domingo, 9 de agosto de 2009

Nostalgia

O saibro ainda se mantém, alaranjado, contrastando com o verde do buxo ratinho que circunda os canteiros. O caramanchão das Strelitzia está enorme e adivinha-se a beleza que apresentará quando os bicos de pássaro mostrarem os seus amarelos, laranjas e azuis, a encimarem o verde dos seus caules. A cameleira lá permanece, de guarda ao portão do jardim, a marcar o início da beleza que vai surgir.
O vento, agreste, produz o mesmo som nas copas, bem altas, das árvores centenárias. Nos loureiros, os melros devem estar bem aconchegados, à espera que a perturbação passe e o dia clareie. Sente-se que os pardais estão lá bem no alto das palmeiras, atentos a tudo o que se passa.
A relva está fofa, o cenário montado, as cadeiras no lugar e as gentes importantes com o lugar nas cadeiras.
As luzes focam a casa onde se guardavam as alfaias. Quase de certeza que, agora, outro mimoso nela se resguardará da chuva.
Já não há caracóis ao fim da tarde, nem tão pouco coelho, grelhado, apanhado desprevenido no seu regresso à lura.
Sobem-se as escadarias, agora em passo lento, e recordam-se aqueles mesmos degraus, subidos dois a dois, sem qualquer dificuldade.
Não se vêem coelhos, nem perdizes, nem o jardim das rosas, o espaço das framboesas, o cantinho dos espargos.
Era de noite ...

1 comentário:

Artur R. Gonçalves disse...

Gaspar Frutuoso não teria feito melhor nas «Saudades da Terra» se tivesse conhecido este outro espaço bucólico de nostalgia atlântica.