Casa situada na cidade das Caldas da Rainha, "nascida" em 1976, numa rua sossegada, estreita e, desde Abril de 2009, com sentido único. Produção: dois frutos de alta qualidade que já vão garantindo o futuro da espécie com quatro novos, deliciosos. O blog é, tem sido ou pretendido ser uma catarse, o diário de adolescente que nunca escrevi, um repositório de estórias, uma visão do quotidiano, uma gaveta da memória.
sexta-feira, 29 de março de 2013
Quotidiano
terça-feira, 26 de março de 2013
Quotidiano
domingo, 17 de março de 2013
Futuro ou a eterna juventude
E foi isto que se construiu?
As consciências de quem "governa" este país e esta Europa estarão tranquilas?
Não há alternativa?
sábado, 16 de março de 2013
Efemérides e actualidade

embebida num filtro de magia.
Aranha de ouro
presa na teia dos seus ardis.
E aos pés um coração de louça
quebrado em jogos infantis.
Natália Correia
sexta-feira, 8 de março de 2013
Teimosia
Costumo dizer que uma das minhas poucas qualidades é ser muito teimoso. E é verdade: gosto de uma boa polémica, adoro contraditar, defendo as minhas ideias com toda a energia e convicção.
Vem isto a propósito de, esta semana, ter encetado uma discussão, pacífica, sobre o adjectivo "obrigado" e a forma correcta de o aplicar.
A A.L. defendia que o adjectivo devia ser utilizado no feminino se dito por uma mulher e no masculino, quando pronunciado por um homem. A R.R. contraditava, parecendo-lhe que o correcto era sempre "obrigado". O M.R. não tinha certezas e estava virado para a abstenção. Teimoso, eu argumentava que se devia dizer sempre "obrigado" e, para justificar o meu argumento, ilustrava com uma frase:
- A menina não se sinta obrigada a dizer obrigado sempre que lhe oferecem flores!
A A.L. mantinha-se irredutível. O seu professor de português tinha-lhe ensinado a regra, há muitos anos, e nunca se tinha esquecido.
Comecei a duvidar de mim e cedi:
- Quando chegar a casa, vou confirmar!
És homem? Sê delicadoE agradece, cortêsSempre com um "obrigado",Pra falares bom português!Porém, a recusa delicadaDa menina esbelta e fina,Será sempre: não, obrigada,Por a voz ser feminina! "
sábado, 2 de março de 2013
Quotidiano
Palavras bonitas
Precisava de dar qualquer coisa a uma qualquer pessoa.
Uma qualquer pessoa que a recebesse
num jeito de tão sonâmbulo gosto
como se um grão de luz lhe percorresse
com um dedo tímido o oval do rosto.
Uma qualquer pessoa de quem me aproximasse
e em silêncio dissesse: é para si.
E uma qualquer pessoa, como um luar, nascesse,
e sem sorrir, sorrisse,
e sem tremer, tremesse,
tudo num jeito de tão sonâmbulo gosto
como se um grão de luz lhe percorresse
com um dedo tímido o oval do rosto.
Na minha mão estendida dar-lhe-ia
o gesto de a estender,
e uma qualquer pessoa entenderia
sem precisar de entender.
Se eu fosse o cego
que acena com a mão à beira do passeio,
esperaria em sossego,
sem receio.
Se eu fosse a pobre criatura
que estende a mão na rua à caridade,
aguardaria, sem amargura,
que por ali passasse a bondade.
Se eu fosse o operário
que não ganha o bastante para viver,
lutava pelo aumento do salário
e havia de vencer.
Mas eu não sou o cego,
nem o pobre,
nem o operário a quem não chega a féria.
Eu sou doutra miséria.
A minha fome não é de pão, nem de água a minha sede.
A minha mão estendida é tímida, não pede.
Dá.
Esta é a maior miséria que em todo o mundo há.
E eu que precisava tanto, tanto, de dar qualquer coisa
a uma qualquer pessoa!
E se ela agora viesse?
Se ela aparecesse aqui, agora, de repente,
se brotasse do chão, do tecto, das paredes,
se aparecesse aqui mesmo, olhando-me de frente,
toda lantejoulada de esperanças
como fazem as fadas nos contos das crianças?
Ai, se ela agora viesse!
Se ela agora viesse, bebê-la-ia de um trago,
sorvê-la-ia num hausto,
sequiosamente,
tumultuosamente,
numa secura aflita,
numa avidez sedenta,
sôfregamente,
como o ar se precipita
quando um espaço vazio se lhe apresenta.
Poesias Completas (1956-1967)