segunda-feira, 24 de junho de 2024

Recordações

São doze as primaveras que hoje, lá pelas nove e tal da noite, o meu neto Dudu irá completar, com a memória da Roma que visitou e regressado à base, onde todos o esperam.

Como, por certo, a viagem lhe ficará na memória, por aqui se deixam palavras bonitas sobre a mesma terra, para que, talvez um dia, possa fazer comparações com as recordações.

ROMA

O belo rosto dos deuses impassível e quebrado
A noite-loba rondando nas ruínas
A veemência a musa
Colunas e colinas
O bronze a pedra e o contínuo
Tijolo sobre tijolo
A arte difícil e bela da pintura
A música veemente que assedia a alma
O corpo a corpo do espaço e da escultura
Os múltiplos espelhos do visível
A selvagem e misteriosa paixão de Catilina

As altas naves as enormes colunas
Os enormes palácios as pequenas ruas
A lenta sombra atenta e muito antiga
O sucessivo surgir de fontes e de praças
Vermelho cor-de-rosa muita pressa
Gesticular de gentes e de estátuas
Azáfama clamor e gasolina
Do guarda-sol castanho a penumbra fina

Obra Poética
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2011)

Sem comentários: