terça-feira, 29 de abril de 2025

Apagão

Ontem voltámos ao antigamente! 

Apenas na falta da electricidade, esclareça-se de imediato, para não haver confusões. Uma avaria, ao que parece em Espanha, "deitou tudo abaixo" e os interruptores e afins deixaram de funcionar.

Não houve televisão, nem Facebook, nem Instagram, nem Tik-Tok, nem Twiter, nem chamadas telefónicas em condições. Procuraram-se as lanternas e os rádios de pilhas, as velas de cera e os fósforos, estes desaparecidos algures para o fundo de uma gaveta que não se sabe qual nem se vislumbra onde. Valeu o isqueiro a gás ...

Candeeiros a petróleo quase de certeza que ninguém acendeu. Mesmo que existisse lá em casa um belo exemplar adquirido numa qualquer feira de velharias, dificilmente teria pavio e muito menos o petróleo imprescindível. Já nem mercearias há, quanto mais as bombas manuais que debitavam para a garrafa um litrinho desse líquido precioso que tanto dava à luz como acendia as brasas.

Sempre muito preocupado consigo, o "povo" pegou nas notinhas do mealheiro e foi a correr ao supermercado encher o carrinho com tudo, da água ao papel higiénico, das conservas às cervejolas, e, já agora, duas ou três garrafitas de tintol, mais uns pacotes de açúcar, de arroz, feijão frade e grão de bico, tudo o que lhe pareceu necessário para encher a despensa ... não vá o diabo tecê-las!

Quem se atrasou ... temos pena! Fossem mais espertos ou tivessem mais "carcanhol" em casa.

Houve lágrimas por não ser possível carregar o aparelho que, para além de todas as coisas bem mais importantes, também serve para fazer chamadas telefónicas.

- Isto nunca aconteceu! Não é possível viver assim!

Pois! Mas aconteceu e não foi há 100 anos!

Aguardemos, sem pressa, a explicação que uma qualquer comissão de peritos entretanto nomeada, há-de proporcionar-nos uma visão clara sobre o acontecido. E dirão os mais cépticos: de Espanha, nem bom vento nem bom casamento. 

sábado, 26 de abril de 2025

Impulsos

Estive quase, quase a "roubar", uma vez mais, o cartoon que António publica no Expresso desta semana. A qualidade do desenho é a do costume, óptima; o tema, actual e acutilante, mas ...

Disse cá para comigo: até tu queres dar visibilidade ao "espertalhão"?

- Nem penses, murmurou a voz interior que me acompanha e vai controlando os impulsos, servindo de moderadora das asneiras que vão surgindo na cabeça, cada vez mais na razão inversa do cabelo, branco, claro.

A solução não é deixá-los a falar sozinhos, ou talvez seja, quem sabe. A casinha, afinal, não tem trinta metros quadrados nem é pouco mais que uma barraca num qualquer Casal Ventoso. No debate, isto foi dito, redito, repisado, mantido, com uma voz colérica e um olhar afirmativo, apelando à injustiça e à comparação com a sua desdita. Coitadinho ...

No dia seguinte, em conversa amena na tarde da TV, a mesma voz, agora com tonalidade angelical, e o olhar, docinho e amável, transmitiam que, afinal, fora apenas um lapso na divulgação da medida, talvez porque a casa nem sequer era dele e sim da sua consorte. Clarinho ... como a água da piscina!

Chega!

"A mentira tem perna curta!"

"Vozes de burro não chegam ao céu!" 

sexta-feira, 25 de abril de 2025

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Confusões

O respeito pelo Papa Francisco e pela sua morte merecia que o Governo tivesse um pouco mais de atenção e cuidado, e não confundisse as comemorações do 25 de Abril com o infeliz acontecimento.

Era o mínimo exigível, mas cada vez há mais gente que não se enxerga ...

quarta-feira, 23 de abril de 2025

Dia Mundial do Livro

Assinala-se hoje o Dia Mundial do Livro. Talvez seja apropriado um excerto de um que tem como título LIVRO e que trata um tema muito actual por cá e tão esquecido do que, antanho, se passou com muita gente de cá que abalou para lá, seja isso onde tenha sido.

(...) 

"(1967)

A Adelaide queria tratar de vida.

Acordava com as voltas da Libânia, do outro lado do lençol, a dar papa à menina. A essa hora, o marido da Libânia estava maldisposto, tinha frio nos pés ou insatisfazia-se com miudezas. Seriam umas cinco da madrugada. A Adelaide não precisava de despertador, mas tinha um relógio de pulso, a que dava corda antes de adormecer e que pousava sobre um caixote, à cabeceira do colchão. A Adelaide dizia qualquer palavra sumida antes de tirar o lençol que estava suspenso numa corda, superfície branca de sombras, e que dividia a casa. Às vezes, quando a Libânia lhe pedia, a Adelaide levava a menina à escola maternal antes de ir para casa da patroa.

Seriam umas seis e meia quando abria o portão, a cadela andava solta no jardim e vinha sempre recebê-la, de rabo a abanar. A Adelaide nunca tinha visto uma cadela daquela raça, era uma cadela fina, chamava-se Princesse, mas a Adelaide, baixinho, chamava-lhe Princesa, fazia-lhe festas por detrás das orelhas e dava-lhe a mão a lamber. Em certos dias, ao fim da tarde, a patroa vestia-lhe uma casaca e levava-a a passear. A Adelaide tinha custado a habituar-se a essa moda. A cadela tinha bom pêlo, não precisa de casacas, coitadinha.

