No dia em que passam dez anos da sua partida, os restos mortais da ENORME poeta Sophia de Mello Breyner Andresen foram trasladados para o Panteão Nacional.
Os seus versos serão eternos, permanecerão connosco para sempre e, espera-se e deseja-se, estarão cada vez mais em todas as nossas escolas, como muito bem pediram os seus filhos.
MAR SONORO
Mar sonoro, mar sem fundo, mar sem fim,
A tua beleza aumenta quando estamos sós
E tão fundo intimamente a tua voz
Segue o mais secreto bailar do meu sonho,
Que momentos há em que eu suponho
Seres um milagre criado só para mim.
AS ROSAS
Quando à noite desfolho e trinco as rosas
É como se prendesse entre os meus dentes
Todo o luar das noites transparentes,
Todo o fulgor das tardes luminosas,
O vento bailador das Primaveras,
A doçura amarga dos poentes,
E a exaltação de todas as esperas.
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É por ti que se enfeita e se consome,
Desgrenhada e florida, a Primavera.
É por ti que a noite chama e espera.
És tu quem anuncia o poente das estradas.
E o vento torcendo as árvores desfolhadas
Canta e grita que tu vais chegar.
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LUA
Entre a terra e os astros, flor intensa,
Nascida do silêncio, a lua cheia
Dá vertigens ao mar e azula a areia,
E a terra segue-a em êxtases suspensa.
PORQUE
Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
POEMA
Cantaremos o desencontro:
O limiar e o linear perdidos
Cantaremos o desencontro:
A vida errada num país errado
Novos ratos mostram a avidez antiga.
Sophia de Mello Breyner Andresen
Obra Poética
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