domingo, 17 de fevereiro de 2013

Palavras bonitas

As novas tecnologias ajudam muito aqueles a quem o tempo falta. 

Ver televisão, durante a semana, é um "luxo" cada vez mais difícil de conseguir. Vou deixando a gravar alguns programas que não quero perder e, quando surge a oportunidade, "play" com ele.

O "5 para a meia noite" das terças-feiras é sempre gravado e, assim que é possível, lá coloco o Zé Pedro Vasconcelos em diferido, para me deliciar com o seu humor e com a inteligência com que aborda os assuntos e convidados.

Hoje vi o programa do passado dia 12, no qual estiveram presentes dois jornalistas: Pedro Coelho, da SIC, que falou da sua grande reportagem sobre o BPN, e Rita Marrafa de Carvalho, da RTP, que dissertou sobre jornalismo de investigação e mostrou os dotes da sua voz, bem bonita, a cantar, "à capela".

O nível estava elevado e subiu quando, na rubrica que surgiu nesta segunda série, Vítor de Sousa, com a sua extraordinária voz, disse um poema de Manuel da Fonseca, apropriado para o programa e para os dias em que vivemos.

Tinha uma vaga ideia das palavras e fui buscar o velho livrinho (1978) dos Poemas Completos. Lá estava a 

DONA ABASTANÇA

"A caridade é amor"
proclama Dona Abastança
esposa do Comendador
senhor da alta finança.

Família necessitada
a boa senhora acode
pouco a uns a outros nada
"Dar a todos não se pode".

Já se deixa ver
que não pode ser
quem
o que tem
Dá a pedir vem.

O bem da bolsa lhes sai
e sai caro fazer o bem
ela dá ele subtrai
fazem como lhes convém
ela aos pobres dá uns cobres
ele incansável lá vai
com o que tira a quem não tem
fazendo mais e mais pobres.

Já se deixa ver
que não pode ser
dar
sem ter
e ter sem tirar.

Todo o que milhões furtou
sempre ao bem fazer foi dado
pouco custa a quem roubou
dar pouco a quem foi roubado.

Oh engano sempre novo
de tão estranha caridade
feita com dinheiro do povo
ao povo desta cidade.
Poemas Completos
Manuel da Fonseca
Forja (1978)

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