quarta-feira, 16 de setembro de 2015

Bento da Cruz

Não conhecia, nem sequer de nome. A notícia da sua morte, no passado mês de Agosto, despertou-me a curiosidade e confirmou que "quanto mais sei, maior é a minha ignorância".
Estou a ler "O Lobo guerrilheiro", romance que retrata a realidade das Terras do Barroso, da primeira República à ditadura, passando pela influência da guerra civil espanhola na raia transmontana, utilizando a beleza da nossa língua e demonstrando que a sua riqueza é muito maior do que a "meia dúzia" de palavras que, hoje em dia, fazem parte do vocabulário quotidiano, acompanhadas de alguns "estrangeirismos", porque parece bem ...
"(...)
- Não arme em esperto comigo, velhote!
O lavrador coçou a cabeça com manápulas terrosas e ar súplice de garoto apanhado em flagrante.
- Não é meu hábito prevaricar. Mas tenho a patroa na cama ...com um fastio de morte ... pediu-me uns peixinhos do "nosso rio" ...
- Está bem, homem. Governe lá a sua vida.
- Nunca a saúde lhe falte, amigo! Deus o acompanhe!
Entre o dilúculo e a aurora, outros vultos sorrateiros surpreendeu Lobo a esgueirarem-se por detrás dos cômoros. Horinha de os clandestinos levantarem os galritos nas rincolheiras das trutas e as armadilhas nos tourais dos coelhos.
Mas já o astro-rei, com o seu chicote de luz, expulsava da terra as últimas sombras, e os seres viventes, desde o homem ao verme, saíam da toca. (...)
O Lobo guerrilheiro
Bento Cruz (1992)

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