sábado, 28 de julho de 2018

Língua Portuguesa

Num dia lê-se no rodapé de um telejornal "clipse" em vez de eclipse; noutro chama-se "imigrante" a um emigrante; noutro ainda ouve-se que "quaisqueres" das soluções são possíveis. 
A perplexidade com o tratamento público que a nossa língua vai tendo onde deveria haver extremo cuidado cria, num velho que tanto procurou (e ainda procura todos os dias) conhecê-la, um sentimento de desgosto, pena e dó que "hadem" servir de pouco, ou melhor, de nada.
Apesar de tudo, ainda se mantêm alguns "nadadores" que procuram evitar que o afogamento aconteça.
Miguel Sousa Tavares é um deles e esta semana, a propósito da polémica de "Os Maias" nas escolas, escreve, no Expresso, de acordo com a antiga ortografia, esta maravilha:

"(...) E agora vêm "Os Maias", cuja leitura fica ao critério das escolas - onde, aliás, esta e outras leituras ditas obrigatórias, já eram aprendidas em textos resumidos ao alcance do nível de preguiça instalado na cabeça das criancinhas. "Os Maias", caramba! O mais fácil, o mais sedutor, o mais actual romance da nossa literatura! Se nem ao Eça chegam, como poderão chegar um dia a Camilo e descobrir como esta nossa língua, tão mal tratada nas escolas, nas televisões, no Acordo Ortográfico, nas redes sociais, nas novelas, já foi um dia uma língua de uma riqueza deslumbrante? Nestes tempos do facilitismo irresponsável, pensei durante muito tempo que, pelo menos, haveria uma recompensa para os que fugissem à regra da facilidade e da alarvidade reinante: que o futuro pertenceria, não a quem tivesse mais canudos ou mais dinheiro, mas a quem tivesse mais conhecimentos e mais cultura. Todavia olhamos para o mundo como ele está, vemos o triunfo dos que hoje mandam no mundo e somos forçados a perceber que já nem isso é uma esperança. Quando a maioria é formada na ignorância e é a maioria que escolhe quem manda, manda a ignorância.(...)"

Nota: Li "Os Maias" há mais de 50 anos, emprestado pela "carrinha" da Gulbenkian. Os meus filhos já o tiveram em casa e o exemplar está cheio de anotações. Irão lê-lo os meus netos?

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