A chuva e o vento não davam tréguas, o estômago recomendava aconchego, a cautela determinava viagem curta, apesar do guarda-chuva e da gabardina.
A casa tem um serviço ligeiro, acessível e rápido. Vou lá quando não me apetece comer "de faca e garfo" e o tempo não é muito. Fica ao fundo da rua e isso facilita, principalmente em dias de temporal.
Não havia ninguém no estabelecimento. Sou atendido, como sempre, de forma simpática e afável. Surge o comentário sobre o tempo e a crise, causas que determinam a ausência de clientes. A falta de trabalho e o não haver mais ninguém por perto dá a oportunidade do desabafo e, no mais eloquente vernáculo, os governantes, antigos e actuais, são trucidados com a atribuição, inteira, da responsabilidade do que está a acontecer aos pequenos comércios.
Enquanto aguardava pela canja de ga_______ e pelo SLB (sumo de laranja e banana) - grafados exactamente assim no anúncio respectivo - tomo nota, num guardanapo, dos escritos que figuram nas ardósias fixadas à parede, a giz e com letras bem desenhadas:
"Coma hoje, para sobreviver. Amanhã pode não poder!"
" A receita ancestral dos produtos da Nova Pombalina é o culminar de uma alquimia de sabores e de saberes transmitidos ao longo de vários anos."
"Os nossos sumos são uma sinfonia de sabores orquestrados por quem sabe."
"O profundo conhecimento das matérias primas e educação no sentido do gosto traduzem-se numa experiência de sabores."
Proeza, nos dias de hoje: nenhuma das mensagens tem erros ortográficos e não há "inglesismos".
1 comentário:
Razão da proeza:Partindo logo da 1ª frase,adivinha-se que todas essas mensagens venham (ainda)do tempo do diligente Marquês de Pombal.
Só pode ser!
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