sábado, 5 de janeiro de 2013

Expresso

Comecei a ler bem novinho, já não recordo com que idade, mas bastante antes de ingressar na escola primária, o que, na época, acontecia no ano em que se completavam 7 anos. A responsável pela precocidade foi a minha irmã, três anos mais velha, que começou a exercitar com o pimpolho as tarefas que acabariam por lhe ocupar toda a sua vida profissional.
Também cedo comecei a consumir jornais, ou melhor, o Jornal de Notícias, em formato para mim gigante, que lia soletrando,  ajoelhado no jornal aberto no chão da cozinha. Meu pai comprava-o todos os dias e, quando chegava do trabalho, entregava-o para o lermos no dia seguinte. Depois de lido, servia para manter quente a panela da sopa. 
Na memória ainda estão as notícias sobre o terramoto de Agadir, a invasão de Goa, o início da guerra colonial, o assalto ao Santa Maria, as palavras cruzadas que fui aprendendo pouco a pouco e, pasmem, o boneco da última página (cartoon?), julgo que da autoria de Miranda.
Foram muitos os jornais que conheci, li, recordo e já desapareceram: Mundo Desportivo, Século, República, Diário de Lisboa, A Capital, Diário Popular, Gazeta dos Desportos, O Ponto, e podia continuar ...
Em Janeiro de 1973 tinha 20 anos! 
Já sabia a diferença entre o Diário da Manhã (de triste memória) e o República quando surgiu, pela primeira vez, o semanário Expresso. Comprei o primeiro exemplar e adquiri hoje, de manhã, a edição comemorativa dos 40 anos de publicação ininterrupta. Ao longo desta "eternidade", devo ter falhado a compra, talvez, uma dezena de vezes, se tanto. Em alturas de ausência, cheguei a ir buscá-lo vários dias depois, por se encontrar sempre guardado na Jornália.
A minha amiga Nisa ainda hoje me reserva religiosamente o exemplar, apesar de a procura actual já não justificar esse cuidado. Eu, para compensar o carinho, digo-lhe sempre com antecedência:
- No próximo sábado, vende o meu Expresso a outro, que não vou estar por cá.
É preciso ser teimoso! Nem sequer conheço Francisco Pinto Balsemão...
Longa vida ao Expresso e à liberdade de que sempre foi arauto.

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