domingo, 13 de outubro de 2024

Livros (lidos ou em vias disso)

Está quase, quase no fim! E é mais um grande livro! Tal como os anteriores, lê-se quase de um fôlego, com o interesse e a dúvida sempre presentes. Em cada página surge um acontecimento inesperado, sempre bem contado e, afinal, bem plausível.

"(...) e Benilda só pretendia, na verdade, passar muito despercebida, parecia que ia correr tudo bem, casal jovem e exótico, sangue na guelra, a vida toda pela frente e o mundo todo para mudar.

Pedro Vicente convenceu-se de que Benilda se apaixonara por ele pela mesma razão de todas as outras. Porque era irresistível. Um naco de homem latino com cabeça de ideólogo.

Benilda não o via assim. Nem sensual, nem esperteza por aí além. Pedro Vicente julgava ser a luz forte que fascina todos os insectos da noite. Desconhece que os insectos não são atraídos pelas lâmpadas. Uma vez que se guiam pela lua, rodeiam as luzes artificiais porque se sentem muito confundidos. Nós olhamos e julgamos que eles aparecem por alegria, não vemos que estão em sofrimento. Pedro Vicente via uma Benilda fascinada mas Benilda estava só em fuga.

Queria desaparecer na mais ruidosa confusão que encontrasse, onde fosse mais uma da amálgama, onde não se destacasse, para não chamar atenções.

Quando se começa a perceber melhor o que lhe aconteceu, quando o nevoeiro já deixa ver entre fiapos, e os pormenores desfocados ficam nítidos, Nina e Xulio deverão ser vistos como os ingénuos guias de um inesperado inferno.

Eles não enganaram Benilda. Eles acreditavam no que viam em Pedro Vicente. E acima de tudo. Benilda Temeroso, a bebé japonesa deixada à sua sorte num farol da Foz e criada por Maria Virgínia, sabia perfeitamente em que lago negro estava a mergulhar. A deixar-se mergulhar. A única surpresa foi a profundidade. Mas sabia. Pressentia, poderia fechar os olhos no primeiro dia e ver, na clareza da lua cheia que guia todos os insectos, o que a esperava. 

Foi para as Benildas que alguém escreveu a pedir - <<não entres tão depressa nessa noite escura>>.

Ela quis entrar. (...)"

Matarás um culpado e dois inocentes
Rodrigo Guedes de Carvalho
D. Quixote (2024)

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