Como facilmente percebe quem por aqui vai espreitando, sou um eclético ouvidor de música, sem quaisquer receios de manifestar preferências, mesmo que estas não sejam consensuais ou estejam na berra.
Ouço música de Cabo Verde há muitos anos! Como parece cada vez mais normal, a gaveta foi resgatar memórias antigas quando ouviu notícias sobre as comemorações dos 50 anos da independência daquela antiga colónia portuguesa.
Há mais ou menos sessenta anos convivi, durante alguns meses, com dois cabo-verdianos, um deles com idade para ser meu pai - cerca de 40 anos -, o outro um pouco mais velho do que eu: cantei-lhe os parabéns, com a voz bem desafinada, no dia em que fez 18 anos.
Ainda não se falava de Cesária Évora ou Tito Paris, muito menos de Tété Alhinho ou Sara Tavares. Adelino, o mais velho, e Cula, o jovem, ensinaram-me as diferenças entre a morna e a coladera e abriram-me a boca de espanto nas muitas vezes em que os ouvi tocar e cantar. Tocavam cavaquinho e daqueles dedos negros saíam ritmos frenéticos ou dolências mimosas, desconhecidos para mim e que me habituei a ouvir, calado e deliciado. O Cula fazia percussão com qualquer coisa, da caixa de sapatos ao tampo da mesa, do colchão ao prato da sopa virado ao contrário.
Regressaram à sua terra e nunca mais deles ouvi falar ou tive qualquer notícia. Talvez já não pertençam ao mundo dos vivos. Vieram-me à memória e devo-lhes o ter aprendido a gostar da belíssima música cabo-verdiana, que continuo a ouvir regular e regaladamente.
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