quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Despedida

Em 27 de Maio de 1987 sentei-me na bancada do Estádio Prater, em Viena de Áustria, onde se iria disputar a final da Taça dos Campeões Europeus de Futebol, entre o Futebol Clube do Porto e o Bayern de Munich. Tinham sido percorridos cerca de 3.000 quilómetros, numa viagem inesquecível até aí, com memória mais reforçada depois do que aconteceu.

Ainda não havia claques organizadas e os portugueses presentes eram poucos, quando comparados com os inúmeros alemães, que preenchiam, à vontade, dois terços das bancadas. Viam-se provocações gestuais, uma vez que, de cá, em alemão, o vocabulário pouco passava de Volkswagen e Telefunken. Do lado de lá, também eles desconheciam a beleza do português normal e ainda mais o vernáculo tão habitual nas "futeboladas".

Após ter estado a perder por 1-0, o FCP deu a volta e ganhou por 2-1, com golos de Juary e Madjer, este com o calcanhar que se tornou célebre. O silêncio dos alemães, no final, contrastou com a euforia com que tinham entrado. David venceu Golias ...

O treinador do FCP era Artur Jorge, que escondia a sua subtileza e cultura debaixo de um bigode farfalhudo, identificando-o como grande treinador, tal como já tinha sido como jogador. 

Faleceu hoje, aos 78 anos. Por certo todos os que viveram aquela tarde/noite, como executantes directos ou como espectadores, se curvarão em sua memória e lembrarão o treinador, o jogador do "pontapé-moinho" e o homem de cultura que foi.

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