sábado, 29 de março de 2025

sexta-feira, 28 de março de 2025

Arte

O corvo visita todos os lugares e acompanha as visitas. À falta de melhor, até as mãos erguidas em prece pela mão, brilhante, do artista, servem para descansar um pouco e apreciar uma grande paisagem museológica.

quinta-feira, 27 de março de 2025

Surpresa

Alguém imaginaria ser possível a capital do Algarve chegar à homónima do Azerbaijão antes de mim?

Mas chegou e por cá vai permanecer, sem visto nem passaporte.

quarta-feira, 26 de março de 2025

segunda-feira, 24 de março de 2025

Babosices

Vão ser mais de meia dúzia de milhares de quilómetros, cerca de uma dezena de horas no ar, quatro horas de diferença horária, uma civilização e um país completamente novos, com tudo o que isso tem de aventura.

Fácil não vai ser, mas vai valer a pena!

À espera, estarão filho e nora, e dois netos lindos, enormes, gentis, que serão abraçados sem "dó nem piedade", com as saudades que se foram acumulando desde o Natal.

A noite de hoje será, ainda, "portuga". A de amanhã trará sonhos em azeri.

sexta-feira, 21 de março de 2025

Dia Mundial da Poesia

A FORMA JUSTA

Sei que seria possível construir o mundo justo
As cidades poderiam ser claras e lavadas
Pelo canto dos espaços e das fontes
O céu o mar e a terra estão prontos
A saciar a nossa fome do terrestre
A terra onde estamos - se ninguém atraiçoasse - proporia
Cada dia a cada um a liberdade e o reino
- Na concha na flor no homem e no fruto
Se nada adoecer a própria forma é justa
E no todo se integra como palavra em verso
Sei que seria possível construir a forma justa
De uma cidade humana que fosse
Fiel à perfeição do universo

Por isso recomeço sem cessar a partir da página em branco
E este é o meu ofício de poeta para a reconstrução do mundo

O nome da coisas
Sophia de Mello Breyner Andresen
Caminho (2004)

quinta-feira, 20 de março de 2025

Livros (lidos ou em vias disso)

"(...) Viver será também a nossa contribuição privada para a estatística? E por que os jogos exercem sempre um fascínio tão grande? E a guerra, será ela o jogo dos jogos? <<A guerra é inimiga do desenvolvimento sustentado>>, gritava kota Venâncio já fora de si. <<Não, ó kota, nem pensar>> interpelava-o Samuel Zau a fazer cócegas à inteligência. <<Este é apenas um país em que a morte está muito concorrida, mas isto passa>>. E, Zico, alheado da discussão, espreitando da linha de fundo, entregava-se a outro dos seus passatempos preferidos, que era encontrar relações secretas entre a vida e a matemática. A vida é uma curva num espaço de n dimensões ou será uma série convergente composta por termos lineares? Sim, uma série convergente, talvez seja isso. Serviço mais aulas mais Mity mais casa mais cinema mais amigos mais festas mais o Homem-Jibóia mais discussão sobre a guerra, tudo isso não seria uma série de Fourier? <<E sabes que mais>> gritava kota Venâncio <<a minha esperança, a minha última esperança é que, com o desenvolvimento da sociedade, a guerra se converta num tabu, é a única forma de acabar>>. Pausa geral. <<Um tabu? Explica lá isso, ó kota, troca-me essa abstracção por miúdos>> contrapunha Samuel Zau. <<Sim, um tabu>> repetia o kota Venâncio Seboleiro. Fez uma pausa, inspirou o ar da tarde morna. <<Se olhares para a evolução das sociedades chegou um período em que o incesto, em função dos resultados negativos que produzia, foi banido, virou um tabu e pronto, a endogamia acabou. Agora explica-me por que isso não pode suceder com a guerra?>> interrogava o kota, acentuando com clareza a pertinência do argumento. Mas Samuel Zau não estava convencido, <<Ó kota, isso não pode ... isso é mambo pesado ... a guerra faz parte da natureza humana... onde há homem há guerra... acabar a guerra é como pedir esmola a um ladrão ou pôr um vegetariano a chefiar um talho>>. E o kota, sempre em forma, a ripostar: <<Mas aí é que está o mambo. O incesto produzia algumas dezenas de crianças atrasadas numa sociedade mas a guerra produz milhares, a guerra trivializa todas as mutilações e afecta duas, três gerações, que se perdem completamente. Isto não é irracional?>>(...)"

