Manhã cedo, lá está ela no banco da paragem do autocarro, na soleira da porta de um prédio, no passeio, no sítio onde por certo passou a noite, com os cartões que transporta juntamente com as duas malas de viagem que arrasta.
Andrajosa, suja, com vários vestidos uns em cima dos outros (por causa do frio ou por falta de móvel para os guardar?), cabelos desgrenhados e sebentos, por vezes fumando um cigarro, talvez antes uma beata, paira pelas ruas da Baixa pombalina, normalmente na esquina da Rua do Comércio com a da Prata, sempre rodeada de pombos.
Grita com ela, com quem passa e com os pombos, que debicam da mesma caixa de onde os seus dedos sujos retiram qualquer coisa que não distingo que seja e levam à sua boca. Não tem dentes, pelo menos que se vejam. Move os lábios de forma impressionante, e mastiga. A mão, quando vai à caixa, enxota os pombos.
Pragueja. Insulta. Diz palavrões, que entendo pela terminação.
Ao almoço e no final da tarde já não a vejo.
Amanhã lá estará, pela manhã, bem cedo.
Terá nome? É a velha dos pombos ...
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