terça-feira, 9 de outubro de 2018

Crónica de uma morte anunciada

Provecto sexagenário, o poste tem os seus dias contados desde Julho. No início, teve alguma amargura com a notícia, por não se ter preparado com o devido tempo, como convém a quem vai contando os anos sabendo que a eternidade é apenas uma miragem.
Custa, sabemos que custa, chegar ao fim quando ainda damos luz, iluminamos, criamos sombras, mas ... chegou a altura de ser substituído por um outro, melhor colocado e, sobretudo, posto em lugar público porque a este se destina o serviço prestado.
O poste concluiu, assim, que o melhor era sair, tendo consciência que a sua hora chegara! E aguarda, serenamente, que os "gatos pingados" lhe prestem as devidas homenagens de forma digna, sem presunções nem discursos, mas condizentes com a luz que a todos deu, de forma desinteressada e sem olhar a estatuto, credo, cor ou género, como agora soe dizer-se. Mesmo nos anos do breu, procurou aclarar sempre as vistas a quem o visitava ou por ali viajava.
Eis senão quando se verifica que o A não o pode retirar sem o B; o B necessita de autorização do C, que está em reunião; o D garante que esta semana é que é e o E, que conhece o problema e já esteve no local, tem vontade de o resolver mas aguarda a decisão sobre a requalificação (bonita palavra) do local.
E o poste, periclitante, pensa um pouco e desabafa:

- Porque não caio eu do pedestal, já tão reduzido, sem intervenção destas mentes brilhantes?

Não, responde o bom senso. Vamos aguardar que a solução não tarda! É só uma questão de tempo!

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