quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Inverno

Mais uma quinta-feira com António Lobo Antunes na Visão.
Como sempre, a arte de bem escrever, com imaginação e beleza. Da crónica de hoje, dois excertos, um do princípio e o outro do final:
"(...) Acabei um livro no mês passado e a minha cabeça, oca, demora-se no tecto. Nem uma memória, nem um presságio: vazio, junto a um calorífero que frita mais do que aquece. O telefone de vez em quando: as pessoas dizem coisas. Não me dizem grande coisa. Leio, sem vontade, não importa o quê. A humidade enche-me os ossos de água parada: sinto-me uma espécie de charco com folhas podres à tona. Se chego à varanda gente apressada, automóveis a garantirem que não com os limpa-vidros, distinguem-se mal as pessoas nos carros.
(...) subo para o helicóptero, explico ao piloto
- Leve-me a Agosto
e dali a nada estou de papo para o ar, na praia, a olhar sorvetes e a lamber biquinis, perdão, ao contrário, a olhar biquinis e a lamber sorvetes. Pensando bem, a primeira frase fica melhor."

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