quarta-feira, 1 de maio de 2019

Coisas de velho ...

Já estou sentado a aguardar o início do espectáculo. A senhora, vistosa, chega acompanhada pelo puto, que parece ser seu filho e ter doze, treze anos. Tem cabelos loiros, bonitos, com a raiz pintada de castanho (ou será o contrário?). O puto traz uns auscultadores, enormes, nas orelhas, e um telemóvel na mão. De vez em quando liberta uma das orelhas e ouve o que a mãe diz. Volta a colocar o auscultador no lugar e não retira os olhos do telemóvel, que exibe o que me parece ser um combate de boxe.
A minha ignorância garantia que aqueles afazeres terminariam quando começasse o espectáculo, afinal a razão única que tinha levado à sala as pessoas que enchiam por completo a plateia. 
Ilusão minha! O puto permanecia deliciado a ver o boxe, auscultadores nas orelhas e um desprezo olímpico por tudo quanto se passava à sua volta.
O espectáculo terminou, o público aplaudiu de pé e o puto, continuou, sereno, sentado na cadeira que lhe coubera em sorte cerca de duas horas antes.
Quando os aplausos cessaram e o público começou a abandonar a sala, a mãe pegou-lhe na mão e fez-lhe sinal que eram horas de partir.
E lá foram ambos, ela com os cabelos loiros de raiz castanha, ele de auscultadores vermelhos unidos por uma correia preta, de telefone na mão e concentrado em absoluto no combate de boxe.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sucesso educativo: o puto até foi generoso em acompanhar a mamã, bolas!

casulo disse...

ahahahah Não era o Descartes que já dizia que a nova geração (dele) era intragável? tenho imensa curiosidade (mórbida) de ver no que isto vai dar...