segunda-feira, 13 de outubro de 2025

Autárquicas 2025

Agora só para o ano, se não houver nenhum engano ... Começaremos 2026 a procurar novo Presidente da República e, ao que parece, não irão faltar candidatos para todos os gostos.

Bem mais de metade dos portugueses inscritos (existirão nos cadernos alguns que já lá não deviam "morar") votaram e escolheram quem os irá governar, a nível local, nos próximos quatro anos.

Por aqui, a "luta" foi renhida, mantendo-se a Câmara nas mãos do VAMOS MUDAR por uma "unha negra" - apenas 140 votos. Só a contagem das duas freguesias da cidade determinou o resultado final. No resto do concelho, a predominância é o regresso ao passado, com um "cheirinho" a essa novidade barulhenta que, felizmente, ficou bem longe do gritado.

Não se imagina fácil a gestão da autarquia, pese embora a experiência já adquirida pelo actual e futuro Presidente.

sábado, 11 de outubro de 2025

Autárquicas 2025

Reflectindo ... copiando o que está a acontecer em todo o país.

E o resultado dessa reflexão profunda, empenhada, sabedora e concentrada?

A ver vamos!

sexta-feira, 10 de outubro de 2025

Livros (lidos ou em vias disso)

Fui (re)ler. A memória já só retinha o tema e a forma que o autor, e protagonista principal, tinha encontrado para narrar o seu sofrimento às mãos dos fascistas alemães, apenas e só por ser judeu. Custa-me a acreditar que, se fosse vivo, Primo Levi concordasse com o que alguns compatriotas seus têm levado a cabo em Gaza, com a justificação de estarem a vingar o atentado terrorista de 7 de Outubro de 2023. Pelo contrário, acho que ele deveria ser um acérrimo defensor do diálogo e da paz.

"(...)  Ka-be é a abreviatura de Krankendau, a enfermaria. São oito barracas, em tudo parecidas com as outras do campo, mas separadas por um arame farpado. Contêm permanentemente um décimo da população do campo, mas poucos permanecem mais de duas semanas e ninguém mais de dois meses: dentro destes prazos temos obrigação de morrer ou ficar curados. Quem tem hipótese de se curar, no Ka-Be é tratado; quem tem tendência para piorar, do Ka-Be é enviado para as câmaras de gás.

Tudo isto porque temos a sorte de pertencer à classe dos "judeus economicamente úteis".

Nunca entrara no Ka-Be, nem no Consultório, e portanto tudo aqui é novo para mim.

Os consultórios são dois, o Médico e o Cirúrgico. Diante da porta, na noite e no vento, estão duas longas filas de sombras. Uns precisam só de uma ligadura ou de um comprimido, outros pedem para marcar consulta; alguns trazem a morte na cara. Os primeiros das duas filas já estão descalços e prontos para entrar; os outros, à medida que a sua vez se aproxima, procuram, no meio da confusão, desligar os laços improvisados e os arames dos sapatos e desenrolar, sem os rasgar, os preciosos panos para os pés; não demasiado cedo, para não ficarem inutilmente na lama com os pés descalços; não demasiado tarde, para não perderem a vez: pois é rigorosamente proibido entrar no Ka-Be com os sapatos. Quem está incumbido de fazer respeitar a proibição é um gigantesco Häfling francês, que estaciona no cubículo colocado entre as portas dos dois consultórios. É um dos poucos funcionários franceses do campo: e não se pense que passar o dia entre os sapatos lamacentos e rotos constitua um pequeno privilégio. Será suficiente pensar em quantos entram para o Ka-Be com os sapatos e saem sem precisar deles ...

Quando chega a minha vez, consigo milagrosamente tirar os sapatos e os panos sem perder uns nem outros, sem que me roubem a marmita e as luvas e sem perder o equilíbrio, embora sem largar o boné, que por nenhuma razão se pode ter na cabeça ao entrar nas barracas.

Deixo os sapatos no depósito e guardo a respectiva senha, depois, descalço e coxeando, com as mãos ocupadas com todas as minhas míseras coisas, que não posso deixar em lado nenhum, sou admitido no interior e fico numa nova bicha que termina na sala das consultas. 

Nesta bicha despimo-nos progressivamente e, quando a nossa vez se aproxima, é preciso estarmos nus porque um enfermeiro nos coloca o termómetro debaixo da axila; se alguém estiver vestido, perde a vez e volta para o fim da bicha. Todos devem pôr o termómetro, mesmo que tenham só sarna ou dor de dentes.

