A pergunta impõe-se: e se, de repente, a areia que o mar levou, for restaurada e voltar ao seu lugar habitual?
A resposta é: estaremos a chegar ao Verão e a preparar-nos para os banhos costumeiros.
Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
A pergunta impõe-se: e se, de repente, a areia que o mar levou, for restaurada e voltar ao seu lugar habitual?
A resposta é: estaremos a chegar ao Verão e a preparar-nos para os banhos costumeiros.
"(...) AS MENINAS E OS MENINOS
A casa da Avó. A casa dos avós.
Uma recordação que se ia tornando nebulosa. No entanto, não se esbatia totalmente. A casa onde, em pequenos, o irmão e ela passavam parte dos dias de Verão.
Quatro cadeiras à roda de uma mesa. Às vezes cinco, ou seis. Era o princípio das lembranças.
Mobília velha. Muito. De pinho com caruncho a roer, sempre a roer.
"Não haverá nada capaz de dar cabo desta bicharada?!"
As cadeiras e as mesas dir-se-iam esquecidas, no meio da cozinha. Passavam-nas, às vezes, com um esfregão embebido em azeite. Deixavam-se secar. Era ali que os avós se sentavam a comer. Eles também, quando lá estavam.
Café da manhã, almoço, jantar. Horários incertos porque não se tinha fome ou por se dar prioridade a galinhas, coelhos e porcos. Ou,
"Vou primeiro dar uma volta ao palheiro, a ver se há alguma novidade ..."
"E eu ainda vou lá acima. Tenho um canteiro de alhos-porros para sachar!"
Mais isto. Mais aquilo.
Comia-se, ou não se comia?
Quando lhe parecia que já era tempo, ela chamava o irmão,
"Duarte, vamos pôr a mesa!"
E logo a Avó,
"Deixa-o, que está entretido!..."
Pusesse ela a mesa. Toalha de algodão aos quadrados. Pratos, talheres, os copos.
Preferia as toalhas claras. Brancas. As da Avó, porém, andavam todas por tons escuros. Castanhos, azuis.
"Sujam-se menos ..."
Que ideia! Sujavam-se tanto quanto as outras, só que não se notava.
Pois era, a casa dos avós não tinha idade.
Casa de tectos altos, em madeira. Paredes rugosas feitas de cal, areia e cascalho. Enegreciam com o acender do fogão e dos fumeiros. Embranqueciam com um balde de cal e algumas pinceladas. Outra vez a cal!
Não. A casa não se adiantara, nem mesmo naqueles anos em que todos se batiam contra os atrasos. Em que se levava tudo por diante. Liberdade recente, a do 25 de Abril.
E a Avó, adiantara-se?
Bem ...
Antes e depois de setenta e quatro nunca usou calças nem blusas sem mangas. Continuou a vestir-se e a adornar-se como se vestem e adornam as mulheres no campo. Por dentro, contudo, diferente das outras.
Dizia de si própria
"Sou brava a dormir!"
Mais. Garantiam os conhecidos que também o era acordada.
"Ora! ... Faço o que tem de ser feito."
E dizia o que, na sua opinião, devia ser dito.(...)"
Cada vez mais vai rareando o correio colocado na caixa, obrigatória, que "vive" junto ao portãozinho da entrada da casa há quase meio século. A chave ainda funciona e a cor, verde, mantém-se não já com a tinta inicial na totalidade, mas ainda com alguns resquícios das primeiras pinceladas que obteve.
O ritual de pegar na chave, abrir a portinhola e espreitar para dentro repete-se todos os dias úteis, ainda que, na maior parte deles, os passos se revelem inúteis.
Hoje foi diferente! Três cartas, pasme-se!
A primeira, da Junta de Freguesia, trazia o convite para o convívio natalício dos fregueses idosos; a segunda avisava que o débito do seguro vai acontecer no próximo mês; a terceira, era visível, trazia importância colada e bem vincada. Tinha como remetente o Ministério da Administração Interna e não era previsível que fosse algum chamamento da Ministra para outro almoço convivial.
