AVE DA ESPERANÇA
Passo a noite a sonhar o amanhecer.
Sou a ave da esperança.
Pássaro triste que na luz do sol
aquece as alegrias do futuro,
o tempo que há-de vir sem este muro
de silêncio e negrura
a cercá-lo de medo e de espessura
maciça e tumular;
o tempo que há-de vir - esse desejo
com asas, primavera e liberdade;
tempo que ninguém há-de
corromper
com palavras de amor, que são a morte
antes de morrer.
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (1976)
Torga publicou estes versos em 1954, desabafando o seu desejo de um tempo sem muros de silêncio e de negrura, com asas, luz e liberdade.
Numa altura em que tudo é posto em causa e se ouvem arautos clamando pelo regresso ao "ontem", é bom deixar claro que "uma andorinha não faz a primavera" e que a sociedade livre e justa passará, sempre, pelo castigo dos que prevaricam e pela absolvição dos inocentes, sem condenações prévias nem absolvições de casta, sejam ou tenham sido os indiciados banqueiros, primeiros-ministros, chefes da polícia, juristas, altos quadros ou simples cidadãos desconhecidos.
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