quinta-feira, 18 de janeiro de 2024

Fractura

O campo era de saibro, a bola, de borracha, com um bom tamanho e de qualidade bem diferente, para melhor, do que aquelas com que era habitual jogar. O futebol era tolerado, quando não coincidia com as aulas de ginástica, ministradas no mesmo espaço. Ginásio era, ainda, coisa de sonhadores ...

Faltava um para as duas equipas se equilibrarem. Em número, claro.

- Puto, queres jogar?

Eram maiores, não conhecia nenhum. Era o primeiro ano naquela escola, ainda desconhecida e os colegas da turma não tinham chegado da hora do almoço. A vontade de ingressar nos "grandes" era imensa.

- Claro!

O almoço tinha sido na cantina e já havia terminado há algum tempo. A aula próxima iria acontecer às três e meia. Podia participar sem problemas, desde que tivesse cuidado com os trambolhões e com o calçado.

O jogo começou e cedo se viu que a equipa da qual fazia parte era bem melhor do que a outra. Os golos sucediam-se e os "trambolhos" não apanhavam uma. Um passe longo, o "puto" apanha-a e corre para a baliza. Ia ser mais um golo, mas este era especial. O defesa foi fintado e não gostou da acção do "puto". Correu, estendeu a "pata"  com violência e a queda foi inevitável. 

- Tem o braço virado ao contrário, ouviu-se.

Veio o contínuo, chamou mais alguém, as dores apertavam, os olhos humedeciam.

- Vamos levá-lo ao hospital. Deve ter o braço partido.

E estava. O médico nem precisou de radiografia. Estendeu as mãos ...

- Ora deixa lá ver

... puxou com força e colocou-o no sítio.

- Já não dói, pois não? Agora vamos pôr gesso e fica novo.

Devem ter sido dois meses. O gesso foi retirado, cortado com uma tesoura enorme que se distraiu e picou a pele, pouco antes das férias do Natal. O resto do primeiro período das aulas de Ginástica teve menos um aluno ...

Foi a primeira fractura de uma série de três que o braço esquerdo exibe no currículo!

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