terça-feira, 7 de março de 2017

Livros (lidos ou em vias disso)

Mais um excelente livro de Mário Cláudio, desta vez especulando sobre a vida de Camões e sobre um pretenso trapaceiro que pretenderia apoderar-se da obra do poeta.

"(...) Lá me surgia de tempos a tempos alguém que evocava os passos lisboetas do nosso homem, mas bem mais os chocarreiros do que os literários, com exclamações deste recorte, e proferidas entre torpes risadas e piscadelas de olho, "Que valdevinos!","Que borrachola!", "Que putanheiro!". E abstinha-me portanto de descrever o meu convívio com o vate, poupando-me à reposição de baboseiras quejandas, e preferindo não me capacitar da rapidez com que em Portugal se arquivam os maiores, a fim de os festejar muito depois nos ossos que deixaram, sempre que isso convém aos que mandam, e às vezes aos que obedecem.(...)"

E mais à frente:

"(...) Mas o que sobremaneira me deixava boquiaberto era que a gentalha que se cruzava com semelhante monstro, aceitando-o cegamente como Luís de Camões, nem por instantes adquirisse consciência de falcatrua tamanha. A população de Lisboa não reparava na fantochada, ou fingia não a compreender, arrebatada por essa forma de inércia lusa, e recorrente em vário tempo e lugar, nos termos da qual se mostra preferível a mentira que desresponsabiliza à verdade que sobressalta.(...)"

Os naufrágios de Camões
Mário Cláudio
D. Quixote (2016)

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