Desconseguiram Angola
António Costa Silva
Guerra & Paz (2025)

quarta-feira, 19 de março de 2025

Dia do Pai

Logo pela manhã, bem cedo, os meus filhos deram-me os bons dias, um lá de longe, bem longe, a outra bem perto, numa visita relâmpago antes da labuta.

Eu, que já não posso dar os parabéns ao meu - faria hoje 103 anos -, deixo-lhe um pequeno poema do grande Torga.

MEMÓRIA

Chove.
Mas, afinal, já chove há muitos anos ...
O mundo dos meus pés nunca se move
Sem chuva, tristezas e desenganos ...

Apesar disso, 
Lembro-me perfeitamente bem
Do luminoso sol de certo dia ...
Um lindo sol que doirava
Num toco que rebentava
Uma folha nascia.

Diário I
Miguel Torga
Gráfica Coimbra

terça-feira, 18 de março de 2025

Tempos que correm ...

Passaram cinco anos sobre o suplício que foi a pandemia do vírus "Corona"; a guerra na Ucrânia já ultrapassou os três; o conflito israelo-árabe (fica bem, escrito assim) dura há quase oitenta. Por mais que o Papa apele, não parece que alguém o ouça nem que haja alterações, ou melhor, decisões que acabem com este mundo de interesses, hipocrisias e "lata".

Hoje, mais umas centenas de palestinianos foram mortos; um sem número de ucranianos e russos devem ter seguido o mesmo caminho; outros "muitos" pereceram pelo resto do mundo e já nem notícia são.

A ONU e o "nosso" Guterres nem se ouvem, mas continua a haver muita esperança: o cavaleiro russo e o americano da popa amarela "namoraram" mais de duas horas. Foi só ao telefone, claro, mas há muitos casamentos que começam assim ...

domingo, 16 de março de 2025

Registos

Há 51 anos, uns quantos "rapazes" apressados marcharam sobre Lisboa e mostraram a toda a gente que algo ia mal no nosso "reino" e que era imperioso mudar.

A data ficará na História, registada com uma nota de rodapé, importante, mas não fundamental.

Contudo, sem dúvida que merecerá bem mais destaque do que a "notazinha" que há-de referenciar o Governo de Montenegro, agora caído da tripeça.

Mudar é a palavra que os dois acontecimentos terão em comum nos registos históricos.

sábado, 15 de março de 2025

Aperitivos

O espumante, branco, era bruto e fabricado na adega onde iria decorrer o evento. Há já dois dias que havia sido colocado no gelo, em grandes alguidares, para que se mantivesse fresco. Ali não havia frigorífico e as visitas eram importantes (a fina flor da alta sociedade). Estavam muito habituadas ao champagne francês. Não se podia correr o risco de não gostarem do nosso.

Na semana anterior, tinha havido uma grande festa citadina em Cascais e o "campo" não podia ficar mal. Tinha sido escolhida a adega, para recrear um ambiente rural que a maior parte desconhecia.

Os aperitivos - pinhões, tremoços e pevides - despertariam a sede para que o espumante lavasse bem a goela e criasse as condições óptimas de degustação do repasto.

- Não vais lá almoçar, claro, mas queria que lá estivesses com o Peugeot. Pode ser necessário vir à quinta buscar alguma coisa que falte.

Tudo tratado e (bem) planeado. As cozinheiras cuidavam das panelas e dos tachos, o cheirinho aguçava o apetite, antevia-se o sucesso. Havia canja, coelho, galinha, porco, cabrito, borrego, vitela, feijão branco e verde, ervilhas, batatinhas no forno e fritas, jaquinzinhos, bolinhos de bacalhau, rissóis de camarão e muitos outros pitéus que a memória já limpou. Só o cheiro saciava o apetite.