Deste modo há a certeza de que quem não está seriamente doente não se irá submeter por capricho a este complicado ritual. (...)"

Se isto é um homem
Primo Levi
Público - Colecção Mil Folhas (2002)

terça-feira, 7 de outubro de 2025

Matemática

O Clube Tinta da China, do qual sou "sócio" desde o seu início, enviou-me, na passada semana, o livro 33, da autoria de Marcelo Viana, com o título Histórias da Matemática - Da contagem dos dedos à inteligência artificial.

O título do livro indicia claramente o conteúdo e, mesmo para quem não é dotado de grandes saberes matemáticos, é extremamente interessante. Está carregado de exemplos de aplicações e descobertas matemáticas e ainda só vou no Séc. XVII ...

Num dos desafios, o autor convida-nos a determinar os anos vividos por Diofanto, filósofo grego que terá vivido nos anos 250 A.C.. De acordo com o autor, o texto/problema aparece numa colecção de quebra-cabeças do Séc. V e diz o seguinte:

"Aqui jaz Diofanto, vejam que maravilha. Por arte matemática, a pedra nos diz a duração da sua vida. Deus lhe deu um sexto da vida por infância. Mais um duodécimo por juventude, quando surge a barba. Um sétimo mais e começou o tempo do casamento. Cinco anos passaram e um filho chegou. Tragédia, o herdeiro foi levado pelo destino quando tinha por idade a metade da vida de seu sábio pai. Depois de se consolar com a ciência dos números por quatro anos mais, terminou Diofanto enfim sua existência."

Com que idade morreu Diofanto?

Não me dei ao trabalho de tentar descobrir o valor de X (incógnita da idade), nem a forma/fórmula de equacionar o problema. "Googlei" e a IA deu a resposta imediata: Diofanto morreu com 84 anos de idade!

Palavras para quê ...

domingo, 5 de outubro de 2025

República

Dia do aniversário da República, que comemora hoje 115 anos. Talvez o número, que já foi da emergência nacional, tenha determinado a quase ausência de referências à data.

Nos jornais de hoje, nem uma linha; nas televisões quase a mesma coisa; das entidades oficiais, a presença, discreta, no hastear da bandeira na varanda da Câmara de Lisboa, sem direito a discursos ou conversas, que a campanha autárquica poderia torpedear e sair lengalenga falsa ou enganadora.

Lembro-me, em jovem, de dois grandes republicanos caldenses, atravessarem a Rua Almirante Cândido dos Reis com uma bandeira nacional às costas, bem desfraldada e na posição correcta. Tinham sempre chatices, mas lá iam mantendo a tradição de que o regime não gostava nada.

Estaremos a voltar a esses tempos?

Viva a República!!!

quarta-feira, 1 de outubro de 2025

Dia Mundial da Música

 Música a sério, e não a que nos vão servindo por aí, a toda a hora e em doses industriais!

terça-feira, 30 de setembro de 2025

Palavras bonitas (talvez actuais)

Ao Sr. José Ventura Montano
(Rogando-lhe socorro para pagar as rendas
das casas em que o autor habitava)

Demanda-me usurário senhorio
Do já findo semestre a soma escassa,
E enjoada de esperas, sei que traça
Pôr-me em Janeiro a passear ao frio.

Ele em tais casos tem mais brio,
Que é homem pé-de-boi, vilão de raça.
Já creio que mandado extrai e o passa
À mão ganchosa de aguazil bravio.

Tu, que detestas esta corja horrenda,
Que deveu a ganância inútil sua
Primeiro ao chafariz, depois à tenda,

O avaro alegra, que um semestre amua;
Acode ao caro amigo, antes que aprenda
De cães vadios a dormir na rua.

Obras escolhidas
Bocage
Círculo de Leitores (1985)

segunda-feira, 29 de setembro de 2025

Sinas

Há dias assim!

Apetece-me escrever qualquer coisa e, ao mesmo tempo, interiormente algo me sussurra: não inventes, fica quietinho, à espera que a vontade passe, como o outro.

O lápis continua na mão e desliza, garatuja, gatafunha, risca, não desenha, que isso é mester a que a mão foi sempre arredia, anota, aponta, regista, começa, termina, volta ao sítio que o guarda, repensa, hesita, posiciona-se e, na sua santa ignorância, recoloca-se na mão, aguardando a sua oportunidade de servir, que foi para isso que ele, lápis, foi concebido.

