sábado, 16 de março de 2019

16 de Março

Há 45 anos, um jovem militar de 21 anos (faria 22 no dia 25 de Abril de 1974) veio passar o fim de semana a casa e estava dormindo descansado, esperando que a tranquilidade da manhã só fosse interrompida lá pela hora de almoço, quando minha mãe achasse que já chegava. Porém, ainda não eram 10 da "madrugada" e a porta do quarto abriu-se:

     - Há qualquer coisa no quartel!

Saltei da cama. Afinal o quartel tinha sido meu no ano anterior (Abril a Junho/1973), enquanto instruendo da 4ª. Companhia comandada pelo (então) Tenente Virgílio Canísio Vieira da Luz Varela. Nessa altura já se vislumbrava a contestação que viria a culminar na revolução de Abril. Servi de dactilógrafo ao meu Comandante de Companhia para uns artigos que se destinavam à revista Observador dirigida, se bem me lembro, por Artur Anselmo, e que procuravam refutar os "escritos" que o General Sá Viana Rebelo, antigo Ministro do Exército, por lá publicava. Durante a estadia no RI5, entrei à civil em várias manhãs de sábado, sentei-me à máquina de escrever (Messa?) da secretaria da Companhia e dactilografei o que me ia sendo ditado, com uma pronúncia madeirense bem acentuada e, de quando em vez:

     - Despacha-te "mecerico", que não temos o dia todo!

Voltando ao meu 16 de Março: depois de várias tentativas, pelo Moinho Saloio e pelo Avenal, consegui chegar quase à frente do quartel, ainda a tempo de ouvir a voz de "cana rachada" do Brigadeiro Pedro Serrano, do alto da sua pequena estatura, a pedir ao gritos a rendição.
(...)
     - Abra o portão, em nome da autoridade!
     - Autoridade talvez tenha, mas na nossa terra a autoridade está muito mal constituída!
     - Tem um quarto de hora para abrir o portão, sob pena de haver sangue!
     - Não é o senhor que me leva a abrir o portão. Só recebemos ordens do nosso general Spínola!
(...)
O Movimento dos Capitães e o 25 de Abril
Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso
Moraes Editores (Novembro, 1974)

No final do dia e durante a noite, todos os graduados envolvidos foram levados para presídios militares.
As notícias que deram conta (?) ao país do acontecido ficaram para a história e podem ser vistas aqui e aqui.

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