A (des)agradável surpresa empertigou-se e ditou a sua lei: comunicava uma infracção acontecida em 03.08.2024, por violação do limite de velocidade estabelecido no local "Xis", bem bonito, por sinal. Na Barquinha, com o Tejo a fazer companhia pela esquerda, estaria, decerto à direita, o aparelhinho que me caçou sem contemplações.
Demorou mais de um ano, mas chegou. A lei é para se cumprir e os infractores (todos?) são penalizados. Já agendei o pagamento para o mês que vem, aproveitando o prazo de 15 dias que, amavelmente, me foi concedido.
Com o aproximar das "comemorações oficiais" dos 50 anos do 25 de Novembro, muita gente tem botado faladura e uma grande maioria não sabe o que diz, ou porque ainda não tinha nascido ou andava de cueiros, ou porque lê uma pseudo-história enviesada e parcial, que pretende justificar, aos olhos das novas gerações, o que fizeram ou não fizeram algumas figuras (e figurões) que hoje pretendem a primeira fila ou, para os que já desapareceram, se envidam esforços no sentido de os colocar num centro, fictício, do "teatro das operações".
No Expresso da passada sexta-feira e no Público de hoje, Sousa e Castro, antigo Capitão e actual Coronel na reserva, encontram-se duas excelentes entrevistas de quem bem sabe do que fala e não tem papas na língua para analisar 1975, com os olhos de quem o viveu por dentro e sabe o que diz.
Apenas alguns excertos "roubados" às entrevistas publicadas, para figurarem no "arquivo" e certificarem aos vindouros que, a maioria das vezes, nem tudo o que parece, é.
Expresso: "Tentar fazer uma equivalência em termos de importância histórica e de postura do Estado entre uma revolução que derruba uma ditadura e os acontecimentos de 25 de Novembro é absurdo. No 25 de Abril muda tudo, enquanto a 25 de Novembro quase tudo ficou igual, do ponto de vista do poder. Manteve-se o Presidente da República, o primeiro-ministro e o Governo, à exceção de alguns ministros. Os acontecimentos do 25 de Novembro são apenas uma consequência do 25 de Abril. Pôr estas datas ao mesmo nível é a última coisa que eu esperaria ver. É uma tentativa muito serôdia de reescrita da História por parte deste Governo. Uma jogada política, para não dizer pior."
"Obviamente, não. Para alguém que participou na revolução que deu ao povo português a liberdade, ver uns "marrecos" dizerem que há coisas iguais ou até melhores do que o 25 de Abril dá uma revolta profunda."
" A meu ver, o general Costa Gomes é a pessoa mais injustamente esquecida da História moderna portuguesa. Foi o general mais brilhante que Portugal teve no século XX e foi ele que segurou todas as convulsões, desde o golpe miserável de Spínola a 11 de Março até à gestão de toda a crise do PREC e dos governos gonçalvistas. No dia 25 de Novembro convocou uma reunião em permanência do Conselho da Revolução logo que surgiram as primeiras notícias da movimentação dos paraquedistas e, à margem dessa reunião, ia fazendo os seus contactos. Sei que chamou o Álvaro Cunhal e deu-lhe a entender: "Esteja quietinho, porque não tem qualquer hipótese de levar a sua à frente." E o PCP mandou recuar. Costa Gomes foi a personagem mais decisiva do 25 de Novembro, a par de Melo Antunes, que escreveu o "Documento dos Nove". E até ao fim da vida tentarei honrar a memória desses dois homens."
Alguns dias de ausência, não que faltem assuntos mas apenas porque "outros valores mais altos se alevantam", como disse o nosso Camões. Por vezes, também a paciência se ausenta e a vontade suspira por alguns momentos de descanso e meditação.
O pouco tempo livre (ser reformado dá muito trabalho) tem sido aproveitado para dar uma nova (e melhor, espero) organização aos selos, de forma a que, se aparecer alguém que evite que eles sejam "mergulhados" no camião que há-de "limpar o lixo" existente cá por casa, perceba alguma coisa do que por ali está. A filatelia já teve os seus tempos áureos e o selo é, cada vez mais, um "utensílio" arcaico, em vias de extinção.