Na oficina, onde o carro teve de ir para mudar a lâmpada do pisca traseiro esquerdo, fundida por excesso de uso, acredito, a senhora do atendimento, após receber o pagamento do serviço, diz:

- Muito obrigada e até à próxima. Um bom fim de semana ... ai, que disparate! Boa semana. Credo, já estou tão cansada ...

E tinha razões para isso. Naquela meia hora que por lá estive a aguardar, a senhora não parou um momento. Fez telefonemas, atendeu clientes, foi à oficina, recebeu chaves, deu chaves, puxou do multibanco, recebeu dinheiro e deu troco, imprimiu facturas, fez folhas de obra, chamou colegas mecânicos, deu opinião sobre o melhor óleo para determinada viatura, orçamentou um pedido de reparação que não foi aceite e, como se não bastasse, ainda veio a correr atrás do distraído que se tinha esquecido da lâmpada que sobrara.

Como o lápis, há gente que nasceu para servir ... e ainda consegue sorrir, mesmo cansada. 

sábado, 27 de setembro de 2025

Moderação

Até aqui, uma das minhas grandes preocupações tem sido a moderação - minha e da sociedade -, sempre com a consciência de que não é nada fácil ser moderado e com a esperança de que eu não exceda os limites e que, na convivência social, aconteça o mesmo.

Todos sabemos que, por vezes, podem acontecer excessos por "dá cá aquela palha". O que não sabíamos é que a moderação tinha limites e estes podiam ser matematicamente explicitados e legalmente estabelecidos.

O Governo de Montenegro acabou de nos provar como, afinal, tudo é fácil e possível de quantificar. Até a moderação! 

O valor moderado das casas passa a ser de 648.000 € e o das rendas das mesmas, de 2.300 €. Os valores fixados determinam o valor da moderação e estão perfeitamente ao alcance de qualquer bolsa moderada e bem intencionada ...

A moderação está na ordem do dia, nas casas, nos gestos e no vocabulário. Aguarda-se, apenas, que a moderação parlamentar confirme a decisão governamental e que a moderação de Belém a promulgue.

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

Livros (lidos ou em vias disso)

"(...) - <<Maldito!>> - murmurou o Mil-homens. - <<Mandou cortar a hera e pôs cal nas juntas do muro ... Quando nós viemos isto não estava assim. Vamos dar a volta a ver se há outro lugar por onde subir>>.

Contornámos o paredão, que dá ali uma volta, e ao pouco de andarmos vimos, quase tapado por um monte de terra de obras, um grande furo, rente ao chão, que se metia pelos alicerces do muro como se estivesse a fazer uma mina. Não havia ali ninguém a trabalhar, sem dúvida por causa da chuva. Depois de reflectirmos um pouco no que seria aquilo, percebemos que era para passar as águas do canal novo, como estavam a fazer em muitas outras casas, pois dizem que agora a gente rica vai ter torneiras nas suas casas, mas eu não vou acreditar até que o veja ... Então, mesmo sabendo que nos íamos encher de lama, pois aquilo estava uma desgraça, metemo-nos pelo furo, e após alguns passos vimos o céu por cima de nós e os galhos de umas árvores por outro furo que subia a pique.

<<Põe-te aqui>> - ordenou o Bocas, com aquela sua maneira de mandar, quando andava nelas, que não admitia outra resposta senão obedecer. Agachei-me um pouco, e depois de meter a manta por cima das costas, subiu aos meus ombros até chegar à parte de cima do furo apoiando-se nos cotovelos. Espreitou um pouco e desceu com um salto, para ficar especado, encostado à parede e com os olhos postos em nós.

- <<Está ali!>> - balbuciou muito assustado.

<<Quem, homem?>>

- <<A mulher, a tal senhora ...>>

- <<Eu não vos dizia?>> - argueirou o Mil-homens, como que pesaroso de que fora certo. - <<Mas viste-a bem?>>

- <<Meu Deus, não parece coisa deste mundo! Fiquei sem respiração ...>>

- <<Deixa-te de merdas ... Já tenho vinte e quatro anos e já passou o tempo de acreditar em bruxas.>>

- <<Meu Deus!>> - continuou a falar, como se não nos tivesse ouvido. - <<Põe-te aí; deixa-me vê-la outro bocadinho.>>

- <<Pois eu também quero ver o que é isso ...>> 

O Aladio tirou uma garrafa de aguardente, que roubara na tasca e que trazia no bolso da samarra, e bebemos uns valentes goles para nos animar. (...)"

A borga
Eduardo Blanco Amor
Guerra & Paz (2023)