Os criados, vestidos de um branco imaculado e com o lacinho preto ao pescoço, iam servindo o espumante e repondo os aperitivos nos pratos, até ser dada ordem para os convivas se sentarem nas mesas. Os lugares tinham sido previamente estabelecidos e escolhidos de acordo com regras bem definidas. Casais separados, muito cuidado com alguns "ódios de estimação", de forma a tornar o ambiente descontraído e sem mácula.

- Preciso que vás à quinta levar uma senhora. Está muito mal disposta. A C. vai contigo e tu ajudas a levá-la para um quarto.

Com alguma dificuldade, a senhora foi deitada no banco de trás. Sossegadinha, gemia, soluçava, tossia, vomitava para um saco que a C. segurava. Não foi fácil levá-la até ao quarto e deitá-la na cama, mas lá ficou. Não deu pela viagem e nem fazia ideia onde estava. Baralhações ...

Só pode ter sido dos tremoços. Ou seria dos pinhões? As pevides quase de certeza que não, embora, por vezes, causem alguns embaraços estomacais e intestinais.

Uma coisa é certa: do espumante não foi! Era bruto ... mas de muito boa qualidade. 

quarta-feira, 12 de março de 2025

1884 ou 2025

"(...) Ainda se não disse tudo.

Neste espaço de literatura da decadência, ou decaída de todo, observe a crítica escorreita que há dois projectos: um é patente, o outro é clandestino. O primeiro é - arrasar Inglaterra; e, com efeito, arrasa-se. O projecto clandestino, um tanto arteiro, é obter pelo sofisma tortuoso da letra redonda, tipo Elzevir, o que o merceeiro alcança com o correcto silogismo dos azeites e dos farináceos. O Espiritual ousa correr o pário com o Comestível: a meta é o hábito de Cristo. Que o merceeiro, melindrado na sua prosápia de antropóide, não se agaste, se eu o lanço nestas correrias de hipódromo. Não lhe conheço outros dons que o habilitem a entrar no sport.

Enfim, quando voltares a ministrar os negócios do reino, Tomás Ribeiro, não me percas de olho o meu hábito de Cristo, merecido pela façanha heróica e pouco trivial de arrasar Inglaterra. Bem vês que estas ambições aliás temerárias, confesso, não ultrapassam desmedidamente as balizas do meu merecimento. A almejada venera é a ínfima, penso eu, a mais piranga característica étnica da raça que domina esta nesga rasgada da Espanha (que mo releve dom Jaime) - umas noventa léguas, metade incultas; e, assim mesmo, na povoação dessa metade, inçam e pompeiam, segundo conta o Almanaque Comercial para 1884, cento e vinte e dois condes, trezentos e quatro viscondes, e cento e noventa barões. Quanto a comendadores, quem contou as gotas do Mediterrâneo, as areias do Saara e as estrelas da Via Láctea? (...)"

Vinho do Porto
Camilo Castelo Branco
Frenesi (2001)

terça-feira, 11 de março de 2025

Memórias

O dia permanece na minha memória como se fosse ontem, ou melhor, aparece sempre no "ecran" do  meu "computador", e bem mais nítido do que aquilo que ontem fiz.

Dizem os entendidos que é normal. À medida que os anos vão passando, as gavetas antigas da memória surgem à tona, bem abertas, e escamoteiam as modernices que aconteceram nos últimos tempos. No recente, a gaveta desaparece e nem sequer o móvel se nota.

Já lá vai meio século. Tudo se alterou e os olhos de hoje não servem nem podem "ver" claramente "visto" aquilo que se sentiu nesse tempo. Porém, a gaveta tem este vício de se continuar a mostrar anualmente.

O perigo, nessa época, vinha de cima, duns helicópteros que rosnavam a bom rosnar e voavam quase a rasar os telhados mais altos. Por mais inconsciente que se fosse, havia um buraquinho ao fundo das costas ...