Estamos em mudança constante e só alguns "tontos" ainda vão achando que vale a pena preservar alguns vícios ...
Voltando ao tempo livre, aguarda-se que a IA altere a duração dos dias e possibilite espaço temporal que permita ver e ouvir, atentamente, o que se vai passando pelo mundo. Será? Ou já estarei a delirar?
As guerras mantêm-se, o homem da melena continua a dizer bacoradas e a ser ouvido; o seu "imitador portuga" grita, berra e barafusta como se estivesse na tasca e fosse o único bêbado ainda em condições de debitar asneiras; o nosso embaixador do futebol transferiu-se para os negócios estrangeiros árabes e foi jantar à Casa Branca; as sondagens dos resultados das presidenciais servem todos os gostos e interesses e são de um rigor acima de qualquer suspeita.
O vício de ler continua mas os livros, pelo menos os que aqui "moram", são escritos por mão e pensamento humano. Até quando?
Não concordo muito com a proliferação dos "Dias" disto e daquilo, por razões várias, uma das quais tem a ver com a banalização de tudo e de nada. Porém, hoje é o Dia Mundial da Diabetes e esta moléstia, por si só, justifica que me dobre e me renda à evidência da necessidade de estarmos atentos ao problema. Muitos especialistas consideram que a Diabetes se está a tornar um caso preocupante de saúde pública, a juntar a muitos outros que por aí andam.
A pouca experiência diz-me que não é uma doença "fácil", pela cobardia de que faz uso, não se mostrando e dando poucos sinais de alerta. Para agravar, os portadores dominam a arte da dificuldade em conviver com "é melhor não" perante gulodices apetecíveis e de recordações infinitas.
São demasiados hidratos, bolos nem pensar, que não os há sem açúcar, chocolate, só do negro e poucochinho, três peças de fruta diárias já é demais, um cacho de uvas, longe, bem longe, meia dúzia de figos moscatel, um crime, uma tangerina e já vais com sorte, legumes, legumes.
Valha-nos o RAP que, como sempre, demonstra no seu último livro de crónicas - Mundo, pára quieto - , que "rir é o melhor remédio".
Tentemos ceder apenas a esta tentação ...
"(...) Mas nem toda a história de retrocesso é uma história de derrota.
Na Segunda Guerra Mundial, mais uma vez, os serviços especiais do exército inglês desenvolveram ratos incendiários. Os ratos, cuja utilidade para os serviços de informações ou para os militares parece despontar apenas depois de devidamente privados de vida, eram esventrados e recheados com explosivos, sendo então distribuídos na cercania das casas de máquinas alemãs, na esperança de que os boches, subconscientemente condicionados pela mortandade decorrente das muitas eclosões de peste negra na Idade Média, pegassem neles com muito noginho e cuidado e optassem por se livrar dos bichos incenerando-os higienicamente na caldeira. Os alemães perceberam a marosca à primeira, e nenhuma caldeira chegou a rebentar mas, alemães como não conseguem deixar de o ser, dedicaram tanto tempo e recursos à busca de mais ratos armadilhados que os ingleses consideraram a Operação Rato um imenso sucesso.
Com tantos e tão diversos exemplos de animais recrutados para o caos do eterno desaguisado entre humanos de diferentes credos, nacionalidades ou tonalidades epidérmicas, não é de espantar que os iranianos, constantemente em palpos de galinha com a perspectiva de a Mossad tirar da sua cartola de truques e patifarias um coelho ainda mais discreto e mortífero, detiveram catorze esquilos, em 2007, sob a acusação de os pequenos e aparentemente inofensivos roedores serem, na verdade, espiões a mando de Israel. Sem adiantar detalhes, as autoridades iranianas limitaram-se a confirmar o zunzum, assegurando ter capturado os animais, artilhados com a mais recente electrónica de escuta, antes mesmo de estes iniciarem funções. (...)"
QUADRILHA
João amava Teresa que amava Raimundoque amava Maria que amava Joaquim que amava Lilique não amava ninguém.João foi pra os Estados Unidos, Teresa para o convento,Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandesque não tinha entrado na história.Vai, Carlos!Carlos Drummond de AndradeTinta da China (2022)