Na França, a Adelaide tinha-se admirado com muito. Nunca se esquecia da primeira vez que entrou num supermercado. Imaginou a reacção da velha Lubélia se alguma vez visse um supermercado daqueles. De manhã, à chegada, a Adelaide abria as janelas da cozinha da francesa e começava a preparar o pequeno-almoço, os copinhos de loiça onde enfiava os ovos malcozidos. Quando a francesa e o marido acordavam, quando se sentavam de roupão na mesa posta da sala, um ou outro podiam chamá-la pelo seu nome em francês e pedir-lhe qualquer coisa que faltasse. A Adelaide sabia utilizar a máquina torradeira. (...)"

Livro
José Luís Peixoto
Quetzal (2010)

terça-feira, 22 de abril de 2025

Diálogos

Devemos ser únicos no mundo. Assertivos e concretos, dizemos sempre tudo de forma clara e sem deixar quaisquer dúvidas a quem nos interpela ... A única dificuldade é encontrar alguma coisa que seja, tenha sido ou venha a ser boa ou bonita!

- Então como é que isso vai?

- Vai-se andando, menos mal. Olha, antes assim que pior ...

- Mas tens algum problema?

- Claro que não! É a vida!

- E o tempo, que achas tu desta porcaria? 

- Com esta idade, não me lembro de alguma vez ter visto uma coisa assim ...

Chove muito:

- Maldita chuva que nunca mais passa! Vê se vem o calor que estou farto disto!

Chega o Verão:

 Isto está de ananases. Nem uma brisazinha, ao menos ...

Vem o vento:

- Malvada ventania que nunca mais pára! Nem uma pessoa consegue endireitar-se ...

- E que tal o emprego? É bom? Vai bem?

- Bem, podia ser bem melhor ... mas até nem é muito mau ...

- E o jogo de ontem, viste? E gostaste?

- Não foi mau, ganhámos! Mas podia ter sido muito melhor ... podíamos ter dado seis!

- Mas olha que tivemos sorte. Se aquela bola dos outros tem entrado, não sei o que seria! 

sábado, 19 de abril de 2025

Palavras bonitas

ÂNSIA

Não me deixem tranquilo
não me guardem sossego
eu quero a ânsia da onda
o eterno rebentar da espuma

As horas são-me escassas:
dai-me o tempo
ainda que o não mereça
que eu quero
ter outra vez
idades que nunca tive
para ser sempre
eu e a vida
nesta dança desencontrada
como se de corpos
tivéssemos trocado
para morrer vivendo

Raiz de orvalho e outros poemas
Mia Couto
Caminho (1999)

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Lápis

O lápis é a minha ferramenta de escrita preferida. E, apesar disso, nem todos me satisfazem. A lapiseira de 0,5 mm é a que cumpre os objectivos sem rebuço e com a qualidade esperada. O antigo Viarco ou similar tem de ser muito bem afiado, o que se apresenta cada vez mais difícil. As afiadeiras perderam qualidade e os interiores também. Cada vez é mais provável o bico partir-se, obrigando a mais uns centímetros de madeira cortada, sem obter o efeito pretendido: aquele bico bem fininho, que escreve o que se deseja com a elegância pretendida, ainda que o papel escrito marche para o lixo, cumprida que seja a sua função.

Manias, dirão muitos, com toda a razão.

Mesmo assim, continuo a adorar ter à mão o "lápis de pau" da meninice ou a lapiseira "adulta". Com eles dou largas à vontade de escrever ... patetices!

segunda-feira, 14 de abril de 2025

Olhares

A visita havia sido recomendada pelo meu amigo CP, com entusiasmo. E confirmou-se!

Mal se transpõe a porta de entrada, o candeeiro dita, de forma clara, que estamos num sítio onde o bom gosto e a cultura são quem mais ordena.


Adquiridos os ingressos, com o desconto de 50% oferecido aos "jovens", deambula-se por várias salas - não sei dizer quantas - distribuídas por quatro galerias. As duas primeiras estão no rés-do-chão e mostram uma "imensidão" de obras, de inúmeros artistas, de José Malhôa a Paula Rego, passando por Eduardo Viana, José de Guimarães, Júlio Pomar, Rui Chafes, Julião Sarmento, Almada Negreiros, Sarah Afonso, Eduardo Batarda, Carlos Botelho, Mário Botas, Cruzeiro Seixas e tantos, tantos outros.


Nos dois andares seguintes, os espaços são dedicados às exposições temporárias. Agora, estão por lá, na Galeria 3, Antropoceno - em busca de um novo humano?, que se manterá até Setembro, e na Galeria 4, Guerra - Realidade, Mito e Ficção, que permanecerá até Outubro. Bem diferentes das duas primeiras, mas deveras interessantes.


Foram quase três horas - que passaram depressa -, a apreciar a colecção reunida por Armando Martins. Em boa hora, este homem decidiu partilhá-la e colocá-la à disposição de todos os olhos que a queiram admirar.

Um jardim bonito, também com algumas obras e um hotel de 5 estrelas (só mirado por fora) completam o quadro de uma recuperação que, aos olhos de um leigo, está fantástica: MACAMMuseu de Arte Contemporânea Armando Martins, na "velha" Rua da Junqueira, 66, em Lisboa.

sábado, 12 de abril de 2025

Sonhador

Sempre actual!

Que a viagem seja marcada com brevidade e a nave encha, com tarifas nos bilhetes!