NATAL, E NÃO DEZEMBRO
Entremos, apressados, friorentos,numa gruta, no bojo de um navio,num presépio, num prédio, num presídio,no prédio que amanhã for demolido ...Entremos, inseguros, mas entremos.Entremos, e depressa, em qualquer sítio,porque esta noite chama-se Dezembro,porque sofremos, porque temos frio.Entremos, dois a dois: somos duzentos,duzentos mil, doze milhões de nada.Procuremos o rastro de uma casa,a cave, a gruta, o sulco de uma nave ...Entremos, despojados, mas entremos.Das mãos dadas talvez o fogo nasça,talvez seja Natal e não Dezembro,talvez universal a consoada.
Obra Poética 1948-1988
David Mourão-Ferreira
Editorial Presença (1997)
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