Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
quinta-feira, 5 de junho de 2014
quarta-feira, 28 de maio de 2014
Quotidiano
quinta-feira, 15 de maio de 2014
Salazar
domingo, 11 de maio de 2014
Memoráveis
Um dia, os rapazes serão louvados.
Hão-de passar entre multidões floridas.
Levarão riso na boca e os braços levantados.
Um dia, os rapazes hão-de ser punidos.
Pelos males que hão-de vir dos quatro pontos cardeais.
Terão latrinas derramadas nos portais.
Um dia esses heróis serão esquecidos.
Os seus nomes alinhados entre conchas e espinhas.
Hão-de constar de uns livros nunca lidos.
Mas um dia, este dia, será o dia do idílio.
Os rapazes ainda não desistiram de soltar os braços dos escravos.
E os escravos ainda não renegaram a cor dos cravos.
Ainda estamos no princípio desse dia.
Francisco Pontais - Poeta
Lídia Jorge
Os Memoráveis
quinta-feira, 8 de maio de 2014
Palavras bonitas ... para a minha mãe
Há um lugar na mesa onde a luz
abdicou do seu ofício.
Já foi do sol
e do trigo esse lugar - agora
por mais que escutes, não voltarás
a ouvir a voz de quem,
há muitos anos, era a delicadeza
da terra a falar: "Não sujes
a toalha"; "Não comes a maçã?"
Também já não há quem se debruce
na janela para sentir
o corpo atravessado pela manhã.
Talvez só um ou outro verso
consiga juntar no seu ritmo
luz, voz, maçã.
Eugénio de Andrade
Ofício de Paciência
A minha mãe faria hoje 91 anos, mas "a luz abdicou do seu ofício".
quarta-feira, 30 de abril de 2014
sexta-feira, 25 de abril de 2014
25 de Abril
As minhas amigas Liberdade e Democracia festejam o seu aniversário no mesmo dia que eu, com vinte e dois anos de diferença, tempo que me desfavorece em termos matemáticos.
Hoje procurei-as para um balanço destes 40 anos que partilhamos, tentando, nessa visita, perceber se os três mantínhamos a mesma vitalidade para transformar, alterar, progredir, inovar, melhorar, consolidar e, supremo, tentar sempre que todos possam viver melhor amanhã do que viveram hoje. Não as senti animadas.
A Liberdade sente-se atropelada, vilipendiada, enxovalhada e faz um esforço grande para subsistir. Diz que não a deixam dar igualdade de oportunidades a todos e que, sem isso, a sua função não existe. A preocupação quanto ao futuro mina-lhe a saúde, cria-lhe ansiedade, tira-lhe o sono. Tem receio de ser de novo engavetada no quarto do obscurantismo que tão bem conhece e do qual não tem quaisquer saudades. Sente-se triste por ser só de alguns e que esses alguns procurem, a todo o custo, que ela ignore os muitos que lhe deram vida há quarenta anos.
A Democracia lastima-se também.
- Ainda só tenho 40 anos e já me querem colocar na redoma, controlar-me, deixar-me aparecer de quando em vez, apenas para legitimar quem fica a mandar e, depois, não se preocuparem mais comigo. Confesso que, há 40 anos, estava longe de imaginar que iria ser assim.
Não alimentei mais conversa. Seria contribuir para que as minhas amigas se deprimissem ainda mais porque, também eu, estou farto de ouvir falar de mercados, juros, dívida, défice, sacrifícios, imposições, troika, austeridade, cortes, reduções e outros palavrões.
"Eu sou parvo ou quê?", como dizia Zé Mário Branco.
Falam de cátedra, pregam sermões, dizem como foi, como é e como vai ser, e eu ... sou limitado, mentecapto, inútil, estúpido, ignorante, débil, incapaz de fazer o que quer que seja sem a sua (deles) sapiência, que determina, manda, ordena, sem apelo nem agravo.
Fiz 22 anos em 25/04/1974 e até chegar esse dia já tinha comido muito pão que "o diabo amassou".
EU SOU PORTUGUÊS AQUIEu sou portuguêsaquiem terra e fome talhadofeito de barro e carvãorasgado pelo vento norteamante certo da morteno silêncio da agressão.Eu sou portuguêsaquimas nascido deste ladodo lado de cá da vidado lado do sofrimentoda miséria repetidado pé descalçodo vento.Nascideste lado da cidadenesta margemno meio da tempestadedurante o reino do medo.Sempre a apostar na viagemquando os frutos amargavame o luar sabia a azedo.Eu sou portuguêsaquino teatro mentirosomas afinal verdadeirona finta fácilno gozono sorriso dolorosono gingar dum marinheiro.Nascideste lado da ternurado coração esfarrapadoeu sou filho da aventurada anedotado casocampeão do improviso,trago as mãos sujas do sangueque empapa a terra que piso.Eu sou portuguêsaquina brilhantina em que embrulho,do alto da minha esquinaa conversa e a borrascaeu sou filho do sarilhodo gesto desmesuradonos cordéis do desenrasca.Nasciaquino mês de Abrilquando esqueci toda a saudadee comecei a inventarem cada gestoa liberdade.Nasciaquiao pé do marduma garganta magoada no cantar.Eu sou a festainacabadaquase ausenteeu sou a brigaa luta antigarenovadaainda urgente.Eu sou portuguêsaquio português sem mestremas com jeito.Eu sou portuguêsaquie trago o mês de Abrila voardentro do peitoJosé Fanha