sábado, 22 de outubro de 2011

Crise

Vivemos um momento único, para o qual se necessita de ponderação, capacidade de análise, inteligência, solidariedade, motivação, verdade, discussão mais um sem número de adjectivos que saem da capacidade de um mortal tão comum quanto eu.
Nos (muitos) anos que já levo, habituei-me a ler, ouvir, concordar, discordar, render-me à evidência do maior saber, desligar quando a estupidez dos argumentos me causa comichão, tudo isto aliado à capacidade de reconhecer quão difícil é o saber e o constrangimento que causa o desconhecimento e a incapacidade com que, muitas vezes, sou confrontado.
Miguel Sousa Tavares, uma vez mais, escreve no Expresso desta semana uma brilhante e lúcida crónica, da qual eu gostava muito de ter sido autor. Respigo uma pequena parcela:
"... A ingenuidade de Passos Coelho foi imaginar que tinha a solução no bolso e que para tal lhe bastava fazer o que os socialistas se recusavam a fazer. Afinal, como reconheceu Vítor Gaspar, numa entrevista há uns dois meses, gerar poupanças no Estado é bem mais difícil e demora bem mais tempo do que subir impostos e cortar salários, pensões e prestações sociais. O exemplo extremo desta ligeireza ideológica é a história da descida da TSU para as empresas, para estimular a sua competitividade. Se bem se lembram, foi a medida emblemática do programa eleitoral do PSD e o tema principal do decisivo debate televisivo entre Sócrates e Passos Coelho. Passos garantia que descia a TSU em 7 ou 8 pontos e financiava a descida através da subida de escalão de algumas taxas intermédias do IVA. Afinal, o que aconteceu é que a TSU desceu zero, mas, em contrapartida, subiu o IRC para as empresas, os trabalhadores vão ser forçados a trabalhar mais meia hora diária grátis e quase todas as taxas intermédias do IVA subiram para o máximo! Digam-me lá quantos votos teria tido o PSD se tem anunciado isto em campanha? E sabem porque tudo mudou, afinal? Porque, como confessou Vítor Gaspar esta semana, a descida da TSU era um modelo de trabalho académico, estudado em algumas Universidades, mas jamais testado na realidade, tamanhos são os riscos que acarreta ...
O meu medo é que esta história seja emblemática: que estejamos a ser governados em obediência a um modelo teórico dos académicos liberais, cujas teses de "governo mínimo" estoiraram com a economia mundial. Que sejamos uma espécie de cobaia para os seus ensaios ideológicos, que, de lógicos, nada têm.(...)"
E acrescento eu, parafraseando: É o mercado, estúpido!

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