Há uma dezena de anos, o jornal Público editou uma colecção de livros, que intitulou "Os poemas da minha vida", livros esses que continham a poesia escolhida por diversas personalidades da vida pública portuguesa.
Ao ver e ouvir, nas reportagens de hoje do funeral de Maria Barroso (1925-2015), a leitura de um dos poemas que lhe eram queridos - "Floriam por engano as rosas bravas", de Camilo Pessanha - fui à estante e lá estava o livro com a poesia que, na altura, a Grande Senhora considerou como a da sua vida.
Para recordar o seu amor pela poesia e pela liberdade, "roubei-lhe" um outro dos poemas desse livro, que aqui deixo, como pequena homenagem à sua memória.
LIBERDADE
Ser livre é querer ir e ter um rumo
e ir sem medo,
mesmo que sejam vãos os passos.
É pensar e logo
transformar o fumo
do pensamento em braços.
É não ter pão nem vinho,
só ver portas fechadas e pessoas hostis
e arrancar teimosamente do caminho
sonhos de sol
com fúrias de raiz.
É estar atado, amordaçado, em sangue, exausto
e, mesmo assim,
só de pensar gritar
gritar
e só de pensar ir
ir e chegar ao fim.
Armindo Rodrigues (1904-1993)
P.S. - Hélia Correia dedicou o seu Prémio Camões à Grécia, "de onde vem a poesia, sem ela não seríamos nada e sem ela não teríamos nada".
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