a um desterro na fortaleza de S. Gens, lá bem perto da raia de Espanha, termina assim:
Foram dar com o primeiro soldado encostado ao portal da igreja. O homem, desgrenhado e farroupilha, olhou para ambos, azamboado, sem atinar com o que fazer. Depois, silenciosamente, com um sorriso equívoco, de beiço esborcinado, estendeu por instinto uma mão de esmola, primeiro gesto que lhe ocorreu antes que o capitão o expulsasse do adro a poder de biqueira.
Não tardou e a notícia alvoroçava a vila. O conde e o capitão, parados a meio do adro, viram-se rodeados por uma chusma silenciosa de basbaques, entre os quais sobressaía, aqui e além, o vermelho sujo de uma farda.
A escolta, entretanto, reboava pela porta de armas, com carros e bagagens, sem que alguém lhe pedisse senha, e vinha formar na parada, com ordem e lustro, suscitando o maior espavento da multidão apinhada pelas ruas.