À BELEZANão tens corpo, nem pátria, nem família,nem te curvas ao jugo dos tiranos.Não tens preço na terra dos humanos,Nem o tempo te rói.És a essência dos anos,o que vem e o que foi.És a carne dos deuses,o sorriso das pedras,e a candura do instinto.És aquele alimentode quem, farto de pão, anda faminto.És a graça da vida em toda a parte,ou em arte,ou em simples verdade.És o cravo vermelho,ou a moça do espelho, que depois de te ver se persuade.És um verso perfeitoque traz consigo a força do que diz.És o jeitoque tem, antes de mestre, o aprendiz.És a beleza, enfim! És o teu nome!Um milagre, uma luz, uma harmonia,uma linha sem traço …Mas sem corpo, sem pátria e sem família,tudo repousa em paz no teu regaço!
Odes
Miguel Torga
Gráfica de Coimbra (1977)
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