sábado, 8 de junho de 2013

Quotidiano

O autocarro está preparado para mais uma viagem a caminho da capital. O motorista já fechou as portas de entrada e da bagageira, colocou os óculos de sol na testa, ainda que o tempo esteja "manhoso" (choveu bem, nesta noite do mês de Santo António), a instalação sonora já deu a informação da partida.

À saída, um automóvel (mal) estacionado em cima do passeio não permite efectuar a manobra. Tem os "piscas" ligados e o seu condutor deve ter ido, num "pulinho", tomar um café.

Estou a colocar os "phones" nos ouvidos, o saco que traz o livro, a maçã e as bolachas já ocupou o lugar à minha beira, que não teve pretendente. O autocarro deve levar 25/30 pessoas em silêncio. Não há qualquer comentário em relação ao "simpático" que nos impede o início da viagem. Normal!

Eis senão quando surge um casal, já entrado nos anos (dois "idosos sexagenários"), com a mulher a gesticular para o motorista. Percebe-se, pelo movimento dos lábios, que pergunta se vai para Lisboa e pede a abertura da porta.

- Viessem mais cedo ... 

Ouço o comentário e apetece-me responder. Contenho-me. Afinal são só 06H30 da manhã, ouço música, tenho o dia todo pela frente para me aborrecer ...

- Não sabem o horário!?

- Há gente que acha que os outros podem sempre esperar pelos atrasados ...

O motorista abriu a porta e o casal entrou.

- Bom dia a todos, ouviu-se da voz masculina, bem rasgada.

Poucos responderam.

- Obrigada por abrir a porta. O senhor dos bilhetes disse-nos que já tinha partido ... mas como estava aqui ... desculpe, falou a mulher.

- Sentem-se, que vamos avançar.

O tipo do automóvel voltou do café, sentou-se ao volante e acelerou, sem um aceno de desculpa. Foi à vida, descansado, e não teve direito, ao menos, a uma criticazinha.

Passaram junto a mim, ele com o boné característico de quem vive e trabalha no campo. À cautela, um guarda-chuva enorme na mão, não vá o S. Pedro da capital fazer das dele, num sítio onde ninguém nos acolhe nem oferece tecto, mesmo que chova "a cântaros". Ela leva um saco, também grande, que não parece pesado. Talvez tenha lá dentro o aviamento para o dia, que a vida não está para comer em restaurantes e, mesmo havendo dinheiro, não se conhece ninguém ...

Iriam ao médico? Talvez, mas chegaram atrasados ao autocarro. 

Se não fosse aquele senhor ter vontade de beber a sua bica matinal e teriam ido no outro, a seguir.

Há dias de sorte!

1 comentário:

Anónimo disse...

Já vi que não serve de nada combinar as coisas com tempo, vais para lá estacionas mal e se nos atrasamos até 10 minutos aguentas, e chamam e isto sorte.
José Feliciano