(...) Correr. Ao longo do arame farpado. Não lhe tocar. As lâmpadas estão no encarnado.
Passar outra vez pelo portão para entrar. A passagem é estreita. É preciso correr ainda mais depressa. Não importa as que caem, são espezinhadas.
Correr. Schneller. Correr.
Voltar outra vez para diante dos homens que tornam a encher o avental de terra.
Têm de fazê-lo depressa, estão a levar pancada. Pazadas bem cheias, batem-lhes, batem-nos.
Uma vez o avental cheio, pauladas. Schneller.
Correr para o portão, passar sob as correias e os chicotes, correr em cima da tábua que balança e se verga. Atenção à bengala do chefe SS na extremidade da tábua. Esvaziar o avental em cima de um ancinho, correr, atravessar o portão pela passagem cada vez mais estreita - é aí que os bastões se acumulam -, correr em direcção aos homens para voltar a apanhar duas pazadas de terra, correr para o portão, num circuito ininterrupto.
Querem fazer um jardim à entrada do campo.
Duas pazadas de terra até que não são muito pesadas. Mas vão-se tornando. Pesam mais e tornam o braço anquilosado. Atrevemo-nos a segurar mal os cantos do avental para deixar cair um bocado de terra. Se uma fúria vê, bate-nos. E, no entanto, fazêmo-lo, porque é peso de mais.
Há um francês. Aldrabamos e calculamos a corrida para ser ele a abastecer-nos. Tentamos trocar algumas palavras. Fala sem mexer os lábios, sem levantar os olhos, é assim que se aprende a falar na prisão. São precisas três voltas para uma frase.
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