segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Palavras simples

Acabei de ler Alabardas, o único romance que, se não houver "arca", Saramago iniciou e não teve tempo de terminar. Vem acompanhado de alguns apontamentos dos Cadernos e de dois textos da autoria de Fernando Gómez Aguilera e Roberto Saviano, para além de ilustrações de Gunter Grass.
Descontando a clara estratégia comercial da nova editora da obra do Prémio Nobel, é sempre saboroso mesmo sabendo a pouco, ler Saramago "novo".
Como ele dizia e Saviano relembra no texto "É o que as palavras simples têm de simpático, não sabem enganar".
Uma pequena amostra, com o respeito integral da grafia publicada:
"(...) Estou a ouvir, Li em tempos, não recordo onde nem exactamente quando, que um caso idêntico sucedeu na mesma guerra de espanha, um obus que não explodiu tinha dentro um papel escrito em português que dizia Esta bomba não rebentará, Isso deve ter sido obra do pessoal da fábrica de braço de prata, eram todos mais ou menos comunistas, Nessa altura parece que havia poucos comunistas, E algum que não o fosse, seria anarquista, Também pode ter sido gente da tua fábrica, Não temos cá disso, Braço de prata ou braço de ouro, o gesto é idêntico, com a diferença importante de que neste caso ninguém terá sido fuzilado, ao menos que se tivesse sabido, Ao contrário do que pareces pensar, não reclamo fuzilamento para os culpados de crimes como esse, mas apelo para o sentido de responsabilidade das pessoas que trabalham nas fábricas de armas, aqui ou em qualquer outro lugar, disse artur paz semedo, Sim, o mesmo tipo de responsabilidade que fez com que nunca tivesse havido uma greve nessas fábricas,(...)
José Saramago
Alabardas
Porto Editora  2014

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