Agora são drones, silenciosos, e bem mais perigosos!

domingo, 9 de março de 2025

Velocidade

Notícias de última hora:

  1. A minha menina faz hoje anos e é uma respeitável senhora, mãe de dois "matulões" que não param de crescer;
  2. O tempo foi multado por excesso de velocidade e, de acordo com fontes bem informadas, vai ser colocado sob controlo apertado, talvez com pulseira electrónica, de forma a prevenir esse seu desaforo.

Veremos se o ponto 2. se concretiza, o que não é crível nestes tempos de fake news.

Entretanto, a Casa exulta com mais um aniversário da mais velha dos dois rebentos que por aqui cresceram e se fizeram grandes.


sexta-feira, 7 de março de 2025

Contas

Por muito que ache que não deve, a minha irmã faz anos, de novo, hoje. Continua a não querer saber quantos nem aceita que outros façam as contas e divulguem o resultado. A matemática, para este efeito, é uma ciência sem importância e à qual não dá qualquer relevância. 
A poesia, sim: permanece sempre actual, seja escrita hoje, ontem ou amanhã. E nunca, mas nunca mesmo, tem necessidade de mencionar os anos que tem.

Perguntas quanto tempo deves rezar?
a papoila na encosta
é vermelha sempre.
 
A poesia em 2013 - Resumo 
José Tolentino de Mendonça 
FNAC (2014)

Podemos desligar o silêncio
que a oficina corrompe
e seguir com a multidão
Ou volver a nós reencontrando
as páginas ardidas
dia a dia
e com o mesmo ritmo colher o sol
como se fosse um fruto
que um estuar só nosso sazonou
Nós os que em breve desistimos
nós que nos reconduzimos
pela nossa mão ao que de nós se espera.

O ritmo do presságio
Sebastião Alba
Edições 70 (1981)

terça-feira, 4 de março de 2025

Carnaval

Está quase no fim a folia! O tempo não ajudou mas vai ser um Carnaval recordado por muitos anos, talvez até para ficar na História e ser objecto de estudo aprofundado pelas gerações vindouras.

Por cá, vivem-se dilemas difíceis de resolver, entre moções de confiança ou de censura, comissões parlamentares de inquérito, vidas privadas e aproveitamentos públicos. O Governo, titubeante, comporta-se como o menino que foi apanhado a fazer malandrices na aula e não sabe o que há-de responder ao professor. Marcelo ainda está a decidir se manda uma carta ao Encarregado de Educação ou prefere o silêncio, que é de ouro e ajuda sempre.

Por lá, bem longe daqui (ou será perto?), o homem da poupa diz, com todas as letras "quem manda sou eu". Trata mal a visita, que teve a lata de não levar fato e gravata, mesmo que fosse curta. Obteve largos aplausos russos, ainda que não se saiba ao certo se foram por ele ter ideias brilhantes ou por ser um enorme idiota.

A Europa assiste, com a senhora Von der Leyen a clamar pela necessidade, imperiosa, de se gastar muito dinheiro em armas e munições e António Costa talvez a dizer, com os seus botões, "onde eu me vim meter. Até pareço o Guterres!".

E, no meio disto tudo, recebi ontem (mais) uma carta da Unicef, a pedir-me nova ajuda para as crianças que, todos os dias, morrem de fome.  

domingo, 2 de março de 2025

Palavras bonitas ...

... para a minha mãe, que partiu há vinte e um anos e por aqui se mantém, diariamente, em recordações, sonhos, arrependimentos, certezas de que estive longe de ter sido um bom filho, lhe dei muitas e grandes preocupações e poucas alegrias.

A HORA DA PARTIDA

A hora da partida soa quando
Escurece o jardim e o vento passa,
Estala o chão e as portas batem, quando
A noite cada nó em si deslaça.

A hora da partida soa quando
As árvores parecem inspiradas
Como se tudo nelas germinasse.

Soa quando no fundo dos espelhos
Me é estranha e longínqua a minha face
E de mim se desprende a minha vida.

Poesia
Sophia de Mello Breyner Andreses
Caminho (2005)

sábado, 1 de março de 2025

Carnaval

É por estas ( e por muitas outras) que, mais de meio século depois da primeira vez, ainda faz sentido continuar a ler o Expresso.

Em papel, claro!