quinta-feira, 1 de julho de 2010

Fim de tarde

A tarde caminha a passos largos para o fim e, ainda assim, o calor sufocante mantém-se, desafiando a capacidade de adaptação pulmonar, habituada à humidade oestina.
A Praça de Espanha está cheia de carros.
Enquanto uns colocam os "cavalos" no chão e abandonam o local por o "sporting" jogar do seu lado, aguardo na fila com o (meu) "benfica" a impedir a marcha.
Os vidros estão abertos, o rádio sintonizado na Antena 2, que a música ajuda a libertar e a desligar.
"Sou" o primeiro carro da fila da esquerda.
O vendedor transporta, em cada mão, 2 sacos de plástico com barquilhos. Já desistiu de apregoar o produto.
- Não se vende nada ...
Ainda se chamam barquilhos, pergunto, recordando o homem que, na minha infância, os retirava de uma lata redonda, branca e vermelha, junto à Escola Rafael Bordalo Pinheiro.
- Claro. Também há quem lhe chame bolacha americana ... mas não se vende nada. Desde o 25 de Abril que é assim.
???
A compostura do "fato de trabalho", a música ou o sorriso enigmático deram-lhe coragem para continuar.
- Estragaram tudo, o dinheiro, o ouro, as províncias ... e quem se lixa é o povo.
Mas vivia-se bem pior, arrisco.
- Qual quê, a gente cantava e bailava ... era uma alegria!
Por certo que o calor lhe toldou a vista e não percebeu que o "antes" também passou por mim, e bem (se calhar estou ainda em muito bom estado !!!!).
O "sporting" caiu e o diálogo terminou com o "até amanhã" próprio de quem, não se conhecendo, frequenta os mesmos locais.
Se os semáforos proporcionarem novo encontro, vou tentar perceber o que o leva a dizer que era melhor viver "cantando e rindo".

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